O radio em maringa geraldo altoé 2007

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SILVIO MAGALHÃES BARROS II Prefeito do Município de Maringá FLOR DE MARIA SILVA DUARTE Secretária de Cultura ANA PAULA PIRES Gerente de Patrimônio Histórico



CONSELHO EDITORIAL Presidente: Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias Coordenador Editorial: Prof. Dr. Ângelo Priori Demais membros: Profª Drª Carla Cecília Rodrigues Almeida, Prof. Ms. Claudinei Luiz Chitoilna, Prof. Dr. Claudinei Magno Magre Mendes, Profª Drª Cleyde Rodrigues Amorim, Profª Drª Eliane Sebeika Rapchan, Prof. Dr. José Beluci Caporalini, Profª Ms. Juliana Rui Fernandes dos Reis Gonçalves, Prof. Dr. Luiz Alexandre Solano Rossi, Prof. Dr. Luiz Carlos Fernandes, Prof. Dr. Marciano Lopes e Silva, Profª Ms. Maria Bernadete Santa Cecília Caporalini, Profª Drª Maria Cristina Gomes Machado, Profª Drª Mariluze Ferreira de Andrade e Silva, Profª Drª Marivânia Conceição de Araujo, Prof. Dr. Nilson Nobuaki Yamauti, Profª Drª Teresa Kazuko Teruya, Profª Drª Terezinha Elisabeth da Silva, Profª Drª Terezinha Oliveira.


Geraldo Altoé

O pioneirismo, o alcance e a bela trajetória do mais ágil meio de comunicação social

Maringá 2007


Copyright © 2007

Geraldo Altoé

Coordenação editorial José Antonio Moscardi Elaboração e organização Rafael Altoé Revisão de língua portuguesa Geraldo Altoé e Rafael Altoé Capa Kaltoé Fonte Century Schoolbook Tiragem 1000 exemplares

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca Central - UEM, Maringá - PR, Brasil A469r

Altoé, Geraldo O rádio em Maringá : o pioneirismo, o alcance e a bela trajetória do mais ágil meio de comunicação social / Geraldo Altoé. – Maringá, PR : Clichetec, 2007. 180 p. : il.

ISBN 978-85-87435-30-9

1. Rádio(Meio de Comunicação) - Maringá, PR. 2. Meios de comunicação - Desenvolvimento e história - Maringá, PR. 3. Pioneirismo e história - Emissoras de rádio - Maringá, PR. 4. Maringá, PR - Emissoras de rádio - Pioneirismo, desenvolvimento e história. I. Título. CDD 22.ed. 384.5 384.5098162

Todos os direitos reservados ao autor. Permitida a reprodução por qualquer processo mecânico, eletrônico, reprográfico etc. Solicita-se a citação da fonte.

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Outubro/2007 Publicado no Brasil


Para Deus, por sempre ter iluminado meu caminho. Para minha esposa, Anna Teresa, pelo companheirismo de uma vida. Para todos os meus filhos e netos, pelo inestimรกvel amor que lhes devoto.



EU SOU O RÁDIO Eu sou o rádio Cada partícula do meu ser é magica. Recolho da atmosfera, música de todos os hemisférios; As sinfonias que inundam os espaços, Os coros harmoniosos, As vozes arrebatadoras dos cantores, A queixa dramática dos órgãos, As vibrações militares das bandas, As árias populares das orquestras. Sou o protetor do homem, na terra, no ar, no mar e debaixo dos oceanos. Eu sou a voz de alarme e o mensageiro de auxílio para as vítimas de desastres. Eu sou uma verdadeira bênção para o gênero humano. Levo minha mensagem a todos os cantos da terra: Ao palácio do rico, como a cabana do pobre, às mansões senhoriais, como as mais humildes moradias. As fazendas, as prisões, hospitais, minas, navios. Ao jovem e ao velho, ao enfêrmo e cego, como ao são e robusto Em todos os climas, em todas as línguas EU SOU O RÁDIO, o dom mais precioso que Deus dotou a humanidade. É impossível conceder outra arte ou ciência tão maravilhosa e de tanta utilidade ao mundo civilizado como o RÁDIO. É um verdadeiro monumento ao gênero humano. (Autor desconhecido)



Sumário

Apresentação 11

Agradecimentos 13

Prefácio 15

Introdução 17

Meios de comunicação social

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O rádio como meio de comunicação

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O rádio em Maringá

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Os pioneiros

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Apresentação Ao leitor deve-se esclarecer que esta obra tem como diretriz fundamental os aspectos básicos da radiofonia, principalmente no que tange ao surgimento e à influência deste consagrado meio de comunicação no desenvolvimento da nossa querida Maringá. Em assim sendo, de extrema importância é frisar que, o escopo principal do livro ora publicado, é a abordagem crítica de um período do pioneirismo no que tange ao surgimento da rádio como consagrado viés de comunicação. A presente teve seu embasamento em uma pesquisa complexa, elaborada por décadas, tendo inclusive o autor tomado nota pessoalmente de muito do que foi exposto. Em uma análise objetiva e esclarecedora, há de se vislumbrar que, extremamente extensa se tornaria a obra se tratadas fossem cada uma das rádios surgidas até hoje em nossa região, perdendo assim, o trabalho aqui elaborado, seu objetivo fundamental, que nada mais é que, frise-se, exclusivamente, retratar o período do surgimento das primeiras emissoras radiofônicas e seus respectivos idealizadores, prova disto é a situação de que em muito se laborou no sentido de demonstrar qual a importância da paisagem sonora e sua capacidade invejável de transmitir informações. Desta forma, outra alternativa não há senão expor que, presentes são as emissoras e indivíduos, onde apesar de não terem sido abordados de uma forma expressa e contundente, puderam contribuir para o desenvolvimento da nossa rádio, assim, esclarece-se, mais uma vez, que o foco principal não é a radiofonia em sua totalidade no âmbito da nossa Maringá, mas na verdade, sua influência e surgimento na região, sendo, via de conseqüência, particulares e emissoras em si, objetos de uma análise meramente sensível e exemplificativa, onde a égide


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primordial é a radiofonia no que tange ao seu pioneirismo e contribuição para o desenvolvimento memorável da cidade. Portanto, são trabalhadas na textualidade apenas algumas emissoras, que ao meu entendimento, baseado em forte estudo e comprovação de imprensa, como bem se vislumbra, são as pioneiras no assunto, não diminuindo em hipótese alguma a importância de outras, entretanto, visamos apenas demonstrar ao leitor um período de iniciação deste maravilhoso meio de comunicação. Em muito agradaria se possível fosse despender da possibilidade de albergar minuciosamente aquelas subseqüentes às dissertadas aqui. Como facilmente se depreende do cotidiano maringaense, atualmente inúmeras são as emissoras de rádio em nossa região, demonstrando o quão valorosa foi a dedicação e o afinco com que nossos pioneiros trabalharam no sentido de construir e disseminar a beleza e a importância do conhecimento pelo som em nosso meio. É com base nesta maravilhosa constatação que valorizamos aqui os nossos pioneiros do rádio, podendo o leitor facilmente extrair a sensibilidade do que, a meu ver, são heróis em todos os seus termos. Rafael Altoé

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Agradecimentos Este livro pretende ser como o abrir de um cofrezinho de tartaruga, em que se guardam algumas cartas, algumas flores murchas de recordações, um pedacinho de galão de vestido, que há muito não existe, um lenço que se apertou certo dia nas mãos comovidas. Dali se evola um perfume antigo, que fala ao coração em saudades e abriga a admiração que lamenta “aqueles bons tempos”. Compostos à vista de documentos e testemunhas orais de contemporâneos colhidos com zelo crítico, não falta nestas páginas a verdade histórica. As largas pinceladas sugestivas preferiram-se o desenho minudente e a perspectiva exata de uma gravura realista. Embeba-se, portanto, o leitor daquela suave e, muitas vezes, imaginada lembrança de tempos idos, para colorir a narrativa, suprindo-a da amena artística sedução que lhe escasseia. O autor cumpre aqui o dever de manifestar seu agradecimento a quantos o ajudaram a compor esta obra, os que lhe facilitaram a fotografar quadros de suas galerias e lhe emprestaram retratos para a ilustração destas páginas. Os que lhe deram a ler documentos ou lhe comunicaram cópias deles, os que, enfim, confeccionaram este livro. Agradeço, em especial, a Secretaria da Cultura de Maringá, meu filho Luiz Carlos e meu neto Rafael, por tornarem este tão estimado sonho uma realidade.

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Prefácio Chico nasceu em Mococa, no estado de São Paulo, indo crescer em São José do Rio Pardo. Tinha, já, seus 12 anos de idade, cursava o ginásio e passava freqüentemente diante de uma oficina de conserto de aparelhos de rádio. Achava aquilo fascinante. Num dia, tomou coragem, entrou, dirigiu-se ao dono: “O senhor me deixa trabalhar aqui como aprendiz?”. O homem respondeu seco: “Impossível. Esta profissão é muito rendosa, é a profissão do futuro, e só a ensino a parentes”. Era o ano de 1937. Francisco Rocamora chorou. Mas não se deixou abater. Descobriu um curso de eletrônica por correspondência, após algum tempo recebeu o diploma de rádio-técnico, sentiu-se preparado para a vida, deu no pé para a capital, onde continuou aprendendo tudo sobre os mistérios das ondas hertezeanas. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, falava-se muito de uma cidade chamada Maringá, que estava sendo aberta no norte do Paraná. “Um lugar onde se oferecem amplas oportunidades a quantos tenham talento e peito para participar da construção de um mundo novo”, disseram a ele. E o jovem Rocamora decidiu: “Pois vou montar uma estação de rádio nessa tal de Maringá”. Veio em 1950. Encontrou uma pequena vila brotando no meio de palmitos e perobeiras. Não havia ainda energia elétrica, nem correio, nem telégrafo, nem ferrovia. Dando prova de que viera para ser útil, Chico instalou aqui, de imediato, um equipamento de rádio-amador – PY5-FW – e se fez porta-voz de todas as mensagens dos desbravadores. Falava para o mundo inteiro, em português e em castelhano. Acabou se tornando o maior propagandista do então chamado eldorado paranaense.


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Mas não foi só para isso que ele trouxera a mala cheia de ferramentas e a cabeça cheia de sonhos. A idéia de instalar a emissora permanecia viva, e em primeiro plano. Falava disso em todas as suas conversas. Alguns zombavam dele. Chegaram a perguntar-lhe se pretendia irradiar miados de onças. Chico sorria, como a dizer: “Esperem...”. Preparou a papelada, requereu licença para montar a rádio. Acontece, entretanto, que, nesse meio tempo, a concessão saíra para outro valente sonhador: Samuel Silveira, competente radialista, já com experiência em gerência de emissoras. Os dois se conheceram, discutiram planos, tornaram-se grandes amigos, concluíram que somar era melhor do que complicar. Sem mais delongas, uniram arrojo e fôlego, e puseram mãos à obra. No dia 15 de junho de 1951, em meio a enorme foguetório, a pioneirada ligou seus radinhos de pilha para ouvir, na voz de Chico Rocamora, o alvissareiro anúncio: “Senhoras e senhores, esta é a ZYS-23, Rádio Cultura de Maringá, em 1.270 quilociclos, inaugurando as suas atividades!” Pois bem: contei aqui um pouquinho do comecinho. Os demais momentos e pormenores da empolgante história do rádio em Maringá vocês vão ler nas páginas seguintes, acompanhando a minuciosa pesquisa elaborada ao longo de muitos anos pelo professor Geraldo Altoé. Mestre em História, e, mais que tudo, testemunha ocular de tudo o que de mais importante ocorreu nesta cidade desde o dia em que aqui chegou em julho de 1953, Altoé coletou dados, entrevistou pioneiros da mídia local, juntou farto material. Sua intenção inicial era produzir um documento com fins acadêmicos, para eventual uso didático. Recentemente, porém, seu neto Rafael, remexendo os arquivos do avô, percebeu que ali estava uma preciosidade. Tanto insistiu que acabou convencendo o professor Geraldo de que uma obra de tal porte não poderia ficar restrita a poucos leitores. Rafael reorganizou os originais, deu-lhes formato de livro, e o resultado aqui está, à disposição de toda a população local e de quantos, aqui e alhures, se interessam pela encantadora história do mais popular dos meios de comunicação. 18

A. A. de Assis


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Introdução Embora se acredite que o olho seja o mais importante receptor de informações, poucas pessoas param para pensar na possibilidade de isso não ter sido verdade no passado, não vir a ser verdade no futuro, ou mesmo não ser verdade no presente, para grande parte da população mundial. O fato de o mundo enfrentar, hoje, o problema da “poluição sonora” e de ser cada vez maior o número de pessoas conscientes disso é um indício claro de que chegamos a esse momento de mudança. Os ouvidos estão exigindo mais respeito. A “paisagem sonora” é uma espécie de paisagem, mas com propriedades diferentes. Podemos gravar e analisar as paisagens sonoras atuais e falar com as pessoas que nelas vivem, para descobrir o que pensam. Mas não nos é possível, esmiuçar a história com nossos microfones e equipamentos de análise. Porém, a civilização tecnológica modificou sensivelmente essa “paisagem sonora”. Hoje as “harmonias da natureza” só são ouvidas em locais afastados do burburinho da vida moderna. Lá, cada som transmite uma informação. Cada um tem seu objetivo e serve de complemento aos outros, como uma boa conversa ou uma boa orquestração. Mas a passagem da vida rural para a urbana, caracterizou-se, em geral, pela transformação dessa “paisagem sonora” que passa da “alta fidelidade” para a “baixa fidelidade”. Nesta, as informações acústicas comuns ou conflitantes encobrem os sons que desejamos ou precisamos ouvir. Para que um som chegue a atrair nossa atenção deve ser monstruosamente forte ou insistente. 19


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Os alto-falantes — o trinado da vida moderna — não migram para o sul no inverno; as escavadeiras não hibernam e os transportes não dormem à noite. Tudo funciona ao mesmo tempo, desperdiçando energia acústica e provocando a destruição dos nervos e dos tímpanos. Tal diferença é que no meio urbano quase todos os sons são próximos, enquanto que no rural, muitos são distantes; a “paisagem sonora” urbana tem presença; a natural tem presença e horizonte acústico. Às vezes ouvir à distância é vital para a sobrevivência de uma comunidade, pois espaço acústico não é espaço visual ou físico. É espaço compartilhado, possessão comum, de onde todos os habitantes recebem sinais vitais. O mundo moderno está repleto de exemplos de espaço acústico mal administrado. Por conseguinte, na medida em que entramos na “era acústica”, esta situação deve se modificar e, com o tempo, ser expressa em novas concepções legais. No mundo atual, os sons mais fortes e mais persistentes são os da tecnologia moderna. São esses sons que estão destruindo nossa capacidade auditiva, quebrando os ritmos naturais de nossas vidas e pulverizando a palavra “tranquilidade” em todas as línguas. Se quisermos restabelecer a elegância e o equilíbrio da “paisagem sonora” teremos, antes de tudo, que dominar a máquina. Não podemos passar a responsabilidade aos engenheiros de som, cuja substância, afinal, depende da perpetuação e até mesmo do agravamento do problema. É preferível que um número cada vez maior de pessoas comece a estudar todos os aspectos da “paisagem sonora”, a avaliá-la e questioná-la e, por fim, a pensar nos meios de torná-la mais bela. Os sons são importantes na harmonia; o músico não os embaralha, nem os omite ao acaso. O objetivo da música é chegar ao equilíbrio e à harmonia; seu inimigo é o ruído, o desperdício de energia. Esta situação só se modificará, para melhor, quando começarmos a criar artefatos sonoros com outro objetivo que não o lucro e o poder; quando aprendermos a controlar os sons estridentes e irritantes; a exigir zonas de quietude e momentos de tranquilidade em 20


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nossas vidas; quando aprendermos que há um momento certo para cada som e para o silêncio. Entretanto, no mundo industrializado, o ruído das máquinas não é o único som onipresente; a música também pode difundir-se em larga escala, devido aos alto-falantes. É difícil imaginar um local onde já não haja ou não se possa instalar um sistema de alto-falantes para transmitir sons. Eles são ouvidos constantemente em supermercados, aviões, restaurantes, cinemas, bancos, residências, praças... Em tempos passados, a música e a fala estavam inseparavelmente unidas à fonte física do som, fosse ela um instrumento ou uma pessoa; hoje qualquer som pode ser dissociado de sua fonte através de meios eletro-acústicos e reproduzido em fitas, discos... para ser transmitido por alto-falantes em qualquer momento e lugar, modificando-os quanto à intensidade, tonalidade, características acústicas; enfim, é a amplificação. O desejo de recuperar a história sonora, bem mostra como é grande o poder dos sons para nos transportar ao passado. Basta ouvir ou mesmo lembrar uma melodia conhecida para que nos recordemos de cenas há muito esquecidas. Todo som, para quem tem boa memória, evoca o passado, mas alguns parecem evocá-lo de modo mais especial, brotando da antiguidade ou de um passado remoto, ou mesmo recente. As palavras, faladas ou cantadas, podem levar ao passado. Cantigas e outras manisfestações vocais revelam sua idade por empregarem a linguagem passada ou por se referirem à épocas ou personagens históricos. Referências à pessoas e lugares desaparecidos; vocabulário obsoleto; estilo musical e instrumentação arcaicos criam ilusões e lembranças de antiguidade. Assim, as melodias, palavras e outros ruidos produzidos pelo homem são considerados próximos dos sons originais, na medida em que se assemelham aos sons mantidos na lembrança. É o que pretendemos reconstruir, por testemunhos diretos e indiretos que irão sugerir muitos aspectos importantes da paisagem sonora do passado paranaense e, sobretudo, maringaense. 21


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Isto porque o som socializou-se, com a instalação das emissoras de rádio, tornando-se propriedade comum, sendo um elemento essencial ao que houve e há de humano em cada pessoa que aqui se instalou. Através do som, todos tiveram à disposição a riqueza das informações, do saber e da experiência social. Através do som, enriqueceram seu mundo emocional, pois os sons humanos, levados pelas ondas sonoras se tornaram sociais e o mundo dos sons humanos é um mundo social. Qual foi, então, a influência da radiodifusão em nosso meio social? Foi um simples entretenimento ou teve missão mais ampla e fecunda? O Rádio foi um simples promotor de vendas ou foi um órgão de informação eficiente? O que pretendemos, pois, representará um panorama retrospectivo e contemporâneo bastante completo sobre a radiofonia em Maringá, como meio de comunicação e suas funções sociais como mídia publicitária e campo de trabalho para o talento humano.

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Capítulo I MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

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Sociologicamente falando, comunicações são sistemas pelos quais idéias e sentimentos são transmitidos de pessoa para pessoa. Podem ser considerados como os meios pelos quais se transmitem idéias, emoções e conhecimentos. A ESG conceitua comunicação como “O processo pelo qual existem e se desenvolvem as relações humanas. E diz que comunicar consiste em transmitir algo, visando conscientemente, a exercer influência ou a afetar quem recebe a comunicação, cuja reação, por sua vez, afeta o ponto de partida, o comunicador”.1 A comunicação pode ser individual ou social, ou coletiva. Esta última pode ser chamada também de comunicação de massa, que se dirige a grandes públicos, através dos chamados meios de comunicação de massa que devem ser adequadamente selecionados, para que, efetivamente, a coletividade possa ser atingida. A vida física e mental do homem é atingida em maior ou menor profundidade pela comunicação de massa, que pretende colocar as coisas e os fatos num plano comum, ou seja, a comunicação de massa transforma os fatos numa espécie de condomínio de entendimento ou uma compreensão coletiva. Pelo que, os objetivos da comunicação são três: informar, persuadir e divertir. Por isso devem estar estruturados de tal maneira que possam evitar, seja a dominação dos interesses particulares, seja as excessivas exigências das autoridades. Embora não se possa ver na opinião pública um poder infalível, que defina soberanamente o que é verdadeiro, o que é bom e o que é direito, assim mesmo ela tem seu valor intrínseco na medida em que traduz os sentimentos e as aspirações de uma socidedade e traz 25


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uma mensagem constante dos valores que inspiram qualquer grupo e qualquer tipo de cultura. Para que se possa perceber sua função social, é importante que sejam garantidas as condições normais do jogo de opinião; ela supõe a liberdade das pessoas ou dos grupos, notadamente dos grupos intermediários da sociedade global. Suprimindo ou encurtando essas liberdades, falsificar-se-ia o jogo de opinião e se correria o risco de instalar-se uma mentira permanente. Mas, segundo a antropóloga Eunice Ribeiro Durhan “A cultura de massa tem limites na sua influência sobre os grupos humanos, uma vez que a cultura não é um produto mas um produzir e, neste produzir para os grupos das camadas mais pobres, conta muito mais o auxílio e a interferência dos grupos de referência (trabalho, lazer, familiar) do que a influência dos meios de comunicação. O realismo invade a vida das pessoas pobres mais do que a televisão e o rádio.”2 Nas sociedades de massa, as pessoas têm acesso a uma multiplicidade de informações fragmentárias e desconexas, principalmente através do rádio e da televisão. Mas essas informações precisam ser compreendidas e integradas numa interpretação relativamente coerente com o mundo em que vivem. A integração da informação é feita através de um processo de elaboração coletiva. Já D. Antonio Cheuiche, bispo auxiliar de Porto Alegre descreveu as funestas influências exercidas pelos meios de comunicação social sobre as pessoas, tais como a desinteriorização, a desportização, a massificação, a desorientação e a perda de contato com a realidade. “Não há influência, mas interferência. A própria notícia traz o perigo de confundir o novo com o correto. Por isso, o homem perdendo sua capacidade de interiorização, passa a confundir o ser com o ter, criando a imagem consumista das coisas”. 3 Vivemos, porém, incorporados em uma sociedade. Ninguém pode se considerar criatura humana, isolando-se em uma presunçosa solidão, ou aniquilando-se em uma alienação que mergulhasse totalmente na vida do próximo, levando-o a descuidar-se de si mesmo. A solução positiva desta alternativa está na integração viva e fecunda entre o “eu” e o “próximo”. Isto acontece quando a vontade de cada um, em harmonia com 26


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a vontade dos outros, se exprime em operante e produtiva cooperação, no âmbito de uma ordem, de uma legalidade, de uma cultura. Conforme cada um “está no mundo” para si e para os outros, pode-se falar de integração (alienação positiva) ou de desajuste, não comunicação (alienação negativa). Alienação e incomunicabilidade são dois termos que caracterizam dois pontos de vista, dois aspectos do mesmo fenômeno. Trata-se, sempre, substancialmente, do problema das realações entre indivíduos e grupo, entre o um e o múltiplo, entre cada um de nós e os outros. Saliente-se que a Alienação é um tema antigo. As mais recentes fórmulas remontam a Espinoza, Hegel, Fuerbach, Marx. Na cultura contemporânea tornou-se um motivo dominante e até excessivo pela sua insistência. O indivíduo só é valorizado quando incorporado na complexa realidade das suas prementes e mutáveis situações de vida. O “eu” considerado só, fechado em si, destacado dos outros, das coisas e instituições sociais, é uma abstração; não existe. O “eu” na concreta situação vital é substanciado por si e pelos outros; pelas coisas; pelos espaços e pelas forças em cujo meio vive e luta, com vitórias ou derrotas, e combate com alegria ou com dor, com exuberante participação ou com aborrecida resignação. Só há um espaço distinto do “eu”: o espaço vital, físico, social e cultural, que dá e toma em um incessante intercâmbio. O espaço vital em torno do “eu” está, teoricamente, sempre aberto e disponível. Na realidade das situações concretas da existência é qualquer coisa que obstaculiza certas projeções, certas participações. Adquire, então, uma estrutura rígida, premente, em volta do “eu”, o qual se sente constrangido, frustrado, isolado. Um sopro de vento pode reascender a chama ou apagá-la. Do mesmo modo a pressão da coexistência do espaço vital pode incentivar o indivíduo ou então apagá-lo. Outro fator de alienação negativa é a tecnização total dos espaços e das relações vitais. A técnica realizou em volta de nós um conjunto de matérias, de normas, de potências que nos estimulam continuamente, que nada têm que ver com as originárias e normais exigências da vida e da cooperação humana. Vivemos hoje mergulha27


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dos em um mundo no qual pode também faltar o necessário, mas no qual o supérfluo nos assalta, nos coarcta, nos sufoca. Estamos imersos em um mar de produtos que, por exigências econômicas, devem ser vendidos. É uma insistência contínua de estímulos e de sugestões de toda espécie e intensidade, sobre o que deve ser comprado. Acabamos por nos sentir necessitados não só das coisas estritamente necessárias, como também das inúmeras coisas inúteis e até prejudiciais. A publicidade nos assalta, impele, estimula e arrasta-nos pelos labirintos dos supermercados, das grandes lojas, dos grandes armazéns. Nem mais sabemos o que verdadeiramente desejamos, o de que realmente precisamos e acabamos por querer com a cabeça dos outros. A insistência incessante e, às vezes, violenta dos reclames; o assalto constante a que estamos sujeitos por parte de todos os tipos de figuras, pregões, e slogans; a rapidez, a fugacidade das próprias comunicações, que não têm tempo de parar e de maturar-se no campo de nossa consciência, tudo isto nos deixa em paradoxal situação. No momento em que parecemos estar na mais íntima relação com nosso próximo, no mais cordial diálogo e simpática conversação, estamos, na verdade, confusos, destacados, alienados dos outros e, enfim, também de nós mesmos. Escutamos sem entender, como se estivéssemos no clamor da multidão e não conseguíssemos captar o sentido das palavras. O valor econômico se interpõe sempre mais prepotente e desagradavelmente entre nós e os outros. Cada coisa tem seu valor. Cada pessoa tem sua base patrimonial e seu rendimento profissional. A cifra em que isto se exprime parece resumir qualquer outra avaliação possível. O prestígio social e os valores humanos parecem inutilizados ou postos em perigo pelo poder do dinheiro. Tal conjunto de fatores de alienação - sejam verdadeiros ou artificiais - cruzam-se, reforçam-se e sorrateiramente parecem rescindir ou esterilizar as mais espontâneas, as mais autênticas e nobres comunicações humanas: o indivíduo não mais atinge a intimidade do outro. Todos falam em língua de gíria “coletivizada” em que prevalece o código da desconfiança e o cálculo implícito de fazer bem as próprias contas e somente estas. Mas será que todos as “mídias” são subliminares? Estaría28


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mos expostos constantemente às mensagens subliminares que nos chegam através do cinema, do rádio, da televisão, da imprensa, da publicidade ou da propaganda? Nossa cultura pode ser considerada uma cultura subliminar e nosso inconsciente um depósito de informações consumidas sem percebermos e que começam a fazer parte de nosso cotidiano? Estas opiniões podem parecer paranóicas, mas sérias pesquisas realizadas por especialistas atestam que vivemos em um ambiente subliminar, rodeado pelas vitrines das lojas, bancas de jornais, outdoors e grafites que acabam bombardeando os consumidores, receptores e leitores, tonando-os vítimas de um processo quase incontrolável. Catastrofismos à parte, Flávio Calazans faz uma discussão exaustiva da bibliografia e amplia a visão estreita que acompanhou por muitos anos as análises tradicionais sobre o tema. Para o autor, uma população exposta a subliminares, teleguiada, que se vista, consome produtos, serviços, crenças e ideologias, não pode ser considerada uma população autônoma, livre. Mas a mitologia acaba conduzindo à passividade: é preciso manter-se desperto e consciente dessas novas formas de dominação, única maneira eficaz de combatê-la. 4 É por isso que os meios de comunicação desempenham, hoje, um papel central na vida da sociedade. São instituições formadoras por excelência, deslocando para segundo plano a família, a escola e a igreja. Eles moldam valores, opiniões e atitudes; dizem como deve ser, como se deve pensar e como se deve agir. Por sua importância, os meios de comunicação devem estar organizados de maneira a atender os interesses da sociedade. Por isso é que a questão da comunicação social foi um dos temas importantes da agenda do Constituinte. Esta importância cresceu ainda mais com a acelerada introdução de novas tecnologias, cujos efeitos repercutem no mercado de trabalho, na soberania nacional e na vida privada dos cidadãos. Existe hoje, bastante disseminada, a crença de que o sistema de comunicação em funcionamento no país, apresenta uma série de distorções, entre as quais se destacam: a concentração de propriedade, incompatível com a pluralidade de meios e mensagens que deve prevalecer; a má distribuição de mensagens por regiões e classes sociais; o regime de apadrinhamento na outorga 29


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de canais de rádio e de televisão; a dependência externa de produtos culturais e de tecnologia e, sobretudo, a ausência de participação da sociedade na definição das políticas de comunicação. José S. Damorim afirma que “normalmente as pessoas se comportam de maneira passiva diante dos meios de comunicação. No máximo desligam o aparelho ou fecham o jornal. As pessoas têm dificuldade em compreender em profundidade se um meio de comunicação está oferecendo ao público um serviço adequado. No entanto, a qualidade deste serviço é muitas vezes discutível, pois os meios de comunicação sofrem continuamente pressões de poderosos interesses políticos e econômicos. Daí que as notícias que recebemos são, muitas vezes manipuladas. Os anúncios transmitem imagens falsas de produtos ou veiculam valores condenáveis, como ocorre com as novelas que estão carregadas de estereótipos e caricatas”. 5 A comunicação, sendo a manifestação do conteúdo psíquico, dirigida a outros, deve caracterizar-se pela transmissão de idéias, pois para elas é que a sociedade elabora um complexo sistema de símbolos, enquanto os sentimentos tendem a ser expressos por manifestações não-simbólicas. Isto explica o efeito que os meios técnicos de comunicação exercem sobre o caráter da interação social. Os meios técnicos de comunicação de massa despejam comunicação simbólica, que não expressa, muitas vezes, os pensamentos reais dos comunicadores; sendo conscientemente utilizados para provocar, na mente do ouvinte, associações de idéias, as quais tenham colorido afetivo que se prentede criar.Mas sem esses meios não teríamos nenhuma possibilidade de adquirir conhecimentos sobre o vasto mundo em que vivemos e, na falta deles, nenhuma chance de formar opiniões racionais. Para termos atitudes, individualmente racionais, necessitamos da imprensa, dos livros, do rádio, da televisão, etc. Mas recebendo criticamente suas informações e esforçando-nos para não sucumbirmos à manipulação. Uma das características importantes da segunda revolução industrial foi o vertigionoso progresso dos meios técnicos de comunicação. O telefone, o telégrafo, a aceleração do transporte de correspondência, o desenvolvimento e a popula­rização da imprensa; bem 30


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mais tarde o rádio e, recentemente, a televisão, deram-nos condições para o contato com pessoas que o emitente de mensagens não pode conhecer pessoalmente. Acresce que, muitas vezes, nem sabemos quem é o autor das mensagens que recebemos através desses meios. Sua crescente influência coloca, progres­sivamente o controle social interior, nas mãos dos órgãos da sociedade que os dominam e apaga as distinções entre os controles difusos e organizados. Os modernos meios técnicos de comunicação, conferem tão grande importância à estimulação idêntica nas multidões, que podem ser considerados uma das características principais, distinguindo a presente fase histórica das anteriores.¨(6) O Dr. em Psicologia Jacob Pinheiro Goldberg, referindo-se aos meios de comunicação afirmou: “que a mídia eletrônica vai seduzindo todos os ouvintes para posições de individualização ou até de egocentrismo. Ele projeta em cada personagem os seus sonhos, recalques, frustrações, esperanças e chega a encontrar na postura deles o caminho a ser seguido para a solução de seus problemas pessoais. Pois grande parte da produção é utilizada como importante arma no sentido de incentivar o consumismo e de ditar modernismos, o que vai eliminando a possibilidade, sobretudo do jovem, de construir uma personalidade sólida por intermédio de experiências próprias. Além disso, esses meios, exploram constantemente as carências e fraquezas psicológicas do público. Os programas, motivam as pessoas a ligarem, todos os dias, o aparelho e isso exige cada vez mais agressão contra o ouvinte, a fim de que ele se mantenha num eterno suspense, estabelecendo-se, assim, uma relação sadomasoquista”.7 O importante é não perder de vista a separação muito concreta que existe entre a realidade e a ficção e não se deixar levar incons­ cientemente por valores ouvidos ou assistidos. Pois, isto, se torna perigoso, porque muitos programas não são elaborados com a finalidade de instrução, além de apresentarem, na maioria das vezes, uma realidade distante da vivida pelo público. O importante, quando se toma contato com a comunicação através da imprensa, do rádio, da televisão ou de outros meios, é 31


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não perder de vista a separação muito concreta que existe entre a realidade e a ficção e não se deixar levar pelos valores apresentados. O diálogo a respeito dos simbolos, sons e imagens apresentados pelos meios de comunicação é um bom instrumento de mediação crítica das informações recebidas. É fundamental, no entanto, que jamais o ouvinte abdique da sua cultura e da possibilidade de vivenciar experiências próprias em favor do modelo de vida e de felicidade que aparece pronto e deslumbrante pelas ondas ou janelas eletrônicas ou, ainda, pela arte da propaganda. Um grande perigo é o reducionismo cultural. Como existe a necessidade de usar uma linguagem global, que atinja o maior número possível de indivíduos, as linguagens regionais vão se empobrecendo. De outro lado o aspecto das transmissões é uma realidade moderna que, mostrada como ideal, vai prejudicando formas de vida e conteúdos culturais muito ricos, mas que não têm a mesma roupagem daquela apresentada pelos meios de comunicação. Uma transmissão eletrônica só encontra sucesso quando reflete as necessidades de seus ouvintes e se aproxima, mesmo que aparentemente, da realidade social, visto que para grande parte da população brasileira esses meios se tornam uma forma de lazer mais barata e que menos esforço e criatividade exige. Embora o jovem de hoje possua posicionamentos críticos em relação aos temas relevantes da vida nacional, sente uma grande dificuldade em participar de atividades que extrapolem o estudo e o trabalho. O jovem tem posicionamentos políticos, mas não milita em partidos políticos. Tem opinião a respeito da religião e da igreja, no entanto não participa de comunidades eclesiais de base. Valoriza os movimentos sociais pela melhoria de vida dos trabalhadores, porém não frequenta sindicatos. A família não dialoga e, muitos pais, seguindo sua própria escala de valores, não se importam em saber qual é o verdadeiro projeto de vida de seus filhos. Isso reprime a participação social plena do jovem e o torna cada vez mais solitário. É neste contexto familiar que, principalmente os meios de comunicação social colocam-se, para o jovem, como um canal de escoamento das comunicações por ele desejadas e não acalentadas. Além de en32


