Balaclavas e os Profetas do Caos

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de uma motocicleta indicando que um vigilante patrimonial rondava a região — poucos segundos depois ele surgiu duas esquinas a frente. Com o visor do capacete levantado nossos olhares chegaram a se tocar, eu caminhava ressabiado até o poste despistando minhas intenções, mas nenhuma troca de sutilezas foi perceptível, pelo menos de minha parte. Sem viva alma na rua o trabalho foi rápido, e assim mais uma mensagem libertária recebia sustentação. Duas quadras abaixo encontrava-se nossa próxima parada, a UEPG. Preparei a placa feita exclusivamente para a instituição e amarrei-a em frente à saída dos fundos: um Guevara com feições de caveira, orelhas de Mickey e língua de fora, com uma seta apontando diretamente para a universidade - Revolucionários de Sofá e Intelectuais de Gabinete. Foi um desenho que demandou um empenho razoável, e muito tempo de concentração. Além do mais, essa era uma mensagem especial, pois eu me incluo entre seus alvos, e em todo os âmbitos. É praticamente uma meta-crítica, inclusive quando se pensa em intelectuais de sofá e revolucionário de gabinete. Por sorte essa jornada toda me rendeu algumas lições... Afinal, o mundo seria um lugar muito melhor e mais bonito se as pessoas cultivassem com mais carinho o autodesprezo. “E qual a boa agora? Quantas ainda tem aí?”, o sono estava vencendo meu escudeiro. “Tem bastante ainda, cara, mas vamo mandar mais duas por aqui mesmo”, a claridade já rompia o asfalto e apenas entre as sombras era possível ter a ilusão de evadir-se do alvor. “Vamos ali embaixo que eu já enfio o arame nas duas e boa!”, pretensão concretizada com sucesso. Em frente à entrada lateral da UEPG outro recadinho inocentemente promíscuo — “Permitido Orgasmos”. Do outro lado da Riachuelo, em frente ao ministério público e exatamente em

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