Esperando por Doggo - Mark B. Mills

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CAPÍTULO VINTE E Q UATRO Tenho de carregar Doggo no colo até o apartamento de Edie. — Que estranho, ele parece pesar o dobro do normal. São as primeiras palavras que consigo dizer desde que o táxi nos pegou no hospital. Não consigo imaginar o que o taxista pensou da gente — Edie e eu num silêncio melancólico no banco de trás, ombro a ombro, com Doggo esticado sobre o nosso colo como um cobertor de piquenique. Doggo ganha o sofá e o filé que Edie tinha planejado fazer para seu próprio jantar. Estou morrendo de fome e, como ele se recusa a comer, mostro o que esperamos dele. — Ei — Edie me dá uma bronca. — Posso fazer alguma coisa para a gente. Eu ganho suflê de queijo com salada, que comemos à luz de velas na pequena mesa circular de jantar. — Eu nunca tinha visto alguém morrer antes — Edie finalmente diz. — Nem eu. — Coloco o garfo sobre o prato. — Mas não pareceu que ela estava morrendo, era como se ela tivesse saindo flutuando para outro lugar. — Como um balão. — Como se ele tivesse dado um empurrãozinho e ela foi embora. Edie olha para Doggo enroscado no sofá. — Acho que não devemos tirá-lo daí, não esta noite. — Não? — Fiquem — ela sugere. — Posso dormir no sofá com ele. Você tem um cobertor? — Desculpe, não tenho mais nenhum cobertor. Você vai ter de vir comigo. — Ela sorri. — Prometo que não vai ter mão boba. — Se o Tristan descobrir... — Ele não vai. E é uma chance para ajustarmos o nosso pitch para o carro. Do qual, com os acontecimentos das últimas horas, eu tinha me esquecido completamente: vamos apresentar nossa ideia para o comercial de TV do Vargo para Ralph e Tristan amanhã à tarde. Ficamos deitados ali de costas na escuridão, ela de camiseta e calcinha, eu de cueca samba-canção (e sem camisa porque não quero que amasse, já que tenho de usá-la de novo amanhã). E discutimos mesmo o nosso pitch e o refinamos, criando algumas frases adicionais do tipo que Tristan gosta. Não é tarde, mas estamos acabados, e posso sentir que estou caindo no sono. Tento ficar acordado para aproveitar ao máximo esse momento e a intimidade estranhamente contida de ficarmos olhando para o teto juntos. — Fiquei feliz de ter dado certo. — O quê? — Ela pergunta. — O emprego. — Eu também. Todo mundo está. Todo mundo gosta de você. — A não ser a Megan. — Verdade. — Ela me pediu a gravação ontem — conto.


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