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contrar neles as condições de diálogo que não existem nas famílias, o jovem transfere para determinados personagens do folhetim eletrônico o desejo de participação social que na vida real permanece reprimido em seu interior. Este folhetim eletrônico fica entre uma espécie de universidade e as noções de liderança que estão faltando. É exatamente na faixa etária da juventude que os moços e moças estão à procura de paradigmas de comportamento, de modelos para imitação e é através dos meios eletrônicos que eles vão encontrar um prato cheio para satisfazer essas necessidades. A pessoa, diante dos aparelhos, esquece seus problemas concretos e sorve, mesmo que por alguns minutos, a luxúria, os hábitos e os padrões de felicidade apresentados, mas que são vivenciados por uma ínfima camada da população. Mais preocupante é que os programas que representam as camadas mais pobres da população não refletem, com fidelidade, o estado de miséria e subdesenvolvimento que grassam na sociedade brasileira. Vestem-se ou falam mais modestamente, porém, não moram em barracos e falam em lautas mesas, comendo várias vezes ao dia. Além disso, tais personagens, com frequência têm acesso às camadas mais ricas onde circulam com desenvoltura e, não raramente, algum membro dessa classe pauperizada manifesta um verdadeiro status galgando o sucesso e compartilhando mais estreitamente do estilo de vida da alta sociedade. Tudo diferente, ao extremo, do que se passa na vida real.8 Desta forma, os meios de comunicação, nos dias de hoje, são muito mais que veículos jornalísticos; são fatores de influência sobre o homem e a sociedade, tendo por isso alta responsabilidade social. Eles têm o poder de difusão e preservação cultural, de manutenção ou destruição de valores, funcionando como meio ou reflexo de mudanças sociais profundas. O papel dos mass-media deve ser o de situar o homem na realidade regional, nacional e mundial, além de enriquecer as suas experiências por meio de uma variedade de informações bem dosadas que sirvam também como subsídios para a comunicação interpessoal. 33


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Eduardo Subirats diz que “os meios tecnológicos de comunicação e, de maneira particular os audiovisuais, constituem a forma básica de interação na cultura moderna, um fator elementar de interação social e uma chave fundamental das formas de dominação nas sociedades democráticas. Não é de estranhar, portanto, que estes meios se tenham convertido numa das questões mais polêmicas de nosso tempo e na encruzilhada mais assinalada da crise e transformação da cultura contemporânea”.9 Desta forma a comunicação de massa se tornou o modo particular da comunicação moderna que permite, ao autor da mensagem, dirigir-se simultâneamente a um grande número de destinatários. O cinema, a imprensa, as cartas, o rádio e a televisão constituem, portanto, a comunicação de massas: são meios de comunicação de massa ou mass media. Por isso o desenvolvimento dos meios de comunicação de massas atraiu fortemente as atenções sobre a parte material das mensagens e sobre as implicações materiais da sua circulação. Mas, para que as mensagens possam circular no mercado cultural, é preciso que entrem nos circuitos de uma certa ação social. É preciso que sejam procuradas, que indivíduos ou grupos hajam, de uma forma ou de outra, no sentido de as obter. É preciso, por outro lado, que essas mensagens sejam produzidas e colocadas no mercado ou, por outras palavras, que se constitua uma certa oferta. A perspectiva tradicional segundo a qual aquilo que essencialmente importa no mercado das mensagens é a informação, acentua principalmente a capacidade referencial da mensagem: aquilo que conta são, em primeiro lugar, as propriedades dos objetos referidos na mensagem, os atos realmente realizados pelos personagens. A teoria da cultura de massa interessa-se fundamentalmente pelo conteúdo latente da comunicação e põe em primeiro plano os efeitos do contexto e da estrutura. A teoria da cultura de massas desemboca necessariamente na análise estrutural da mensagem. Pois os temas projetivos estão profundamente enraizados no insconsciente, e comunicam com algo de recalcado de que o indivíduo não quer e nem pode tomar consciência, o que dá à cultura “projetiva” uma tonalidade muito diferente da zona de modelos. 34


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Burgelim afirma que “a cultura de massas e, em particular, as mídias como o rádio e a televisão que, muitas vezes se dirigem diretamente ao ouvinte ou expectador, podem servir para substituir contatos humanos quando estes faltam. A pessoa que se sente só, liga o rádio. Mas não é evidente que seja essencialmente a falta de contatos humanos diretos que estejam na base da participação radiofônica ou televisual., mas talvez o desejo de realizar estes contatos humanos na base que não seja a dos contatos quotidianos. E, na cultura de massas, a interação entre o locutor radiofônico e o ouvinte não deveria, nesta perspectiva, ser considerada uma simples atividade sucedânea, mas uma atividade de substituição. Ela não faria mais do que preencher, na medida do possível, um vazio, mas permitiria a cada um reformular as suas relações com os outros. Poria, pois, finalmente, em questão, mais a natureza das relações humanas do sujeito do que a sua ausência”.10 O que se deduz é o seguinte: o processo de comunicação coletiva (mecânico, indireto, unila­teral) não se basta a si mesmo. Depende, para a sua eficácia, do processo de comunicação interpessoal. Pois o fenômeno comunicativo, com os seus efeitos culturais, está condicionado à dinâmica dos grupos dentro da sociedade. Aparentemente os “mass-media” atingem globalmente a sociedade; mas, na prática, o conteúdo das suas mensagens é refletido, dirigido, analisado dentro dos grupos, vindo dai a adoção de opiniões e atitudes. “Os líderes de opinião, segundo Folliet, desempenham um papel fundamental nesse processo, porque pelas próprias características, são indivíduos dotados de uma grande mobilidade, transitando em vários estratos sociais, dominando vários estratos sociais. Esses líderes decodificam as mensagens da cultura de massas e os recodificam na linguagem da cultura popular, fazendo-as chegar ao seu destino”.11 Nos dias de hoje, grande parte das barreiras entre a cultura da elite e a cultura do povo começam a ser demolidas, em consequência do fenômeno da socialização produzida pelos meios de comunicação coletiva. O impacto do rádio, da televisão, do cienema e da imprensa, utilizando todos os recursos da tecnologia moderna, realmente desencadeia uma revolução no panorama cultural. Eliminando as separações entre os estratos sociais (separação etária, de classe, 35


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educação, raça, crenças...) os meios de comunicação coletiva, criam, verdadeiramente, uma nova cultura, a cultura de massas. Enquanto a cultura clássica e a cultura popular tiveram suas origens na sociedade artesanal, a cultura de massas é um produto típico da sociedade pós-industrial. As duas primeiras são culturas espontâneas, que surgiram e se consolidaram no seio das atividades produtivas e diversionais da elite e do povo, respectivamente. A nova cultura é o produto de uma dialética produção-consumo, pois ela foi gestada artificialmente no contexto da indústria cultural. Afirmou-se e expandiu-se no bojo dos produtos impalpáveis e de consumo psíquico fabricados pela indústria dos “mass-media”. A cultura de massas atua como veículo de interação entre as duas culturas ( clássica e popular), estimulando o intercâmbio simbólico entre elas e, ao mesmo tempo, extraindo de ambas, códigos e elementos míticos que incorpora ao seu próprio acervo e os redistribui sob a forma de novas influências. A cultura de massas provoca, assim, uma reviravolta completa no quadro de valores culturais, acelerando todo o processo de mudanças na estrutura e no conteúdo das demais culturas então existentes.12 Na verdade, é através da imprensa, do rádio, da televisão e do cinema, que os indivíduos se informam, cotidianamente, sobre os fatos da atualidade, se divertem e se mantêm sintonizados com o meio ambiente de que participam. Evidentemente o acesso direto aos meios de comunicação está relacionado com o fenômeno da capacidade aquisitiva ou da distribuição do produto social, pois a compra de exemplares de jornais e revistas, de um impresso de cinema ou posse de aparelhos receptores de rádio e televisão, implica num dispêndio financeiro que nem sempre está ao alcance de todos os cidadãos. Mas indiretamente, toda a sociedade está ao alcance dos meios de comunicação, porque o processo de transmissão das mensagens que veiculam, obedece a um fluxo de dois estágios. No segundo estágio, a difusão se faz através dos meios informais (folkcomunicação) assegurando uma penetração massiva em toda a comunidade que está no raio de audiência do instrumento formal de comunicação. Mas embora atingindo a massa, os meios de comunicação são meios 36


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de elite e controlados pela elite. Por isso, quando a imprensa se converte, efetivamente, num autêntico veículo de comunicação de massas nas áreas urbanas, surgem o cinema, o rádio e a televisão como conseqüência do progresso eletrônico e, rapidamente, incorporam-se à estrutura da sociedade de consumo massivo.12 Para Guareschi “os meios de comunicação constituem-se num aparelho ideológico. Considera e afirma que eles constroem a realidade. Por isso mesmo, quem tem a comunicação tem o poder. E esse poder está nas mãos do capital nacional a serviço do capital transnacional e, assim massacram a cultura. Descaracterizam nossa cultura.13 Mas não há dúvida de que os meios de comunicação de massa constituem também a influência mais poderosa na demanda de uma grande variedade de atividades e interesses de lazer. O crescimento dos meios de comunicação faz com que a questão da qualidade da demanda de lazer assuma talvez sua forma mais aguda. Na verdade, aqueles que usam o conceito de “demanda” tendem a fazer duas das perguntas mais importantes desse setor: A sociedade deve simplesmente atender à demanda explícita das pessoas ou à demanda “econômica” de tipos específicos de experiência ou lazer? Ou deve a sociedade preocupar-se em formar a demanda através de influências educacionais e de outra ordem, segundo valores a respeito do que seria o “bom” lazer?14 Mas a sociedade da comunicação está começando. A sociedade de produção foi ontem. A sociedade de consumo é hoje. Mas por quanto tempo ainda? Amanhã ver-se-á o apogeu da sociedade de comunicação. Uma sociedade na qual a relação entre os homens, pela acumulação de técnicas e aprofundamento de conhecimentos, se tornarão cada vez mais complexas. As agências publicitárias e informativas, como neste caso as grandes corporações transnacionais, dedicadas à produção de tecnologia, os governos dos países centrais, valendo-se do “discurso” elaborado pela nova “inteligenzia” tecnocrática são os porta-vozes mais insistentes de tal concepção. E, nessa medida, a nova sociedade “de comunicação” equivale à “aldeia global” Mcluhiana: “uma extensa e complexa sociedade na qual foi restabelecido o intercâmbio entre 37


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os homens; a participação de uns na vida dos demais, a ágora grega, graças aos novos sistemas de comunicação”.15 Paul Eugène Charbonneau afirma que “a essência do homem o situa no mundo da linguagem da transmissão verbal, da comunicação, que é conseqüência direta de sua racionalidade. Dentro desse contexto surge o problema tão importante da informação que o nosso tempo, do qual já se disse que pode ser definido como o tempo da informática, reforça de modo particularmente agudo que o homem vive, portanto, imerso numa informação onipresente e todo-poderosa. Essa onipresença e esse poder supremo chegam até o domínio do poder e, consequentemente da política”.16 Celebra-se, em 7 de maio o Dia da Comunicação Social, consagrando-se, assim, a data à Imprensa, ao Rádio, à Televisão, ao Cinema, ao Teatro e aos Discos. Todos esses veículos são instrumentos dinâmicos de cultura, informação e conscientização e devem ser considerados como forças decisivas na formação de uma comunidade. Mais importante que qualquer outra arma, o veículo de comunicação social pode constituir-se num fator de promoção da sociedade ou num meio de corrupção e subversão, dependendo das pessoas que orientam a aplicação desse instrumento. O ato da comunicação coletiva é hoje, mais do que nunca, uma tarefa de extraordinária responsabilidade. Um jornal cujos diretores sejam recalcados, revoltados, frustrados e portadores de idéias nocivas, reflete em suas páginas uma influência terrível, que provoca intranquilidade social e leva seus leitores a uma paulatina degradação moral. Ao contrário, o jornalista que analisa a vida com olhos otimistas, com respeito à dignidade das famílias e das autoridades, com propósitos sinceros e honestos, cumpre um papel altamente benéfico e didático, educando o povo e promovendo o espírito da sociedade. Da mesma forma acontece com o rádio, o cinema, a televisão, o teatro, os discos, todos eles portadores de mensagens que atingem rapidamente as multidões e cujos efeitos repercutem na modi­fica­ção 38


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de costumes e no comportamento da opinião pública. Pensamos mesmo que uma Lei de Imprensa não deveria preocupar-se tanto com determinados pormenores técnicos, mas cuidar principalmente de submeter a um rigoroso teste psicológico todos aqueles que se dedicam a falar, cantar ou escrever para o público. A mentalidade defeituosa e negativista de um profissional das comunicações sociais é a coisa mais terrível que pode existir no conjunto das forças que influem no destino de uma comunidade. Ninguém devia ter o direito de corromper a sociedade através de veículos de informação e opinião. A Lei, nesse sentido, devia ser mais forte, porque muitos fatos de consequências terríveis já ocorreram como resultado de manifestações de elementos nocivos que ficam livres para falar, cantar e escrever à vontade, sem o mínimo respeito a quem quer que seja. Toda a humanidade anseia por um mundo melhor. E não há nada que possa, mais rapidamente que os veículos de comunicação social, conseguir que o mundo fique melhor. Basta que todos os operadores desses veículos se voltem para o bem-comum e se comportem como pessoas de responsabilidade, realmente interessadas em construir uma civilização feita de homens dignos. E isso ocorrerá se aprimorarmos a mentalidade dos que falam, cantam e escrevem para os meios de comunicação.

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Notas 1 - Camargo, Enjoeras José dos Santos - Estudos de Problemas Brasileiros - Ed. Atlas s.p. - 1987 cap. 13, p. 236 2 - 53ª Semanas Social da França (Liberdade de Imprensa) Nosso Século Sociedade Edit. Paranoá - RJ - Julho/70 nº 945, p. 18 3 - Valente, Antonio - A pedagogia e a discussão sobre a influência dos meios de comunicação - p.57 4 - Calazans, Flávio - Propaganda subliminar multimídia, in leitura e publicação cultural da imprensa oficial do Estado - IMESP - outubro/92, p.15 5 - Amorin, José Salomão David - O desafio de democratizar a comunicação, in Humanidades, ano IV, nº 13, p. 56/59 6 - Linhard, Rudolf - Sociologia Geral - Pioneira, SP. - 1986 7 - Goldberg, Jacóh Pinheiro - Família Cristã, ano 53, nº 616 - abril/87, p.53/54 8 - Souza, Mauro Wilton de - A Rosa Púrpura de Cada Dia, (tese de doutoramento) USP 9 - Subirats, Eduardo - O grande mundo da pequena tela, in Folhetim nº 550, 8/1/88, p. 3/5 10 - Burgelim, Olivier - A Comunicação Social, Livraria Martins Fontes Edit. Ltda. - 1970 11 - Folliet, Joseph - O Povo e a Cultura - Florense, RJ - 1968 12 - Melo, José Marques - Comunicação Social, Edit. Vozes - Petrópolis - 1970 13 - Gomes, Pedro Gilberto - Cultura e Comunicação de Massa - Submissão ou Resistência 14 - Parker, Stanley - A Sociologia do Lazer - Zahar Edit. - RJ - 1970 15 - Paiva, Alfredo Joaquim - A recuperação da palavra do povo, in Comunicação e Sociedade, nº 5, p. 47/54 16 - Charbonneau, Paul - Eugéne, in Política de Informação, Folhetim nº 309 - 19/12/82, p.3

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Capítulo II O RÁDIO COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO


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A palavra rádio designa, a rigor, uma tecnologia, não um modo de comunicação. Este varia de acordo com a situação na qual o rádio se insere, fazendo sim com que o ‘medium’ rádio possa ter papéis diferentes, e até opostos, segundo determinantes políticos, econômicos e sociais. Enfim, um instrumento que deve ser pensado não enquanto tecnologia, mas como uma opção a mais nas diversas frentes de luta por uma sociedade democrática. 1 O Decreto nº 52.026 de 20/5/63 que estabeleceu o Regulamento Geral do Código Brasileiro de Telecomunicações, em seu Art. 6º caracteriza RADIOCOMUNICAÇÃO (item 24) como sendo: “Telecomunicação realizada por meio de onda radioelétrica e RADIODIFUSÃO (item 26) como sendo serviço de telecomunicações que permite a transmissão de sons (radiodifusão sonora) ou transmissão de sons e imagens (televisão) destinada a ser direta e livremente recebida pelo público”. Sendo a marcha do progresso cada vez mais vertiginosa, explica-se facilmente, porque os elementos que entram na composição de cada uma das novas descobertas, associam-se e desenvolvem-se estabelecendo paralelos que facultam a aplicação e ensejo de novos inventos, e novas tecnologias. As sete maravilhas do mundo antigo, obras que a humanidade jamais esquecerá, são pálidos reflexos do labor e do progresso de uma época em face da suprema maravilha que é o rádio.2 Apenas em poucos anos, o rádio conquistou um lugar importante na vida intelectual e econômica da maioria dos povos. A sua presença indiscreta insinuou-se por tal forma nos hábitos que, hoje em dia, um mundo sem o rádio (ou pelo menos, sem a possibilidade do 43


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rádio) parece-nos deslocado para épocas muito remotas. Seu poder e seu valor são incontestáveis. Muito mais do que o cinema e a televisão (também cada dia mais ligados às grandes multidões) o rádio estende o seu poder por todas as partes do mundo e a todos os meios sociais. Pelo que, deveria constituir-se num dos principais agentes de difusão da cultura intelectual, artística e política. A produção radiofônica tem um papel importante a cumprir: de divulgar e ensinar. Unificador de culturas? Instrumento de lutas políticas? Meio de informação? O Rádio tem seu valor demonstrado primeiramente no conflito que envolveu todo o mundo. A partir de então, com o interesse governamental despertado, o Estado determinou o direito ao controle e à exploração técnica das estações, deixando apenas a programação a mando das empresas ou instituições geradoras. Uma vez estabelecido esse poderoso veículo, o mundo passou a se conhecer melhor. Integrando, inclusive, províncias e capitais, misturando ideologias e até mesmo identidade cultural. As empresas de radiodifusão se apresentam com características particulares quando comparadas a outras empresas ou indústrias. Não só em decorrência da especificidade dos veículos eletrônicos de comunicação, dos fatores e decorrências históricas da utilização dessa tecnologia, mas pela natureza de penetração de serviços, para a qual deve obter concessão, permissão ou autorização que lhes são outorgadas pela União a título precário e por tempo determinado. Podendo, a qualquer momento, em caso de não satisfação das cláusulas normas, obrigações e deveres estipulados previamente, sofrer perempção, sanções legais, advertências, suspensões, cassação e outras formas constantes ou não no Código. Nele se determinam faixas horárias, faixas etárias permitidas nos horários, tempo para emissão obrigatória dos órgãos públicos, propaganda eleitoral, divulgação institucional, redes e serviços públicos e sociais. Além de atender aos objetivos e finalidades básicas estipuladas no Código, há que atender aos anseios e expectativas de um público heterogêneo e territorialmente disperso. Em termos econômicos, tem como missão divulgar e vender produtos da indústria, do comércio e da agricultura, constituindo-se em propiciador do consumo e, conseqüentemente, da produção o que, por sua vez, leva ao desenvolvimento. Em termos políticos, servir à 44


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propaganda e propiciar coesão através da divulgação de informações e reforço às normas e padrões. 3 Qual é, então, a especificidade desta prática radiofônica? Ela atua num plano determinado, assumindo um papel de controle social, implícito e difuso, veiculando a excelência de valores ético-morais? Um modelo de sociedade ideal, positivo, sem entanto, respaldar-se direta ou implicitamente, num projeto político? Como pode, então, o rádio, veículo estritamente limitado ao som, envolver emocionalmente tantas pessoas e com tal profundidade, a ponto de fazer seus ouvintes chorarem, amando ou odiando o personagem de uma novela, ou crer nas informações diárias de um locutor que nunca se viu? Sem a mais leve pretensão de querer contradizer a opinião dos que consideram pouco proveitosa a ação do rádio na comunicação, sentimos a necessidade de expor certas considerações muito aceitáveis no assunto. A imprensa que sempre foi considerada o veículo das idéias, das opiniões e da propaganda, não está sendo eclipsada pelo máximo fator do progresso que é a radiofonia. Isso ,entretanto, não nos tolhe o ensejo de demonstrar a eficiência da propaganda feita pelo microfone. O rádio deve, no entanto, expressar a vida que vivemos. Na vida, o plural e o singular se intercalam. Quando estamos conversando com um grupo, ora falamos com o grupo todo (plural) ou falamos com uma pessoa especificamente (singular). Assim deve acontecer também com o rádio. O singular e o plural devem aparecer intercalados: ora se dirige a todos os ouvintes, ora se dirige “a você” que está ouvindo, ao “senhor” que mandou a carta.4 A voz humana, contudo, é obrigada a recorrer à mediação dos conceitos. Em outros termos, o processo de comunicação transcorre mais ou menos como se o locutor lesse alguma coisa para ele. Nesse sentido, o rádio aproxima-se do livro. Mas curiosamente, o “livro” do rádio é o mesmo dos gregos. Na Grécia de Sócrates — ou mesmo na Idade Média — o texto escrito não tinha um fim em si mesmo. Era um mero suporte, um guia visual ou mnemônico, para a orientação do comunicador ou do orador. O rádio veio restaurar, em bases culturais infinitamente in45


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feriores a concepção grega do livro: este (o texto) é apenas um meio para o locutor radiofônico, obrigado a ficar distante do seu público, perde a força expressiva, o carisma, característico do orador grego. Para compensar esta perda ele recorre aos recursos idiossincráticos: a boa impostação de voz, as frases emotivas, as pausas, as características personalíssimas de narração. E, do mesmo modo que no livro, o ouvinte tem de se entregar a um certo exercício de imaginação para visualizar a mensagem transmitida. Voltando ao rádio, poderíamos (na terminologia de Jakobson) chamar a função do locutor de “expressiva” ao lado da função puramente denotativa (a simples descrição dos lances do fato) em que ele se compromete com a mensagem (expressão). Com a televisão, o locutor ganha em indicação, mas perde em expressão. O receptor perde, especialmente, em imaginação objetiva, mas concreta - que lhe é dada para consumo, sem maiores apelos ao intelecto. Isto não quer dizer que o rádio seja mais sugestivo que a televisão. Ao contrário, por serem plenas de significados, as imagens surgem muito mais que simples fluxo verbal, atingindo diretamente a parte do psiquismo menos vigiada pelo intelecto. O receptor se abandona, descuidado. O que acontece com os veículos audiovisuais é que favorecem mais do que os veículos escritos os processos de projeção ( o receptor desloca as suas pulsões para os personagens) identificação ( o receptor torna-se inconscientemente idêntico a um personagem no qual vê qualidade que gostaria ou julga que lhe pertençam) e empatia (conhecimento do comunicador, colocando-se mentalmente em seu lugar) 5 Por isso o rádio abre a possibilidade de socializar as nossas subjetividades individuais ou grupais. Pensa-se, em conseqüência, que o rádio seja semelhante a uma alma. Cada um tem o seu aparelho, capaz de receber e transmitir ondas psíquicas de força variada, volume e comprimento relacionados com a própria carga emotiva e com a própria potencialidade de válvulas-sentimentos. Naturalmente, um rádio fechado não pode captar as ondas, igualmente uma alma hermeticamente fechada não 46


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recebe nem transmite. Existem almas que se põem em sintonia, com facilidade, e outras, pelo contrário, pouco receptivas; almas surdas e mudas a qualquer chamado. No entanto, a atmosfera está sempre carregada de ondas; pensamentos, sentimentos, aspirações. É por isso que simpatias e antipatias, desesperos e esperanças, agitam continuamente nossa psiquê. Numa de suas intuições Nietzche antecipou admiravelmente a definição de alma-rádio: “Escuta-se, não se procura; toma-se, não se pergunta a quem foi dada”. Cada alma está à procura da sintonia com outras almas, mesmo desconhecidas e longínquas. A nossa alma está sempre disposta a captar o chamado da outra, contanto que vibre em uníssono, em sintonia, embora inconscientemente. É verdade que existem almas ultrasensíveis, como alguns rádios. Disto é uma ótima prova Madame Curie, a descobridora do ‘radium’ a qual acreditava que existiam pessoas dotadas de sensibilidade tão aguda e profunda, capazes, como antenas, de captar vibrações e sensações quase misteriosas. Por isso, a alma deve permanecer aberta como um rádio, para receber as vozes do céu e da terra, das coisas e dos homens, do mistério e do infinito. Deve ficar ligada para receber os chamados da alegria e da esperança que chegam de todas as partes e em cada hora que passa. 6 “Considere-se o rádio — o rádio humano, o rádio vivo que existe em torno de nós. Alegre como possa parecer, agitado, dinâmico, empreendedor e útil como é julgado por muitos que têm, entretanto, muitos lados tristes. Contra essa alegria, existe a tristeza das inimizades e das invejas mal contidas. Contra a agitação produtiva das novas idéias, existe o desânimo das desesperanças. Contra o seu sentido empreendedor e útil, existem os maus programas, as más diretrizes, as idéias errôneas adotadas em momento impensado”. 7 Razão por que o “rádio é um veículo que exige uma constante renovação na programação, como forma de manter a audiência. Importante também é adaptar a programação ao produto. Como ainda, 47


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é claro, o reconhecimento do rádio como eficiente veículo publicitário desde que os profissionais busquem maior conteúdo em relação aos dados manipulados pelas mídias das agências de propaganda”. 8 As mudanças estruturais devem estar ligadas ao fator introdução e consolidação do rádio como veículo publicitário, à disseminação e abrangência do raio de ação das emissoras e cadeias; aos processos de codificação e programação instituídos e, especialmente, ao contingente diversificado de áreas e especialistas necessários para a estruturação dos programas. Enfim, todos os elementos que foram acrescentados e mudaram substancialmente o que se entendia por rádio e que são específicos dos meios de comunicação de massa. Nesta fase de comunicação e mudança, o rádio das décadas de 40 e 50 cumpriu um papel importantíssimo no meio rural, incluindo não só a informação e divulgação de notícias que vieram tirar milhares de pessoas da ignorância dos fatos, integrando-os na atualidade, mas também no papel de influenciador para a melhoria da produção agrícola e prevenção de acidentes climáticos, como geadas, tempestades, vendavais, etc. O que se comunica deve, pois, ser baseado nas atitudes e motivações da pessoa a quem se dirige e não, como é costume, puramente com base no conteúdo da mensagem. Além do mais, isso ressalta a importância de se esperar para obter do interlocutor alguma indicação do que ele ouviu, antes de se supor que ele tenha ouvido o mesmo que a gente ouviu quando falou. Quem comunica, necessita ter cuidado com relação ao que vai acontecer após a comunicação. Se o que tem a dizer vale a pena e tem valor por seu conteúdo, é importante ser confirmado pela prática. Caso contrário, a comunicação pode ser aceita, verificada como mau guia para comportamento e abandonada, em conseqüente desprestígio para o comunicador. Bertold Brecht diz: “O homem que tem algo a dizer e não encontra ouvintes está em má situação. Todavia, estão em pior situação os ouvintes que não encontram quem tenha algo que lhes dizer”.9 Considere-se também que o público radiofônico não está, como 48


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no teatro ou no cinema, sujeito à influência direta e visível do jogo cênico, pois: a) o rádio é cego: mas o auditor não o é, encontrandose em permanente solicitação de tudo o que o rodeia; b) o rádio não mobiliza totalmente a atividade do seu auditor; para impedir a fuga do auditor é preciso tentar imobilizar a sua atenção; c) os ruídos do ambiente misturam-se com a radiodifusão estabelecendo-se quase sempre, uma luta; o rádio tenta prender o seu ouvinte, arrancando-o do quadro sonoro em que este se encontra; d) a audição é, geralmente, familiar ou solitária, raramente coletiva; e) para obter o espetáculo radiofônico, basta acionar um botão, muitas vezes esse botão continua aberto, permanentemente ou quase, tornando-se o rádio um fundo sonoro ou um ‘ron-ron’ contínuo e sem significação. Desta forma a entrega do ouvinte é tanto maior quanto mais, na sua solidão, ele está apto a ser livre, sem testemunhas nem preconceitos. Foi o rádio o primeiro meio de comunicação, ao dispor do homem moderno, que assumiu este aspecto importante: falar, ao mesmo tempo, a um indivíduo e a uma massa coletiva. Tornou-se um meio de comunicação saudável que proporciona, ao receptor, pensamentos de interpretação e imaginação. 10 “La rádio y otros medios de comunicación masiva son summamente efectivos en la etapa de aprehensión, en la cual una persona se percata de una nueva idea o práctica; y en la etapa de interés, que es cuando obtiene más informaciones al respecto. La radio puede desempeñar una parte importante en las etapas de aprehensión, interés, evaluación, prueba y adopción. Sigue enviando recordatorios a quienes de otro modo perderían interés en el proceso. Rifuerza la determinación de seguir adelante”. 11 O rádio é nosso fiel companheiro, o nosso calendário, o nosso relógio, enfim, a nossa dependência psicológica absoluta daquelas horas que a gente está sozinho. Só o rádio tem a velocidade relativa para nos acompanhar dentro do nosso universo. “Se puede escuchar la radio mientras se realizan otras tareas. La radiodifusion puede hacer algunas cosas mejor que otros médios. Puesto que no puede transmitir imagines visuales, és más eficaz para 49


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informar sobre cosas que no es necesario ver para comprenderlas. Es sumamene eficaz cuando sus mensages son simples y directos, sin exceso de palabras”. 11 Considerando que a função primordial da comunicação é informar, interpretar e guiar a sociedade da qual é parte, a forma pela qual o comunicador desempenhará esta função é um fator importante. Função que se encontra afetada não só pela forma como desenvolve seu caráter e talento, como também pela natureza do meio de comunicação para o qual trabalha e pela estrutura da sociedade em que vive. O reconhecimento desta inter-relação é fundamental para qualquer exame realista sobre os meios de comunicação. William Bernbach, um publicitário de Nova Iorque, disse que “entre as 4 disciplinas básicas da propaganda, a disciplina social era a mais importante. As coisas evoluíram até o ponto em que a maior força da sociedade é a opinião pública. E, eu creio que neste novo e dinâmico mundo, não é o grande livro ou o drama épico o responsável por moldar essa opinião. Este papel está reservado aos meios de comunicação e às técnicas modernas de comunicação”.12 Um veículo que consegue ser o que mais está presente na vida das pessoas, mais do que qualquer outra mídia, o rádio não pode ser levado adiante sem estudos bem abrangentes, desde sua programação e parte técnica até a comercialização e o marketing necessários para uma emissora ou rede de emissoras. É bem verdade que há quem ouça rádio apenas ligado na programação musical; há quem o utilize apenas como um fundo musical e, por isso, não fique muito atento no que mais ele veicule. Mas há muito mais gente que se liga em tudo o que vai ao ar. É notório que, nos dias de hoje, o rádio tenha assumido papel de suma importância dentro da atualidade em que vive o nosso país. Nesse contexto, se tornou, com o passar do tempo, a mídia com maior alcance e, por isso mesmo, não pode ser negligenciado. É preciso que se dê uma atenção especial ao seu desenvolvimento. “Eu nunca duvidei do valor do rádio, do seu futuro, dos horizontes largos que o esperam, afirmou Eugenio Lyra Filho. E hoje tenho um novo testemunho nesse sentido: o rádio é reconhe­cidamente para 50


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os técnicos do assunto, um dos melhores veículos de publicidade”. 13 O rádio que não podia ser boêmio e irresponsável, começou a ser realmente produtivo e comercial. A improvisação que dava colorido ao rádio, está sendo substituda pela planificação que lhe dá força e segurança. A preocupação de arte e entretenimento, está sendo conjugada à eficiência da mensagem publicitária. Os artistas, sem deixarem de ser artistas, estão se tornando verdadeiros profissionais. E os dirigentes, sem perder o idealismo, estão sempre mais objetivos e realizadores. Nosso rádio que já foi menino travesso e rapaz boêmio está se tornando um homem de responsabilidade. Ficou adulto e já tem consciência de seus deveres, condição indispensável para que possa reivindicar seus direitos.14 O rádio brasileiro, na verdade, nunca deixou de crescer. Superou, lentamente, o impasse criado pela TV, mediante a descoberta da linguagem própria e de sua posição junto aos demais veículos de comunicação. E, hoje, se ele continuar aprimorando a informação e seu papel educacional, sem escravizar seus melhores horários do dia ao modismo, à cópia, à importação, estará num rumo certo. Isto já havia sido dito por Roquete Pinto, em 20 de abril de 1923 ao inaugurar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro: “Todos os lares espalhados pelo imenso território do Brasil receberão livremente o conforto moral da ciência e da arte. A paz será realidade entre as nações: Tudo isso há de ser o milagre das ondas misteriosas que transportarão no espaço, silenciosamente, as harmonias”. De qualquer modo, é importante registrar que o Brasil está tomando consciência da importância do rádio e de que ele precisa esquecer definitivamente o “vitrolão” devendo ser produzido por bons profissionais, pesquisando nova linguagem de comunicação, refletindo a cultura brasileira em todas as suas facetas e não apenas na faceta urbana, muitas vezes elitista e de origem pouco nítida. Programar implica manter um senso de proporções inteligentes e de bom gosto. Se o rádio brasileiro não se esquecer disso, poderá prestar ainda grandes serviços a uma população que não dispõe de muitas opções para se informar e distrair. 51


