Comunicação não violenta marshall rosenberg cnv

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I MARSHALL B. ROSENBERG I

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I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I

rizava era "a maneira certa de pensar" - tal como definida por aqueles que detinham posições de hierarquia e autoridade. Somos ensinados a estar "direcionados aos outros", em vez de em contato com nós mesmos. Aprendemos a ficar sempre imaginando: "O que será que os outros acham que é certo eu dizer e fazer?"

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Uma interação com uma professora quando eu tinha uns 9 anos demonstra como a alienação de nossos sentimentos pode começar. Uma vez, eu me escondi numa sala de aula porque alguns meninos estavam me esperando do lado de fora para me bater. Uma professora me viu e pediu que eu saísse da escola. Quando expliquei que estava com medo de sair, ela declarou: "Menino grande não pode ter medo" . Alguns an os d epoIs, . ISSO . foi reforçado quando comecei a praticar esportes. Era típico dos treinadores valorizar atletas dispostos a "dar tudo de si" e continuar jogando, não importando a dor física que estivessem sentindo. Aprendi a lição tão bem que, certa vez, joguei beisebol por um mês com o pulso quebrado. Num seminário de CNV, um universitário falou do colega de quarto que ligava o aparelho de som tão alto que ele não conseguia dormir. Quando pedi que expressasse o que sentia quando isso acontecia, o estudante respondeu: "Sinto que não é certo tocar música tão alto à noite". Expliquei que, quando ele dizia a palavra sinto seguida de que, estava expressando uma opinião mas não revelando seus sentimentos. Pedi que tentasse novamente expressar seus sentimentos, e ele respondeu: "Acho que, quando as pessoas fazem coisas como esta, é um distúrbio de personalidade". Expliquei que aquilo ainda era uma opinião, e não um sentimento. Ele fez uma pausa pensativa e então anunciou com veemência: "Não tenho absolutamente nenhum sentimento a respeito disso!"

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Era óbvio que esse estudante tinha fortes sentimentos a respeito daquilo. Infelizmente, não sabia como tomar consciência de seus sentimentos, quanto mais como expressá-los. Essa dificuldade de identificar e expressar sentimentos é comum - e, em minha experiência, é especialmente comum entre advogados, engenheiros, policiais, executivos e militares de carreira, pessoas cujo código profissional as desencoraja a manifestar emoções. Para as famílias, o preço se torna alto quando os membros não são capazes de comunicar suas emoções. Reba McIntire, cantora de country e western, escreveu uma música depois da morte do pai e lhe deu o título: "The greatest man I never knew" ("O maior homem que nunca conheci"). Ao fazêlo, ela sem dúvida estava expressando os sentimentos de muitas pessoas que nunca conseguem estabelecer a conexão emocional que gostariam de ter com os pais. Ouço regularmente afirmações como: "Não me interprete mal, sou casada com um homem maravilhoso, mas nunca sei o que ele está sentindo". Uma dessas mulheres insatisfeitas trouxe o marido a um seminário, durante o qual ela lhe disse: "Sinto como se estivesse casada com uma parede". O marido então fez uma excelente imitação de parede: ficou sentado, calado e imóvel. Exasperada, ela se virou para mim e exclamou: "Veja! É isso que acontece o tempo todo. Ele fica sentado e não diz nada. É exatamente como se eu estivesse vivendo com uma parede". Respondi: "Está me parecendo que você está se sentindo solitária e querendo mais contato emocional com seu marido". Quando ela concordou, tentei mostrar que era improvável que afirmações como "Sinto que estou vivendo com uma parede" despertassem a atenção do marido para seus sentimentos e desejos. Na verdade, era mais provável que fossem ouvidas como críticas do que como convite para se conectar com os sentimen-

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