Os vazios silenciosos no coração dos super-heróis

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Os “Vazios Silenciosos” no coração dos super-heróis

Volume I

Se nos permitirmos avançar em direção a terras estranhas, podemos promover um encontro entre a imagem de Afrodite e a da figura feminina retratada por Delacroix (fig. 05). O resultado deste encontro é um questionamento: Por trás da aparência de paz, harmonia e outros ideais como justiça, liberdade e vitória, não se esconderia um aparato de repressão e violência? A tentativa de responder a esta pergunta gera outro encontro de fronteiras sígnicas, fazendo-nos alcançar o território de pensamento de Benjamin (1996) ao questionar a associação feita, comumente, por nós ocidentais, entre a cultura – o cultivo do espírito – e os altos ideais de harmonia, beleza e paz: Todos os que até hoje venceram participam do cortejo triunfal, em que os dominadores de hoje espezinham os corpos dos que estão prostrados no chão. Os despojos são carregados no cortejo como de praxe. Esses despojos são o que chamamos bens culturais. O materialista histórico os contempla com distanciamento. Pois todos os bens culturais que ele vê têm uma origem sobre a qual ele não pode refletir sem horror. Devem sua existência não somente ao esforço dos grandes gênios que os criaram, como à corvéia anônima dos seus contemporâneos. Nunca houve um monumento de cultura que também não fosse um monumento de barbárie (p. 225).

II Walter Benjamin (1986) trabalha a desmistificação da noção de alegoria, relegada ao ostracismo em virtude da preponderância - 40 -


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