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“Portanto, é muito melhor que, no rádio, vençam muitos que não tenham merecimento suficiente para essa vitória do que ficarem de fora, esquecidos, anônimos, talentos verdadeiros que deveriam pertencer ao público e à glória. Por isso, não temos nada a opor a que os ineptos lutem pela vitória. Ao contrário, essa luta é um processo de redenção e se eles lutam, persistem, vencem o desânimo, deixam, afinal, de ser tão ineptos. Há lugar para todos no rádio. Façamos votos que os bons consigam os bons lugares. 15 Se o rádio sofre com as críticas constantes à falta de profissionalismo, de incentivo à criação, de credibilidade comercial e de conteúdo bem conceituado, não se pode negar também que tem sua própria força e personalidade — cobertura, freqüência, segmentação, rapidez, imediatismo, flexibilidade e baixo custo. E todos esses aspectos devem ser trabalhados, em benefício do veículo. O rádio pode ser comparado ao moderno tambor tribal. Os fundamentos subliminares do rádio estão carregados de sons tribais. Com o som dos tambores, da voz do feiticeiro ou do cacique, o rádio exerce uma influência mítica sobre o homem, fazendo-o voltar a uma visão globalizante do real. Ele tem o poder de transformar a psiquê e a sociedade numa única câmara de ecos. Sua mensagem tem o efeito de ressonância e implosão unificada e violenta. Enquanto os meios temporais explodiram as comunidades tribais em comunidades de indivíduos, o rádio os traz novamente à consciência da unidade. Não de uma unidade tribal, mas de uma unidade global. Com a difusão da mensagem por intermédio dos meios elétricos, começam a ser abalados os pressupostos do individualismo. De coletor de comida o homem transforma-se em coletor de informações. Desenvolve-se nele a capacidade de perceber instantaneamente os desníveis de classe, as carências e a má distribuição de recursos. Os contrastes entre ricos e pobres, o conhecimento das mudanças e suas possibilidades potenciais. “Opera-se uma reversão do individualismo para o coletivismo. Os meios de comunicação não podem ser vistos, portanto, como mensagem; contudo eles atuam como moduladores da mensagem, dando a esta, características especiais e específicas de penetração nas massas. Diríamos que foram as mensagens, tanto de natureza científica como 52


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filosófica, que transformaram o homem. Contudo, eles não teriam conseguido estas transformações se não estivessem vinculadas a um determinado meio”.16 O rádio foi e formalmente ainda será, durante muito tempo, o mais popular meio de comunicação e de maior alcance. As pessoas ouvem suas mensagens e por elas deixam-se influenciar. A antena sobre os telhados ou aparelho de TV colocados em lugar de honra nas salas das residências são demonstração do status, mas nada derrotou o rádio que, tecnicamente, cada vez exige menos para que suas mensagens sejam transmitidas e captadas. Pelo rádio os locutores falam com uma rapidez, que é inadaptável aos programas de televisão, porque os recados são dados em segundos. Alguns se adestram em descrever minuciosamente as partidas de futebol, cenas policiais, etc. Logicamente, quando passam a transmitir outros programas, usam outras técnicas e podem selecionar inúmeras informações, atingindo grande parte dos que aguardam respostas ou atendimento. O rádio ocupa hoje o segundo lugar entre os veículos de publicidade mais eficazes, perdendo só para a televisão, o que é natural se levarmos em conta que ela joga com imagem e som. Mas por mais paradoxal que possa parecer, foi com o advento da TV que o rádio começou sua escalada rumo ao ambicionado lugar que ocupa agora. Isso porque, antes da TV, o rádio era usado somente como opção de lazer. Com prestação de serviços quase inexistentes e lerdeza em relação a noticiários, ele se limitava mesmo à distração. Mas veio a televisão e a concorrência. A começar pela brutal evasão de profissionais que o rádio conheceu e que serviram, aqui no Brasil, como a primeira matéria prima para sua grande concorrente. Numa pesquisa feita nos Estados Unidos ficou provado que o rádio é o único veículo de comunicação que preenche, ao mesmo tempo, quatro papéis fundamentais na vida do homem: é fonte de lazer, de informação, de prestação de serviços e de companhia. Além disso, “o rádio é o único veículo que pode fazer os ape53


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los básicos (alimentação, descanso físico, descanso mental e sexo) apoiando-se na imaginação do ser humano. Em outras palavras, ele é totalmente subjetivo. E isso, em termos de publicidade, é altamente benéfico”. 17 O progresso do rádio, segundo Abraham Moles, se tornou rápido e uma das primeiras mensagens transmitidas foram as notícias que garantiram entre os ouvintes eventuais uma motivação suficiente para criar um recrutamento sociológico e social e para que, entre 1920 e 1935, pouco a pouco, os indivíduos dos países desenvolvidos passassem a comprar os receptores de radiodifusão. Estudo patrocinado pela Unesco classifica as emissões em dois grandes grupos: a) as faladas (entrevistas, debates, programas educativos e especializados, obras teatrais, transmissão de jogos, noticiários e as de cunho religioso); b) as musicais ( gravadas ou em transmissão direta). O rádio é, potencialmente, o veículo de maior comunicação com as massas não só pela simplicidade tecnológica de seus sistemas ( em comparação com a TV) como por ser muito mais barato. Grande parte da população rural já não dispensa seu radinho de pilha nem durante o trabalho do campo. Além disso, em termos de jornalismo, o rádio supre a dificuldade de acesso aos impressos em determinadas regiões. O rádio brasileiro contudo, permanece o mais tradicional dos meios de comunicação de massa, limitando-se aos programas musicais, esportivos e noticiosos e alguns outros de caráter doméstico, resistem há mais de 40 anos. Poucas tem sido as iniciativas de renovação — e estas quando vingam, não chegam a ter grande importância por que são geralmente dirigidas para um público mais elitizante e por isso mesmo restrito. A história radiofônica brasileira está registrada mais na memória de produtores, locutores, artigos e pessoal técnico, do que em documentos.18 .Por tudo isso, o rádio é, para muitos, o meio alternativo por excelência, pois é um meio de operação bastante simples e barato. Os custos de produção das mensagens são mínimos e a relação de custo/ penetração é excelente. Um pequeno transmissor portátil de rádio 54


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pode cobrir grandes áreas. Além disso permite a imediatividade da informação e, como quase todo mundo possui um receptor, o circuito de difusão está garantido. Os grupos militantes procuram avançar o máximo possível na área tecnológica, bastante simplificada no caso do rádio, como uma forma de garantir sua independência, além de elaborar as emissões desde o script até a realização. “Deve-se partir do tipo de trabalho ou atuação à qual o grupo se propõe junto à comunidade, que se refletirá em propostas de rádio um tanto diversas: a) uma rádio neutra, que se proponha a ser a voz da comunidade na qual atua, isto é, um simples canal onde qualquer um pode exprimir-se livremente; b) uma rádio que veicule mensagens para a comunidade, a partir de um grupo criador que tem a intenção de dizer algo, de mobilizar de alguma forma os ouvintes; c) uma rádio que emita para a comunidade mensagens criadas com essa comunidade, onde os papéis de receptor e de produtor não sejam polarizados”. 19 Sob qualquer aspecto a radiodifusão supera qualquer outro meio de comunicação, graças à sua instantaneidade e ao grau de persuasão da palavra falada, pura e simples. A radiodifusão é responsável pela orientação, formação ou modificação da opinião pública. Exerce um papel social de tal relevância que náo é possível deixá-la abandonada, considerando-a, tão somente, pelos seus aspectos técnicos. A radiodifusão tem de ser encarada, graças à sua evolução, como um dos ramos da ciência sociológica. A radiodifusão avulta entre as várias modalidades de radiocomunicação, porque tem uma alta missão social a cumprir. Exerce sobre os ouvinte uma influência imediata, penetrante, absorvente. A voz que se emite ao microfone e as palavras que frente a ele se articulam, penetram em todos os lares; influem em todos os espíritos; criam novas convicções; estabelecem formas diferentes de vida, independente de fronteiras, porque o mundo para a radiodifusão, é um só. A comunicação radiofônica é feita a um público, embora não de pessoas presentes, porque é feita contemporaneamente a um número indefinido de ouvintes, não ligados entre si por qualquer vínculo familiar. Também se imaginarmos que a comunicação só alcança o círculo familiar, é óbvio que não se trata de uma só família, mas de 55


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um número indefinido de famílias, de maneira que se cria a mesma publicidade, como se estas famílias se encontrassem reunidas numa sala de espetáculos. A radiodifusão é um serviço público porque: a) preenche uma missão cultural, social e civilizadora de primacial importância, missão que pode indiferentemente beneficiar cada indivíduo, sem ter que preencher outras formalidades senão escutar, em sua casa ou fora, emissões radiofônicas; b) não se dirige especialmente a um público determinado, mas ao público em geral, oferecendo-lhe uma gama infinita de programas desde os mais “sérios” até os mais livres, sem se limitar a uma seção de auditório cujo nível intelectual, gostos e interesses o predisponham a se interessar de maneira particular por essa emissão. Mas a radiodifusão exige cautelas muito maiores que quaisquer outros serviços porque está sempre presente na alma do povo. Atua através da palavra falada, de efeito instantâneo, exercendo influência que só aqueles que a ela se tem dedicado podem apontar com segurança. E a palavra falada, já agora sob o impacto da imagem em movimento, deu à radiodifusão um sentido mais elevado ainda. Por isso só podemos situar a radiofonia no conceito verdadeiro e merecido quando nos liberamos de alguns preconceitos e nos convencermos de que, realmente, ela é uma das forças poderosas e atuantes na formação espiritual do povo; uma das formas através da qual se afirma o espantoso progresso humano nesta fase da civilização. A radiodifusão é o grande milagre do século. Realiza missão tão nobre, tão elevada e tão grandiosa que dificilmente outra atividade se lhe pode comparar. A instantaneidade proporcionada pelo rádio é responsável pelo milagre. O poder de ubiquidade da radiodifusão, a faculdade de encontrar um auditório onde a percepção for possível, dá à radiodifusão o caráter de força ponderável no intercâmbio espiritual entre os povos do mundo. “Criando novos valores e proporcionando seu conhecimento universal, a radiodifusão revolu­cionou os meios de comunicação. A conjunção maravilhosa do som, do ruido, da música e da imagem, proporcionou um novo meio de transmitir civilização ao vivo, instantaneamente, através da influência no espírito das massas espalhadas 56


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pelos quatro cantos do mundo”.20 A radiofusão caracteriza-se por um conjunto de variáveis fatores e elementos que correspondem aos seguintes níveis: a) Nível Econômico: está diretamente ligado à função diversão e lazer e se constitui como base das indústrias eletroeletrônicas que produzem os equipamentos de recepção e de transmissão. Após 1931, ao adotar o sistema comercial, constitui-se em elemento importante para veiculação de mensagens publicitárias que servem de incremento ao consumo e à produção de bens. b) Nível Sócio-Cultural: propiciando a difusão rápida e instantânea de informação e entretenimento, constitui-se como veículo de educação permanente das massas, oferecendo ao público a sensação de participação nos acontecimentos, deixando uma janela aberta para a imaginação. c) Nível Empresarial e Contexto Ocupacional. Suas características específicas são: -poder oferecer, instantânea e imediatamente informação e entretenimento capazes de atender a todas as camadas socio-econômicas e faixas etárias distribuidas por regiões culturais e demográficas, as mais diversas e distantes; -ter acesso rápido à transformações sobre os acontecimentos locais, regionais, nacionais e internacionais, de toda natureza e importância e saber selecioná-las para estruturar suas mensagens, em função dos níveis e expectativas do Governo, do Comércio e da Indústria e dos grupos sociais que sintonizam as estações. 21 A radiodifusão, por isso, tem grande responsabilidade em difundir a livre empresa, mas também tem grande responsabilidade moral que vai além da manifestação de lucros e perdas no lançamento de mercadorias no mercado - a responsabilidade de contribuir construtivamente para realçar o caráter, a instrução, a cidadania e a estrutura do povo, tudo isto constituindo a glória da radiodifusão. Para tanto a radiodifusão deve ganhar sua própria base econômica e, ao mesmo tempo, estar em condições de atender suas responsabilidades sociais, morais e legais. 57


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LeRoy diz: “começo com a convicção de que a radiodifusão, mais do que qualquer outro meio de comunicação é especialmente o mais poderoso e efetivo meio de comunicação, devendo ser criadora e, para tanto deve ser livre”. Budoela também considera que o rádio ainda é o meio mais universal de comunicação de massa pois é o único veículo que ao mesmo tempo atinge tanto os aglomeramentos urbanos como os da zona rural. Por isso é que no Paraná as emissoras de rádio ocuparam e ainda ocupam um papel de destaque, sobretudo nas zonas rurais onde se localiza 60% da população. Acrescente-se que 90% dos brasileiros, economicamente ativos, possuem rádios e que as emissoras ocupam uma posição sem precedentes nos meios de comunicação social. Além de outro aspecto importante que se deve salientar que consiste no baixo custo de um receptor transistorizado que, em qualquer circunstância, mesmo durante o trabalho, permite ser usado. Na radiodifusão não podem, por isso, ser estabelecidas mudanças, restringindo-as ao estabelecimento de estratégias de expansão sem um estudo acurado do ambiente e das expectativas grupais. Hoje tudo nos leva a repensar a radiodifusão como atividade empresarial e comunicacional em termos sócio-técnicos e humanísticos, mormente com os acrescentamentos como a missão de integração dos espaços geográficos e culturais, enquanto os princípios de educação e informação se voltam para o desenvolvimento. As expectativas quanto à atuação da radiodifusão é que o conteúdo da comunicação seja adequado à nossa realidade cultural e se apurem a quantificação do montante e a qualidade das emissões a serem veiculadas. Isso será conseguido se a radiodifusão for encarada como um processo de comunicação dinâmico e contínuo de bens e serviços, com o fito de elevar o potencial intelectual, crítico e até mesmo material da comunidade a que serve. Quanto às doutrinas que definem o papel social da radiodifusão, Abraham Moles distingue quatro que considera essenciais, mesmo sendo incompatíveis entre si, mostram de maneira clara o papel que a radiodifusão assume na sociedade, conforme esteja predominante58


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mente voltada para uma ou para outra doutrina: a) Doutrina Demagógica dos Publicitários: que procura dar satisfação ao maior número de indivíduos e encara o rádio como auxiliar técnico do campo publicitário; b) Doutrina Eclética ou Culturalista, representada pelas pretensões culturais existentes na maioria dos meios de comunicação de massa, seja no rádio, na televisão ou nos jornais, pretendendo representar o reflexo da atividade universal do espírito; c) Doutrina Dogmática, quando o quadro de valores não é fixado por critérios econômicos mas por critérios dogmáticos, representados pela propaganda. No rádio, essa doutrina atua realizando uma filtragem seletiva e progressiva dos assuntos que serão difundidos; d) Doutrina Sociodinâmica, decorrente da doutrina culturalista, pressupõe a ação direta sobre o todo social, constituindo um retrato permanente da cultura, considerada como um conjunto de conhecimentos e de fatos em que é necessário optar entre atitude conservadora e atitude progressista. Implica a tomada de posição do ser de uma sociedade em seu conjunto diante de sua evolução - acelerar ou retardar esta evolução. Completando, Moles diz que todas as doutrinas de base cultural ,ou seja, a dogmática, a eclética e a sociodinâmica, estão fundamentadas na idéia de um quadro sócio-cultural, em oposição à doutrina dogmática que se baseia essencialmente na sondagem de audiências.22 Com a instituição definitiva e marcante da publicidade, as emissoras passaram a ter uma programação mais agressiva, com apelos à massa e foi deflagrado um sistema competitivo, onde valia tudo e onde o poder econômico mais alto vencia. Na busca desenfreada pelas entradas publicitárias (condição de sua sobrevivência) as emissoras tiveram que apelar para maiores audiências e auto-promoções bem como a de seus astros e talentos. O rádio e a publicidade passaram a utilizar grandes emissoras, os recursos de alta estimulação, mobilizando o uso de toda gama de elementos, com sons, falas e pausas significativas, proximidade e intimidade com o ouvinte, humor e descontração e, ao mesmo tempo, 59


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instituíram o programa como mercadoria que, com embalagem atrativa, levava ao consumo máximo. Personalizando o ouvinte como amigo, o rádio passou a ser então o rádio apelo à participação comunitária através do bloco de conteúdo sonoro e da palavra “falada”. Paralelamente ao impulso que o rádio teve, direcionando-se cada vez mais para a comercialização aumentando a abrangência, foi por ensaio e erro ou por acaso, encontrando novos caminhos, nova programação, novos públicos e novas modalidades de atuação junto a eles. No entanto, a profissionalização decorria em função da vivência e utilização das técnicas radiofônicas e da assimilação de métodos do cinema, do jornal impresso, do teatro e da propaganda, que foram sendo transportados para o rádio pelos novos profissionais advindos daquelas áreas. Hoje em dia, o rádio presta variados serviços de utilidade pública, ao informar, por exemplo, as previsões da metereologia, ao alertar sobre a subida do nível de um rio, ao comunicar a necessidade urgente de que a população de uma região se vacine, ou mesmo, ao divulgar as condições de tráfego de uma cidade, quando centenas ou milhares de pessoas podem evitar, na hora do “rush” passar por determinada avenida, congestionada devido a um desastre. No campo esportivo, sua presença é constante, mas para quem prefere outros temas, aí estão as emissoras especializadas em música (com destaque para as FM) ou as que dão maior ênfase aos noticiosos (destacando as que possuem redações completas e ainda serviços externos, por vezes ligadas com emissoras de outras cidades, formando redes). O rádio atual vive uma época de especialização, de escolha de faixas, de público, a quem as emissoras procuram servir de uma forma tão perfeita quanto possível. O impacto na sociedade, na economia, na comunidade e nos indivíduos é imensurável e os benefícios são superiores a qualquer das disfunções de sociedade que esse avanço tecnológico possa ter causado. Muito embora discutidos e controvertidos, tratados como questão ética e moral, comportamental e social, o rádio e a televisão são o resultado inconteste do avanço tecnológico do mundo contemporâneo e implicam 60


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em reponsabilidade para todos os que estão envolvidos na atividade radiofônica ou tem seus contrôles: empresários, funcionários, órgãos federais e estaduais, escolas e até mesmo o público ouvinte. “O rádio como instrumento de propaganda é, por assim dizer, o mais eficiente meio de penetração entre as massas e o de maior incidência junto às classes economicamente menos favorecidas. Quando, porém utilizado com um escopo definido e obedecendo a um rígido planejamento, torna-se de uma eficiência maquiavélica, mesmo sendo os estudos e pequisas a seu respeito, no mais das vezes, restritos à audiência. Mas mesmo assim o rádio atende aos objetivos principais a que é proposto”.22 Portanto, a união do rádio com a propaganda, visando a doutrinar, ideologicamente povos e nações, foi uma consequência lógica do desenvolvimento tecnológico.Ele deu volume e maior alcance a voz dos mais fortes. O que fez dos paises desenvolvidos, principalmente uma “no man’s land” onde aportam as mais diversas vozes. Quer dizer que o rádio de ondas curtas é um novo navio renascentista que ancora para trazer ideologias, ao invés de buscar recursos naturais e posses territoriais. Uma exploração mais refinada e com um colonialismo axiologicamente alterados. Mas mesmo assim um colonialismo. O exemplo Amazônico serve como ponto de referência. Lá, até analfabetos já sabem considerável número de expressões estrangeiras. Assim como nossos filhos hoje são uma geração oriunda da televisão, nossos avós em proporção quilometricamente inferior o foram das ondas curtas. Os tempo mudam, sim, mas o mesmo não ocorre com as influências. Elas continuam sendo alienígenas.23 Apesar de tudo o que se considerou até o momento, o rádio continua sendo o mais poderoso veículo de comunicação, com maior capacidade de penetração e o será ainda durante longo tempo. Nenhum meio de comunicação tem tal versatilidade, tal instantaneidade, tal capacidade de penetração quanto o rádio. “No Brasil, comprovadamente, mais de 140 milhões de pessoas têm aparelhos de rádio-receptores de todos os tamanhos, fora os adquiridos dos contrabandistas. Estes aparelhos estão em todas as casas. Ele está em todo o lugar, desde o homem que anda a cavalo e 61


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o leva no lombilho, até no gabinete do diretor da multinacional. Ele está em todo lugar. O rádio é onipresente e tem o efeito multiplicador enorme, não dando assim para subestimar a sua importância. Considera-se que 99% da população ouve rádio pelo menos algumas horas por dia e que, inclusive mensagens de rádio bem feitas conseguem maior rendimento que a televisão, atingindo um público maior, com uma mídia bem feita, é claro. Por isso, não dá para duvidar do poder do rádio”.24 Alguns, todavia, dizem que o rádio não tem imagem. Mas o rádio tem a mais linda e a mais poderosa imagem. Usando bem o rádio, o locutor larga uma palavra qualquer e ela deflagra na cabeça do respeitável ouvinte uma série de hipóteses. Desperta a sua imaginação, pinta o que há de mais lindo. Fala-se numa bela flor e não há flor mais bonita do que aquela que o ouvinte imagina. Fala-se numa bela mulher e, evidentemente que a dela é a mais linda, é a beleza feita à sua imagem e semelhança. E tem mais; o rádio não é dirigido para nenhuma classe; ele atinge todas as classes, não interessando se for A, B ou C, assim como o futebol. É um esporte de rico e pobre. A notícia é um negócio de pobre e de rico. A forma com que as pessoas utilizam este meio é que varia. O problema é fazer uma boa mídia. Você pode vender qualquer coisa através do rádio, até cores, inclusive o tailleur que a senhora ou senhorita querem comprar. Posso não motivá-la através da imagem, mas há diversas maneiras de motivar uma pessoa através de palavras. Com o aparecimento da televisão o rádio teve momentos de estagnação, só se recuperando a partir de alguns anos atrás, e atingindo um excelente nível atualmente. Apesar do maior custo, a televisão passou a ser o brinquedo mais novo, e um meio muito mais interessante para certas agências, sendo até vaidade para certos comerciantes. O principal problema é que se deixou de investir no rádio com criadores e redatores de publicidade, e quanto mais se cuidar desse tipo de mensagem, claro que os resultados também aumentarão. O atual quadro do rádio brasileiro não faz jus à gloriosa história vivida por este veículo de comunicação há algumas décadas. Desde as primeiras tentativas, no Recife, com a inesquecível Rádio Clube, na década de 20, passando pelo inovador Roquete Pinto, e nomes famosos 62


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como Mayrink Veiga e Rádio Nacional, com a moldura marcante de Eron Domingues e o antológico Repórter Esso, até as brigas nos auditórios entre as fãs de Emilinha Borba e Marlene, o rádio brasileiro provou que pode influir, e poderosamente, na formação da opinião pública brasileira. Pelo menos, em memória daqueles tempos épicos, o rádio merece maior atenção, não apenas dos profissionais de rádio, mas principalmente de empresários, educadores e autoridades que podem ter neste meio de comunicação uma nova maneira da falar com grande parte do povo brasileiro, ainda esquecido. O dia do rádio era festejado no dia 21 de setembro. Entretanto, por decisão da assembléia geral da Abert, a homenagem aos radialistas passou a ser realizada no dia 25 de setembro, data do nascimento de Roquete Pinto, o homem que montou a primeira emissora de rádio no Brasil. Os veículos de comunicação social, entre os quais o rádio se destaca como um dos mais atuantes, por ser mais direto e imediato, além do mais popular, tem, na sociedade, um papel muito importante. O rádio faz parte da vida de todos nós. Ele nos traz a música, o humorismo, a novela, a notícia, a mensagem de esperança, o estímulo à cultura, a alegria de existir num mundo atribulado mas compensador para quem encontra um meio de ser útil à sociedade. As inúmeras manifestações de reconhecimento recebidas pelo rádio é, sem dúvida, a prova de que este veículo de comunicação volta a decolar no conceito dos profissionais da propaganda e do jornalismo. Mesmo assim o esquema de comercialização do rádio vem sofrendo uma dura pressão das mídias das agências de propaganda, desde o início da década de 60, quando a televisão começou a tomar corpo e ser considerada opção forte na área de mídia eletrônica. O som dos locutores de rádio sempre foi um grande decodificador na ansiedade do povo brasileiro.25 Vejamos, então, como se implantou e se desenvolveu a radiofonia em Maringá.

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Notas 1 - Collen, Claude - La rádio est une bonne chose, in Revista “L’Homme et la Societé” - Paris - 1978, p.186 2 - Fausto, J. Penna - A maior das maravilhas, in Rádio Revista, ano I, nº 2, setembro/33, Belo Horizonte, p. 13 3 - Federico, Maria Elvira Bonavita - Histórias da Comunicação (Rádio e TV no Brasil), edit. Vozes, Petrópolis, 1982 4 - Strabeli, José e Ramalho, Eliane da Silva - No ar ... uma rádio popular, novembro de 1984 - p. 7 5 - Sodré, Muniz - A comunicação do grotesco - edit. Vozes, Petrópolis - RJ, p. 57/58 6 - Salvaneschi, Ino - A alma é como um rádio, in Nosso Século - nº 875, set/64, p. 98/100 7 - Lyra Filho, Eugênio - Missão para Vera, Radiolândia, ano II nº 48 - 5/3/55, p. 54 8 - Lichtenfels, Waldemar, in Anuncio, ano I, nº 8, p. 8 9 - Federico, Maria Elvira Bonavita - Histórias da Comunicação (Rádio e TV no Brasil), edit. Vozes, 1982 10 - Ribeiro, Fernando Curado - Rádio - Produção, Realização, Estética - edit. Arcadia Ltda, 1964 11 - Rádio y Television - Manual de Comunicaciones - Editorial Albatroz SRL, Marcu Buenos Aires, cap. 2 , p. 41/43 12 - Cadernos de Jornalismo - Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre - RS 13 - Lyra Filho, Eugênio - Renovação de Valores, Radiolândia, ano II, nº 42, 22/1/55, p. 54 14 - Lyra Filho, Eugênio - No meu tempo era assim, Radiolândia, anoII, nº 57, 7/5/55, p. 46 15 - Lyra Filho, Eugênio - Enchendo e Vencendo, Radiolândia, ano II, nº 58, 14/5/55, p. 46 64


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16 - Camacho, Joel S. - Influências dos meios de Comunicação nas Atitudes e Comportamento do Homem: uma leitura crítica de Mchuhan - in Comunicação e Sociedade, ano I, nº 1, julho/69, p. 140 17 - Erbolato, Mario - A Radiodifusão Brasileira - in Comunicação e Sociedade, nº 4, outubro/80, p. 133/145 18 - Lopes, Sonia Aguiar e Vasconcelos, Cláudia - A necessidade das pesquisas nos veículos de comunicação, in comunicação (Teoria e Prática), nº 19, julho/ agosto/setembro/76, p. 17 e 21 19 - Brecht, Bertold - Radios Livres: O uso popular da tecnologia, in Comunicação e Sociedade, nº 6, p. 92/103 20 - Saint Claire - Fundamentos Jurídicos e Sociais, p. 37/39/172/209/210 21 - Federico, Maria Elvira Bonavita - História da Comunicação: Rádio e TV no Brasil - Ed. Vozes,Petrópolis - 1982 22) - Moles, Abrahan - Sociodinâmica da Cultura, Perspectivas - SP, Edusp, 1975, p. 259/303 23 - Porta, Romam Dalla - Caso da Ondas Curtas, in Comunicação, nº 25, Jan/ fev/ março/78, p. 3/15 24 - Norberto, Candido - Propaganda, uma preocupação constante, in Anuncios, ano II, nº 22, 1º a 15 de junho/76, p. 6 e 7 25 - Silveira, Carlos Cauby, in Anuncio, ano I, nº 8, 16/30/out/75, p. 4

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Capítulo III O RÁDIO EM MARINGÁ


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Na época da derrubada das matas, movidos pela vontad e d e p r o g r e d i r, c o n t i n g e n t e s h u m a n o s a p r e c i á v e i s se deslocaram para o Norte do Paraná, fixando-se em inúmeros núcleos, entre eles Maringá. Este grupamento de bravos, foi atraído pela sua vontade de vencer e, ao mesmo tempo, para construir a grandeza da região e pelo porte imponente das matas e a fertilidade do terreno. “ O café gosta do cheiro de mata” diz um ditado do oeste paulista; e os laços com os colonos Norte Paranaenses, cafeicultores à procura de solos férteis para suas plantações, voltavam-se todos para o Norte do Paraná que se tornou região mias paulista que paranaense. O povoamento da principal área econômica seguia aos saltos, alternando momentos de rápida penetração com outros de quase paralisia. Seria assim até 1929, quando a crise econômica mundial levaria o café ao colapso. Nos primeiros anos da década de 30, os pequenos agricultores paulistas, sem terras ou às portas da falência, com a crise do café, recebiam uma boa notícia: no Norte do Paraná, terras roxas da melhor qualidade estavam à venda, divididas em lotes de tamanho regular, e facilidades de pagamento. Como os bandeirantes de outrora, colonos de todas as etnias, povoaram sertões e plantaram cidades. Esta luta e conquista oferece campo histórico e sociológico ainda não devidamente explorado e analisado. A história do Paraná não pode dispensar o levantamento dos arquivos, relatórios e teste­munhos que se vão perdendo, aos poucos. 69


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É missão do sociólogo completar, com levantamentos e pesquisas científicas, a fisionomia da cultura Norte-Paranaense. O problema básico, segundo Mário M. Teixeira é o “homem do campo e seu devotamento profissional. Despertar uma vocação técnico-industrial é fácil em comparação com o processo demorado da formação duma mentalidade do homem do campo. Lá, a escola fará quase tudo. O que se realizou por gerações nas zonas culturais do sul do Brasil é mais que uma realização técnica e econômica. Realizou-se ai um homem do campo, cuja concepção de vida está, todas ela - social e religiosa - inspirada nos valores que lhe prega a natureza ou que ele escuta, em meio à generosidade da recompensa do solo e do labor humano, conjugados e identificados, numa luta diária de sol a sol, que propiciam, uma perspectiva de futuro melhor”1. A fixação de tradições, no Paraná, se tornou difícil, em zonas de populações adventícias hetero­gêneas. Acontece que líderes abriram brechas com ideologias políticas, religiosas e sociais também hete­ro­gêneas que, em tempo, não puderam ser neutra­lizadas devido à presença de pastores e insti­tuições religiosas. Além disso, havia a precariedade da inatituição jurídica das propriedades em vastas zonas, onde litígios judiciais provocavam conflitos sociais. Contudo, na época do desbravamento, o isolamento a que foram submetidos, aliados às exigências árduas do trabalho contínuo para domar a mata, preparar a terra, plantar, colher e vender, deu a cada pioneiro, além da têmpera de aço, uma profunda confiança em sua pessoa, em seus braços. Esta consciência do seu próprio poder, que era demonstrado pelo resultado econômico-financeiro de seu trabalho, resultado este nascido de uma decisão que, pessoal, com o emprego de uma técnica sua, fruto de sua experiência em outras áreas, deu origem a uma comunidade constituida sob o argumento do individualismo. Do individualismo nascido do esforço isolado para derrubar a mata, para plantar e para colher; do individualismo nascido do esforço de procurar o melhor preço; do individualismo que incentivou a competição entre proprietários e produção, indicando o melhor meio de vender e de ganhar, que representava uma vitória sobre os demais; luta e crescimento individual. 70


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Este espírito de competição estimulou o progresso; fez nascer fortunas pessoais; criou cidades: pequenas, médias e grandes. Mas também ao lado do progresso que gerou, deu ao homem, dentro da comunidade, a consciência isolacionista, refratária à formação de blocos, onde a soma do progresso da cidade de hoje, da Maringá cidade pujante que precisou também do esforço conjunto de todos os seus cidadãos, e ainda da união de seus homens de empresa, de seus proprietários rurais, de seus profissionais liberais, da imprensa em geral. À consciência individualista do homem simples que veio derrubar a mata, plantar a terra e, com os frutos conquistados com suas mãos fazer fortunas, veio se somar a cosnciência também indivi­ dualista de outro grupamento humano, que aqui chegou pouco depois. Foram os profissionais liberais: engenheiros, agrônomos, médicos, dentistas, advogados, etc. Este grupamento incorporou à região, um nível de cultura trazido da Universidade e um senso de oportunidade para a prestação de seus serviços profissionais, de cujos proventos nasceram as condições financeiras para também aplicar em propriedades, pensado não somente na renda advinda do exercício profissional, mas vendo, sobretudo na multiplicação do valor financeiro da propriedade, futuras transações. A soma destas consciências foi, em determinada época, uma força de progresso, pois tal como o agricultor, o profissional trouxe à região uma importante contribuição, dando à comunidade um suporte de segurança. Era, por assim dizer, uma sociedade de competidores; uma comunidade de individualistas, de adversários cordiais. Mas, com os aperfeiçoamentos progressivos desta consciência, conseguiu-se chegar até hoje, nós e nossa Maringá. E um dos fatores fundamentais e básicos dessa integração foi a radiodifusão que aqui se instalou, como elo de ligação entre todos. Podemos assim dizer que vivemos em nossa região em função de hábitos, de costumes e de uma sintomatologia própria; de um tipo de raciocínio próprio. Uma sociedade de fundo rural; isto porque nossos núcleos urbanos, mesmo os mais desenvolvidos, têm suas raízes, 71


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seu comportamento social, originários do campo, fruto do hábito e costumes do homem rural. Esta mecânica social gerou e consolidou os grandes centros urbanos, resultantes dos lucros financeiros da atividade agrícola. E, intermediando toda essa dinâmica, a radiodifusão foi essencial. Isto porque nos tempos modernos, nenhuma comunidade pode desenvolver-se sem que conte com os recursos dos veículos de comunicação social: imprensa e rádio, principalmente. Depois do advento da imprensa, foi o rádio uma das maiores conquistas da humanidade a serviço dos povos. Inicialmente circunscrito à função recreativa e publicitária, estava-lhe no entanto, reservada missão de maior alcance social, no que tange ao exercício da imprensa falada, pois veio preencher lacuna de invulgar relevância, resolvendo problemas de impossível equação pela imprensa escrita. Dentre eles, e de maior importância, está o de prover o analfabeto, através do órgão auditivo, do cabedal de conhecimentos necessários à sua utilização com os fatos cotidianos, irmanando-os, pelo menos nesse setor, com aqueles que tiveram a felicidade de adquirir cultura. Outro fator preponderante que evidencia o rádio como grande veículo de progresso, é a facilidade de penetração nos mais longínquos e inacessíveis locais do interior, onde jamais a imprensa escrita teria acesso. Outrossim, têm-se revelado de extraordinária eficiência nos pedidos de socorros em acidentes de toda a espécie, quer terrestres, quer marítimos e aviatórios, que sem o eficiente auxílio do rádio, jamais poderiam ser atendidos ou sequer localizados. No campo da ciência, grande tem sido também a sua contribuição, pois é através do rádio, ou de instrumentos derivados, que os modernos satélites “fornecem aos cientistas os dados que tanto necessitam para a conquista do espaço. Enfim, em todos os campos, o sublime invento de Marconi tem revelado a sua superior utilidade, que lhe confere lugar de destaque entre todas as invenções do século. Sobrepujado já, em alguns aspectos, pela televisão, ainda assim não 72


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deixa o rádio, de ter seu lugar, pois nem todas as famílias, estão capacitadas monetariamente para adquirir um aparelho de TV, sendo que mesmo neste caso, o rádio está presente, exercendo função auditiva, sem a qual a imagem irmanava o antigo cinema mudo. Integradas perfeitamente em todos os setores da vida maringaense, as emissoras de rádio fizeram parelha com a imprensa, na expedição de seus informativos, muitas vezes antecipando-se até àquele, pela facilidade de transmissão verbal, podendo-se dizer que a imprensa se divide em dois setores, que sendo perfeitamente distintos, são ,no entanto, absolutamente unidos entre si: imprensa escrita e falada. Façamos, pois, um resumo histórico dessas atividades em Maringá. E é preciso, neste instante, ter na lembrança os pioneiros da comunicação coletiva nesta cidade, pondo em destaque um homem chamado Samuel Silveira, primeiro arrojado semeador dessa semente entre nós, mas também Helenton Borba Cortes, Mario Clapier Urbinati, Ivens Lagoano Pachceco, Francisco Rocamora, Joaquim Dutra e tantos outros que juntaram seus esforços e sua inteligência no ideal de dotar a cidade de uma imprensa e um rádio honestos, vigorosos, dirigidos no sentido do aprimoramento cultural do povo e da vibração da vida social. O primeiro órgão de imprensa a circular na cidade, segundo informações dos pioneiros desse campo, foi o “Maringá-Jornal”, mais tarde transformado no “O Jornal de Maringá”, que tinha a direção de Samuel Silveira, com Joaquim Dutra na parte comercial e Ivens Lagoana Pacheco na redação. Depois surgiu “A Hora”, onde se destacou o jornalista Francisco de Souza. Mais tarde, Manoel Tavares fundou “A Tribuna de Maringá”. E, já na década de 60, D. Jaime Luiz Coelho, fundou a “Folha do Norte do Paraná”, entregando à cidade o maior parque gráfico da região e consolidando, assim, a nossa imprensa. Outros jornais e revistas tiveram também circulação, alguns por mais e outros por menos tempo. Das emissoras, a Rádio Cultura é a pioneira, lançada ao ar 73


O RÁDIO EM MARINGÁ

em 1951, por iniciativa de Samuel Silveira. Em seguida veio a Rádio Jornal, da mesma organização. Depois a Rádio Difusora e a Rádio Atalaia. As quatro compuseram uma grande força de informação e publicidade, mantendo a hegemonia regional no campo da radiodifusão. Mas o principal a destacar é que imperou, em nossos veículos de comunicação social um espírito altamente nobre e construtivo. Graças a isso, a cidade e o campo muito se engrandeceram. E os homens que trabalhavam e ainda trabalham aqui, na imprensa e no rádio, gozam do maior respeito da comunidade, porque eles estão ajudando ainda Maringá a crescer. Na jovem história desta cidade, os jornalistas e radialistas têm cumprido importante papel.

