Quando a noite cai carina rissi

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Ponderei um pouco, revirando a mente, e tudo o que eu encontrei foi... — Não faço a menor ideia — confessei. — Credo, Briana! — Aisla me olhou feio. — Eu consigo pensar em mil coisas! — Tipo o quê? Esse era todo o incentivo de que ela precisava. Aisla colocou uma das almofadas no colo, apoiando os braços nela como se estivesse no sofá de casa, e começou a tagarelar. — Esse cara é um guerreiro, certo? Então ele poderia ser o seu desejo de proteção, de uma figura masculina. Por causa da morte do papai. — Muito bem — Edna elogiou. — Ou então — continuou minha irmã — vamos nos apegar à parte em que você é uma princesa. Esse é bastante simples. É o seu desejo de uma vida melhor. Olhei para o lustre, reprimindo um gemido. — Eu sou uma princesa fugindo de um sociopata, Aisla. Não é a “vida melhor” que eu sonhei, não. Nem perto. — Porque você ainda não entendeu que se trata de uma metáfora. — Ela arqueou as sobrancelhas bem desenhadas. — Você, princesa, é salva por si mesma. Ou seja, o seu carrasco simboliza as dificuldades que você vem enfrentando sozinha para alcançar essa vida mais sossegada, sobretudo financeiramente. — Exato — Edna concordou. — Todo o cenário lúdico pode simbolizar a maneira como você interpreta a sua vida, Briana. Esse homem representa o seu desejo de amar, de ter alguém confiável e bom para entregar o coração, dividir seus problemas... — Mas eu não desejo nada disso! — Bom, pelo menos eu nunca parei para pensar no assunto. Estava sempre ocupada demais procurando emprego ou me esforçando para me manter em um. A psicóloga cruzou as pernas, descansando um dos braços no apoio da poltrona, e me lançou um olhar complacente. — Querida, seus sonhos são o epítome do romantismo. Uma princesa em perigo que encontra o homem decente que a salva dos pesadelos e traz luz à sua vida. Como eu disse, sonhos nada mais são que uma ferramenta para o autoconhecimento. O que ela estava sugerindo? Que eu era... era uma romântica sem saber? Aaaah. Bom, isso explicava por que eu gostei tanto do filme do Nicholas Sparks na noite anterior, mesmo indo para a cama com a cara toda inchada de tanto chorar. — Claro que essa é apenas uma linha interpretativa — Edna prosseguiu. — Freud era das causas. Já Jung possuía uma abordagem mais finalista. Ele nos faz refletir sobre símbolos, objetos, nomes. Tudo pode ser interpretado, tudo pode estar relacionado se amplificarmos o conteúdo dos sonhos, sempre considerando a função compensatória. — Função compensatória? — Aisla se inclinou para a frente, muito atenta.


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