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Revista JMx A Arte de Não Deixar Para Depois
from Revista JMx 46
A Arte de Não Deixar Para Depois
Por trás da dor e da espera, um convite para viver o agora
Depois é uma palavra traiçoeira. Parece inofensiva, mas guarda um peso enorme: o de tudo que adiamos e acabamos perdendo. Afinal, quanto da sua vida você já deixou para “resolver depois”? Quantas oportunidades, abraços, palavras ou gestos ficaram aprisionados nessa ilusão de que teria mais tempo?
Lucas, meu antigo amigo de infância, sabia que deveria ligar para seu pai — a relação entre os dois havia esfriado ao longo dos anos. “Depois eu resolvo isso”, foi o que disse a si mesmo tantas vezes. Até que o dia chegou... mas não do jeito que ele esperava. O pai partiu sem que houvesse tempo para pedir desculpas ou reconciliação. Lucas aprendeu, da forma mais dura, que o “depois” pode nunca chegar.
E você? Consegue perceber o que está perdendo ao carregar o peso do adiamento?
O quando importa mais do que o quê Às vezes, mudar de vida não exige muito – apenas coragem. Mas coragem, ah, essa bendita, não nasce fácil. Vivemos achando que o momento certo sempre é mais tarde: depois que a crise passar, depois que tivermos tempo, depois que a saúde gritar por socorro. Enquanto isso, o que nos escapa pelas mãos é a vida –esse sopro breve que insiste em nos pedir pressa.
Eu sei, nada disso é simples. Só quem perde algo — ou alguém — sabe o peso de uma ausência. Recentemente, duas grandes ausências fizeram o mundo parar
para mim: minha madrinha e uma amiga de longa data. A perda delas foi um golpe no peito, mas também abriu uma janela. Porque perdas sempre nos escancaram as verdades que evitamos olhar: não precisamos esperar o caos para enxergar o essencial. Podemos – e devemos – mudar agora. Antes da dor. Antes do colapso. Antes que seja tarde.
Enquanto você lê este texto, pergunte-se: por que estou esperando para viver algo que posso transformar hoje?
A miudeza que transforma
E aqui está uma das maiores artes da vida: perceber que as maiores transformações não vêm com explosões, mas com gestos mínimos.
Cuidar da saúde, por exemplo, não é só reagir à dor quando ela chega, mas proteger o corpo antes que seja tarde. Faço questão de lembrar de Maria, uma senhora que conheci em um hospital. Ela dizia: “Eu sabia que precisava caminhar mais, ir ao médico, largar o cigarro. Mas sempre achei que teria tempo.” A vida deu o alerta: um infarto mudou sua percepção por inteiro. Enquanto contava sua história, o arrependimento brilhava em seus olhos, mas também o desejo de passar sua lição a quem pudesse ouvir.
São esses gestos – tão simples, tão “pequenos” – que guardam um potencial extraordinário. É na miudeza dos atos que reside a imensidão das mudanças.
• Quando foi a última vez que você parou o trabalho para assistir ao pôr do sol?
• Sentiu a intensidade de um abraço?
• Ou pegou o telefone para resgatar uma amizade esquecida?
Porque o tempo nos ensina esta dura
verdade: é mais fácil reconstruir pontes hoje do que lamentar ruínas amanhã.
A vulnerabilidade é força, o agora é tudo
Nosso maior erro? Acreditar que seremos amados pelas máscaras que vestimos. Mas o coração só se preenche quando está alinhado à nossa essência. Não adianta trabalhar até o limite da exaustão ou medir o valor da nossa vida pelos números no contrachequ
e. Profissões definem carreiras, não pessoas. Títulos caducam. O que nos define é o que amamos, o que nos toca, o que damos ao mundo de pura generosidade.
E sabe o que há de mais bonito nisso tudo? Não precisamos de perfeição para começar. Ninguém é 100% corajoso, e tudo bem. A felicidade não é uma linha de chegada — ela é lampejo, caminho. Temos apenas que dar o primeiro passo, mesmo com medo, mesmo inseguros.
Ação: um convite imediato
Antes que você termine de ler este texto, faço um convite: escolha uma única coisa que você tem adiado há meses. Uma ligação. Uma caminhada. Uma conversa sincera. Não algo grandioso — comece pelo pequeno. Esse pequeno passo é capaz de redefinir longas jornadas.
• Talvez seja o “eu te amo” que ficou preso na garganta.
• Ou uma amizade esquecida que você precisa resgatar.
• Ou até mesmo a decisão de simplificar sua própria vida.
Pegue sua urgência e transforme-a em
movimento. Respire fundo. Dê o primeiro passo. Porque a eternidade não existe — o que temos é o agora.
Conclusão: pequenos passos, grandes jornadas
Lucas aprendeu da forma mais dura que a eternidade é ilusão. Maria descobriu, entre dores, a força da mudança em gestos miúdos. E todos nós precisamos lembrar que a procrastinação é um ladrão sorrateiro: ela rouba não apenas o tempo, mas a essência, os encontros, os momentos únicos.
A vida é uma bifurcação constante. Toda escolha que adiamos pode ser uma história interrompida. Mas há beleza nas decisões que transformam. Porque, no fim, felicidade é isso: um punhado de pequenos passos no momento certo.
E o momento certo? Você já sabe… é agora.
advwagner1212@gamil.com
Autor: Wagner Lourenço, advogado e escritor