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Rádio Cultura

de Maringá Ltda. Foi fundada em 16/11/1949, por José Medeiros da Silveira, Odwaldo Bueno Netto, Amadeu Vuolo e Atilla de Souza Mello que redigiram o Contrato de Constituição da Rádio Cultura de Maringá Ltda. e que foi arquivado na Junta Comercial do Paraná, em 19/01/1950, por falta de infra-estrutura. Em 1950 o Sr. Samuel Silveira, radialista profissional, tendo já exercido cargos de gerência em várias emissoras, enfrentou a situação e comprou equipamentos STP e um conjunto-gerador, e conquistou os ares de Maringá, no dia 15/06/1951, quando a Rádio Cultura emitiu seus primeiros sons, na antiga freqüência de 1.520 KHz, com o prefixo ZYS-23. Legalmente a emissora nasceu em 11/11/1949, mas usa inauguração somente se deu em 15/06/1951. A Cultura de Maringá e a primeira rádio de Londrina foram criadas simultaneamente, sendo as duas primeiras estações transmissoras do Estado do Paraná. 75


O RÁDIO EM MARINGÁ

Como se pode observar, a Cultura nasceu praticamente antes de Maringá como município, mas só recebeu sua carta em 1952. Em princípio, o Sr. Samuel não pretendia instalar a Rádio em Maringá. O projeto era para Mandaguari, mas como a Companhia de Terras Norte do Paraná, tinha interesse em trazer melhorias para Maringá, facilitou em muito a instalação da mesma. Também se devia aos laços de amizade entre os conterrâneos Samuel Silveira, Alfredo Nyfller e sua esposa. Por isso a Rádio ficou definitivamente em Maringá. O diretor da Companhia, na época, Dr. Cassio Vidigal foi uma das pessoas que mais apoiou e contribuiu para que a emissora fosse aqui instalada, mesmo reconhecendo a precariedade de recursos. Na data de sua inauguração, Maringá ainda era distrito de Mandaguari, não tendo as mínimas condições para uma estação de rádio. Não existia energia elétrica, nem tinha telefone, quase sem estradas, nenhum meio de comunicação. Era um núcleo que prometia ser cidade. A conquista se deve à coragem muito grande do seu pioneiro Samuel Silveira. “Tudo era muito difícil e precário, e como não existia transistor e os rádios eram valvulados, encarecia muito e não era qualquer pessoa que podia se dar ao luxo de ter um rádio. Eram necessárias duzentas e oitenta pilhas pequenas para obter a potência de uma pilha grande. Os acumuladores de automóveis também eram usados como bateria de rádio. Os discos eram de 78 rotações. Era necessário trocar a lâmina picape, diariamente, dando muito trabalho para o operador. Hoje as lâminas duram meses. Não existia gravador de fita. O único gravador existente na época era um acetato e não se podia errar. Era inadmissível qualquer erro, porque isso inutilizava toda a gravação. As propagandas eram lidas. Mais tarde surgiu o gravador de arame, que logo foi superado pelo gravador de tape. 76


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O rádio era ouvido em baixo volume, pois o volume muito alto gastava mais pilha. Era de tamanho grande, desconfortável para locomover e só mais tarde é que surgiu o rádio portátil. O Sr. Francisco Dias Rocamora, foi o técnico responsável pela montagem e manutenção da emissora. Além de técnico exercia as funções de locutor de estúdio e locutor esportivo. As transmissões esportivas eram feitas com muita dificuldade devido à carência de elementos. Atualmente uma equipe é composta por diversos elementos. O primeiro jogo de futebol irradiado foi aquele em que a legendária SERM derrotou a Associação Atlética Cambará por 2 X 1.

Os primeiros locutores foram Aloisio Rafael Barros (Barrinhos), Dirceu Fernandes de Souza e Thomaz de Aquino Negreiros. O som da emissora era produzido por geradores movidos a óleo e levado até 80 Km. de distância por uma velha antena direcional Marconi, instalada sobre uma tosca torre de madeira. Por falta de energia elétrica na cidade e por deficiência de aparelhos individuais a Cultura instalou alto-falantes ao longo da 77


O RÁDIO EM MARINGÁ

Avenida Brasil, a cada dois postes, desde a praça José Bonifácio até a praça Rocha Pombo. Isto porque a rádio significava muito para todos os maringaenses, tanto para os que moravam na cidade como para os que moravam na zona rural, pois este era o único meio de comunicação acessível. Os programas eram ao vivo. Os de maior repercussão eram os programas sertanejos, com duplas caipiras regionais. A rua da Rádio ficava repleta de ouvintes, pois cada artista trazia seus parentes, amigos e vizinhos a fim de assistirem suas apresentações. Como o local era muito pequeno, cabendo somente uma dupla, os ouvintes ficavam do lado de fora e quando a dupla possuía acordeom, o microfone era também colocado na rua. Os programas de maior audiência eram: os sertanejos e de calouros, como o Clube do Caçula; peças teatrais: cômicas ou dramáticas e Poesias. O estilo sertanejo era o principal, só com pessoas daqui e raramente algumas duplas de fora. As músicas eram diferentes; mais românticas como as de Francisco Alves, Angela Maria, etc. Músicas que realmente transmitiam mensagens. Os programas de auditório posteriormente eram considerados como um ponto de encontro da comunidade em geral. O rádio servia para aproximar as pessoas; servia de cupido: “João oferece para Maria de tal, esta música, com muito carinho”. Os avisos e as ofertas musicais eram pagos. As solicitações podiam ser feitas por carta ou telefone. O rádio fascinava as pessoas, sobretudo ao ouvirem a voz de um ente querido distante... era incrível. Naquele tempo o rádio era muito menos profissional do que hoje, pois não havia radialistas profissionais em toda a região Norte do Paraná. A Cultura foi criada e instalada na base do amor à arte, por ausência quase total de especializações. Os primeiros funcionários a se dedicarem, o fizeram por gostar de rádio e por achar interessante pertencer a uma rádio-emissora ou ainda por ser uma atividade emocionante. 78


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A Rádio Cultura proporcionou a criação de outros órgãos de imprensa e também de outras rádios. Através dela foi fundado o “Jornal de Maringá” sob a responsabilidade do jornalista Ivens Lagoano Pacheco. (Projeto Memória) Depois surgiu a Rede Paranaense de Rádio, sendo a segunda a Rádio Jornal de Maringá, ZYS-56 e, com a aquisição das demais formou-se a Rede. A Rádio Cultura comandou a Rede Para­n aense de Rádio, num total de quatorze emissoras, localizadas nas principais cidades do Estado do Paraná (Nova Esperança, Cruzeiro do Oeste, Para­n avaí, Cianorte, Umuarama, Campo Mourão, Arapongas, Apucarana, Londrina, Cornélio Procópio, Assaí, Maringá e Curitiba). Em 1967 a RPR estava devidamente atua­l izada no terreno técnico: tanto a equipe de repo­r tagens como a esportiva contavam com equipa­m entos moderníssimos como: hand-talk (microfones volantes), maletas transistorizadas, uma Kombi equipada com VHF e uma boa oficina de manu­t enção. A Rádio Cultura permanece inalterada em seu Contrato Social, após tantos anos. Mudou de endereço e capital social, que foi sendo acrescido na medida das necessidades, mas os cotistas continuaram sempre os mesmos. Em 1951 o transmissor era de 100 watts (hoje não existe mais para a radiodifusão). Naquele tempo seu tamanho era menor, pois os canais eram livres e esta potência tinha uma penetração correspondente hoje a 1.000 watts. Além disso não havia interferências. O transmissor era de marca SPP. A Cultura começou a funcionar numa casinha de madeira que media 6 X 6 onde funcionava o estúdio, a discoteca, o escritório, o motor... Tudo juntinho, num espaço de 36 m², onde cabia tudo até o transmissor, o sistema irradiante, na Avenida Herval. A Emissora entrou no ar com estas palavras de Rocamora: “Senhores, Senhoras, esta é a ZYS-23, Rádio Cultura de Maringá, em 1.270 quilociclos, inaugurando suas atividades”. Em 1953, a Empresa construiu um prédio próprio, que na 79


O RÁDIO EM MARINGÁ

época era a admiração da cidade; um auditório com 300 poltronas, enorme discoteca e todos os seus departamentos, tornando-se palco de inumeráveis reuniões religiosas, políticas, culturais, artísticas... Foi inaugurado em 10 de maio de 1954. Ainda, em 1953, foi inaugurado um transmissor de 1.000 watts e, posteriormente em 1978 (conforme Portaria 1.421/3 de 1970 do Dentel) importou um outro de 5.000 watts, Marca Gates, além dos demais componentes de Áudio. Em 1986, aumentou a potência para 10.000 watts, Marca Collins, USA. Os transmissores e a antena localizam-se numa chácara de 31 mil metros quadrados, na saída para Campo Mourão, Rodovia Pr 317, no quilômetro quatro, Trevo Itaipu. Antes se localizava numa área menor, hoje pertencente à Universidade Estadual de Maringá, constituindo a “Casa da Música”. A primeira diretoria foi composta por Samuel Silveira como gerente, Francisco Dias Rocamora, como técnico, Joaquim Dutra, como locutor (1952) e posteriormente como gerente (1953), Carlos Piovezan Filho, iniciando como auxiliar de contabilidade (1º/4/57) e Reginaldo Nunes Ferreira iniciando em 1965 no Escritório em São Paulo e transferindo-se, em 1974 para o Departamento Comercial de Maringá. Samuel Silveira e Joaquim Dutra se aposentaram, embora continuem pertencendo ainda à Sociedade. Os primeiros funcionários da Cultura foram: Samuel Silveira - fundador; Ignácio Nassif - Setor Comercial; Francisco Dias Rocamora - Técnico e montador da emissora; Aloísio Rafael Barros (Barrinhos) - primeiro locutor; Olindor Camargo - locutor juntamente com o Aloísio; Thomas de Aquino Negreiros - locutor; Dirce Riguetti - fazia programa social; José Augusto Negreiros - operador de som; Ilda Ramos - também operadora; Joaquim Dutra (sua ficha está com a data de 1º/12/52) quando entrou como locutor e depois contador e sócio. 80


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Transmissor antigo, hoje Casa da Música na UEM 81


O RÁDIO EM MARINGÁ

Ivens Lagoano Pacheco - Redator do Jornal Falado; inicialmente feito por Cal Garcia Moacir Savelli - locutor (ganhava Cr$ 10,00 por hora de locução) A Rádio Cultura conquistou por muitos anos, segundo dados do IBOPE, o primeiro lugar na preferência de um público heterogêneo, composto de quatro milhões de pessoas num raio de 150 Km. O prestígio se deve à modernização, acom­p anhamento das evoluções tecnológicas e inves­t imentos no homem e nos equipamentos. Sua programação é eclética, satisfazendo as expectativas do público cada vez mais exigente, pois sempre foi preocupação da Diretoria continuar a ser a melhor Rádio de Maringá e Região. Inaugurou novas instalações para os estúdios num moderno edifício no centro da cidade, com um pavimento inteiro, medindo 840 m2, “Edifício Leonardo da Vinci”. Os ouvintes, mais de quatro milhões estão espalhados por 100 municípios (Paraná e sul de São Paulo) regiões mais ativas destes dois Estados. O som chega ao homem do campo, ao em­presário , ao profissional liberal, à dona de casa, aos homens de negócios,às autoridades, enfim, abrange todos os segmentos comunitários urbanos e rurais. Isso tudo se deve a dois fatores básicos da Sociedade: 1º - A preocupação em usar sempre os melhores equipamentos, em perfeita sintonia com os últimos lançamentos eletrônicos, reinvestindo na emissora os retornos advindos de um trabalho sério e produtivo; 2º - A torre e os transmissores acham-se instalados numa posição geográfica privilegiada, permitindo grande aproveitamento de seus sinais. Farta correspondência, recebida de ouvintes, comprova a audiência fora do raio normal, alcançando não só o Paraná e São Paulo, mas também Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Rondônia e inclusive do exterior (Suécia, Finlândia, Noruega, 82


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Portugal), rompendo as barreiras continentais. A Cultura é organizada como uma empresa de porte médio, prestadora de serviços e veículo de comunicação social. Tem seus escritórios, estúdios, discoteca, departamento comercial e administração instalados em prédio próprio, à Avenida Herval, nº 200, esquina com à Av. XV de Novembro. Segundo o Sr. Joaquim Dutra, a Cultura “está fadada ao sucesso porque ela é composta de homens profissionais que não têm interesse paralelo à Rádio como um segundo plano. A Rádio Cultura sempre foi considerada coisa séria. É uma empresa nossa, que nós zelamos e tocamos com muita dedicação e que, por isso mesmo ela tem obtido este sucesso através de tantos anos. Seus diretores são pessoas que se dedicam ao radio como finalidade principal...e não como um trampolim ou como uma escada para outros interesses. Por isso a Cultura nunca parou de crescer...nem parou de investir. Não é tocada pela Diretoria como uma empresa comercial onde se pensa apenas em retirar. Ela é tocada com muito carinho, onde se pensa constantemente em melhorar e crescer. Temos uma folha de serviços prestados e, por isso, a rádio é respeitada em todos os sentidos, seja na demonstração de confiança da comunidade, na administração, na coragem de investir, dando um exemplo para a sociedade em geral, que cria o otimismo e que se constitui num sustentáculo benéfico para toda a sociedade e todos os campos. Isto porque entendemos que um veículo de comunicação social deve servir à comunidade. Ele tem que informar e formar a opinião”. (O Jornal de Maringá, 15/6/86 - pág. 10)

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Rede Paranaense

de Rádio

Segundo o Sr. Joaquim Dutra a REDE PARANAENSE DE RÁDIO foi fundada na década de 60 tendo a liderança da Rádio Cultura de Maringá e, posteriormente com a RÁDIO JORNAL. As demais emissoras foram sendo incorporadas, devido à sua situação “porque não iam bem ou então se foi comprando”. Seu escritório foram instalados, inicialmente, no 9º andar do edifício “Três Marias”em Marin­gá. A partir de 1963, o escritório central foi transferido para a rua Voluntários da Pátria, nº 475, 19º andar, em Curitiba. Em 1967 passou para a rua Barão do Rio Branco, nº 167 também em Curitiba. A Rede se desfez conforme quadro a seguir.

Diretores da Rede Paranaense de Rádio 84


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ÁDIO CULTURA DE MARINGÁ Samuel, Joaquim,Piovezan e R Reginaldo RÁDIO JORNAL DE MARINGÁ

Aloísio Rafael Barros, atualmente de Ricardo Barros

RÁDIO EMISSORA DE PARANAVAÍ Adhemar Schiavonni

RÁDIO SOCIEDADE DE NOVA ESPERANÇA

RÁDIO DIFUSORA DE CRUZEIRO DO OESTE

RÁDIO CULTURA DE ARAPONGAS

RÁDIO CULTURA DE APUCARANA

José Ignácio Neto

RÁDIO CULTURA DE UMUARAMA

Márcia Aparecida Mori

RÁDIO PAIQUERÊ DE LONDRINA

Ricardo Spinosa

RÁDIO CRUZEIRO DO SUL DE LONDRINA

Ricardo Spinosa

Aloísio Rafael Barros Orlando Manin João Dutra

RÁDIO OURO BRANCO Assaí (PAIQUERÊ) Luis Brecailo RÁDIO CRUZEIRO DO SUL DE CORNÉLIO PROCÓPIO

Pedro Worms

RÁDIO CRUZEIRO DO SUL DE CURITIBA

Grupo Betega

RÁDIO GUAIRACÁ DE CURITIBA Paulo Pimentel

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Operadoras

Kenji Ueta

Locutores 86


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Reginaldo Nunes Ferreira

Técnica

Ferrari Júnior, Moacir Savelli, Francisco Rocamora, Joaquim Dutra, Aloísio Barros e Argeu Dias

Inauguração das novas instalações nos 21 anos da Rádio Cultura: 15/06/72, momentos antes de abrir a porta para a inauguração 87


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Eng. Silvio Damiani que veio fazer o plano para a instalação da Tv Cultura de Maringá, ladeado por Samuel, Joquim e Piovezan

Ary de Lima, Lenin Schimidt, Mário C. Urbinatti, Ivens Lagoano Pacheco, José Hiran Sallée e Aniceto Matti

Carlos Piovezan 88

Conjunto do auditório


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Banda no auditório da Rádio Cultura

Clube do Caçula, aos domingos, de manhã

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Dom Jaime durante inauguração do auditório

1964: Frente da Rádio Cultura 90


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Transmissor

Ivens Lagoano Pacheco entregando uma maquina de costura Ă vencedora

Programa sertanejo: Cultura-29-07-59 91



Capítulo IV OS PIONEIROS


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Samuel Silveira Brasileiro, casado, radiodifusor, nascido em 14 de maio de 1920, em São João da Boa Vista, São Paulo; é filho de Celestino Silveira e de Dona Castorina Medei­ros Silveira. Casado com Dona Neusa Franco Silveira, tem 3 filhas: Maria Beatriz, médica; Maria Helena, fonoaudióloga e Maria Alice, advogada. Tem 4 netos. Iniciou seus estudos na cidade natal, transferindo-se depois para Porto Alegre, onde terminou o Curso Normal, CPOR e cursou medicina até o terceiro ano. Iniciou sua vida profissional como bancário, trabalhando no Banco Moreira Sales desde a sua fundação. Atualmente é o Unibanco. Em 1940 iniciou a vida profissional de radiodifusor, associando-se à Direção da Rádio Clube Hertz, de Franca (SP) e Rádio Cultura de Poços de Caldas (MG). Em 1948 fundou e instalou a Rádio Cultura da Bahia, bem como a Rádio de Itaparica, no mesmo Estado. Propriamente começou a trabalhar em rádio em 1940. O que o trouxe para Maringá, foi a desavença com o sócio da Rádio Cultura da Bahia e um encontro que teve, no Rio de Janeiro, com o Dr. Brandão que pertencia à comissão tácnica de Rádio e que o informou sobre a nova região, em grande desenvolvimento, no Norte do Paraná, e que seria muito bom conhecer. Veio de avião até Londrina e daí de ônibus, até Maringá. Em 95


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princípio o local planejado e desejado era a cidade de Mandaguari, sede da Comarca. Chegou em Maringá, em julho de 1949. E nos dias que aqui passava, pousava no Hotel Bom Descanso, o único existente na ocasião, a fim de poder fazer toda aquela parte inicial de contrato de instalação de uma emissora. Isto durou mais ou menos um ano de idas e vindas ao Rio de Janeiro para legalizar a concessão. Aqui, o Sr. Alfredo Nyfller e sua esposa Dna. Silvia, originários também de São João da Boa VIsta, insistiram para que a emissora se instalasse em Maringá. Grande colaboração teve da Companhia Melhoramentos, onde todos os diretores foram “formidáveis”, principalmente o Dr. Cassio Vidigal e o Dr. Hermman Barros, além dos demais diretores. A Companhia inclusive fez o prédio inicial e deu todo o apoio e tudo o que se precisava; o apoio foi 100%. Isto tudo porque Maringá representava a “menina dos olhos” da Companhia, considerando um grande acontecimento tudo o que aqui se fizesse para seu progresso. Por isso, em 1949, Samuel iniciou os trabalhos para conseguir um Canal de Ondas Médias para Maringá e, em 15/06/51 era inaugurada a RÁDIO CULTURA DE MARINGÁ, que funcionou com um conjunto gerador, pois na cidade não havia energia elétrica. Maringá era ainda distrito de Mandaguari. Em 5 de abril de 1956, sentindo a necessidade de registrar os fatos que fariam a história de Maringá, fundou o “O JORNAL”, inicialmente impresso em Curitiba e logo depois em sua própria oficina, que funcionava no mesmo prédio da Rádio. Em 1956, conseguiu concessão para a montagem da segunda emissora: a RÀDIO JORNAL DE MARINGÁ, que foi montada e inaugurada no mesmo ano. Mas seu espírito desbravador e comunicador não parou aí. Percebeu que o Norte do Paraná, naquela ocasião, estava praticamente nascendo e a carência em todos os setores era um manancial 96


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de oportunidades. Permanecendo na comunicação, expandiu as atividades, incorporando ou fundando novas emissoras, nascendo daí a REDE PARANAENSE DE RÁDIO, com sede em Maringá e com a Liderança da Cultura, constituida de 14 emissoras. Em 1972 foi fundada a TV Cultura e inaugurada em 1975, dando ao Norte do Paraná uma emissora de sons e imagens a cores. Posteriormente passou a fazer parte da Rede Globo. No dia 29 de junho de 1974, participou da fundação do Jornal O DIÁRIO DO NORTE DO PARANÁ, oferecendo à região um jornal moderno, já utilizando a foto-composição e a impressão off-set. Em obediência a uma lei do Governo Federal, que limitava o número de emissoras para cada grupo a 3 no Estado, ou 5 no Brasil, desfez-se da REDE PARANAENSE DE RÁDIO, por volta de 1968 ou 1970. Hoje ainda, Samuel Silveira, é sócio da Rádio Cultura de Maringá e da Servi-Som Cultura. Em 15 de dezembro de 1986 foi fundado o Clube de Imprensa, com o objetivo de congraçamento entre todos os integrantes de imprensa de comunicação social. O Troféu Samuel Silveira foi instituído oficialmente como Trofeu Pioneiro da Comunicação, como um dos exemplo mais marcantes de um trabalho plantado numa terra que prometia apenas o futuro, sem dar condições no presente. Para o Sr. Samuel “o rádio é a expressão verdadeira”, por isso é que sempre foi apaixonado pelo rádio. “Penetra lá no pobre, penetra subjetivamente na vida de todo mundo, não medindo distância nem tempo; é imediato”.

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Entrevista Entrevistado: Samuel Silveira Entrevistadora: Ademilde 13 de novembro de 1986 Degravação: Sérgio Maringá, 13 de novembro de 1986 - Projeto Memória, nos encontramos no prédio da Rádio Cultura de Maringá, para entrevistar o seu fundador, o sr. Samuel Silveira. Vamos ouvir o seu relato. PM-Sr. Samuel, quando o senhor chegou em Maringá? SS- Mais ou menos em junho de 1949. Mais ou menos, eu não posso precisar, mas é por aí, porque de início nós viemos aqui prá fazer o contrato da Rádio, rádio essa que agora é a Rádio Cultura de Maringá, que foi a primeira emissora do Norte do Paraná. Sim, nasceu junto com a de Londrina, na mesma época inaugurou em Maringá e Londrina. PM- O sr. já veio de mudança para cá? SS-Não, de princípio, não, eu só vim de São Paulo, eu ficava no hotel, naquele tempo só tinha o Hotel Bom Descanso, e ficava aqui prá fazer o contrato, toda aquela parte inicial da rádio, que é a parte principal né, era daqui ao Rio de Janeiro, isso levou um ano mais ou menos prá nós fazermos o contrato até conseguirmos a instalação da rádio. PM- O sr. veio de onde pra Maringá? de São Paulo prá cá? SS- De São Paulo, onde eu já trabalhava em Rádio PM- Já era atividade do sr.? SS- Sim ...a comecei em rádio....1940 PM- E porquê razão o sr. escolheu Maringá para instalar a rádio? SS- Pelo seguinte, eu fundei a Rádio Cultura da Bahia, então eu fui prá Bahia em 1946, e fundamos a Rádio Cultura da Bahia, bo98


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tamos no ar, eu tinha um sócio na Bahia. Aí, tivemos uma desavença e eu vim pro Rio, e tinha uma pessoa que era da comissão técnica da Rádio, Dr. Brandão, e disse olha, tem uma região nova no Brasil que está em grande desenvolvimento e é bom você ir conhecer. Então eu peguei um avião, vim a Londrina, daí peguei um ônibus prá cá, vim conhecendo. De princípio era prá ser instalado Mandaguari que era sede da Comarca, não era Maringá, mas eu vim até Maringá. Chegando aqui o sr. Alfredo Myfller com a senhora dele, a D. Silvia, eles eram de São João da Boa Vista, eu conhecia de lá de São

Um troféu à Comunicação O Clube da Imprensa, fundado em 15 de dezembro de 1986, tem por objetivo o congraçamento entre todos os integrantes de empresas de comunicação social. Atualmente associa mais de 150 jornalistas de Maringá, que estão gradualmente construindo a sede social da entidade, a ser totalmente concluída no ano que vem. O Troféu Samuel Silveira, instituído oficialmente hoje com o troféu Pioneiro da Comunicação entregue a Samuel Silveira, é uma homenagem que o Clube da Imprensa fará anualmente a pessoas de destaque da comunidade , pioneiros ou não. E, além do justo reconhecimento pela atuação do homenageado, uma maneira de unir a classe que forma a opinião pública com as lideranças comunitárias que trabalham por nossa gente. Um dos exemplos mais marcantes de um trabalho plantado numa terra que prometia apenas futuro, sem dar condições no presente é o do homenageado desta noite. Samuel Silveira chegou em Maringá em junho de 1949 e, a força de um gerador movido a diesel, colocou no ar a voz da Rádio Cultura de Maringá. Ajudou ainda na formação da Associação Comercial e Industrial de Maringá, do Rotary Clube, do Grêmio de Maringá, entre outros. A seguir, também fez soar a voz da Rádio Jornal. E diversificando seu campo de ação, fundou O Jornal - o veículo impresso mais antigo dos atuais. Participou ainda da fundação do O Diário do Norte do Paraná. Uma das suas maiores conquistas para a comunidade foi a instalação da TV Cultura, fundada por ele e outros sócios. Nada Mais justo que a homenagem do Clube da Imprensa ao Pai da Comunicação Maringaense, marcando significa­tivamente este 18 de setembro de 1987. Convite para entrega do 1º Troféu Samuel Silveira ao mesmo 99


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João da Boa Vista, porque eu morei lá em São João da Boa Vista no Estado de São Paulo. Então com aquela proximidade, amizade, eu resolvi que ia ser Maringá a Estação, e foi quando foi a Primeira Estação, que nós viemos prá Maringá. PM- Quando o sr. chegou com esse projeto, a Companhia auxiliou? mostrou boa vontade? SS- Ah! mas eu tive o maior auxilio possível da Companhia Melhoramentos, todos os diretores foram formidáveis, principalmente o Dr. Cássio Vidigal, que foi o meu grande amigo, nós vivíamos juntos, ele chegava em Maringá me procurava, nós ficávamos juntos. O prédio aqui da rádio foi feito pela companhia Melhoramentos. A Companhia nos deu todo apoio, tudo o que nós queríamos nos deu todo apoio, tudo o que nós queriamos, principalmente o Dr. Cássio e o seu Alfredo, nem é bom falar, é meu amigo particular também, me apoiou 100%. PM- E o quê significava para própria Companhia ter uma rádio em Maringá? SS- Porque veja bem, Maringá era a menina dos olhos da companhia, sempre foi, o Dr. Hermmam vinha prá Maringá, o Dr. Cássio, prá Maringá, todos eles sempre prá Maringá. Então tudo o que ser fizesse em Maringá era prá eles um grande acontecimento, e foi o rádio, e o prédio que eles fizeram foi justamente como o grande Hotel, foi feito na mesma época o prédio daqui o grande Hotel, prá mostrar prá todo mundo que existia Maringá. Essa é a razão, é a paixão deles por Maringá. PM- Que dia exatamente a rádio Cultura foi instalada, foi ao ar? SS- Olha, agora mesmo ainda o Joaquim falou prá você, foi... em 51, agora o dia não me lembro, parece que foi em junho. PM- 16 de Junho! SS- 16 de junho, é isso aí. A Rádio foi pela primeira vez ao ar e nós inauguramos aqui na av. Herval, alí adiante é hoje o prédio da Copel, alí que nós começamos a rádio. Mas como já te falei, tive que demorar porque eu tive que construir um prédio alí porque não tinha, Maringá não tinha nada. Eu também só me mudei prá cá em 51, porque teve que fazer uma casa prá eu vim morar, porque não tinha, tudo aqui era nessa base. 100

PM- E os preparativos prá instalação começaram quando?


