Comunicação não violenta marshall rosenberg cnv

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I MARSHALL B. ROSENBERG I

I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I

tora se sentou junto a Milly, que começou: "Sra. Anderson, a senhora já teve uma semana em que tudo que faz magoa alguém, mas a senhora nunca quis magoar ninguém de forma ne-

se quando está com raiva, e não que fosse embora correndo". Laurence ficou maravilhada de como, ao ouvir as palavras de Isabelle, ela sentiu uma imediata diminuição da tensão e, mais

nhuma?" "Sim", respondeu a diretora. "Acho que compreendo".

tarde, conseguiu ser mais compreensiva com o filho, quando ele

Milly então passou a descrever sua semana. "Eu já estava um pouco atrasada para uma reunião muito importante", continuou a diretora, "ainda estava com meu casaco, e ansiosa para não deixar uma sala cheia de gente me esperando. Então, perguntei: 'Milly, o que posso fazer por você?' MiIly se aproximou, agar"Não apenas nada ... " rou meus ombros com as mãos, olhou-me bem nos olhos e disse com muita firmeza: 'Sra. Anderson, não quero que a senhora faça nada; só quero que me escute'" . "Aquele foi um dos momentos de aprendizado mais significativos de minha vida - e ensinado por uma criança -, por isso pensei: 'Não importa a sala cheia de adultos esperando por mim!' Milly e eu passamos para um banco que nos dava mais privacidade e nos sentamos, com meu braço ao redor de seus ombros, sua cabeça em meu peito, e seu braço em volta de minha cintura, e falou até se dar por satisfeita. E sabe de uma coisa? Não demorou tanto tempo assim." Um dos aspectos mais gratificantes de meu trabalho é ouvir como as pessoas usaram a CNV para fortalecer sua capacidade de se conectar com empatia aos outros. Minha amiga Laurence, que mora na Suíça, descreveu como ficou aborrecida quando o filho de 6 anos saiu correndo enraivecido enquanto ela ainda falava com ele. Isabelle, sua filha de 10 anos, que a havia acompanhado a um seminário recente de CNV, observou: "Então você está com muita raiva, mamãe. Você gostaria que ele conversas-

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voltou. Um professor de faculdade descreveu como o relacionamento entre alunos e professores fora afetado quando vários membros do corpo docente aprenderam a ouvir com empatia e a se expressar de forma mais vulnerável e honesta. "Os estudantes se abriram cada vez mais e nos contaram a respeito de vários problemas pessoais que estavam interferindo em seus estudos. Quanto mais eles falavam a respeito disso, mais trabalhos eles conseguiam terminar. Embora escutá-los dessa forma nos tomasse um bocado de tempo, ficamos contentes em passá-lo dessa maneira. Infelizmente, o diretor se aborreceu; ele disse que não éramos terapeutas e deveríamos passar mais tempo ensinando e menos tempo conversando com os alunos." Quando perguntei como os docentes haviam lidado com isso, o professor respondeu: "Tivemos empatia com a preocupação do diretor. Percebemos que ele ficou aborrecido e queria ter certeza de que não estávamos nos envolvendo em coisas com as quais não conseguiríamos lidar. Também percebemos que ele precisava de uma garantia de que o tempo gasto nas conversas não estava roubando tempo de nossas responsabilidades com o ensino. Ele pareceu aliviado pela forma como o escutamos. Continuamos a conversar com os estudantes, porque pudemos ver que quanto mais os escutávamos, melhor eles iam nos estudos". Quando trabalhamos numa instituição estruturada hierarquicamente, há uma tendência a ouvir ordens e julgamentos daqueles que estão acima de nós na hierarquia. Embora possamos facilmente ter empatia com nossos colegas e com aqueles

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