enfrentar algo tão grandioso? É o poder da própria Luz! — Você é a Guardiã, Jael! Você pode! Ela desceu do cavalo e caminhou até a borda da colina. Ficou lá a observar em silêncio a nuvem que parecia em chamas. — Jael? – Nathan chamou após alguns segundos. — Você vai comigo, Nathan? – ela perguntou sem se voltar. Ele desceu do cavalo e foi ficar ao lado dela. Nathan pegou-lhe a mão e apertou-a com firmeza. — Foi para isso que eu vim com você, menina. Ela concordou com um breve gesto de cabeça. O olhar extremamente grave, que o fez se lembrar de Deborah antes de usar o poço no deserto. Ela foi até Solaris e pegou o arco, a aljava cheia de flechas, um odre cheio de água e os pendurou nas costas. Ela afagou o animal com certa solenidade. — Eu voltarei logo, amigo. — Por que não aguarda o amanhecer? – ele perguntou. — Eu estou com medo, mas existe algo mais forte do que isso ardendo dentro de mim, Nathan. Eu sinto o chamado da montanha. Sinto-me atraída por aquela nuvem como a chuva é atraída para a terra. Ela passou por ele decidida e pronta para qualquer desafio. Nathan pegou uma bolsa com algumas coisas que podiam precisar e a seguiu, alguns passos atrás. Deborah caminhava pelas ruas à noite e notava com interesse a movimentação diante do anfiteatro ao lado do templo. Era lá que aconteceria, pela manhã, o sacrifício anual. Diziam que Atalia havia preparado algo especial para aquele ano. Deborah não queria ir. Não queria ver as terríveis cenas que, com certeza, iriam se desenrolar diante de seus olhos. Mas era-lhe necessário ver até que grau de maldade o ser humano poderia chegar, quando dominado pelas trevas da ignorância. Observando a fachada escura e lúgubre do templo, ela não pode evitar a comparação com o santuário de Shilloh, com o jardim bem cuidado que exalava o perfume agradável de várias flores. O Pai estava em Shilloh, mas sua entrada havia sido barrada em Salema. Não podia ser por força ou através de armas que aquela situação mudaria. O caminho tinha que ser outro. Ela voltou para casa e encontrou Silas guardando a mercadoria que havia chegado naquela noite. Ela foi ajudá—lo. — Vai mesmo amanhã? – ele perguntou. – Não vai gostar do que vai ver. Ela riu e balançou a cabeça com certa amargura. — Por que se preocupa? Essa não é a “festa anual” da cidade? O povo não se regozija nesse dia? Ele a encarou com seriedade. — Não pessoas como nós, Deborah!