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SS- Em 50, demorou esse tempo todo porque você entende, tudo difícil, nós tivemos que fazer tudo tudo, não tinha um prédio prá alugar, nós tivemos que construir tivemos que fazer tôrre, nós fizemos tôrre tudo aqui em Maringá, foi muito difícil, inclusive funcionando com motores, porque não tínhamos luz elétrica, Maringá não existia luz elétrica, nada, era só a base de motor. PM- O que significava o rádio para a comunidade para essas pessoas que moravam nos sítios, nas propriedades ao redor de Maringá? SS- Olha, foi a maior felicidade, apesar da rádio ser com pilha, e aquele sistema antigo, com muitas pilhas grandes como nós já dissemos prá você, foi a maior felicidade. A rádio Cultura apesar de ser um lugar pequenininho, nós tínhamos muitos programas sertanejos. Então enchia, mas enchia que enchia a rua inteira de gente prá vim ver os programas sertanejos. PM - E o alcance? SS- Bom, você sabe, que antigamente existiam poucas rádios, então o alcance apesar da potência ser pequena, o alcance era muito grande. Hoje é o contrário, hoje, prá você ter uma idéia nós começamos com 100 watts, era a potência da rádio e isso era de todas as rádios era essa a potência. Hoje a Rádio Cultura hoje tem 10.000 watts, você veja a diferença de potência, mas o alcance naquela época era muito grande porque tinham poucas rádios. Aqui no Norte do Paraná não tinha nenhuma era só a rádio Cultura e a de Londrina. PM - E os profissionais de onde vinham? SS- Olha, é um assunto interessante esse viu, porque o profissional aparece. Então quando foi prá fundar a Rádio Cultura apareceu um locutor que é o dono da Rádio Jornal, o Barros, foi o primeiro locutor que eu tive. Depois eu tive um outro que eu nem me lembro bem o nome dele mas esse trabalhava no Cartório do Esmeraldo Leandro, esse morreu até já, foi o segundo locutor, essa foi a fundação da rádio, foi com esses locutores esses dois que começaram a Rádio Cultura. Quer dizer os profissionais apareceram, eu tive bons profissionais inicialmente, como eu tive um que chamava Olindor Camargo, ele hoje é praticamente o prefeito de Camboriu. Ele é uma pessoa muito 101


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influente em Santa Catarina, também toda festa que ele vem... ele tem uma paixão por Maringá. PM- E qual o nível social dos ouvintes da rádio, como é que era, que classe social ela atingia? SS- Eu acho muito bom, porque Maringá...não sei se você tá comigo, Maringá foi a que teve melhor fundação de todas as cidades do norte do Paraná. Foi o pessoal mais qualificado que veio prá Maringá, nós aqui tivemos gente formidável, gente de gabarito como Sérgio Cardoso de Almeida, enfim gente boa foi que funda Maringá, Maringá foi fundada por uma ...não foi como certas cidades aí que você sabe, não preciso dizer que você.... Então o nível de audiência aqui era ótimo e a Rádio Cultura fazia parte de tudo, de tudo que existia em Maringá, a Rádio Cultura fazia parte, inclusive esse prédio que depois foi feito, foi com a maior finalidade de ajudar Maringá, eu cedi prá tudo, a Associação Comercial foi fundada aqui, o Rotary Clube começa, olha, tudo o que você possa imaginar começou na Rádio Cultura. (Riso) é verdade. PM- O auditório estava sempre disposto a servir a todos, a qualquer entidade? SS- A todos sim, isso aí. Não tinha luz elétrica, como nós tínhamos o motor no auditório, então com luz e tal, tudo foi fundado no auditório da Rádio Cultura, tudo, e quem inaugura aqui o prédio foi o Bento, Dr. Bento Munhoz da Rocha, amigão de Maringá, ele que deu luz elétrica prá Maringá, daí naquela época ele manda motores prá cá, Maringá deve uma infinidade ao Dr. Bento Munhoz da Rocha. O que mais você quer saber? A estou te contando a realidade daqui, porque eu sou...eu “nasci” aqui entendeu? PM- Exatamente, isso que nós queremos, depoimento fiel de tudo aquilo que aconteceu aqui em Maringá, quais assim, os programas de maior audiência, o que mais tocava nas pessoas? SS- Olha, o que mais tocava é um programa que nós tivemos que até hoje várias senhoras já da sociedade cantaram aqui, começaram aqui, chamava o Clube do Caçula (Riso) PM- Eu ouvia...(Riso) SS- Um programa aos domingos que o Ivens Pacheco é que 102


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comandava esse programa, mas tinha uma audiência assim excepcional de manhã aos domingos e todas as senhoras, começaram nesse programa, cantar. PM- O sr. lembra de algumas? SS- Olha, de nome assim você me desculpe, mas você sabe, a vida da gente vai correndo tanto né que eu não ....de nome assim, depois talvez eu possa pensar em me....mas assim de principio eu não me lembro honestamente. PM- Além de programa sertanejo, além de música, quais os tipos, que tipo de programa a rádio tinha? Era diversificado os programas e quais os programas que existiam? SS- Por exemplo, nós tínhamos aqui um programa de grande sucesso, que era o Ary de Lima, Ary de Lima era um poeta maringaense que fazia um programa na Rádio Cultura como Nhô Juca, começou na Rádio Cultura, enfim, tudo que houve em Maringá do passado começa na Ráio Cultura, pode escrever isso...(Riso). Quem fazia por exemplo aqui a parte de noticiário inicialmente era o Cal Garcia, o primeiro advogado que começa aqui, era o que fazia o programa de noticiário e de opinião da rádio. Enfim, você veja qualquer um aí de passado começa na Rádio Cultura. Muito bem, o que mais você deseja saber? PM- Além da rádio ser um meio de comunicação, ela auxiliou assim prá fundação de algum outro órgão de comunicação na cidade? SS- Ah! sim, daí nós mais tarde tivemos a Rádio Jornal que também nasceu da Rádio Cultura e “O Jornal” que também em 1953 nós fundamos na Rádio Cultura o “O Jornal” quando trouxemos o “Ivens Lagoano Pacheco” prá dirigir o “O Jornal” e a Rádio Jornal, por causa do mesmo nome tá vendo? “O Jornal” e a Rádio Jornal daí, que era prá ser um órgão só, mas depois o governo fez uma lei proibindo que se fosse dono de duas rádios na mesma cidade foi quando nós vendemos a Rádio Jornal. Mas daí fundamos aqui de Maringá, a Rede Paranaense de Rádio. Essa Rede Paranaense comandava 13 emissoras, inclusive duas de Curitiba. PM- O sr. lembra o ano? SS- Mais ou menos em 1960 foi que nós começamos. Fomos a Rede Paranaense de Rádio. Maringá, dominava, mandava no rádio em todo o norte do Paraná. O Paraná inteiro, só não tínhamos Ponta 103


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Grossa, o restante nós tinhamos em todas cidades grandes. Nós aqui por exemplo nós tínhamos Nova Esperança, Paranavaí, Cruzeiro do Oeste, Cianorte, Umuarama, Campo Mourão, Arapongas, Apucarana, Londrina, Cornélio Procópio, Assaí e Curitiba, O Paraná inteirinho dependia de Maringá. PM- E as campanhas políticas, como é que eram? Utilizavam o rádio prá fazer campanha política? SS- Mas não tenha dúvida, o rádio comandou a política nessa cidade, de início. A primeira campanha que nós fizemos foi a campanha que ganhou o Villanova, os candidatos eram o Planas, Angelo Planas, o Villanova, O Waldemar Gomes da Cunha e ganhou Villanova, fizemos companha e fizemos a primeira irradiação de resultado, irradiamos em Mandaguari, a apuração da eleição, porque a Companhia Melhoramentos tinha uma linha telefônica de Londrina até Maringá. Então ela nos emprestou de Mandaguari e nós irradiamos. PM- O resultado da eleição irradiado foi quando? SS- A primeira eleição de Maringá foi se não me engano 64... PM- 52 SS- 52, é isso aí, 52 PM- A primeira eleição. E o que significou isso pro eleitorado maringaense? SS- Foi um sucesso!! Você imagina, quem é que podia imaginar que todo mundo aqui ficasse sabendo o resultado é ou não é! Então começa a apuração e o Planas começou a ganhar, então o Planas já começou a soltar foguete e já foi prá Mandaguari prá comemorar, quando´chegou lá ele tinha perdido a eleição, quem ganhou foi o Villanova (Risos), essa é a verdade. PM- E as campanhas eram feitas ao vivo pelos candidatos? SS- Ah sim, sempre foram. Campanhas formidáveis que tivemos em Maringá, como por exemplo, campanhas do Américo Dias Ferraz, foi uma engraçadíssima, o Américo ia em cima de um caminhão tocando violão, é foi engraçadíssima a campanha dele. Depois tivemos a campanha do Haroldo Leon Peres, também foi ótima, do João Paulino. João Paulino foi nosso grande, tivemos boas campanhas. Olha, 104


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política foi...Maringá teve ótimas campanhas. Daí elegemos aqui o primeiro deputado que foi o Néo Martins. PM- E o nível da campanha política feita no rádio, como é que era, havia muitos ataques, contra-ataques, como é que era? SS- Não, não, muito pouco, porque havia aquela amizade, o pessoal ainda era um número pequeno, não era assim como hoje que se “lava a roupa”, não nada disso, era uma campanha honesta, eu acho pelo menos, isso é modo de pensar. PM- Seu Samuel, havia censura? SS- Não, não havia. PM- E hoje? SS- Hoje, não é bem a censura, o que existe são normas e como o rádio é uma concessão nós obedecemos, porque senão há uma cassação. Nunca sofremos cassação nenhuma nem nada porque obedecemos a lei, sempre foi essa realidade. PM- Qual era a manifestação da comunidade assim,...como eles se manifestavam com relação ao rádio? O que significava prá eles e como eles demonstravam isso? SS- Bom, o rádio, veja bem, foi o sucesso todo até época de 70, 75 quando nós começamos a fundar a televisão, que a televisão também fomos nós que fundamos aqui da Rádio Cultura, tanto que você vê que chama TV Cultura de Maringá. PM- E quando foi fundada a TV Cultura? SS- Foi em 72 nós fundamos aqui a televisão e ela foi pro ar em 75. PM- Quem foram os fundadores da TV Cultura? SS- Fomos nós mesmos, o Joaquim, o Carlos, Eu, e mais então, daí fizemos um grupo, Dom Jaime, fizemos uma sociedade com todo o povo de Maringá, umas trinta pessoas porque nós queríamos uma televisão da cidade, mas infelizmente daí televisão hoje só vive de rede, e a rede globo começou a ... no fim deixamos que fosse da rede globo prá Maringá ganhar esse grande veículo indubitavelmente é ...tanto que você veja que até hoje eu tô muito ligado lá... que até o prédio lá é meu, porque tá com a televisão lá dentro.

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PM- E hoje, o que é o rádio com tanta mudança, com tantos meios de comunicação, o que significa o rádio hoje? SS- Olha, você veja, eu sou apaixonado pelo rádio, apesar de ter fundado a televisão, mexido muito com televisão, mas eu sou apaixonado pelo rádio, porque o rádio é a expressão verdadeira, pode notar todas as eleições normalmente são eleitos pessoal de rádio e não de televisão. PM- É verdade. SS- Você pode olhar, é o pessoal de rádio, porque o rádio penetra lá no pobre, o rádio não precisa, você tá trabalhando e ouve o rádio, coisa que você não pode fazer com a televisão. Televisão é só aquela hora, você tem que prestar a atenção senão... Então o rádio penetra subjetivamente nas casas de todo mundo e essa é a grande força do rádio, principalmente que não tem distância e outra coisa , o rádio imediato, nós estamos conversando aqui nesse momento, se quiser levar no rádio, é só levar ali, já tá no ar, é um minuto, entendeu, não é o caso da televisão e de outros veículos. Por exemplo jornal, jornal é uma opinião já escrita, mas demorada prá ser feita. O rádio não, o rádio é imediato, o rádio é violento, é imediato por isso... eu sou apaixonado pelo rádio, eu nasci em rádio em 1940 (riso). então rádio prá mim é.... PM- E quando o sr. instalou a rádio aqui em Maringá, quais as condições de trabalho, de equipamento, que recurso ela tinha? SS- Foi muito difícil, você pode crer que foi uma grande dificuldade, porque não tinha nada, aquela época tudo era difícil, nós não tínhamos luz, não tínhamos nada nada, enfim foi uma olha, foi um ato heróico mesmo. Equipamento muito bom, porque nós trouxemos de São Paulo tudo novo, não teve problema nenhum, mas difícil de funcionar, não é hoje, hoje é um passeio instalar uma emissora. PM- E os programas, como eles eram elaborados, eles eram programados, havia script ou era improvisado, como é que era? SS- Não naquele tempo a programação toda era feita base local. Tudo aqui nós, por exemplo, programa sertanejo que sempre foi a base principal no início, eram sertanejos que moravam aqui na redondeza mesmo e tudo...olha como eu te falei tudo surgiu assim, futebol, por exemplo, não existia em Maringá entendeu, e nós queríamos irradiar futebol, Cultura é Maringá, então primeiro nós começamos irradiar 106


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no Maringá Velho do Serm. PM- Em que ano? SS- Logo que a rádio... PM- Iniciou SS- Inicia, e depois nós ajudamos a fundar e eu fui um dos fundadores do Maringá, até hoje é o que existe é o Maringá, o Grêmio Maringá e irradiamos as partidas do Maringá. PM- E o esporte aparecendo no rádio, o que significou? SS- Ah! não tenha dúvida, foi um sucesso, como sempre, aliás o futebol até hoje é um dos nossos programas de maior audiência. Por exemplo esse rapaz que trabalha conosco, o Pucca, ele começou a trabalhar conosco na Rádio Jornal, menino. Outro que começou menino conosco foi o Lindolfo Luiz, não o Lindolfinho filho, o pai, o Lindolfo era menino, veio prá cá também trabalhar conosco. É como eu te contei, todos esses “velhos” começaram na rádio Cultura, a Rádio Cultura foi o pai de todo mundo, depois foram prá outros caminhos e tudo bem. PM- E a comunidade, ela participava, ela requisitava algum tipo de programa, ou ela aceitava o que ofereciam? SS- Olha, o início aqui era, você sabe, aquele... você sabe, aquele programa de oferecer música, esse foi o início do rádio aqui, aliás eu já trouxe isso lá da Bahia, mesma coisa, o rádio é igual em todo lugar, e na Bahia era mesma coisa, pedir música, oferecer pro namorado essa coisa assim, que esse era o rádio que se fazia antigamente. Claro, o rádio evoluiu, hoje é diferente mas, assim mesmo os programas antigos ainda são de sucesso, só que não tem mais como nós tínhamos novelas, só que as novelas nós trazíamos gravadas de São Paulo, trazíamos novelas gravadas e passava. Por exemplo, nós ainda temos, posso até te mostrar o primeiro gravador que existiu, esse gravador é de fio, de arame, de fio, foi o primeiro gravador que existiu, nós compramos e esse gravador nós gravavamos as campanhas políticas, então por exemplo, eu queria saber se o Villanova era bom prefeito, nós saíamos na rua entrevistando o pessoal, perguntando “O que acha do Villanova?” (risos) e gravava tudo, e chegava aqui botava no ar. O gravador taí, depois você pode 107


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ver o primeiro gravador. PM- E o rádio, ele produzia algum efeito, alguma mudança no comportamento político? Por exemplo, uma entrevista, uma pesquisa sobre uma gestão. O rádio tinha influência de modificar? SS- Ah! sim, sem dúvida. O rádio por exemplo, modificou aqui em Maringá a instalação da telefônica. É, a telefônica aqui em Maringá era prá ser instalada por uma outra pessoa que eu não me lembro o nome e nós então, ele queria cobrar muito caro a instalação telefônica aqui e nós fizemos grande campanha aí e modificou a instalação da telefônica, e o rádio tinha tamanha força que quando foi fundada aqui a Associação Comercial aqui no auditório da Rádio, o Angelo Planas disse: - “olha, não é maior aqui a audiência do pessoal todo, a quantidade de gente, porque nós só anunciamos na Rádio”. E eu soube aquilo, e falei, “puxa, o Planas eu emprestei prá ele o auditório, fiz anúncio tudo, agora ele vem aqui dentro falar isso”. Então eu resolvi fazer uma gozação com ele, e botei um anúncio na rádio assim que o Angelo Planas tava comprando gato prá fazer sabão. Olha, foi tamanha quantidade de gato na casa do Angelo Planas, que veio aqui e “pelo amor de Deus”, foi uma prova da audiência, é isso aí. PM- O sr. lembra mais algum fato pitoresco? (riso) SS- Houveram muitos (risos) a vida passa é ou não é...Quem vinha muito aqui é o Duque Estrada, que escreveu aquele livro, e nós trocávamos muita idéia, foi quando ele lançou aquele livro, aliás você pode ver que eu apareço naquele livro lá. Outro que era muito amigo e escrevia aqui também era o Altino Borba, o pai, até ele escreveu aquele livro “Maringá, na Copa do Mundo”, e pode ver que nós dois encontramos em Londres, nós fomos juntos lá no...porque Maringá, olha, eu se tivesse que nascer outra vez queria nascer aqui (risos) é uma verdade, todos nós amamos Maringá, sem dúvida nenhuma. Por exemplo, foi fundado um clube em Curitiba, não sei se você tá a par do pessoal de Maringá, não é bem um clube, mas de vez em quando fazemos um jantar, o pessoal de Maringá, Então eu acho interessante isso, que...por exemplo, a D. Izaura, esse pessoal todo que hoje tá lá em Curitiba, eles, cada um quer ser mais Maringaense do que o outro, inclusive o Zeferino por exemplo. O Zeferino é um homem que ele é mais maringaense do que qualquer pessoa. Isso é Maringá, e a Rádio Cultura fazendo parte disso tudo, por isso me honra muito ter 108


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a rádio Cultura e nunca hei de mudar o que até hoje não mudou, vai ficar sempre assim. PM- Seu Samuel, o que significa o sr. estar falando hoje da história da rádio depois de tanto tempo? SS- É uma alegria viu, porque sempre que eu falo na rádio, falo com prazer, e alegria e além da rádio, que a rádio, faz parte de Maringá porque sem Maringá não existia Rádio Cultura. E a Rádio Cultura faz uma parte assim .....sem dúvida, de Maringá. Você veja, tudo o que houve aqui a Cultura tomou parte, sempre com a maior boa vontade, você veja nós...prá lembrar uma coisa que tem assim por exemplo, nós instalamos junto com a turma de Maringá, ajudamos a instalação do próprio bispado, o Dom Jaime era um mocinho, nós fomos a Ribeirão Preto quando ele se transformou bispo, veja bem, Maringá desde aquela época, daí o Dom Jaime teve a hora dele na rádio Cultura, e desde o início, até hoje continua. Então você veja, tudo que houve em Maringá qualquer coisa do passado voce pode ver que a Cultura tava no meio. Então isso foi uma felicidade prá mim, porque...como eu te falei, eu “nasci” em Maringá, apesar de já ter feito parte de outras emissoras, na Bahia, em Franca no Estado de São Paulo, mas Maringá prá mim é a primeira, e eu só desejo que nunca mude, e eu sou de passagem, todos nós somos, mas que a Rádio Cultura continue prestigiando tudo que acontece nessa cidade, que é a cidade coração. PM- Nós agradecemos à atenção do Sr. Samuel Silveira, o pai da Rádio Cultura de Maringá, o fundador dessa rádio que tanto ajudou a formar Maringá e participar de todos eventos culturais, artísticos de nossa cidade, e é um prazer muito grande prá equipe do Projeto Memória registrar esse seu depoimento. Muito Obrigado.

A. A. de Assis.

Coluna “Gente muito gente”. O Diário do Norte do Paraná. 11/11/1978

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Joaquim Dutra Nascido pau­lista de Mogi-Mirim no dia 14 de abri de 1929.É filho de Antonio Dutra e Thereza Santini Dutra. Casado com a senhora Luiza Lemos Dutra, tem 3 filhos: Maria Luiza, Marco Antonio e Marcelo. Joaquim Dutra, chegou a Maringá em 1950 tornando-se um os pioneiros do rádio nesta cidade. Sua história está ligada à RADIO CULTURA DE MARINGÁ, primeira emissora local, que ele fez crescer e que é hoje um dos mais importantes veículos de comunicação do Paraná. Empolgado também pela imprensa, participou da fase pioneira do “O JORNAL DE MARINGÁ”; foi, durante 10 anos (1964-74) um dos diretores da “FOLHA DO NORTE DO PARANÁ”; e foi o fundador de “O DIÁRIO DO NORTE DO PARANÁ”, inaugurando na cidae a fotocomposição e a impressão off-set. Foi também um dos principais fundadores da Televisão Cultura, Canal 8 de Maringá. Joaquim Dutra fez o curso de contador na Escola de Comércio Álvarez Penteado de São Paulo; e o curso de Administração de Empresas na Universidade Estadual de Maringá. Tem, entre outros títulos, o de Comendador da Soberana Militar Hospitaleira Ordem de São Jorge Carinzia. No Rotary Clube de Maringá, exerceu a presidência e diversos outros cargos de liderança. Foi também presidente da Associação Comercial e Industrial de Marin110


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gá. Participa de diversos clubes sociais, e tem dado sua colaboração a numerosas campanhas da comunidade. Joaquim Dutra foi sempre, acima de tudo, um bravo lutador, um homem que venceu na vida à custa de muito trabalho e graças à sua extraordinária capacidade de ação. Todas as pessoas que trabalham ou já trabalharam com ele são testemunhas de sua tenacidade, de seu arrojo e do seu espírito criativo. Um homem que sempre enfrentou grandes desafios e jamais titubeou diante de qualquer obstáculo. Comunica esse espírito à sua equipe e não deixa ninguém desanimar ao seu redor. Uma de suas características foi sempre fazer questão de conhecer tudo dentro das empresas que tem dirigido. No rádio entende desde a parte técnica até a contabilidade, o planejamento de programação, a publicidade e, quando preciso, mostra suas qualidades de locutor. Na imprensa, da mesma forma, além de conhecer todos os aspectos administrativos e técnicos, é capaz de escrever uma reportagem, redigir editoriais ou interpretar com profundidade a política internacional. Quando tratava da fundação e montagem da TV Cultura, aprendeu tudo sobre televisão. E ainda consegue ser um entendido em agricultura, pecuária, turismo, mercado imobiliário e outros assuntos. Um homem de muitos talentos e de grande fôlego, a quem o progresso desta cidade muito deve. De vez em quando Joaquim Dutra sente que está exagerando no ritmo de trabalho e diz aos amigos que vai diminuir suas atividades. Mas não sabe ficar parado. E quando todos pensam que ele vai partir para uma repousante aposentadoria, começa um novo empreendimento, pondo mais uma vez em ação a sua impressionante energia. Uma personalidade vigorosa, que vai deixando a marca de sua participação em toda a história de Maringá. Desde quando aqui chegou em 1950 até hoje, Joaquim Dutra jamais se limitou a ser um passageiro da história. Quis sempre ser tripulante, ajudando a pilotar a comunidade na direção de um desenvolvimento cada vez mais generalizado e dinâmico. Sua vida é um exemplo autêntico de garra e do peito desta gente heróica que fez a grandeza do 111


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norte do Paraná. Foi locutor de estúdio e auditório (foi eu que inaugurei em 1953). Sobre o rádio e sua importância, afirma Joaquim Dutra, “o rádio é um veículo de grande penetração social, mais que a televisão, atingindo propriamente toda uma população, e jamais terá´problemas, se bem administrada: é barato, pode ser ouvido no trabalho, no passeio, nas viagens....Todo mundo ouve rádio, senão em todo o momento mas já ouviu em algum instante....Penetra em qualquer local e região independentemente de estradas, condições sociais, rede elétrica, nível de cultura... até índios e os núcleos mais afastados dos centros urbanos. Daí a importância do Rádio Regionalizado e segmentado, para melhor se identificar com as várias camadas populacionais. O rádio dá alegrias em todas as épocas tanto para quem nele trabalha como para o ouvinte. Quem vive rádio tem prazer no que faz não só no que é tradicional mas também nas inovações. O rádio ainda inspira confiança e otimismo porque não será superado devido ao seu campo de ação e à sua penetração fácil, principalmente após o advento do transistor. Para tanto é preciso que os profissionais do rádio estejam sem-

Entrevista pre se atualizando na prestação de serviços, afim de serem sempre úteis ao equilíbrio social, porque o rádio como veículo de comunicação social de massa, deve servir à comunidade, informando e formando opinião”. PM-Projeto Memória na pessoa de Maria de Fátima Jorge Pereira - entrevistadora JD-Joaquim Dutra - entrevistado 112


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PM- Sr. Joaquim, como e porque o Sr. veio para Maringá, e como passou a ser locutor? JD-Vamos começar assim, pela origem . Primeiro eu morava em São Paulo, fui criado em São Paulo. Na capital de São Paulo eu terminei o curso de Contador na Escola de Comércio Álvares Penteado e resolvi que tinha que arriscar minha vida pelo interior. E muito se falava em São Paulo, naquela ocasião, sobre Maringá. A gente ouvia falar em Maringá assim como uma cidade promessa, e vim para cá para arriscar a vida. E chego em Maringá. Comecei a trabalhar de contador, depois de contador comecei como comprador de cereais, também trabalhei em atividades diversas. Consegui aí ter um hotel. Meu pai tinha um hotel mas foi embora e eu comprei o hotel dele. Depois comprei mais dois. Foram o hotel Brasil, hotel Paulista e depois hotel Rio Branco. Esse hotel Rio Branco foi fundado pelo Dr. José Gerardo Braga, que tinha lá uma fábrica de macarrão, depois virou hotel. Entrei em rádio em dezembro de 1952. Entrei mais por curiosidade, porque a rádio precisava de locutor. Eu não tinha experiência nenhuma no ramo, mas também, rádio aqui naquele tempo era uma coisa que estava iniciando e eu não tive dificuldade de entrar como locutor. Gostei do negócio e acabei me enfronhando tanto em rádio que aos poucos fui me desligando dos afazeres anteriores e fui me dedicando somente à rádio. E assim foi que em 1952, eu entrei como locutor. Quando foi instalada, Maringá não tinha energia elétrica. A Copel veio para cá em 1954. Então até 1954, a Rádio Cultura trabalhava com um motor gerador próprio. Tinha um motor gerador no estúdio e um motor gerador lá na torre, então eram dois conjuntos geradores diesel que tocavam a emissora. E assim foi, a Rádio Cultura, com muita dificuldade, sem energia, poucos recursos, porque poucos eram os receptores, mas ela foi vencendo o tempo, chegou a Copel, instalou a energia em 54 e aí melhorou tudo. E com o decorrer do tempo a Rádio Cultura veio crescendo até atingir o ponto em que ela está hoje, uma emissora com 10.000 watts de potência, muito bem instalada, como você pode ver aqui nas instalações, espaços sobrando para todos os lados, com todos 113


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os equipamentos. O que há de moderno, você vai encontrar aqui dentro da Rádio Cultura. Transmissor muito bom, muito bem instalado. Uma emissora que está, vamos dizer, realizada. Ela não está realizada no sentido de que ela atingiu o máximo. Ela está realizada porque atingiu um ponto ideal, considerando uma emissora do interior. PM-E quando o senhor começou trabalhando como locutor, na época quais eram os funcionários que tinham além do senhor, quem que tinha? JD-Era uma rádio muito pequena. O Samuel era o dono, o diretor e tudo, e tinha na emissora também o técnico que montou a emissora em Maringá, era o Francisco Dias Rocamora. E o Rocamora mora até hoje em Maringá. Ele era o técnico da emissora, ele a montou e dava a manutenção, e era também locutor do estúdio e locutor do esporte. Fazia transmissões esportivas com muita dificuldade por causa dos equipamentos da época. Mas ele era tudo. Não é como hoje que uma equipe tem oito, dez elementos. Naquele tempo, nós tinhamos o Rocamora que era a nossa equipe. PM-Eram só o Sr. e o Rocamora? JD-Não, nós tínhamos mais pessoas. No esporte era o Rocamora. Agora, na locução, quando eu entrei, já estava lá o Luiz R. de Barros, conhecido como “Barrinhos”. Hoje ele é proprietário da Maringá FM. Tínhamos o Olindor Camargo que era locutor. Hoje ele está em Camboriú; tinhamos o Dirceu Fernandes de Souza, que era cartorário e locutor. O Tomás Aquino Negreiros era locutor também. Assim de momento, daquele tempo, do iniciozinho, não me lembro. PM-Como que era a programação do Rádio naquela época? JD- Era bem diferente de hoje. Primeiro que os discos eram discos de 78 rotações. Para cada disco tinha que trocar a lâmina picape, que dava muito trabalho para o operador. Hoje uma lâmina dura meses, e ele tem diversas faixas no mesmo LP. Colocando dois LPs na mesa, um em cada toca-disco, ele tem 12 músicas a disposição. Então era difícil, não tinha essa aparelhagem toda que temos hoje. Não existia gravador de fita. O único gravador que existia, que a rádio tinha , era um gravador que gravava em acetato, um disco de alumínio revestido com uma camada de prata de acetato, e tinha uma agulha que cortava o acetato e fazia a gravação. Mas não podia errar, 114


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porque se errasse tinha que jogar o disco fora. Não é como hoje que você grava na fita, apaga e grava de novo. Fazer montagem, naquele tempo não existia nada disso, era gravar direto e não podia errar. As gravações comerciais eram feitas no disco, com muita dificuldade, porque a gente não podia errar. Então a dificuldade era muito grande. Depois apareceu o gravador de fio, fio de arame. A Rádio Cultura tem um até hoje que guarda como lembrança. Mas também foi logo superado quando apareceu o gravador de “Tape”, de fitas. De princípio eram uns gravadores grandes, desajeitados, depois foi indo até chegar nesses gravadores de hoje que são quase uma perfeição, pequeninos, fita cassete. PM-O senhor falou sobre os comerciais. Na época que o senhor começou como locutor devia ser muito difícil. Como que era a participação? JD-Bom, a participação era a seguinte: nós não tínhamos gravações, assim como tem hoje. Hoje nós temos gravador profissional de rádio que se chama cartucho”, aquele que você está vendo ali fora. É como se fosse um cassete, mas ele não tem dois carretéis como o cassete, é um carretel só. Então a fita é sem fim, ela vai desenrolando e enrolando de novo no mesmo carretel. Esse sistema ele tem um sinal eletrônico, que o gravador para sempre no lugar certinho, prá sair de novo. Então é fácil para o operador inserir um cartucho no reprodutor, que está sempre no lugar da propaganda. Então, apertou o botão, sai na hora certinha. Naquele tempo isso não existia. O locutor lia mesmo a publicidade. A propaganda era datilografada em cartelas e o locutor ia lendo aquela propaganda, o dia todo. PM-Além da propaganda, das músicas, o que mais...do que era composta essa programação de rádio? JD-Rádio, aquele tempo, a repercussão da inauguração da Rádio Cultura em Maringá, foi muito grande aquele tempo. Primeiro porque foi um ato muito arrojado do Samuel Silveira. Então foi uma temeridade a rádio em Maringá. Até a chegada da Copel em 54. Foi uma luta, não foi fácil não. Mas com o tempo foi 115


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se vencendo todos os problemas e se chegou ao que está hoje. PM-Voltando a programação, além de música, propaganda, tinha novela... JD-No início, tudo era ao vivo, nada gravado, porque somente havia as músicas gravadas em discos de 78 rotações. Nós tínhamos programa de muita repercussão: eram os programas de violeiros. Então eles vinham à emissora e cantavam ao vivo, na hora, e eles cantavam pelo lado de fora. Quando tinha acordeom, era uma curiosidadade, mas é verdade. Com isso a audiência era quase garantida, porque toda pessoa que vinha cantar, queria que os vizinhos, os parentes vissem. Então o rádio era uma novidade importante. Então o microfone era uma espécie de tabu, você encostava o microfone perto de uma pessoa, era como se encostasse uma metralhadora. As pessoas tinham medo do microfone. Hoje não, hoje qualquer pessoa, perdeu o medo. Você vê entrevistar pela televisão, pelo rádio, qualquer pessoa fala completamente, sem nenhuma inibição, sem nenhuma dificuldade. PM- Então quer dizer que na época era programa ao vivo mesmo. JD-Tínhamos programas cantados ao vivo. Quando inaugurou o auditório aqui, nós tínhamos programa ao vivo, direto, sem nada montado antes. Vinham os artistas e apresentavam peças ligei­ ras,cômicas, dramáticas. Antonio Mário Manicardi, participava muito de programas de auditório; ele recitava muito bem, no estilo sertanejo. Depois a dupla cantava. Era uma beleza, porque era tudo ao vivo. Então tinha um valor muito maior do que tem hoje.Você sentia, as pessoas viviam aqueles momentos e é a diferença de você ver uma coisa toda maquinada, composta, produzida, fabricada, como é hoje em dia. Naquele tempo, não. Era tudo direto, na raça. PM-Quando vocês faziam assim, ao vivo, no auditório, que o povão assistia. Como que era, vocês avisavam antes? JD-Não, os programas de auditório tinham uma periodicidade. Nós tínhamos um programa: “Clube do Caçula”, foi programa que até hoje quando encontro as vezes senhoras que são vovós elas se lembram do “Clube do Caçula” com muita saudade. O “Clube do Caçula” era 116


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um programa para crianças, tipo programa de calouros aos domingos pela manhã. Era das 10 às 11 horas. O auditório era pequeno para conter todo o povo que vinha assistir. A criançada cantava, declamava, enfim era uma forma de despertar na criança os pendores artísticos e também provocava uma desinibição nas crianças. Ficavam mais desenvolvidas freqüentando o programa de auditório, e esses programas eram animados pela tia Luci, depois pelo Moacir Saveli e foi algum tempo pelo Ivens Lagoano Pacheco seu criador. E o “Clube do Caçula” foi um programa que ainda está inesquecível nas mentes das pessoas daquela época, porque realmente era um programa que despertava nas crianças, seus valores artísticos. A criança de hoje é desinibida, chegando a ser até atrevida, porque a televisão é uma escola fenomenal dentro de casa. Mas naquele tempo que não existia a televisão, as crianças eram muito acanhadas, eram muito presas, muito cerceadas pelos seus atos, até os pensamentos mesmos. Então o rádio era uma meneira dessas crianças extroverterem-se, se desenvolverem. Depois nós tínhamos um programa a tarde, que era sertanejo; eram os tocadores de viola, cantavam músicas sertanejas. Então esse programa também teve uma durabilidade muito grande. Foi um programa de muito sucesso na ocasião. E tínhamos outro programa aos sábados a noite. Era “Rítimo, Romance e Riso”. Um programa de cantores, de comédia, enfim, um programa de auditório onde o povo participava, porque não tinha televisão, nào tinham um divertimento mais fácil. E o divertimento mais fácil que tinha era vir no auditório da rádio. E esses programas de auditório tinham um valor muito grande, porque provocava um comportamento social muito mais adequado, do que provoca hoje, por exemplo, a televisão. A televisão provoca o isolamento das pessoas e o programa de auditório não. Era uma reunião social, as pessoas vinham, se encontravam, conversavam, tinham um relacionamento social que está desaparecendo. Então os programas de auditório tinham realmente essas finalidades. Tinham esse valor . Hoje quem está dirigindo é o Reginaldo Nunes Ferreira e o Carlos Piovesan. Eu continuo sócio, como o Samuel também, participando das decisões da diretoria, das decisões da rádio e vira-e-mexe, numa reunião a gente lembra desse tempo e alguma coisa assim nos empurra. Como se estivesse nos empurrando para voltar com esses programas que 117


