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O LADO LUXUOSO
DO LUXO
Variações e vertentes da moda no luxo e do luxo na moda
Se a moda, por um lado, cria objetos de consumo tornando-os desejáveis pela sociedade naquele exato momento e define períodos na história, por outro, é também anulação. Considerando boas e devidas excessões, o “estar na moda” é se despir de quem você realmente é e fantasiar-se em objetos e comportamentos, tornando-se quem o outro desejado gostaria que você fosse (lembrando que esse desejo também é SEU, é parte das suas vontades e idealizações). Já a indústria do luxo, que por um lado se encaixa nesse sistema de moda, ao fazer com que um objeto torne-se artigo de luxo e, dessa forma, potencialize sua compra e satisfaça um gosto pessoal, por outro, tem a ver com satisfação verdadeira. Está certo que hoje grandes empresas de artigos de luxo buscam meios de emocionar o consumidor com tais produtos, proporcionando ao cliente no ato da compra outras sensações. Mas luxo tem a ver mesmo é com o prazer pessoal e sensorial, com a sensibilidade de cada um em sua intimidade. Está na satisfação individual. Não está fora, na exibição e na opulência. Este é o verdadeiro luxo. O luxo não está ligado a objetos de grande valor, e sim ao prazer que se tem ao comprar desde um All Star a um helicóptero. Satisfazendo cada um sua vontade com o uso. Depende do desejo REAL de quem compra. Não importa o que se compra, onde e o valor, o interessante é saber comprar. Existem coisas que se revelam de maior valor a uns e de menor valor a outros. A fórmula para criar uma marca ou objeto de luxo é esta: dá-se a produção de algo com algum diferencial, seja no campo estético, da matéria-prima ou na forma de produção. O produto, em seguida, passa pelos chamados árbitros de gosto, que são as “Vogues da vida” e os consumidores do topo da pirâmide (os mais endinheirados). Caso tenha aprovação (e, nesse caso, entenda por aprovação: consumir e divulgar tal achado), a marca passa então a ser associada a atributos como elegância, sofisticação, poder, status, entre outros adjetivos. Dessa forma, a marca adquire legitimidade perante seus consumidores, ditando o que é ou não “bom” (parte essencial do sistema de moda). Outra característica desses artigos “criados” é a exclusividade, que permite uma suposta distinção – como fez a nobreza no Renascimento, período em que surgiu o sistema de moda, que para se diferenciar da classe burguesa que tentou imitá-los, promoveram, em um curto período de tempo, mudanças drásticas na vestimenta, buscando distinção. Mas o grande lado luxuoso do Luxo pode ser a outra face da moeda. Luxo pode ser simplesmente saber comprar, como já foi dito. E é, essencialmente, fazer escolhas conscientes. Não é andar por aí todo grifado, sem estilo verdadeiro, sem satisfazer sua vontade honesta. Luxo mesmo é saber e poder editar sua própria vida. Pode ser ter uma horta em casa e consumir comida fresca diariamente, ter tempo para fazer coisas com calma, dormir, ler e ouvir sua música preferida. Luxo é ser quem você é, autêntico, e não se preocupar com a opinião do outro. Já olhou para o céu hoje? Enfim, luxo não é cópia, seja ela de comportamento, de coisas, do outro. É inovação. É não precisar do aval alheio para fazer suas escolhas! 38
POST 00 // JUNHO 08
Juliano Sá é arquiteto e stylist. Tem mais sono no horário da manhã, mas prefere acordar cedo e ter o que fazer. Sempre desconfia de pessoas gracinhas demais.