Um dia david nicholls (1)

Page 123

— Não abuse da sorte, Dex — replicou Emma, passando a ponta dos dedos no cabelo. Depois olhou para onde Tilly e o novo marido posavam para fotografias. Tilly toda coquete, abanando um leque em frente ao rosto. — Infelizmente eu não sabia que o tema era a Revolução Francesa. — O estilo Maria Antonieta? — comentou Dexter. — Bom, pelo menos já sabemos que vai ter bolo. — Acho que ela vai percorrer o caminho até a recepção num tílburi. — O que é um tílburi? Os dois se entreolharam. — Você não mudou nada, não é? — perguntou Emma. Dexter chutou o cascalho. — Mudei, sim. Um pouco. — Agora você me deixou intrigada. — Eu conto mais tarde. Olha... Tilly estava no estribo de um Rolls-Royce Silver Ghost que a transportaria pelos cem metros até a recepção, o buquê nas duas mãos, pronto para ser atirado como um porrete. — Não quer arriscar a sorte, Em? — Não vai dar — respondeu, botando as duas mãos para trás das costas quando o buquê foi jogado na multidão e apanhado por uma tia franzina e mais velha, o que de certa forma pareceu enfurecer as outras convidadas, como se a última chance de alguém ter um futuro feliz tivesse sido desperdiçada. Emma fez um sinal de cabeça para a constrangida tia, o buquê caído na mão, sem animação. — Aquela sou eu daqui a quarenta anos — comentou Emma. — É mesmo? Quarenta anos? — replicou Dexter, e Emma pisou com o salto do sapato no pé dele. Por cima do ombro, Dexter viu Sylvie ali perto, procurando por ele. — É melhor eu ir. Sylvie não conhece quase ninguém. Recebi ordens expressas de não deixá-la sozinha. Depois venha dar um oi para ela, tá? — Daqui a pouco. Agora preciso ir falar com a noiva feliz. — Pergunte sobre o depósito que ela te deve. — Você acha mesmo? Logo hoje? — A gente se vê depois. Talvez a gente consiga sentar perto um do outro na recepção. — Fez um sinal com os dedos cruzados, e Emma fez o mesmo. A manhã nublada dera lugar a uma linda tarde, com nuvens altas rolando pelo imenso céu azul. Os convidados seguiram o Silver Ghost em procissão até o grande salão para o champanhe e os canapés. Ali, com um grande “Oba!”, Tilly afinal viu Emma e as duas se abraçaram da melhor maneira que puderam, afastadas pela grande saia rodada. — Que bom que você veio, Em! — Claro que vim. Você está linda. Tilly abanou o leque. — Não acha meio exagerado? — De jeito nenhum. Você está deslumbrante — e olhou de novo para a pinta, que dava a impressão de ser uma mosca pousada no lábio dela. — A cerimônia também foi muito bonita. — Ahhh, é mesmo? — Era um antigo hábito de Tilly iniciar cada frase com um simpático “ah”, como se Emma fosse uma gatinha com a pata machucada. — Você chorou? — Como uma órfã... — Ahhh! Estou tão contente por você ter vindo. — Bateu com o leque no ombro de Emma numa postura real. — E mal posso esperar para conhecer o seu namorado. — Bem, eu também, mas infelizmente não tenho namorado. — Ahhh, é mesmo? — É, e já há um bom tempo. — É mesmo? Tem certeza? — Acho que eu teria notado, Tilly. — Ahhh! Sinto muito. Então você precisa arranjar um! E RÁPIDO!!! Não, é sério, namorados são um barato! Marido é melhor ainda! Precisamos encontrar alguém para você! — declarou. — Hoje mesmo! Vamos dar um jeito em você! — e Emma sentiu sua cabeça ser verbalmente afagada. — Ahhhhh. Então! Já falou com o Dexter? — Rapidamente. — Já conheceu a namorada dele, com a testa peluda? Ela não é linda? Parece a Audrey Hepburn. Ou será a Katharine? Nunca lembro qual é qual. — Audrey. Definitivamente ela é uma Audrey.

À medida que o champanhe fluía, uma sensação de nostalgia se difundiu pelo Grande Salão, com velhos amigos se reencontrando e a conversa girando em torno de quanto as pessoas ganhavam agora e quanto tinham engordado.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.