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eram deliciosos mesmo. Eles tinham um calor muito grande, levavam as pessoas a praticar assim os pendores artísticos e uma vida social bem mais agradável do que hoje. Você via as pessoas, convivia com os outros. As pessoas não ficavam tão isoladas; gostavam de se ver, de se cumprimentar, de conversar, de participar junto de um grande programa, de viver junto, de viver em sociedade, e isso desapareceu, infelizmente. PM-E esse pessoal que participava do auditório, como o senhor falou, dentre esse pessoal, surgiram assim, duplas, locutores? JD-Ah!, surgiram sim. Eu não sei dizer assim bem certo para você, porque não posso me gabar muito da minha memória (risos). Minha memória é um pouco fraca, mas nós temos até hoje aqui dentro da emissora, um elemento desse tempo. É o João Pereira. O João Pereira participou de tudo isso que eu estou dizendo, programa de auditório e tudo. Programas de duplas que se desenvolveram e que cresceram e evoluiram. Eu não sei dizer agora para você nomes e precisar datas. Você poderia conseguir isso em uma conversa com o João Pereira. PM-Ele foi um dos... JD-Ele participou muito daquele tempo como também o Antonio Mário Manicardi, o Nhô Juca. Então, são pessoas daquele tempo que poderão às vezes recordar melhor, porque a minha participação na Rádio Cultura, foi muito mais na parte administrativa, como contabilidade, escrituração, controle, direção e na parte artística eu participei um pouco, quer dizer, participei como diretor da rádio, não como artista propriamente dito. PM- Como locutor... JD-Como locutor, um período, depois nem mais como locutor, porque daí as atividades já não permitiam mais, não sobrava tempo. Então essa parte artística, quem tem uma memória boa, e poderá dizer muita coisa é o Antonio Mário Manicardi, João Pereira e o Rocamora, que são daquele tempo. PM-E assim na parte administrativa, que o senhor mais trabalhou. Como que era assim os sócios, que tem desde o início? 118


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JD-Eu acho que a Rádio Cultura é uma raridade, porque até outro dia, o contador conversando conosco fez uma observação curiosa. Ele dizia: nunca vi uma firma com sócios mais de 25 anos sem alteração contratual de cotas. As alterações foram mais de mudança de endereço, crescimento de capital, isso sim, mas de mudança de dono e das cotas não houve. Então a Rádio Cultura é uma emissora que nasceu com esses sócios proprietários e acho que vai morrer com eles (risos). Ela não, os sócios vão morrer, mas ela continuará a mesma. Nuca houve transferência de cota, do capital da Rádio Cultura para uma pessoa de fora. Foi o Samuel, depois entrei eu, depois entrou o Carlos Piovesan e por último o Reginaldo. Mas são pessoas que trabalham aqui, cujas cotas foram vendidas como uma espécie de premiação pelo serviço, pela capacidade de trabalho. Não foi nem praticamente vendido, foi uma coisa vendida para pagar o capital de trabalho. Não houve entrada de dinheiro meu, do Carlos ou do Reginaldo para venda de cotas. Houve uma premiação pelo trabalho, pela dedicação, pelo amor que nós sempre dedicamos pela Rádio Cultura, e nunca ninguém vendeu cotas a terceiro. Então é uma emissora que, desde a origem continua com o mesmo quadro social. PM-E assim havia uma participação na época, o pessoal chegava na rádio prá pedir, ah!, passa tal programa. JD-Ah! Demais da conta. Naquele tempo era muito comum. Um das fontes da emissora era a oferta de música. Não tinha telefone em Maringá, não tinha estrada, não tinha coisa nenhuma e as pessoas então vinham na emissora, pagavam uns duzentos réis para dedicar uma música. Então a Rádio Cultura era o cupido também da ocasião, porque ela fazia também o papel de cupido. “João oferece pra Maria de tal esta música com muita simpatia”, e isso era comum na emissora. Uma das fontes de renda era essa oferta musical. Hoje desapareceu. Depois com a vinda do telefone começou a atender pedidos pelo telefone, e isso hoje tem essa brincadeira com o ouvinte pelo telefone. Mas naquele tempo era pago PM-Era pago? JD-Era pago. Oferecia música, era paga, dava-se uma notinha para a pessoa (risos). PM-Interessante. 119


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JD-E tinha até uma sucursal em Marialva, para atender pedidos musicais. Era fato curioso. PM-E era programa específico ou era durante a programação? JD-Não, durante a programação normal mesmo. Na hora de tocar música sempre tinha um que oferecia para alguém. PM-E quais os músicos assim de mais sucesso da época? JD-Naquele tempo não tinha essas novidades de hoje, músicas assim aceleradas, barulhentas, eram mais músicas românticas (Francisco Alves, Ângela Maria), enfim, músicas sentimentais, músicas que tinham poesia, músicas que realmente diziam alguma coisa que a pessoa pretendia dizer e não sabia, porque o poeta tem um modo diferente de dizer, não é? Então o sujeito achava uma música bonita e oferecia para uma determinada moça, porque a letra da música ia dizer alguma coisa que ele queria dizer. E as músicas de hoje não dizem nada. Porque além de ser um barulho danado, uma loucura, canta em inglês as pessoas querem se oferecer música, não sei por que. Porque se você perguntar o que diz a música, acho que de mil se tiver dez que responde é muito. PM-Quais as maiores dificuldades que o senhor acha que vocês passaram no início aqui. JD-Bom, a dificuldade da rádio era a energia elétrica, um problema muito sério. Motor gerador para trabalhar uma, duas horas por dia, tudo bem, mas a rádio trabalhava muitas horas seguidas. Então não havia motor que aguentasse. Quebrava, enguiçava muito. E o gerador não era como o de hoje, tudo automático. Naquele tempo era gerador com reostato. Tinha que se regular. Queimavam os equipamentos, era um problema muito sério. Quando chegou a Copel em 54, a Rádio Cultura, foi como se uma pessoa que ganha salário mínimo, ganhasse na loteria esportiva, porque para a rádio foi uma maravilha. Ter uma energia boa, constante como é da Copel e sem motor fazendo barulho perto da gente e quebrando constantemente. Receber energia como está hoje, só dá valor quem viveu naquele tempo, senão não dá valor não. PM-E vocês faziam assim alguma espécie de concurso, promoção 120


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de duplas ou de alguma coisa? JD-Ah! tinha sim. Tinha programas de calouros, depois as eliminatórias, depois os finalistas. PM-E onde que eram feitas? JD-No auditório da Rádio Cultura, que era nesse mesmo lugar que hoje está erguido este prédio. Foi demolido em 75 para construir esse prédio. PM-E o pessoal da região participava? JD-Ah! participava. De toda a região vinha gente participar dos programas. A Rádio Cultura hoje, é ouvida muito longe. Ela tem 10.000 watts de potência de saída de antena e isso dá um alcance muito grande. Para você ter uma idéia, nos recebemos cartas de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso do Norte, Goiás, Minas, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. Então, quando uma emissora recebe cartas de ouvintes, é sinal que ela está chegando lá. Então, no início da emissora que começou com 100 watts de potência, muito fraquinha, hoje ela é 100 vezes mais forte. Ela é dez mil a mais. Então começou com 110 watts, com muita dificuldade, engatinhando. Hoje é uma emissora sólida, bem instalada, bem construída, com todos os equipamentos que uma emissora pode necessitar e, modéstia a parte, posso dizer a você, que é bem administrada, porque a Rádio Cultura sempre se orgulhou de ter um comportamento ético muito elevado, embora as vezes não seja bem compreendida. Mas ela sempre teve seus microfones abertos para as mais diferente correntes políticas, religiosas e não temos proteção e nem perseguiçào pra nenhum tipo de sectarismo. É uma emissora que cumpre a sua finalidade de veículo de comunicação social. Nós procuramos cumprir essa finalidade e com respeito à todos os lados e sempre atentos, naturalmente, aos interesses maiores da população, e que o microfone é a espada do povo né.? Por isso que nós damos essa liberdade. Você pode ver que a Rádio Cultura pode ser contestada em muita coisa, mas que fala PTB, PMDB, tudo que é PP, que existia muito. Então nenhuma limitação, não existe corte, não existe nada. É claro! desde que não fira os bons costumes, então em questão de opinião, nós não procuramos formar opinião, nós procuramos informar. A opinião forma cada um de acordo 121


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com aquilo que ouviu e aquilo que entendeu. PM-E na época, também havia a parte política? Como que era? JD-Havia política e era muito quente, era braba. Política era coisa séria em Maringá. Naquele tempo podia fazer propaganda em rádio, hoje não pode mais. Naquele tempo era livre, então era um candidato xingar o outro, o outro xingar o outro e aquele disque disque danado, de um em cima do outro. Um xingava a emissora porque deixou o outro falar tal coisa, mas ele mesmo tava xingando o outro ao mesmo tempo. Quer dizer, a própria opinião pública se formava clara, porque a rádio nunca tomou um partido, um partido drasticamente em prejuízo da opinião de outro. PM-Eram todos os candidatos que falavam? JD- Ah! eles mesmos que falavam. E nós dávamos a liberdade deles emitirem a opinião que queriam. As vezes sobrava alguma saraivada para nós, mas nós sempre de cabeça erguida porque a pessoa falava mal de nós pelo nosso próprio microfone, e isso era a maior prova de que estávamos sendo democratas. PM-E na época, era muito utilizada a rádio para propaganda política? JD-Era muito utilizada. Hoje não é mais, é proibido por lei. Mas antigamente a rádio era o maior instrumento dos políticos. Não tinha a televisão, o modo de se comunicar com a massa era o rádio. PM-No começo ficava longe, as vezes no sítio, era mais difícil? JD-É. O rádio tem a vantagem sobre os outros veículos. O rádio hoje com transistor, a pessoa pode morar onde quiser, sem luz, sem coisa nenhuma, sem estrada, sem nada e ele ouve a rádio com a maior facilidade. Outros veículos já não. A televisão exige energia, o jornal exige estrada prá chagar até lá. Rádio não, rádio chega instantaneamente a qualquer ponto. Por isso ele é um veículo de penetração de massa mesmo.

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Francisco Rocamora Em 1950, quan­­do Francisco Rocamo­ra chegou em Maringá, a cidade ainda não tinha energia elétrica nem qualquer recurso de comunicação tele­gráfica ou telefônica. O único meio de os ma­ rin­gaenses envia­rem ou receberem mensa­gens urgentes era o equipamento de rádio-amador do Rocamora, o primeiro da cidade. Com isso, ele já chegou aqui sendo útil. Paulista de Mococa, nasceu em 22 de março de 1925, filho de Francisco Dias e Izabel Rocamora, tem quatro filhos: Dayse, Francisco Júnior (formado em Engenharia Eletrônica), Denise e Élcio Luiz. Diretor-proprietário de “A Eletrônica Paraná Ltda.” e técnico de manutenção da Rádio Atalaia de Maringá e da Rádio de Paranavaí. Tem os seguintes cursos de especialização: Técnico em aperfeiçoamento em Televisão a Cores, reparação e recepção - pela S/A Philips do Brasil, AEG - Telefunken do Brasil S/A, Colorado Rádio e Televisão S/A, Philco Rádio e Televisão S/A e General Eletric do Brasil S/A. Faz parte do LABRE (Liga de Amadores Brasileiros de Rádio Emissão) do qual é sub-diretor em Maringá; é membro também da Rede Brasileira de Radioamadores - RBR, com prefixo PYS-FW; e é integrante da faixa de rádio “cidadão”. Foi Francisco Rocamora quem trouxe para Maringá os primeiros sinais de televisão, com a re­petidora da TV Coroados, canal 3 de Londrina. Durante algum tempo, colocou também em Maringá os 123


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sinais da Televisão Excelsior de São Paulo, antigo canal 9. Foi ele o primeiro radialista da cidade, com a instalação da Rádio Cultura de Maringá, e mais tarde a instalação da Rádio Jornal, tendo sido sócio de ambas as emissoras durante vários anos. Mas existe ainda um outro campo em que Francisco Rocamora deixou a marca de seu pioneirismo: ele foi o primeiro locutor esportivo da cidade, registrando os românticos e memoráveis jogos de futebol que animavam os domingos de nossa geração colonizadora. A comunidade, reconhecendo os méritos de Francisco Rocamora, e em sinal de agradecimento por tudo o que tem feito por Maringá, de toda a comunidade. E terá eternamente seu nome lembrado como alguém que sabe ser gente, muito gente mesmo!. Chico nasceu em Mococa, no Estado de São Paulo, indo crescer em São José do Rio Pardo. Tinha, já, seus doze anos de idade, cursava o ginásio e passava sempre diante de uma oficina de rádio. Achava aquilo bonito, curioso fascinante. Num dia, tomou coragem, entrou, dirigiu-se ao técnico: -O senhor me deixa trabalhar aqui como aprendiz? E o homem respondeu seco: -Impossível. Esta profissão é muito rendosa e só a ensino aos parentes. Chico Rocamora chorou. Mas a vocação não morreu. CURSO POR CORRESPONDÊNCIA Aquele era o ano de 1937. O menino de Mococa descobriu numa revista o anúncio de determinado curso de eletrônica por correspondência. Escreveu, recebeu folhetos, matriculou-se, fez os estudos e quase ia levando bomba no ginásio porque se preocupava muito mais com os esquemas de rádio do que com as lições de história, geografia e gramática. Mas recebeu um diploma de ginásio e o diploma de rádiotécnico. Sentiu-se preparado para a vida e deu no pé para a capital. EM TEMPO DE GUERRA 124


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Ano de 1941. Chico, posudo, no entusiasmo de seus 16 anos, bateu às portas de uma grande firma em São Paulo, especializada em eletrônica. Pediu emprego. Fez o teste. Recebeu parabéns e uma chance para desenvolver-se. Em 1943, aquela firma passou a funcionar a serviço das Forças Armadas, porque o Brasil havia entrado na guerra. E Chico foi trabalhar na fabricação de transmissores, equipamentos, etc., encomendados pelo exército. Anonimamente, foi um herói de guerra. EM TEMPO DE PAZ Declarada a paz no mundo, Francisco Rocamora voltou a São José do Rio Pardo, montou oficina, trabalhou em transmissão, fêz-se rádio-amador PY2-AEV. Mas, enquanto esteve a serviço do Exército, conheceu muitos pracinhas e estes, que, após guerra, vieram tentar vida nova no norte do Paraná, mandaram dizer a Chico que isto aqui era uma terra fabulosa, sem infinitos, ampla de oportunidades para os profissionais de qualquer profissão, principalmente para aqueles que tivessem capacidade técnica. E o jovem Rocamora decidiu-se: -Vou montar uma estação de rádio nessa tal de Maringá. E VEIO EM 1950 Maringá estava começando. Não era mais do que uma pequena vila crescendo no meio de palmitos e perobeiras, mas desenhando nos olhos de quem aqui chegasse a silhueta de um empolgante futuro. O môço achou que seria maravilhosa aquela aventura. Trouxe ferramentas e aparelhos e sobretudo trouxe os seus sonhos. Chegaram a perguntar se ele queria montar uma emissora para irradiar miados de onças. E o rapaz, apenas sorriu, porque adivinhava que dentro de pouquinhos anos os seus microfones estariam sentindo as vibrações das mais famosas vozes nacionais e internacionais. Por isso, requereu logo a licença para montar a rádio. MAS HAVIA SAMUEL 125


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Acontece que já havia sido liberada a concessão a Samuel Silveira, que apareceu em Maringá no ano de 1951. Conheceu Chico, ficaram amigos e enfrentaram juntos a parada pioneira. E no mês de julho daquele mesmo ano, um locutor anunciava: -Esta é a ZYS-23, Rádio Cultura de Maringá. Rocamora era o diretor-técnico, locutor comercial, locutor esportivo e tudo o mais que fosse necessário. RÁDIO AMADOR Nesse tempo, ainda não havia correio em Maringá. As cartas vinham de ônibus e demoravam muito. Não havia telégrafo. Nem estrada de ferro. Só o rádio amador de Chico - PY5-FW, porta-voz de todas as mensagens daquela gente que construía a nova cidade. E ele falava para o mundo inteiro, em português, em castelhano, em código morse, dizendo à Europa, à África a todas as Américas, ao Brasil inteiro, notícias da descoberta de um novo Brasil cheio de vida e de esperanças. E os seus colegas repetiam a informação para outros colegas. E Chico ficou sendo, sem intenção publicitária, mas pela espontaneidade de seu entusiasmo, o maior propagandista do norte do Paraná. O rádio-amador tem muitos amigos, que às vezes conhece apenas pela voz ou pelo prefixo. Chico tem milhares deles, em toda parte, e a todos está sempre dizendo maravilhas de Maringá. E, se vocês não sabiam, fiquem sabendo agora: muita gente, muita gente mesmo, veio para o norte do Paraná atraída pelas mensagens do PY5-FW. A REDE CRESCEU Samuel Silveira, que começou com Francisco Rocamora e Ivens Lagoano Pacheco, multiplicou sua Rádio Cultura por muitas outras e tem hoje a Rede Paranaense de Rádio, que é uma das mais poderosas do País. Joaquim Dutra é o superintendente. Chico é o diretor-técnico. E a rede, toda ela montada pelo nosso Rocamora, tem a Cultura e Jornal de Maringá, Cultura de Arapongas, Cultura de Apucarana, Cruzeiro do Sul de Curitiba, Cruzeiro do Sul de Cornélio Procópio, Cultura de Umuarama, Emissora de Paranavaí, Sociedade de Nova 126


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Esperança, Difusora de Cruzeiro do Oeste e Paiquerê de Londrina. PIONEIRO EM FREQUÊNCIA MODULADA Chico é um idealista e um sonhador. Por isso, não dá importância a dinheiro, mas conta, com um sorriso de felicidade, coisas como esta: -A Rádio Cruzeiro do Sul de Curitiba, na ocasião em que eu a instalei, era a única em todo o Paraná, que transmitia com total eficiência em frequência modulada, isto é: alta fidelidade. ESTÚDIO DE GRAVAÇÃO O relógio de Francisco Rocamora deve ser diferente dos outros, porque faz o milagre de dar tempo a ele para mil e uma atividades. Inclusive manter um estúdio profissional de gravações em disco e fitas magnéticas. Sua casa, na rua Padre Marcelino, vive cheia de cantores, locutores, técnicos de publicidade, gravando jingles. É o único gravador profissional de todo o norte novíssimo. CAÇANDO SINAIS DE TELEVISÃO Há cerca de dois anos esse homem começou a andar por aí caçando sinais de televisão. Fez um curso de eletrônica por correspondência, recebendo aulas dos Estados Unidos. Virou doutor no assunto. E, assim como o cientista que se esquece de dormir para procurar uma fórmula, assim também Rocamora, numa dessas horas de vigília, teve seu Eureka ao captar, em Maringá, sons e imagens do Canal 2 da Televisão Pernambucana. Isso aconteceu no dia 30 de setembro de 1962 e a gravação do som está arquivada, como documento pioneiro da história da TV naquela cidade, que tinha, então, apenas 15 anos. TV COROADOS Os Diários Associados iniciaram a montagem da primeira estação de televisão no norte do Paraná, o Canal 3 - Coroados - Londrina, afirmando que seus sinais seriam recebidos, captados em toda a região. Chico não acreditou e deu entrevista à imprensa, dizendo 127


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que esses sinais só chegariam a Maringá se fôsse instalado um posto retransmissor em Marialva. Dito e feito. O Canal 3 começou a funcionar e as palavras de Rocamora foram confirmadas. Ele próprio, então, começou a fazer pesquisas terrestres e aéreas, localiou o ponto ideal na parte alta de Marialva, comprou o terreno, os equipamentos, a torre, tudo por sua conta. Gastou mais de dez milhões de cruzeiros. Não teve ajuda comercial nem das firmas interessadas em vender aparelhos nem da população. Fez tudo no peito e na raça, empregando dinheiro que tinha e dinheiro emprestado de bancos e de amigos como Samuel Silveira, Francisco Gonçalves e Benedito Raveduti. Hoje, Maringá e mais uma porção de municípios estão dotados do conforto da televisão, graças ao idealismo desse homem extraordinário, que, com seus 29 watts de sua retransmissora, espalha sons e imagens perfeitos através das ondas eletro-magnéticas de todo o norte novíssimo. COMO SE MANTÉM O POSTO Os 10 milhões de Chico Rocamora estão empatados no posto de Marialva, sem render um 128


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tostão de juro. Capital morto, para dar alegria a muita gente. Depois de longa discussão, boa-vontade de uns, má-vontade de outros, conseguiu-se um sistema de composição de recursos financeiros para manutenção e funcionamento do posto. Esse esquema de contribuições é formado pelas firmas revendedoras de aparelhos. AS DUAS DO NÃO Está ocorrendo, entretanto, um fato bastante esquisito e inexplicável: duas das maiores firmas que operam em Maringá no comércio de televisores, negaram-se a colaborar para a manutenção da estação retransmissora: HERMES MACEDO S.A. e PLENOLAR FUGANTI. Sirva esta citação nominal como um voto de reprovação a essa atitude daquelas conhecidas organizações comerciais. Principalmente porque, por causa delas, as outras firmas estão querendo cessar também a colaboração, pondo Maringá e outras tantas cidades sob o risco de ficar sem televisão. CANAL 3 PREJUDICANDO Outro fato bastante estranhável, foi a decisão da TV - Coroados, Canal 3 de Londrina, que negou a autorização para funcionamento da retransmissora de Marialva. Em Jacarezinho, funciona um posto idêntico, devidamente autorizado. Que é que há com o Canal 3? Não gosta do Norte Novo? Ou sente prazer em bancar o “amigo da onça”? PROPOSTA DE CHICO Diante de tal situação, Francisco Rocamora propõe à população maringaense a criação de um Clube de TV, que seria registrado nos órgãos competentes e teria a finalidade de explorar e pesquisar sinais de televisão. Com o capital levantado pelo Clube, poder-se-á adquirir equipamentos profissionais de retransmissão, terreno apropriado, instalação de rede de energia de alta-tensão e montar postos que, legalmente 129


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autorizados, poderão repetir sinais de vários outros canais. RECORD EM ESTÚDIO Estão sendo feitas atualmente, por Francisco Rocamora, experiências para a captação do Canal 7 de São Paulo (TV-Record), como também do Canal 9 (TV-Excelsior). Essas pesquisas, entretanto, são dispendiosas e necessitam do apoio da população e dos poderes públicos. JOÃO PAULINO ENTUSIASMADO Diga-se, por justiça, que o prefeito João Paulino, de Maringá, vem dando um grande estímulo às pesquisas de sinais de São Paulo, tendo, inclusive, conseguido unir o Clube de TV de Apucarana aos idealistas e Maringá, para que, juntos, se consiga retransmitir sinais do Canal 7 para as duas cidades e para outras que serão, consequentemente, beneficiadas. CANAL PRÓPRIO Mas o grande sonho do maravilhoso Rocamora é ver Maringá dotada de um canal próprio de televisão. Acontece que, pelo Plano Federal de Telecomunicações, Maringá não poderá ter seu canal de TV. Não conformado com isso, Chico pediu a Samuel Silveira e Renato Celidônio que se movimentassem para “quebrar o galho”. Renato e Samuel foram a Brasília e conseguiram liberar o Canal 8, que já se encontra em concorrência, para ser explorado por firma que tenha capacidade para tal. Gostaríamos de adiantar que Samuel Silveira é o mais forte candidato a instalar a TV maringaense. Foi pioneiro em rádio e deverá sê-lo agora em televisão. O GÊNIO DAS ONDAS Chico ia passando de jipe, brecou, abriu a porta, mandou-me entrar: 130


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-Vamos até Marialva. Não perguntei para que. Fui. Chegamos à tôrre da estação retransmissora: -Sobe? -Não até lá no alto, porque sofro de acrofobia. -Então espalhe a vista e veja que maravilha. Este planalto não tem infinito. Às vezes fico horas aqui em cima, orgulhoso de viver numa terra assim. Olhe: só isso compensa tudo. É um idealista. Um sonhador incorrigível. Um gênio sempre às voltas com ondas magnéticas. Um homem de mais de sete instrumentos que tem na eletrônica uma espécie de religião e na pesquisa um inesgotável entretenimento. Se lhe darão, no futuro, o prêmio que merece, ninguém pode advinhar, porque os homens nem sempre sabem ser agradecidos nem costumam reconhecer o mérito dos gênios. Mas uma coisa é certa: na história do rádio e da televisão do novíssimo norte, Francisco Rocamora é o capítulo primeiro, baseado no qual se desenvolverá tudo o mais. E esse homem é um simples, que vive modestamente numa casa da rua Padre Marcelino, na Zona 2 de Maringá, ao lado de sua esposa D. Maria dos Anjos e entre a alegre algazarra de quatro filhotes de gênio: Daise, Élcio, Francisco e Denise. O GÊNIO DAS ONDAS N.P - Ano VI nº 6/11 - ago-set/64 - pag.14 A.A de Assis escreve sobre Francisco Rocamora

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Carlos Piovezan Filho “Primeiramente acho que estava a mim destinado o caminho profissional da radio­fonia, pois quando garo­to ainda, em Birigui, Estado de São Paulo, ajudava meu mano a PEGAR DEDICA­TÓ­ RIAS DE MÚSICAS PARA A RÁDIO CUL­TURA DE ARAÇA­TUBA. Em 1947 fui estudar em São Paulo, com os Padres Paulinos, na Vila Mariana, em que os mesmos se dedicavam, como até hoje, à IMPRENSA< CINEMA E RÁDIO> Em 1951, quando então vim para o Paraná, na cidade de Marialva, onde se encontrava a minha família, meu mano também trabalhando para a Rádio Cultura com pedidos de músicas, continuei a ajudá-lo. Só então, em 1957, já morando em Maringá e trabalhando no Mundo das Máquinas de propriedade de Francisco Gonçalves que tinha juntamente com meu mano mais velho, o SERVIÇO DE ALTOFALANTES GUARANI, que percorria toda a região, fazendo FESTAS DE IGREJAS, COMO QUERMESSES, BAILES EM SÍTIOS, TANTO PARA CASAMENTOS COMO PARA SIMPLES DIVERSÕES, fui convidado por SAMUEL SILVEIRA para ingressar na Rádio Cultura de Maringá. Isto ocorreu no mês de março do mesmo ano, inicialmente contratado para serviços de escritório e tendo, posteriormente passado a ajudar a parte comercial, na distribuição de publicidades para os locutores lerem no ar.

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Após este período, com ensino e ajuda de Joaquim Dutra e já com um pouco de prática de contabilidade, fui para o setor contábil e de faturamento da Emissora. Neste serviço continuei já que então tinha sido montada a Rádio Jornal de Maringá além da compra da Rádio Emissora Norte Paranaense de Paranavaí, a Rádio Sociedade de Nova Esperança da cidade de Nova Esperança e montadas as Rádios Cultura de Arapongas e Rádio Cultura de Apucarana. Em 1960, quando então o Sr. Samuel Silveira já montara, em Curitiba, a Rádio Cruzeiro do Sul, bem como a Rádio Cruzeiro do Sul de Cornélio Procópio, convidou-me e me transferi para a capital, onde foi instalado o Escritório Central da REDE PARANAENSE DE RÁDIO, já com o total de 8 emissoras além de mais o arrendamento da Rádio Difusora de Cruzeiro D’Oeste, com o que tivemos a necessidade de desdobrar os serviços ficando o faturamento para outra pessoa e continuando comigo o Departamento de Pessoal e Contabilidade de todas as Emissoras. Durante este período foi também aberto o Escritório de Representação no Rio de Janeiro e São Paulo além das Rádios Cruzeiro do Sul de Loanda e a Rádio Cultura de Umuarama que também passaram a fazer parte da Rede Paranaense de Rádio. Isto até o ano de 1964. A partir de então, com a saída de José Dutra da parte de fiscalização das Emissoras, deixei a Contabilidade e o Departamento de Pessoal e passei a viajar pelo Norte Paranaense, fiscalizando nossas emissoras, permanecendo de 20 a 25 dias viajando, sem comunicação alguma, pois não havia telefone sempre à disposição. Descendo de avião, em Londrina, fazia todo o trajeto de Cornélio e Paranavaí e chegando até Umuarama, sempre de ônibus em estradas de chão, até voltar à Maringá para embarcar no avião e retornar a Curitiba. Como ficava muito tempo longe da família, em 1964 retornei para Maringá o que veio facilitar mais os serviços. Ficando fora de casa somente durante a semana e podendo ficar com a família, nos finais de semana. Mas assim mesmo tinha que preparar os relatórios para serem enviados a Curitiba.” 133


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Reginaldo Nunes Ferreira Brasileiro, casado, radiodifusor, nascido em Sal­to Grande - Estado de São Paulo - no dia 9 de julho de 1943. Filho de Benedi­to Nunes Ferreira e Guio­ mar Miranda Fer­reira. Casado com Ma­ria da Conceição Belini Ferreira tem 3 filhas, Juliana, Tatiana e Luciana. Mudei de Salto Grande para São Paulo em 1960 onde comecei a trabalhar em venda de livros (de casa em casa). Durante este trabalho conheci um Diretor da RCA Victor Discos que me convidou para trabalhar na RCA como Office Boy. Após dois meses fui promovido para Chefe de Divulgação de discos para Emissoras de Rádios do interior. Foi quando comecei a me interessar pelo Rádio, e também conheci a Rede Paranaense de Rádio que tinha um escritório em São Paulo para atender as Agências de Publicidade e fazer compra de discos, equipamentos, etc. Fiquei muito amigo do Sr. João Luiz Meme, que era Diretor do escritório da Rede em São Paulo e um dia me convidou para ir para a Rede Paranaense de Rádio trabalhar com ele. Pedi um tempo para pensar e depois topei a parada e parti para vendas de publicidade (contato). Depois disso, conheci os Srs. Samuel Silveira, Joaquim Dutra, Carlos Piovezam Filho e José Sanches Filho me tornando amigo deles também. Permaneci em São Paulo até 1973 e depois mudei para 134


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Maringá e comecei a atender os clientes junto com o Sanches, que na época era o Diretor Comercial das Radios Cultura, Jornal e demais emissoras da região. Cada dia que passava, mais eu ficava gostando do meu trabalho e assim me dedicando inteiramente à Rádio Cultura. Mesmo trabalhando na Rádio Cultura de Maringá, fui sócio proprietário da Rádio Cultura de Iporã junto com o Sanches, Osvaldo Mesquita e Orlando Sanches. Depois o Sanches vendeu para o Sr. Ascânio Baptista de Carvalho e Ricarte de Freitas e eu continuei na sociedade. Em 1978 o Sr. Samuel Silveira, Joaquim e Carlos transferiram uma parte da sociedade da Rádio Cultura AM, Cultura FM e ServiSom Cultura me tornando sócio proprietário. Então como pode se ver, estou trabalhando na organização desde 1963. Gosto muito do que faço e vivo intensamente a Rádio dia e noite.

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Documentos Históricos Os Pioneiros do Rádio e Imprensa

Folha do Norte do Paraná, ano V, nº 1284, 10/5/67, (p.3) SAMUEL SILVEIRA Chegou a Maringá em 1950, com o prefixo da ZYS23. Maringá contava com apenas 3 anos de idade. Recursos quase nulos. A cidade se desenvolvia mais na parte chamada Maringá Velho. Mas o espírito de pioneiro com o qual o seu sangue de bandeirante estava dotado, deu-lhe coragem para montar uma estação de rádio, onde diziam que seria uma grande cidade. E Maringá foi, talvez, a única cidade no mundo que com apenas 3 anos após a sua fundação, contava com uma estação de rádio na faixa broadcasting. Não havia energia elétrica; instalou-se motor e gerador próprio. Não havia prédio adequado. Construiu-se um pequeno e provisório. E em 15 de junho de 1951 a RÁDIO CULTURA DE MARINGÁ emitia o seu primeiro sinal no ar, já divulgando o nome de nossa cidade em milhares de receptores. JOAQUIM DUTRA Chegou a Maringá em 1950. Iniciou como locutor e subiu na escala hierárquica. FRANCISCO ROCAMORA Técnico em eletrônica de capacidade comprovada. Montou a Rádio Cultura de Maringá.Cuida até hoje de seus equipamentos. IVENS LAGOANO PACHECO Uniu-se à equipe da Rádio Cultura, em 1953. Com seu espírito de jornalista, incentivou na Rádio Cultura o rádio-jornalismo. 136


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RÁDIO CULTURA “Em 10 de maio de 1954, inaugurava-se seu novo edifício próprio que até hoje serve a emissora convenientemente. Possui auditório com 300 poltronas, enorme discoteca e todos os seus departamentos estão modernamente equipados. Dentro em breve, terá sua potência elevada para 5 WK.”

