Balaclavas e os Profetas do Caos

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“Fica tranqüilo, cara, eu não vou escrever isso no livro, te juro”. “Valeu, mesmo. Eu ficaria com vergonha, de verdade”. Porcão e Aline terminavam de bocejar enquanto eu tentava manter o controle e não despedaçar a imagem de moço crescido de Igor. Mas ele mesmo se deu ao trabalho: “Pessoal, olha só, antes de mais nada eu queria informar que eu mijei nas calças, molhei o colchão, tá certo?!”. “Tudo bem, Igor, eu faço isso direto”, tentou apaziguar, Porcão. “Sério?”, animou-se. “Não”, e desatou a rir da façanha de Igor. “Aaahhh, deixa ele, eu dormi do lado dele e não ligo”, Aline é um encanto, sem mais. “Ainda bem que existe a compreensão feminina, nénão Igor?!”, falei enquanto tentava controlar os espasmos de Porcão. Logo que Aline começou sua cerimônia matinal de feitura do café turco, Igor e Porcão iniciaram as discussões sobre os detalhes do Food Is Not Bombs. Era apenas uma conversa informal, já que Douglas ainda não havia chegado e sem ele não se pode efetuar uma Assembléia Geral. Pessoas de fora, como eu, tem absoluta liberdade pra acompanhar e palpitar nas Assembléias, mas sem direito a voto. Apesar que, até agora, todas as decisões foram tomadas através de concessões e consensos entre juízos divergentes, sem ter havido a necessidade do sufrágio, o que transforma os “agregados” em importantes peças administrativas. No mais, ainda era possível sentir o cheiro de amônia emanando das calças de Igor enquanto ele concatenava a arquitetura do novo banheiro. Porcão tomou o posto de Chef, e eu

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