Dossiê sobre as violações do Direito ao Esporte e à Cidade

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Remo estão, mais uma vez, ameaçados: o governo estadual reivindica a área para a realização de obras necessárias à Olimpíada, sem garantir, no entanto, o retorno de todos após os Jogos. “De acordo com eles, o espaço pertence à firma permissionária. Ela é quem pode garantir que o espaço seja devolvido. Foi então reivindicado que a firma deveria solicitar a área garantindo o retorno, já que o contrato [de permissão de uso] exige a existência do remo. Nada foi feito, nada foi concluído. As conversas continuaram, e em nenhum momento foi feito um documento que nos garantisse o retorno. O interesse primordial é o seguinte: saiam! Não tem garantia de volta. E para quem ficará essa área aqui do remo? Fica a pergunta”, diz Oliveira. Já o Centro de Treinamento de Remo, instalação obrigatória para recepcionar atletas em campeonatos mundiais, deve ser deslocado para o Parque Olímpico, a 22 km do Estádio de Remo. “Centro de Treinamento de Remo na Lagoa? Nem pensar. Eles querem a mudança para a Barra da Tijuca. Deixamos os barcos aqui na Lagoa e fazemos os exercícios lá. Isso não faz sentido, porque aqui é o Centro de Remo – inclusive foi projetado para isso, para ser um centro náutico, e não só um estádio”, diz Zelesco. Com isso, é pouco provável que o Rio receba outros campeonatos mundiais para além do evento-teste ocorrido neste ano, com prejuízo também para os atletas brasileiros. Enquanto o esporte é prejudicado, a Glen e seu empreendimento comercial parecem ter seus interesses assegurados. Mesmo com as rigorosas exigências de segurança do COI, o complexo de entretenimento deve permanecer aberto ao público durante as competições. É o que afirma uma nota de 1º de fevereiro de 2015 do jornal Extra, que classifica o Lagoon como uma das grandes dores de cabeça para os responsáveis pela segurança dos Jogos Rio 2016, já que a falta de controle nos acessos torna o espelho d’água “altamente vulnerável”. Para Zelesco, “a intenção é manter tudo como está. Passada a Olimpíada, o Estádio continua sendo cedido para o permissionário, e ele continua explorando esta área. O Remo permanece sem legado, como ficou sem legado no Pan. Não teremos novas garagens, não teremos novos usuários que queiram praticar o esporte”. O projeto de arquibancada temporária flutuante também é visto com desagrado e desconfiança por atletas e usuários, os quais acreditam que ela esteja sendo planejada para não atrapalhar as atividades econômicas da Glen, aos custos do dinheiro público e do patrimônio ambiental da Lagoa Rodrigo de Freitas – o que também motivou o início de uma investigação pelo MPE-RJ. Inicialmente projetada por R$ 30 milhões, a arquibancada já tem o orçamento previsto de R$ 120 milhões, e sua capacidade foi reduzida de 10 mil para 4 mil 34


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