Rede Paranaense de Rádio Em Dia Com o Progresso da Cidade Sempre foi pensamento da Rede Paranaense de Rádio valorizar as coisas de Maringá. E dentre desse espírito, construiu prédio próprio para a Rádio Jornal de Maringá, ZYS-56, dando melhores condições de funcionamento à emissora musical da cidade. Quando Hélio Moreira lançou o primeiro arranha-céu, a rede Paranaense de Rádio estava presente, prestigiando o investimento: Comprou 5 conjuntos, onde funcionam hoje os escritórios de administração. No terreno da técnica também está atualizada: A equipe de reportagens e equipe esportiva da “Pioneira” contam com equipamento moderníssimos como: hand-talk, (microfones volantes), maletas transistorizadas, uma kombi equipada com VHF e uma boa oficína de manutenção

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Cultura: 14 nos no ar A RÁDIO CULTURA DE MARINGÁ, pioneira das estações de rádio em nossa cidade, completa no próximo dia 15, quatorze anos de existência. A líder das emissôras da Rêde Paranaense de Rádio, foi fundada e transmitiu pela primeira vez no dia 15 de junho de 1.951. Diversas solenidades estão sendo preparadas e terão seu início hoje, indo até o dia 17. HOJE: CLUBE DO CAÇULA O Clube do Caçula, programa infantil tradicional da emissôra de maior audiência foi criado pelo dêcano dos jornalistas de Maringá, Ivens Lagoano Pacheco, há 12 anos atrás, exatamente no segundo domingo do mês de junho daquele ano. Portanto, junto com o aniversário da emissôra, comemora-se hoje, o 12º aniversário do Clube do Caçula.­ O jornalista Ivens Lagoano Pacheco, seu criador, estará hoje, apresentando o programa, com os artistas daquela época, hoje, senhoritas e senhoras de nossa sociedade. É a primeira das solenidades de comemoração do aniversário da Rádio Cultura. DEMAIS SOLENIDADES As demais solenidades serão cumpridas nos dias 15, 16 e 17. No dia 15 teremos: às 8 horas: missa em ação de graça na Catedral de N. S. da Glória, celebrada pelo Cônego Benedito Vieira Telles, componente da famosa equipe de ouro da Cultura; às 9 horas: Reunião dos gerentes das 16 emissoras integrantes da Rêde Paranaense de Rádio; às 12 horas: almôço de confraternização com os funcionários e direção; às 16 horas: Solenidades de posse da nova diretoria do Rêde Clube, entidade que congrega os funcionários da RPR e que tem como presidente eleito o jornalista A. A. de Assis; às 20 horas: Show no auditório da Cultura. Dia 16 - às 12 horas: Ivens Lagoano Pacheco, conta a História da Rádio Cultura; às 16 horas: Jôgo de futebol entre a Cultura e o Jornal, no estádio municipal. Jogadores do Grêmio estarão transmitindo a partida pelo microfone de ouro da Cultura. Às 20 horas: show no auditório da Cultura. Dia 17, às 9 horas: IV Prova Ciclística Rádio Cultura, tradicional corrida ciclística onde o vencedor, receberá uma bicicleta Caloi, oferta de Hermes Macedo S/A. Às 20 horas: show no auditório da Cultura. FOLHA DO NORTE DO PARANÁ Maringá, domingo, 13 de junho de 1969 - nº 744, ano III 140


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O GRANDE PIONEIRO DO RÁDIO No dia 15 de junho de 1951, era inaugurada a Rádio Cultura de Maringá, por iniciativa do Sr. Samuel Silveira, pioneiro da radiofonia nesta região. De lá até hoje, a emissora pioneira progrediu no mesmo rítmo da cidade e passou a ser líder da Rede Paranaese de Rádio, composta de um grande número de prefixos espalhados por todo o Estado. Samuel Silveira teve Francisco Rocamora como seu companheiro de pioneirismo. Depois a eles se uniram Joaquim Dutra, Ivens Lagoano Pacheco e muitos outros que formam, agora, uma equipe extraordinária. A data de hoje - marcando o 14º aniversário da Rádio Cultura de Maringá - tem significado muito especial, não apenas para os diretores e funcionádios da RPR. mas para todos os maringaenses, uma vez que aquela ousada iniciativa de 1951 foi mais uma prova do arroxo e do otimismo daqueles que vieram formar esta grande cidade. Nós também da FOLHA DO NORTE, órgão caçula da organização fundada por Samuel Silveira, estamos orgulhosos dos 14 anos de sucesso da Rádio Cultura. E registramos a efeméride com o entusiasmo de quem toma parte num brinde à vitória.

Programação Para Hoje 14º Aniversário da Rádio Cultura Às 8 horas - Missa na Ctaedral N. S. da Glória, celebrada pelo Cônego Benedito Vieira Telles; Das 6 às 13 horas - programação por telefone (discos antigos da emissora, do nº 1 ao duzentos; Às 13 horas - almoço de confraternização entre funcionários e diretores, no Galeto Sulino; Às 16 horas - posse da diretoria do Rede Clube; Às 20 horas - show no auditório da emissora, com apresentação de todos os componentes da famosa equipe de ouro; A direção da lider da Rede Paranaense de Rádio, por outro lado, convida a população para assistir à missa na Catedral Nossa Senhora da Glória. Folha do Norte do Paraná - Ano III, nº 745, 15/6/65 - pág. 1 141


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Emissôra Pioneira Hoje a data sugere mais um retorno da história da cidade, até 15 de junho de 1951. Vamos encontrar um movimento diferente na esquina da avenida Herval com avenida 15 de novembro, Samuel Silveira e Chico Rocamora estão prontos para a grande aventura pioneira de colocar nas ondas virgens do sertão do norte do Paraná o som de uma emissôra de rádio. Últimos preparativos. Na rua faz frio e passam jipes e homens e mulheres em trajes rudes, colarinhos sujos de pó vermelho, botas, japonas, na grande marcha da colonização. Dois homens - Samuel e Chico - vão colocar a Rádio Cultura no ar. Lá na tôrre, tudo OK. A mesa de som preparada. E a voz de Rocamora, primeiro locutor da cidade é ouvida por milhares de rádios de pilha, rádios de automóveis, rádios que pela primeira vez levavam para o homem de Maringá a voz de Maringá. - Senhores, senhoras, esta é a ZYS-23, Rádio Cultura de Maringá, em 1270 quilociclos, inaugurando suas atividades. Daí para a frente, a ZYS-23 foi sempre um êxito e se multiplicou várias vezes, sendo hoje líder da Rêde Paranaense de Rádio, que tem sua presença destacada em todo o Estado. Samuel Silveira e Francisco Rocamora, logo receberam a colaboração de Joaquim Dutra e Ivens Lagoano Pacheco e com êles e mais tantos outros formou-se uma equipe respeitada sob todos os sentidos. Há 14 anos, a Rádio Cultura entrava em atividades, quando Maringá ainda nem fôra promovida à cidade. Maringá não parou de crescer. E a Cultura também não. E hoje, nêste 15 de junho de 1965, não se festeja o aniversário da emissôra pioneira como um orgulho dos que nela trabalham, mas como glória de tôda esta gente maravilhosa que veio formar em tão poucos anos, como num passe de mágica, esta gigantesca e encantadora Capital do Otimismo. Por tudo isso, a FOLHA DO NORTE, caçula da organização fundada por Samuel Silveira, deseja fazer um brinde à sua irmã mais velha - a Rádio Cultura, afirmando que até hoje, e cada vez mais, procuramos conservar o mesmo espírito daquêles que foram pioneiros da informação em Maringá. O idealismo que os fez lançar-se naquela maravilhosa aventura, é agora a nossa maior inspiração. Folha do Norte do Paraná - Maringá, terça-feira, 15 de junho de 1965 - ano III, nº 745 - (p.3) 142


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“niver” rádio cultura A Rádio Cultura de Maringá líder da Rede Paranaense de Rádio, festeja hoje o transcurso de seus quatrorze anos de existência, frente as inúmeras emissoras da RPR. Diversas solenidades estão programadas durante todo o dia de hoje, e outras mais serão cumpridas até o próximo dia 17 do corrente. Nossos parabéns ao jovem gerente Adhemar Schiavonne e funcionários.

programa: 14 anos no ar Abrindo as solenidades realtivas ao 14º “niver”da Cultura, mencionamos a Missa de Ação de graças, logo mais às 8 horas ofociada pelo Cônego Benedito Vieira Telles, com a comunhão pascal de todos os funcionários da Rede Paranaense de Rádio. O acontecimento sócio religioso será registrado na Catedral Nossa Senhora da Glória. Às 9 horas, reunião dos gerentes de toras as emissoras da R.P.R.; em número de 16, para um almoço - às 12 horas - de confraternização entre funcionários e direção. Às 16 horas, solenidade de posse da nova diretoria do Rede Clube, entidade que congrega os funcionários da Rede Paranaense de Rádio. dia 16 prossegue a festa Às 12 horas, o Sr. Ivens Lagoano Pacheco, contará a história da Rádio Cultura; às 16 horas: Jogo de futebol entre a Cultura e o Jornal, no estádio Municipal. Jogadores do Grêmio estarão transmitindo a partida pelo microfone de ouro da Cultura, às 22 horas: show no auditório da Rádio Cultura. dia 17 - encerramento Encerram-se as festividades oficialmente programadas pela passagem dos 14 aninhos da Cultura, no dia 17 com: às 9 horas, IV Prova Ciclística Rádio Cultura, onde o vencedor - nesta tradicional corrida ciclística - receberá uma bicicleta Caloi, oferta da Hermes Macedo às 20 horas, show no auditório da Cultura. entrevista para hoje O nosso programa radiofônico “Encontro com Frank Silva” pela Rádio Cultura, logo mais às 14 horas, além de apresentar uma programação especial ainda terá a satisfação de entrevistar o Dr. Helenton Borba Cortez, que esteve recentemente em Lake Placid prticipando da Convenção Internacional do Rotary Clube. Folha do Norte do Paraná, ano III, nº 745, 15/6/65 - pág.4 Frank Silva “Em Sociedade” 143


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POSSE NO REDE CLUBE O dia de ontem, todo êle, esteve movimentado pela festa do 14º aniversário da Rádio Cultura de Maringá. Pela manhã, Missa de Ação de Graças na Catedral, celebrada pelo Cônego Benedito Vieira Telles. À tarde, almoço no Galeto Sulino, com a presença de todos os funcionários da emissora aniversariante, gerentes das demais emissoras da Rede Paranaense de Rádio e diretores da grande organização fundada por Samuel Silveira. À noite, no auditório da Cultura, show maravilhoso, com a participação de tôda a famosa equipe de ouro, diante de uma platéia nunca vista em ocasiões semelhantes. Na mesma oportunidade, Joaquim Dutra, Francisco Rocamora, e Ivens Lagoano Pacheco, pioneiros da radiofonia em Maringá, sopraram as 14 velas do bôlo-símbolo da grande efeméride. Na edição de amanhã publicaremos fotos e detalhes completos do acontecimento. Tomou posse a nova diretoria do Rede Clube, entidade que congrega os funcionários da Rêde Paranaense de Rádio. A foto registra o momento em que, com um abraço, o ex-presidente Enes Mendes Rocha transferia o cargo de seu sucessor A. A. de Assis, no auditório da Rádio Cultura. Durante a mesma solenidade foi empossado na presidência da Cooperativa de Crédito filiada ao Rêde Clube o Sr. Carlos Piovesan. Folha do Norte do Paraná, anoIII, nº 746, 16/6/65, (p.1)

VITRINE N&M -Festejou ontem mais um aniversário, o nosso companheiro José Sanches Filho, Diretor do Departamento Comercial da REDE PARANAENSE DE RÁDIO. Seus colegas prestaram-lhe uma singela homenagem no 9º andar do Três Marias. Entre os presentes, o Carlos Piovezan, Gualtiero Cadel, José G. Britto (Britinho), Maria José Garcia Eva Maia de Souza, João Pereira, Orlando Manin, Enres M. da Rocha, Oswaldo de Oliveira, Ardoal Linjardi, todos da Rede, além de Nelito Chagas e Moacyr Saver, que embora pertencendo à Rede Paranaense de Rádio, são também do departamento comercial da Foha do Norte. -Maurício Cadamuro transferiu sua excelente gravadora para Maringá. O endereço é o 5º andar do Três Marias. Maurício veio para Maringá por isistência de José Sanches, do Departamento Comercial da Rede, que com a gravadora bem próxima, poderá dar mais assistência aos clientes. Folha do Norte -Maringá, domingo, 2 de abril de 1967 - Ano V, nº 1257 - pág. 7 144


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Entrevista (exclusiva) com Santana e Cafézinho

Satana e Cafézinho, a maior dupla cômica do Paraná, fazem diariamente a alegria dos milhares de ouvintes da Rádio Cultura de Maringá, com seus diversos programas de fazer rir. Agora os dois se preparam para lançar, no dia 4 de novembro, às 20 horas (só para auditório), um novo espetáculo - PESCANDO SURPRESAS, que apresentará um grande elenco de cantores, humoristas músicos e outras atrações, além de farta distribuição de prêmios. Os ingressos serão a preços populares (200 cruzeiros) e cada pessoa receberá um talão para concorrer a prêmios. No último programa de cada mês será sorteado um prêmio de cinco mil cruzeiros, independente da pesca. Os dois famosos cômicos estiveram em nossa redação, na manhã de ontem, pedindo que a gente noticiasse o seu novo lançamento. Aproveitamos para entrevistar (com exclusividade, diga-se de passagem) SANTANA E CAFÉZINHO, que nos deram respostas muito a seu jeito, conforme o leitor perceberá nas linhas abaixo: REPÓRTER - Como será o nome do programa? SANTANA - “Pescando Surpresas”. REPÓRTER - Com anzol? CAFÉZINHO - Mas sem minhoca. A minhoca é o prêmio. Quer dizer: o prêmio já engoliu a minhoca. Quem pescar leva só o prêmio. A minhoca a vara e o anzol tem de deixar lá. REPÓRTER - Mas você não disse que não tinha minhoca? SANTANA - O negócio é que a minhoca é só pra pescar o prêmio. REPÓRTER - Que confusão! 145


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SANTANA - Quem pode explicar melhor isso são os prêmios, porque nós não entendemos nada de minhoca. REPÓRTER - Mas prêmio não fala...a não ser que o prêmio seja uma... CAFÉZINHO - Não...desse aí não tem. E se tivesse eu ia ser a isca. REPÓRTER - Chega de minhoca! O que que vai ter no programa? SANTANA - Cantores, cantoras, regionais, pianistas, humoristas... e nós dois eu e o Santana, que somos os melhores do mundo. REPÓRTER - Quantos prêmios? CAFÉZINHO - Sem prêmios. SANTANA - Daí pra menos. REPÓRTER - Sem com “s” ou com “c “? SANTANA - Não entendo de gramática, porque o Cafèzinho não sabe ler e eu sou analfabeto. REPÓRTER - vai “bossa” nesse programa? CAFÉZINHO - Uma porção. A coisa que tem mais lá é “boçal”. Nós mesmos somos “boçal” de natureza. REPÓRTER - Vai ser à noite? SANTANA - Não. Vai ser noturno. Todas as quintas feiras. REPÓRTER - Das 20 às 22 horas, não é isso? SANTANA - Não. Das 8 às 10 da noite. REPÓRTER - E pode fumar durante o programa? CAFÉZINHO - Pode, mas, segundo uma nova lei que está por aí, é proibido o uso de fumo. REPÓRTER - Você falou em pianista. Como é isso? CAFÉZINHO - Vai ter concerto de piano, violino, violão, harpa... SANTANA - Cafezinho, explica bem aí pro reporter, que o conserto é assim: você quebra e eu conserto. CAFÉZINHO - Vai ter até consertos de cadeiras. SANTANA _ E nós vamos cantar também... em jáponês,em castelhano, vamos até cantar o gerente em um aumento. CAFÉZINHO - Não fala isso, Santana, senão alguém vai pensar que nós tamu duro. 146


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SANTANA - É verdade.Duro não estamos, mas estamos tão lisos que não dá nem para parar deitado. REPÓRTER - Mas ouvimos dizer que vocês estão bem de vida. SANTANA - Bom, compramos até um carro esses dias. REPÓRTER - Automóvel, perua, jipe? SANTANA - Carro de sorvete. Mas sorvete bom, não é “frio” não! REPÓRTER -Vocês são sócios? SANTANA - Não. O que fazemos, repartimos, ou melhor, ele fica com 50% e eu com 50%. CAFÉZINHO - Nada disso, eu fico com a metade e ele com a outra metade. REPÓRTER - E quem fica com a “cara metade”? SANTANA - Bem, eu sei que fico aom a metade cara e fica com a metade na cara. REPÓRTER - Explique isso! SANTANA - Pra que explicar, se a resposta tá na “cara”. REPÓRTER - Mas vocês só tem essa profissão? CAFÉZINHO - Que nada uái! Nós só trabalhamos nisso. REPÓRTER - E fora disso? CAFÉZINHO - Não faço nada. SANTANA - E eu ajudo ele. REPÓRTER - É verdade que o Cafèzinho vai ser candidato a vereador? SANTANA - Não deixo! Ele é exclusivo do meu elenco de comédias. REPÓRTER - Vocês não tem mais nada para falar? SANTANA - Pois eu tenho. REPÓRTER - O que é? SANTANA - Terminei. Folha do Norte do Paraná - Ano IV, nº 850,24/10/65 - pág. 4

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Destaques de Frank Silva Depois de uma série de entendimentos mantidos por representantes da Folha do Norte e da Rede Paranaense de Rádio, com diretores da TV-Excelsior de S. Paulo, Canal 9, para trazer para Maringá em perfeitas condições de retransmissão o sinal daquela emissora de televisão vão chegando ao fim os estudos. Assim é que no dia 5 e 6 próximos estrão em Maringá os srs. Rubens Pereira Leite e Juan Fominaya, Diretores do Canal 9 para ultimar os entendimentos, juntamente com prefeitos de todo o Paraná que aqui estarão reunidos para o Congresso dos Prefeitos. Confirmou sua presença também o Sr. Walter Sampaio, do depto. de redação e noticiosos, que dará cobertura dos acontecimentos do noss 20º aniversário. Estamos aguardando a confirmação da presença dos srs. Edson Leite e Alberto Saad, ambos destacados diretores do Canal 9. O prefeito Luiz de Carvalho está vivamente empenhado no sucesso desta iniciativa, dando integral apoio ao movimento. Folha do Norte - Maringá, domingo, 30 de abril de 1967 Ano V, nº 1279 - pág. 4

Equipe de Ouro Homenageada A Rede Paranaense de Rádio ofereceu um lauto jantar à EQUIPE DE OURO, da RÁDIO CULTURA DE MARINGÁ, pela expressiva vitória na pesquisa de audiência realizada no domingo passado, dia 23 de abril de 1967. A reunião que transcorreu com muita alegria realizou-se nas agradáveis dependências da CHURRASCARIA GUARANY, que preparou pratos especiais do agrado de todos. Presentes à homenagem toda a Equipe de Ouro, composta de: Haroldo e Souza, Ary Bueno de Godoy, Orlando Manin, Loreto Aguinaldo Bochoski, Leonardo Silva, Oswaldo de Oliveira, José Carlos de Andrade, Renato Negrinho, Ardoal Linjardi, Alcides Gino dos Santos, Arlindo Ramos e Alberto Alexandre. Compareceram prestigiando a agradável reunião os patrocinadores daquela transmissão, CAFÉ CAMOR e TUDO-audio peças, nas pessoas de José Carlos Del’Agnolo e Oswaldo Porto. Em nome da Rede Paranaense de Rádi, se fizeram presentes os diretores Joaquim Dutra e Francisco Rocamora. Repreasentando a FOLHA, compareceram so Sr. José Dutra. Foi uma bonita e merecida homenagem. Folha do Norte - ano V, nº 1279, 30/4/67 - pág. 10

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EQUIPE DE OURO Entregou Rádio Conforme o prometido a Equipe de Ouro da Rádio Cultura de Maringá, efetuou no último dia 2, o sorteio do rádio transistorisado, aos ouvintes que escreveram suas correspondências participando do GOL QUE VALE RÁDIO. Com a presença dos Srs.: João Preis, Presidente do Clube Teuto Brasileiro - Deolindo Costa, Departamento Esportivo da Rádio Tabajara de Londrina - Osmar de Souza Reis, árbitro do quadro A da Liga de Futebol Regional de Maringá, além dos componentes da Equipe de Ouro e direção da Rádio Cultura, o felizardo em sorteio foi o senhor Bortoleto. No dia seguinte, como mostra a foto, Haroldo de Souza, Bueno de Godoy, Orlando Manin e Osvaldo de Oliveira, efetuaram a entrega do bonito receptor, ao senhor José Bortoleto, que afirmou: “Não porque tenha sido o felizardo, mas em matéria de esporte, a Cultura é a legal”. Folha do Norte - ano V, nº 1285, 6/5/67 - pág. 7

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Equipe de Ouro da Cultura: a Melhor Cobertura no Carnaval Mais uma vez a grande revelação do Carnaval, foi o êxito e a eficiência que caracterizaram os integrantes da “Equipe de Ouro” da Rádio Cultura, que deram o seu “show” à parte, na cobertura das festividades nos clubes, na rua ou nos bailes populares. 224 textos com chamadas para as transmissões foram irradiados. Com VHF. 10 chamadas no sábado; 18 no domingo; 16 na segunda; 11 na terça, além de acompanhamento e transmissão ininterrupta do desfile-côrço promivido pela emissora. Através do telefone e gravador, 5 chamadas no sábado; 12 no domingo; 8 na segunda e 7 na terça. Cidades cobertas: em transmissões diretas: Marialva, Mandaguari; por telefone: São Paulo (três vezes), Curitiba, Florianópolis e Londrina; por rádio-gravação: Rio de Janeiro, recife e Porto Alegre. FLASHES: A EQUIPE DE OURO realizou flashes diretos para as Rádios Record, de São Paulo, Independência e Clube de Curitiba; Paiquerê de Londrina; e Emissora de Paranavaí. INTEGRANTES DA EQUIPE A EQUIPE DE OURO DA RÁDIO CULTURA Esteve assim desmembrada para a cobertura do Carnaval: Equipe “A”- reportagens volantes com perua e VHF: Osvaldo Dias e Teófilo Ruiz de Andrade. Equipe “B”- Reportagens gravadas e Interurbanos: Emireno Heitor Ornaghi e Osvaldo de Oliveira. Equipe “C” - Plantão e retaguarda: Jurandir Amaral e Onofre Favoto. 150


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Por Que O Povo Gosta Tanto De Música Sertaneja

Para o homem que trabalha lá na roça, nada melhor do que ligar um radinho de pilha e ouvir um bom programa sertanejo, enquanto a “enxada descansa”. Como vai bem uma modinha de viola...principalmente quando a emissora sintonizada possui um bom animador. Nos intervalos das músicas ou das modas, entra um Santana, um Nhô Quinca, um Orlando Manin, um Cafézinho ou um Nhô Juca com suas mensagens pitorescas e que provocam risos. E as horas vão passando...E o nosso sertanejo chega a esquecer-se de que faz tempo que não chove, de que o cafezal está cheio de nematóides. Êta mundo véio...” Mas não é só la na roça que o pessoal gosta de música sertaneja. Na cidade os programas sertanejos conseguem maior audiência que os de música popular e mesmo que os chamados “quentes”, da juventude. Um conhecido animador maringaense, recebe mais cartas do que todos os “brasas” juntos. E pelo menos 70 por cento dessas cartas são escrita por gente que mosra aqui mesmo na cidade. GENTE BOA Muitas duplas que hoje vendem milhares de discos no Brasil inteiro, são de Maringá. Começaram aqui sua carreira e muitos continuam residindo aqui e participando ativamente dos programas ao vivo das emissoras locais. Outras não são de Maringá, mas de cidades circunvizinhas. No entanto, realizaram-se aqui e fazem questão de dizer isso a todo mundo. 151


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Entre as duplas e trios que usaram Maringá como trampolim para o sucesso, figuram Zezinho e Zorinho, Jandico e Asa Branca, Azir e Azor, João do Campo e Zotinho, Zé Moreno e Chiquinho Gonçalves, Olívio e Olávio, Osvaldinho e Campo Alegre, Abgail, Jair e Tercílio Men, Zéfiro e Zeferino, João Pereira e Volpatinho, Nalo e Zenito, Cabana e Rancho Alegre, Parceiro e Montanhês, Pedrito Moreno e Teresa Moralez, Duo L Prata e Dorinha, Sabiá e Biaci, Martinez Moralez e dezenas de outros. Todo esse pessoal está gravando “78”e muitos já passaram para o “LP” nas gravadoras Chantecler e Continental. Mas não terminou a lista dos “bem sucedidos”. Tem muita gente por aí, que sem fazer parte de duplas, sem ter “parceiro”, também consegue atingir o “alto da montanha”. Quem não se lembra, por exemplo, de Jorge Ferreira Duque Estrada, o famosos “pua”, que pouco antes de ser candidato a prefeito de Maringá lançou suas gravações que fizeram o maior sucesso na praça? Mas vamos aos casos mais recentes. Vamos falar do vereador Antonio Mario Manicardi, o popular “Nhô Juca”, considerado o melhor declamador do Paraná; vamos falar de Orlando Manin, o “Coronel do Rancho”; de Basílio Chechanoscki; Nelson Pasinatto; Raimundo Tavares; Elio Ferigato, que compôs muitas modinhas que hoje fazem sucesso na interpretação de Zico e Zeca, Carreirinho e Zita Carreiro, Tião Carreiro e Pardinho e Pião Carreiro e Mulatinho; vamos falar também do consagrada “Nhô Quinca”, cujo nome verdadeiro é Amaro Ferigato, que já tem meia dúzia de composições gravadas. A propósito, o Quinca lançará brevemente na praça seu “LP” de humorismo e o público tem certeza de que ele será bem sucedido, o mesmo acontecendo com o Santana, que já recebeu convite das gravadoras e prepara uma boa 152


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coleção de piadinhas. NO COMEÇO É ASSIM Formar uma dupla sertaneja é coisa didícil “ à bessa”. É preciso fazer o “casamento” de duas vozes que se produza sons harmoniosos. Quando se consegue fazer o “casamento”, é sinal de que os ensaios vão começar. E até altas horas da noite, dois cantores vão se afinando, afinando, até conseguirem o ponto ideal. Depois o primeiro programa de rádio. A dupla tem que vencer o medo do microfone, tem que saber lidar com a platéia para não ser criticada. Vencida essa primeira fase, a dupla precisa inventar meios de ser simpática ao público para conseguir aplausos sem a provocação do animador. Geralmente algumas piadas são inventadas ou os dois parceiros “brigam” de araque. Quando não conseguem sucesso mesmo asssim, deixam a cara cair... O teste de rádio é essencial para a vendagem de discos.Uma dupla que sabe ser simpática vende muito mais e interessa às gravadoras. A viola, o acordeão, o pandeiro, a harpa, o violino e o contrabaixo são os instrumentos musicais preferidos pelos músicos sertanejos. CAIPIRA E SERTANEJO Existe uma diferença muito grante entre a música caipira e a música sertaneja. A primeira apela para os vícios da linguagem, faz rimas forçadas, combinando “esse homem mar” com “lindo luar”. É prejudicial à cultura e felizmente hoje não é tão divulgada, ao passo que a segunda chega a obedecer à métrica dos versinhos. É mais difícil, e conta com a preferência do público. Felizmente! A “moda” caipira devia hoje ser proibida pela Censura. Porque justamente quando se gasta tanto dinheiro para aumentar a cultura do povo, um “trocha” qualquer pega o microfone para dar um “alô cumpadri” e para dizer que sente saudades de sua “muié”. Isso é conspirar contra a educação e o público devia mandar todo caipira plantar batatas ou ir às favas... Os diretores de emissoras de rádio jamais deveriam franquear os microfones a um caipira. Deveriam, isto sim, incentivar as duplas sertanejas porque elas, realmente, desenvolvem a cultura 153


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de seus fãs, transmitem otimismo, fazem sonhar e também amar. Os programas sertanejos poderiam até ser utilizados como meio de escolarizar o povo. “DOR_DE_COTOVÊLO” O pessoal da música sertaneja anda satisfeito em Maringá porque suas músics são gravadas e as dos “brasas” não. Dizem até que a “ala prá frente” anda com dor-de-cotovêlo por isso e também porque os programas sertanejos tem patrocinadores garantidos, o que nem sempre acontece do outro lado. Em parte eles tem razão: nenhum conjunto de juventude de Maringá conseguiu ainda gravar os seus programas radiofônicos, apesar de estarem nos chamados horários nobres das emissoras, conseguem patrocinador, pelo menos por muito tempo. A “pecha” da dor-de-cotovêlo não ofende ninguém e apesar de sertanejo e juventude serem dois gêneros distintos, os amantes dos dois sempre acabam se abraçando depois dessa ofensa, se é que isso pode ser chamado de ofensa. UNIÃO SEM ENTIDADE Existe muita união entre aqueles que integram o gênero sertanejo em Maringá. União, que apesar de ser forte, não consegue manter uma entidade. O Nhô Quincas fundou a União Maringaense de Artistas Sertanejos e ficou na presidência da entidade durante dois anos. No dia em que saiu, a UMAS desapareceu . Posteriormente foi fundada a SCANP - Sociedade Cultural dos Artistas do Norte do Paraná, que também desapareceu depois de uns doia anos de atividades. Agora, mesmo sem uma organização que defenda seus direitos e deveres, os artistas sertanejos cantam, vendem e faturam. A união entre eles é natural e espontânea. “Cada um por si e Deus para todos”é o lema. Vamos em frente.

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Rádio Cultura Amplia Potência - 5.000 Watts Pela Portaria 1.421/3, do DENTEL, a Rádio Cultura de Maringá ficou autorizada a isntalar um novo transmissor, com execelente potência de 5.000 watts. Isto significa que Maringá mandará mais longe sua voz, estando presente em mais algumas centenas de milhares de receptores em vasta região do sul do Brasil, cobrindo todo o Paraná, parte de São Paulo e Mato Grosso. A Rádio Cultura é a emissora pioneira da cidade, instalada em 1951. Progride acompanhando o ritmo vibrante de Maringá e possui ótimo prédio próprio, com auditório, estúdio para rádio-teatro e carro-reportagem. A notícia da elevação de potência foi dada ontem pelos diretores da Rede Paranaense de Rádio, srs., Samuel Silveira, Joaquim Dutra e Carlos Piovezam, que já estão cuidando da instalação do novo transmissor. Ano VII, nº 2.200 - 2/10/70 - pág.1

Leão, o símbolo da Rádio Cultura AM, desenhado e elaborado por Luiz Carlos Altoé 155


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REVISTA ACIM Maio/91 – Página 4

Meu Negócio

40 anos no ar

Joaquim, Carlos Piovezan, Samuel e Reginaldo: 40 anos de tradição em Maringá Em 40 anos de existência,a Rádio Cultura deixou a marca do pioneirismo na cidade. Hoje ela comemora todo este trabalho com a posição de líder absoluto de audiência em Maringá. A Rádio Cultura de Maringá foi a primeira da cidade ecomeçou a operar em15 de junho de 1951, época em que Maringá não tinha sequer energia elétrica ainda. Para a rádio poder funcionar, como lembra Joaquim Dutra,um dos sócios, era preciso acionar todas as manhãs um gerador a diesel. “Era até engraçado, porque todos os locutores sempre davam um jeitinho de fugir do primeiro horário da rádio, para não ter que acionar o gerador, o que dava um trabalho danado”, conta. A primeira sede da rádio ficava na avenida Herval, onde hoje funciona o escritório da Copel. Foi somente em 1953 que a rádio ganhou prédio próprio, onde está instalada até hoje. Daquela época para cá, a Rádio Cultura sempre teve participação importante nos fatos e acontecimentos da cidade. Até mesmo da eleição do primeiro prefeito, Inocente Vila Nova, a rádio participou,transmitindo toda a apuração para os maringaenses direto de Mandaguari, na época 156


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sede da Comarca, através do telefone da Companhia Melhoramentos. PIONEIRISMO: Foi no prédio novo, com um auditório com 300 poltronas – onde eram reealizados programas ao vivo – que a rádio inúmeras vezes serviu de sede para reuniões importantes das lideranças da cidade. Na época não havia nas redondezas um auditório como aquele,que pudesse acomodar tantas pessoas. Com isso, a rádio acabou se transformando em palco de criação de clubes, associações e até de time de futebol. A Associação Comercial e Industrial de Maringá também teve a reunião de fundação realizada no auditório da Cultura. Na fundação da ACIM aconteceu um fato curioso, que ficou entre as tantas histórias que envolvem a rádio. “Um empresário maringaense procurou a direção da rádio e nos pediu a divulgação do convite para a reunião da crição da entidade, o empréstimo do auditório e também a transmissão da reunião” , relembra Samuel Silveira, outro sócio da Cultura. Segundo ele, o empresário foi atendido e tudo aconteceu conforme o combinado. Mas no momento da reunião o empresário, inocentemente, afirmou a um dos repórteres que não havia mais presentes porque os avisos só tinham sido divulgados pela rádio, único órgão de comunicação da cidade. “Nós resolvemos então dar ao empresário, que é um grande amigo nosso, uma demonstração da audiência da rádio. Anunciamos que a loja dele, que ficava no Maringá Velho, estava comprando gatos para fazer sabão e a bom preço. Não demorou 3 horas e o filho do empresário nos procurou pedindo a suspensão do anúncio, porque havia se formado uma verdadeira multidão de meninos em frente à loja, cada um com seu gato, para vender. Suspendemos de imediato o anúncio e o empresário ficou convencido da eficiência de nosso veículo”, lembra bem-humorado Samuel Silveira. Durante estes 40anos de existência, a Rádio Cultura cresceu muito. Em 1956, o grupo de sócios adquiriu a Rádio Jornal e depois dela outras 12 foram adquiridas em todo o estado e assim foi fundada a Rede Paranaense de Rádio,que acabou vendida na década de 70. Sem contar que, como lembra Joaquim Dutra, a Rádio Cultura foi a “mãe” de outros veículos de comunicação 157


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da cidade: a Televisão Cultura, o Jornal 1 (hoje O Jornal do Povo) e o Diário do Norte do Paraná, também foram fundados pela grupo da Rádio Cultura 1. Hoje a Rádio Cultura ocupa a liderança na cidade. De acordo com a pesquisa realizada pela equipe Conceito Pesquisas, de São Paulo – um trabalho contratado por todas emissoras de rádio de Maringá – a Cultura obteve mais de 64% de audiência no horário das 6 da manhã às 7 da noite.

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RÁDIO JORNAL DE MARINGÁ LTDA. O Contrato Social foi “arquivado na Junta Comercial do Paraná, sob o nº 31.503, por despacho em sessão de 02/02/1956. A Sociedade foi constituída por Samuel Silveira, Joaquim Dutra, Francisco Dias Rocamora e Ignácio Nassif, sendo que os três primeiros são possuidores de mais de 99% do capital social de acordo com o facultado pelo Art. 15 de Decreto nº 3.708 de 10/01/1919 do Código Comercial Brasileiro, tendo em vista a autorização do DENTEL. Por Portaria de nº 017 de 09/01/1969 foi a Sociedade autorizada a aumentar o capital social de NCR$ 150,00 para NCZ$ 15.000,00 e admitir na Sociedade o Sr. Carlos Piovesan Filho, alterando, com isso, o Contrato Social Primitivo, incluindo-o como Sócio Cotista. Ficaram, então os sócios: Samuel Silveira..de 120 quotas (de um cruzeiro novo), mais 8.800, quotas Joaquim Dutra ..de 10 quotas (de um cruzeiro novo), mais de 2.490 quotas Francisco Dias R. .de 10 quotas (de um cruzeiro novo), mais de 1.490 quotas. Após a admissão de Carlos Piovesan Filho e a subscrição de novas quotas por Samuel Silveira, em benefício do Sr. Ignácio Nassif, subscritas por Samuel Silveira, assim ficou constituída a Sociedade: Samuel Silveira 9.000 quotas..NCR$ 9.000,00 Joaquim Dutra 2.500 quotas NCR$ 2.500,00 Francisco D. Rocamora 1.500 quotas NCR$ 1.500,00 Ignácio Nassif 1.000 quotas NCR$ 1.000,00 Carlos Piovesan Filho 1.000 quotas NCR$ 1.000,00 15.000 quotas NCR$ 15.000,00 A Sociedade passou a ser administrada por Carlos Piovesan Filho, com a função de Gerente, representando ativa e passivamente a firma, inclusive judicial e extrajudicial, ficando dispensado de prestação de caução. 159


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As deliberações sociais, mesmo as que importam em alteração contratual, serão resolvidas pelos sócios que representam a maioria do capital social, conforme art. 62, parágrafo 2º do Decreto 57.651 de 19/01/1966. O sócio gerente terá o seu pró-labore mensal em quantia fixa deliberada pelos demais sócios. Este contrato tem a data de 07/02/1969. Foi vendida a Aloísio Rafael Barros e este, posteriormente para Ricardo Barros. Localizou-se inicialmente nos altos do Banco Itaú à av. Duque de Caxias esquina com Santos Dumont. Foi inaugurada oficialmente em 15/12/1956, com a participação da orquestra de Todesco. Folha do Norte do Paraná Ano nº 27/978 p. 5

“AFINAL, QUEM É LÍDER DE AUDIÊNCIA?” Em relação à matéria que divulgamos ontem em nossa coluna, com o título de “Afinal, quem é llíder de Audiência?”, a direção da FOLHA DO NORTE, em ofício encaminhado ao Dr. Jorge Fregadolli, recebeu da direção da Rádio Jornal, a seguinte carta: “Na edição de hoje (ontem) desse prestigioso jornal, o repórter Joel Cardoso põe em dúvida a seriedade de pesquisa mandada fazer pela Rádio Jornal e publicada nos jornais da cidade em suas edições de 13 deste mês. (Folha do Norte pág. 5). Assim agindo o repórter lança dúvidas - não só quanto a idoneidade das empresas que realizaram as pesquisas - como também sôbre as emissoras de rádio de Maringá, e , conseqüentemente, sobre as pessoas de seus diretores. 160


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Na ânsia de criticar e noticiar, o repórter não atentou para dados de real importâncias: as datas em que foram realizadas ambas as pesquisas.. A que aponta a Rádio Jornal como líder de audiência foi feita no final de agosto-78. A outra, mandada publicar em “O Diário”, edição de 21 deste mês, foi realizada em maio-78. A Empresa concorrente que publicou a pesquisa de maio-78, o fez exatamente com este objetivo: confundir pessoas menos esclarecidas e desatenciosas. Já que os dados são reais, porém, a pesquisa é vencida dado à época de sua realização. Certos de que V. Sa. providenciará para que ocorra a correção dessa notícia infundada e respretigiosa para colegas de profissão que muito se orgulham em tê-lo como companheiro, firmamo-nos. “Atenciosamente”. Aloisio R. Barros

RÁDIO JORNAL DE MARINGÁ NOTA DO REDATOR: Realmente houve “falta de esclarecimento e desatenção” de nossa parte, quanto aos detalhes sobre as pesquisas de opinião pública realizadas em nossa cidade. Não importamos se foi a GALLUP ou o IBOPE que efetuou a pesquisa para a Rádio Jornal (como se recorda, não havia este detalhe nas publicações). Tembém não nos importamos com o fato da direção da Rádio Jornal não prestar atenção no expediente da FOLHA que afirma “A direção não se responsabiliza por conceitos emitidos em artigos assinados”. Nossos respeitos e admiração Rádio Jornal de Maringá e todas as emissoras da cidade. (Joel Cardoso - Registro no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná nº 324).

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RÁDIO DIFUSORA DE MARINGÁ LTDA. Em agosto de 1961, o Grupo de Emissoras, denominado Emissoras Coligadas S/A, instalou e logo entrou em atividades, na cidade de Maringá, com uma emissora denominada RÁDIO DIFUSORA DE MARINGÁ LTDA., sendo mais uma das mais de 30 emissoras de Minas Gerais, no Estado do Paraná. Os sócios foram: Francisco Scarpari (gerente) e mais os quotistas: Carlos Scarpari, Nestor de Macedo e Milton Jorge. A Rádio Emissora tinha por objetivos o incentivo cultural, educacional, científico e recreativo. Posteriormente desmembrou-se deste grupo, formando um nova empresa: A RADIO CORNÉLIO PROCÓPIO S/A, com uma emissora em Cornélio Procópio, uma em Londrina e a DIFUSORA DE MARINGÁ, sendo precursores: José Alfredo Silva Filho Waldomiro Nunes Teixeira Nelson Rother Iolanda de Campos Rother Dourival Vicente Nogueira Alice Marques Nogueira José Martins Pereira Netto Esta diretoria permaneceu pelo período de maio de 1975 a 07/04/76, quando foi sucedida por uma nova empresa, designada RADIO CIDADE CANÇÃO LTDA. Esta nova empresa, assim designada, possuia a RADIO DIFUSORA DE MARINGÁ, sendo seus precursores Nelson Rother e José Maria Pereira de Oliveira, posteriormente sucedido por Abilio Nagib Name e Divanir Braz Palma. A partir de 1985, o Quadro Social teve a inclusão de Nelson Rodrigues ficando o atual Diretoria com: Nelson Rother Divanir Braz Palma Nelson Rodrigues Nelson Rother, assumiu a Direção da Difusora, em 1974. Em 168


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1977, colocou no ar a primeira emissora do interior paranaense em FM: a Rádio Cidade Canção. A Razão Social, em 28;02/87 e desde agosto de 1985 estava constituída pela RDN RADIODIFUSÃO LTDA. e a emissora RADIO DIFUSORA DE MARINGÁ, AM. A RADIODIFUSORA DE MARINGÁ, mantinha seus aparelhos transmissores numa chácara a 10 kms. da sede, num lote rural na Estrada Bandeirantes, no município de Maringá. Seus estúdios e sede administrativa localizavam-se à Avenida Cerro Azul, nº 510, zona 02, em Maringá, interligados ao transmissores por linha permanente de transmissão (Via Telepar). Sua caixa postal, era 233, com os fones: 22-2639 ou 22-2956. Dispunha de um sistema de reportagens externas através de unidade volante de VHF, com veículo próprio e ainda transmissor portátil. A veiculação publicitária normalmente era feita ao vivo e, quando gravada, os fatos eram produzidos na própria emissora através de Estúdio próprio de gravação. A programação da Rádio, desde sua fundação, nos idos de 1961, sempre foi regional, eclética, com músicas, espoertes, notícias e utilidade pública; sempre voltada para um público mais popular. Com tal programação, através dos variados programas, o ouvinte tem participação livre e ativa através de cartas, telefonemas ou até mesmo com a presença na emissora. E, por ser eminentemente regionalizada, deu um destaque as músicas sertanejas, com três programas voltados para o público amante da música verde-amarela e ainda com MPB. Recebeu, por isso, o justo slogan: “RÁDIO DIFUSORA DE MARINGÁ - A MAIS POPULAR”. Isto também porque a cidade de Maringá constitui-se num polo de convergência de uma região agrícola-pastoril, a DIFUSORA sempre prestou serviços de publicidade para este setor, não descurando a publicidade bem dirigida ao comércio que, inclusive, em grande proporção está voltado para o homem do campo ou dos bairros, além de inúmeras cidades circunvizinhas de 169


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menor porte. A Rádio operava com uma potência de 1.000 watts e na freqüência de 960 KHZ, com penetração de excelente qualidade de som em aproximadamente 80 municípios do Norte, Noroeste e Centro Oeste de nosso Estado. Em 1987 a empresa RD’Difusora de Maringá, funcionava com os seguintes encargos: 1 gerente; 2 para contatos de publicidade; 7 locutores de programas normais; 3 reporteres esportivos; 1 reporter de programação comum; 1 comentarista esportivo; 5 sonoplastas (operadores); 1 encarregado do transmissor; 2 recepcionistas; 1 encarregado do aparelho transmissor; 3 ou 4 agenciadores de propaganda (sem número fixo); 1 discotecário; 1 operador de gravação.

Associação Norte Paranaense de Imprensa e Rádio A Comissão Organizadora da Associação Norte-paranaense de Imprensa e Rádio, constituída em Assembléia Geral realizada no dia 8 do corrente mês, com poderes de diretoria provisória, aqui representada pelo presidente eleito, que abaixo assina, após consultar a classe, vem à público lançar seu repúdio à atitude hoje tomada pelos responsáveis pelo Grêmio Esportivo Maringá contra um associado, locutor esportivo da Rádio Difusora de Maringá, companheiro Antonio Paulo Pucca, pelos seguintes motivos: 1 - O companheiro Antonio Paulo Pucca, há quase dois anos cronista esportivo em nossa cidade, já tendo militado nos vários órgãos de difusão e hoje na Rádio Difusora de Maringá, teve sua entrada ontem “barrada” no Estádio Municipal de Maringá, quando ali foi, credenciado - como sempre - para desempenhar suas funções. 170


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Tal atitude foi tomada ostensivamente pelo porteiro daquela praça de esportes, que disse ter oedem para impedir sua entrada, “sem qualquer explicação”, no que apoiado pela Guarda Urbana ali presente; 2 - Posteriormente, a negativa foi confirmada pelo presidente do Grêmio Esportivo Maringá, sr. João Paulino Vieira Filho, que afirmou não permitir sua entrada naquele estádio, enquanto for presidente do Grêmio e enquanto prefeito da cidade” pois esta é uma decisão da Diretoria plena; 3 - Mesmo com a interferência da diretoria da Rádio Difusora, aquele profissional não teve permissão para exercer suas funções; 4 - Zeloso, o profissional comprou seu ingresso, mas, assim mesmo, não foi permitida sua entrada; 5 - Tentou mais: subiu à um caminhão, para dalí transmitir a partida que se realizava, sendo dalí “escorraçado” por ordem do presidente do Grêmio, sempre apoiado pela Guarda Urbana. Finalmente, considerando que tal atitude é completamente arbitrária contra um profissional credenciado pela sua emissora, o que já acontece pela segunda vez, pois o cronista Borba Filho foi também impedido, certa vez, de entrar naquele estádio, pelo mesmo presidente, e que se perimitirmos atos dessa natureza estaremos nos tornando capachos de interesses secundários, abandonando completamente a linha de nossa profissão, que é de informar ao público os fatos como ocorrem; Decidimos: Eliminar das crônicas esportivas da imprensa e do rádio quaisquer comentários sobre o GRÊMIO ESPORTIVO MARINGÁ, até que sejam fornecidas explicações públicas e convincentes sobre tais atitudes, para o que esperamos contar com o apoio das empresas correspondentes, à que honradamente prestamos a linha de nossa profissão. Ary Zimmermann Pres. da Associação Norte-paranaense de Imprensa e Rádio Maringá, 16-12-1962 171


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Nelson Rother

Consagrado nome da radiodifusão paranaense, 33 anos de Paraná, Casou-se com D. Yolanda aqui em Maringá em 1953. Em 69, fundou a Indústria de Sorvetes “Du -Bom”. Em 1974 assumiu a direção da Rádio Difusora. Em 1977, colocou no ar a primeira emissora do interior paranaense em FM (freqüência modulada), a Rádio Cidade Canção. Já participou de diversos congressos da radiofonia nacional. É sócio-fundador do Lions Clube de Maringá - Catedral. Sua participação no leonismo valeu a sua indicação (aprovada por unanimidade) para ser o próximo presidente do “Catedral”, para o ano leonístico 79/80. Pai de 4 filhas, Rother possui também diversos troféus de consagração profissional, em sua galeria. MARINGÁ - (32 anos) - Quinta-feira, 10 de maio de 1979 Folha do Norte do Pr. Ano XVIII - nº 4707 - Edição Especial Reportagem Joel Cardoso p.4

Divanir tem apoio da Difusora O candidato a deputado estadual Divanir Braz Palma (PTB, nº 14.123) recebeu no último sábado o apoio unânime do quadro de locutores e funcionários da Rádio Difusora de Maringá. Durante confraternização,ele falou sobre seus objetivos como candidato e recebeu manifestações de apoio e solidariedade, destacando-se os elogios ao seu comportamento como empresário, trabalhando sempre para o desenvolvimento de Maringá e região. Entre as manifestações de apoio estão os de locutores como Antonio Carlos de Toledo, Edson Lima, Paulo Mantovani, Leão do Vale, Marildo Martins, Cidão, Zaqueu Domingues, Geraldo Irineu, Chico Santos, apresentadores de programas evangélicos (pastores Eli Rangellll e Davi) e ainda da professora Cleide Valadares, o ex-vereador Antenor Sanches,do vereador Cilas, de Sarandi, e do empresário e ex-secretário de Estado Yoshiaki Oshiro,que fizeram uso da palavra e reafirmaram a disposição para a eleição de Divaniz Braz Palma. O Diário do Norte do Paraná ano XX, nº 6.334, 21/6/94,(p.3) 172


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RÁDIO ATALAIA DE MARINGÁ LTDA. Maringá já contava com três Emissoras de Rádio no ano de 1963, Rádio Difusora, Rádio Cultura e Rádio Jornal, porém, a partir de junho teve mais a instalação de mais uma, a Rádio Atalaia de Maringá. Sua instalação e inauguração foi notícia constante na imprensa escrita, principalmente na “FOLHA DO NORTE”, e no “O JORNAL”, conforme se pode assinalar nas colunas de Frank Silva, Osvaldo Lima, Dom Taylor e A. F. Press, nos meses de julho, agosto e setembro, de 1963. “O ASSUNTO, muito lógico (da palestra entre o Cronista, Walter, Helio Barroso, Reinaldo e Pucca e outros) foi com respeito à proxima inauguração da RÁDIO ATALAIA DE MARINGÁ, que lançara ao ar suas ondas, com 5.000 kilowatts na antena, cobrindo totalmente o Paraná e parte de São Paulo”. (Frank). “No momento a RÁDIO ATALAIA DE MARINGÁ é um grande assunto. Todos comentam e aguardam com ansiedade a inauguração da nova emissora que, por certo, fora a boa programação que deverá ter, ainda desponta com a velha frase: “tudo que é novo é novidade”. Outra razão, portanto, de liderar a audiência. (Lima). “Dentro de breves dias estará no ar a caçula das emissoras do Paraná: RÁDIO ATALAIA DE MARINGÁ”, com uma grande potência”. (Lima). “No próximo mês de setembro será inaugurada oficialmente A RÁDIO ATALAIA DE MARINGÁ, a qual o público já aguarda com ansiedade” (Lima). “A RÁDIO ATALAIA deverá funcionar dentro de breves semanas, para gaudio dos ouvinte maringaenses. Sem dúvida alguma, uma emissora quando inautura, apresenta uma programação excelente, e ainda mais, é sempre alvo de curiosidade” (Dom Taylor). “A RÁDIO ATALAIA, a ser brevemente instalada em nossa cidade, vem abrindo novo mercado de trabalho para jornalistas e radialistas. Ao que se afirma, vários e conceituados profissinasi re173


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ceberam magníficas ofertas. Entre os procurados apontam-se Renato Keinert, bacharel e jornalista; José Carlos Rodrigues, rádio-repórter de méritos; Frank Silva, famoso radialista, jornalista social; Ambrósio Netto, rádio-man versátil e de longa atuação na radiofonia local e Jairo Augusto, tido como o melhor locutor esportivo de Maringá. Não existe confirmação ou desmentido neste sentido (AF Press). “Antonio Paulo Pucca deixará, dentro de breves dias, o comando geral do esporte da Rádio Difusora de Maringá para ser o Gerente da RÁDIO ATALAIA a ser inaugurada dentro de breves semanas em nossa cidade. Queremos parabenizar ao particular amigo Antonio Paulo Pucca” (Dom Taylor). “Em palestra com o Sr. Reinaldo Pucca (irmão de Antonio P. Pucca) Gerente da Rádio Atalaia de Londrina, soubemos de que a emissora pertencente àquela organização a ser brevemente inaugurada em nossa cidade com 5.000 quilowatts, terá uma programação jamais ouvida pelos ouvintes da radiofonia paranaense” (Dom Taylor). “O quadro de funcionários da RÁDIO ATALAIA deverá ser formado dentro de mais breves semanas. Ao que se cogita, o “cast” somente deverá possuir “cobras” da radiofonia paranaense. Dentro de mais alguns dias a ATALAIA entrará em caráter experimental”. (Dom Taylor). “Em 21/9/63 Dom Taylor escrevia: Ao que tudo indica, a RÁDIO ATALAIA, deverá entrar em caráter experimental, domingo agora, com uma programação exclusiva de músicas. A RÁDIO ATALAIA, repetimos, será a mais poderosa emissora do norte paranaense”. “Hélio Barroso, Gerente da Atalaia de Londrina, afirmou que a ATALAIA DE MARINGÁ, não poude entrar em caráter experimental, domigo, dado que houve necessidade de alguns reajustes que se fizeram sentir em alguns dos aparelhos transmissores. No entanto, reina por parte do povo maringaense enorme expectativa em torno do lançamento da mais poderosa emissora de região”. Disse ainda que, por enquanto só funciona para gente rica, notadamente os que possuem rádios-receptores em FM” (Dom Taylor). “A RÁDIO ATALAIA está com uma programação musical excelente. E tem mais, seu funcionamento vai até às duas da madru174


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gada, enquanto então todos os receptores (dos que estão acordados) sintonizam os quilociclos da ATALAIA” (Dom Taylor). “A RÁDIO ATALAIA, dentro de mais alguns dias estará funcionando normalmente com suas transmissões de 5.000 watts, em programas de diversos gêneros para toda a região. Quanto ao som, será o que há de melhor no Norte do Estado” (Dom Taylor). “A RÁDIO ATALAIA DE MARINGÁ, foi a primeira emissora a colocar a par seus radiouvinte, a respeito da morte do presidente John Kennedy. Questão de três minutos (hora local) ter havido o incidente em Dallas, Texas a mais potente emissora do Norte transmitia o acontecimento, embora sem maiores detalhes que foram depois divulgados incessantemente pelas outras emissoras” (Dom Taylor); A nova Rádio Atalaia, a caçula da cidade, foi a mais potente emissora do interior do Estado do Paraná, funcionando logo de início com 5 quilowatt, ou 5. watts. Em todo o interior do Estado não existia emissora com esta potência, o que veio demonstrar o prestígio e o progresso de nossa cidade, que neste setor chegou a ultrapassar Londrina, a considerada capital do café. A emissora atuou na freqüência de 1.300 quilociclos, ondas médias e freqüência modulada. Sua inauguração oficial foi em setembro de 1963. Sua torre de transmissão estava situada na saída para Campo Mourão, e os transmissores bem como os estúdios na Avenida Duque de Caxias na esquina da Folha do Norte e transmitia para todo o Estado diretamente da redação. A antena tinha 62 metros de altura, conforme o especificado na legislação, comprometendo-se a sociedade ao cumprimento de todas as exigências vigente ou que venham a vigir, relativas a sua concessão ou permissão. Conforme consta no Diário Oficial da União, de 2/5/66 - seção I - Parte I - página 4.630 foi publicada a PORTARIA nº 212, DE 27 DE ABRIL DE 1966 com as seguintes determinações: “O Presidente do Conselho Nacional de Telecomunicações, 175


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usando das atribuições que lhe confere o artigo 38, item 3º, do Decreto nº 52.026, de 20/5/63, na conformidade do Parecer nº 226-66 exarado no Processo número 1.494-63, aprovado pelo Plenário em sua 296ª sessão, realizada em 26/4/66, resolve: 1. Permitir à Rádio Atalaia de Maringá, concessionária do serviço de radiodifusão sonora na cidade de Maringá, Estado do Paraná, reduzir a potência de seus transmissores, de 5 Kw, durante o dia e 1 KHz durante a noite, para 1 kw, durante o dia e 0,25 kw à noite e sistema irradiante constando de um elemento vertical, com 62 metros de altura, campo efetivo de 175 mV/m de dia e 87,5 mV/m à noite. 2. A entidade deverá submeter a aprovação do DENTEL novas plantas de locais e as especificações técnicas e diagramas do transmissor de 0,25 kw. Dentro do prazo de 6 (seis) meses a contar da publicação da presente portaria a concessionárioa fica obrigada a inaugurar a estação em caráter definitivo. - Euclides Quandt de Oliveira, Capitão de Mar e Guerra - Presidente do CONTEL” (nº 5.992 - 29/4/66 - Cr$ 6.400). Com isso Maringá acabava de perder um precioso tento no setor de radiodifusão, uma vez que a Rádio Atalaia, emissora local atuava com 5 Kw, foi reduzida para 1 Kw diminuindo assim a presença desta cidade nos receptores da região. O fato foi lamentável. Segundo Certidão da Junta Comercial do Paraná nº 14.471 de 07/07/93 o número e data do NIRC é 412 001 002 191 de 27/03/79, constando ainda os nomes de José Alves dos Santos como sócio gerente e Eunice Caleare dos Santos como sócia quotista, competindo ao sócio gerente o uso da firma individualmente e a representação Ativa e Passiva Judicial e Extra-Judicial da Sociedade. Até 7/7/93 foi arquivada a 10ª alteração contratual son onº 465 859 de 14/08/90.

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Atalaia AM mantém a liderança em Maringá “Pesquisa realizada em Maringá, de 12 a 18 de julho, comprovou que a Rádio Atalaia mantém o primeiro lugar em audiênica, com 42,8%. A Análise Pesquisas ouviu 540 ouvintes, aferindo as suas audiências e preferências, nas regiões Norte, Sul, Leste, Oeste e central da cidade. Além de manter a liderança, o que vem ocorrendo em pesquisas realizadas desde julho de 1991, o maior destaque da Atalaia também é a maior audiência do rádio maringaense. Há 18 anos José Alves é o radialista mais ouvido na cidade e na região, mantendo índices próximos a 60% da preferência, das 5 às 8 horas e, aos domingos, das 7 às 11 horas. Outros destaques da Atalaia, apontados pela pesquisa, são: Marquinhos Alves, das 9 às 11 horas, no Show do Marquinhos, com 41,7%. Hamilton Cardoso, das 11h30 min às 12 horas, no tradicional Comando Geral, com 41,7%; Denival Pinto e equipe Emoção, no Giro Esportivo, com 51%; Naudinho Alves, o mais jovem comunicador de Maringá, com seus 16 anos, já lidera, da 14 às 16 horas, com o programa a Tarde é Nossa, alcançando 39,45%. São lideres, ainda, nos seus horários, os radialistas Veiga, que alcança 45%com sua Festa Sertaneja e a música sertaneja “raiz”,das 16 às 17 horas; Agenor Santos, com o seu Especial Sertanejo, das 17 às 18 horas, com 43,1%; Ananias Rodrigues e sua equipe, no Giro Esportivo 2ª Edição, com 48,4%; no começo da noite, das 20 às 21 horas, o Show do camilo alcança 38,4%. Aos domingos, novamente a liderança é mantida por José Alves, das 7 às 11 horas, com 51,2%. Encerrando as tardes de domingo, as jornadas esportivas têm alcançado a impressionate marca de 53% de audiência. Segredos do som A Rádio Atalaia continua investindo na compra de equipamentos de última geração. Adquiriu recentemente microfones Shure SM7, de alta tecnologia; uma mesa Scala, com 10 canais; novas cartucheiras, 177


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que garantem uma melhor qualidade na transmissão das mensagens publicitárias; implantou um sistema de linkagem aérea e antena especial de VHF. Há mais de um ano opera com CD (garantindo alta fidelidade de som) e tem, há 6 meses, umnovo sistema irradiante,montadona saída para Iguaraçu. Estes detalhes revelam os segredos da qualidade de som que você ouve na Atalaia,com10.000 watts de potência, a emissora preferida dos maringaenses. Homenagem Ontem, sábado, a direção da Rádio Atalaia fez uma homenagem aos seus radialistas e equipe de funcionários, entregando medalhas aos líderes de audiência.” O Diário do Paraná – Ano XVIII – nº 6069 – 1/8/93 p.3

PARA COBRIR A REGIÃO MAIS RICA DO PARANÁ, ANUNCIE NA DE MARINGÁ - LÍDER DE AUDIÊNCIA HÁ 21 ANOS. ATALAIA ATALAIA A RETROSPECTIVA DO IBOPE MOSTRA A LIDERANÇA CONSTANTE DA RÁDIO ATALAIA, EM 21 ANOS.

MAIO DE 1978 ..................44,04 Cultura ..............................25,88 Difusora............................. 14,08 Jornal .................................11,84 Outras ..................................4,16

MAIO DE 1963 ..................41,07 Cultura ..............................26,05 Difusora .............................16,07 Jornal .................................12,83 Outras .........................................

ATALAIA MAIO DE 1982........... ............................................43,29 Cultura ..............................23,74 Difusora............................. 14,92 Jornal .................................10,99 Outras.................................. 7,06

JUNHO DE 1981 ............29,27 Cultura ..............................28,63 Difusora .............................13,29 Jornal .................................22,60 Outras.................................. 6,21

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JANEIRO DE 1983............31,46 Cultura ..............................25,22 Difusora .............................11,91 Jornal .................................26,75 Outras ..................................4,66

Das 9 às 12 horas: .............41,34 Cultura ..............................30,83 Difusora ...............................9,85 Jornal .................................13,27 Outras.................................. 4,71

Todos os horários:............ .37,58 Cultura ..............................27,29 Difusora .............................12,10 Jornal .................................15,33 Outras ..................................7,70

Das 12 às 14 horas:............38,64 Cultura ..............................19,31 Difusora ...............................4,13 Jornal .................................23,44 Outras ................................14,48

Das 7 às 9 horas ................33,09 Cultura ..............................26,19 Difusora .............................20,89 Jornal .................................14,28 Outras.................................. 5.55

MARINGÁ, CIDADE CANÇÃO “Com apenas 36 anos, Maringá é hoje o maior centro de desenvolvimento do Norte do Paraná. Uma região rica, que cresce em rítmo alucinante. Com seus 300 mil habitantes, Maringá é um importante centro geo-econômico, político e social. Mais de 1.000 indústrias, entre grandes, médias e pequenas, fazem da região um polo industrial de rápido crescimento. Mais de 5 mil estabelecimentos comerciais oferecem à população inúmeras opções na hora de comprar. Nas áreas agrícolas e pecuária, Maringá se destaca como o maior centro de comercialização de grãos de Estado, o maior centro abatedouro de bovinos da América do Sul e a cidade do Paraná que mais recolhe ICM e FUNRURAL. Na hora de programar o Paraná, invista a verba de seu cliente na região mais promissora do Estado: Maringá. Rádio Atalaia de Maringá: primeiro lugar no melhor lugar.”

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ANTENANDO E DISCOMENTANDO DOM TALYLOR Na tarde de ontem estivemos presentes, no local onde estará situado o transmissor antena da Rádio Atalaia de Maringá, emissora de Rádio que será inaugurada dentro de alguns dias em Maringá. Será a mais potente emissora do interior paranaense, com uma potencia de 5.000 watts. Sua torre de transmissão está situada na saida para Campo Mourão, e os estudios na Avenida Duque de Caxias na esquina da Fôlha do Norte. A Rádio Atalaia de Maringá trabalhará em colaboração com a Fôlha do Norte e trasmitirá para todo o Estado. Na foto a antena da Rádio Atalaia de Maringá, pela metade, que medirá 62 metros de altura, aparecendo o diretor da Codal sr. Diogo Buliani, juntamente com o Dr. Nelson Roberto Etiegler da FOLHA DO NORTE. Um dos valores do rádio local, já contratado pela Atalaia, é Antonio Paulo, que pertencia a Rádio Difusora de Maringá. - Mais uma vez ANTONIO PAULO PUCCA monopoliza as atenções gerais, dado um atrito havido com sua pessoa e dirigentes da DEFE,nas dependências do Mercado Municipal. O futuro gerente da RÁDIO ATALAIA, segundo suas declarações, disse que o proibiram de torcer por MARINGÁ, quando do encontro de Basket com Curitiba. O caso parece que ainda vai dar muito pano pr’a manga. - A REVISTA DO RÁDIO desta semana, publica o dilema seríssimo para com os fabricantes de televisores: preço cada vez mais caro das mul e uma peças que compõem um aparelho captador de imagens através do som. Para dar um lucro razoável comum a qualquer indústria progressista, um televisor tem que ser vendido a 250 mil cruzeiros; nada menos de isso. Mas acontece que a 250 mil cruzeiros, quase ninguém está adquirindo TV. Em conseqüência produtores desses aparelhos estão começando a forçar as vendas até mesmo sem lucros. Há pânico no mercado produtor e, ao que tudo indica, o exemplo da RCA.VICTOR 180


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que preferiu fabricar apenas válvulas e não aparelhos completos, aceitará sendo adotado em larga escala. O recurso da venda a logo prazo não está oferecendo resultados satisfatórios, em face da célebre desvalorização da moeda. E TV a 25 mil cruzeiros mensais, que é, senão a classe A, que pode adquirir...? Conseqüência lógicas para as próprias estações de TV: Estagnação do mercado publicitário, em face da paralização do influxo de platéia consumidora. FOLHA DO NORTE DO PARANÁ Ano I - nº 273, 7/9/63 - p.3

Está sendo instalada em Maringá mais uma emissora de Rádio Difusão aumentando o número das já existentes, o que vem demonstrar o progresso e a evolução de Maringá. Maringá atualmente conta com três emissoras, Rádio Difusora, Rádio Cultura e Rádio Jornal, porém a partir do princípio do mês entrante, a cidade canção poderá contar com mais uma estação de rádio, a Rádio Atalaia de Maringá, cuja instalação já está se verificando. A nova Rádio Atalaia, a caçula da cidade, será a mais potente emissora do interior do Estado do Paraná, devendo funcionar logo de início com 5 quilowatt, ou 5.000 watts. Em todo o interior do Estado não existe emissora com esta potência, o que vem demonstrar o prestígio e o progresso de nossa cidade, que neste setor chegou a ultrapassar Londrina a considerada a capital do café. A Rádio Atalaia de Maringá atuará na freqüencia de 1.300 quilociclos, ondas médias e freqüencias moduladas. Sua inauguração está prevista para a primeira quinzena de setembro. No flagrante, o transmissor de ondas médias, de 5.000 watts, já a caminho de Maringá e que começará a funcionar dentro de breves dias. 181


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Conclusão Fazer um trabalho sobre rádio em Maringá, com seus 43 anos de história, em todas as suas nuances e particularidades que compõe seu quadro histórico não nos parecia, como de fato ocorreu, tarefa fácil. A idéia, porém, nos emocionou e nos induziu ao trabalho, que foi muito maior do que esperávamos. Por diversas razões, entre elas uma certa indisposição de muita gente do rádio em colaborar, numa atitude mista de desânimo e descrédito, quanto às vantagens práticas do nosso trabalho. Evidentemente, não contamos a história em todos os seus detalhes nem ouvimos todas as pessoas que teriam coisas para contar e opiniões para expor sobre esse fantástico meio de comunicação que é o rádio. Embora não contando com sufuciente apoio por parte de algumas emissoras foi, todavia, a reprodução das principais linguagens do rádio maringaense até hoje. No que se refere às quatro primeiras emissoras, está aqui parte de sua história, suas funções e um panorama de sua origem e evolução, seus “casos” e seu futuro, na medida em que o próprio rádio foi assumindo com vigor suas responsabilidades e seus esforços na vida maringaense, acompanhando sua evolução. Estou certo de que o rádio maringaense merece todo esse trabalho e ainda muito mais, pois sua força e sua importância podem ser sintetizados no pensamento de Sangirardi: “Dai-me três grandes emissoras, meia dúzia de discos de marchas militares, liberdade para 183


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agir e, em doze horas, faço uma revolução”*. Isto porque o rádio entra na intimidade de todos os lares, argumenta, convence e chega até mesmo a criar hábitos artificiais fazendo com que o indivíduo masque goma ou tome refrescos com um gosto próprio. Desempenhou e ainda continua desempenhando papel de grande importância num país e numa região de distâncias imensas e vias de comunicação deficientes; anula o tempo, elimina estas distâncias, arranca do isolamento lugarejos afastados, une os centros urbanos aos rurais, levando-se ainda em conta a grande perecentagem, de analfabetos “que não sabem ler mas sabem ouvir”. Finalizamos agradecendo a postura de todos quanto participaram deste trabalho embora nunca tivesse a intenção de esgotar um assunto tão relevante. Contudo, se o rádio continuar despertando seu interesse ou se esta matéria consagrar a inesgotável potencialidade deste veículo de comunicação, nosso objetivo estará atingido e estaremos muito felizes por nossa participação. Mas foi sobretudo pensando em Maringá que escrevemos estas linhas pondo parte de sua história diante dos olhos e dentro do coração.

Geraldo Altoé

*Revista Publicidade & Negócios, dezembro/48, p.51 184


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