TCC arqurbuvv NOVO GALPÃO DAS PANELEIRAS

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NOVO GALPÃO DAS PANELEIRAS

JULIANA PEGORETTI


UNIVERSIDADE VILA VELHA ARQUITETURA E URBANISMO

JULIANA DE CAMPOS PEGORETTI

NOVO GALPÃO DAS PANELEIRAS

VILA VELHA 2021


JULIANA DE CAMPOS PEGORETTI

NOVO GALPÃO DAS PANELEIRAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Universidade Vila Velha como pré-requisito do Programa de Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Prof. Dra. Érica Coelho Pagel.

Parecer da Comissão Examinadora em 24 de novembro de 2021:

APROVADA___________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ ___________________________________________________


RESUMO Embora o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras tenha sido a primeira manifestação cultural brasileira a ser submetida ao Registro de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, a prática cultural não detém de espaços apropriados para garantir sua manutenção ao longo do tempo. Dessa forma, o presente trabalho propõe a requalificação do Galpão das Paneleiras de Goiabeiras – o qual é composto pelo edifício e pela área urbana adjacente – a fim de proporcionar uma melhor estrutura aos produtores das panelas e promover a valorização cultural pela sociedade. Para isso, foram feitas pesquisas bibliográficas, em bancos de dados e estudos de campo para compreender a atual dinâmica por trás deste bem imaterial. A partir disso, desenvolveu-se um projeto no qual, por meio da arquitetura vernacular, buscou-se utilizar o próprio barro utilizado como matéria-prima das panelas também na arquitetura, com o intuito de valorizar tanto a experiência da visitação quanto o Patrimônio Imaterial. Durante a produção do trabalho, foi possível concluir que, diferentemente das unidades arquitetônicas definidas com Patrimônio Cultural Material por meio do Tombamento, há ainda uma incompreensão quanto ao papel da arquitetura no processo de preservação do Patrimônio Cultural Imaterial do país. Palavras-chave: Paneleiras de Goiabeiras. Patrimônio Imaterial. Panela de Barro. Arquitetura Vernacular.


ABSTRACT Although the Ofício das Paneleiras de Goiabeiras was the first brazilian cultural event submitted to the Registry of Intangible Cultural Heritage in Brazil, the cultural practice doesn’t have appropriate spaces to guarantee its maintenance over time. Thus, this work proposes the requalification of the Galpão das Paneleiras de Goiabeiras – which is made up of the building and the adjacent urban area – in order to provide a better structure to the producers and promote cultural appreciation by the society. For that, bibliographical reseraches were carried out, also in databases and fiel studies to understand the current dynamics behind this immaterial asset. From this, a project was developed in which, through vernacular architecture, the clay used as a raw material for the pans was also used itself in the architecture, with the aim of enhancing both the visitation experience and the Intangible Cultural Heritage. Along the production of this work, it was possible to conclude that, unlike the architectural units defined as Material Cultural Heritage by Listing, there is still a gap of understanding the role of architecture in the process of preserving the Brazilian Intangible Cultural Heritage.

Keywords: Paneleiras de Goiabeiras. Intangible Heritage. Panela de Barro. Vernacular Architecture.


SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................7 2 O OFÍCIO DAS PANELEIRAS DE GOIABEIRAS.........................................10 2.1 UM PATRIMÔNIO IMATERIAL....................................................................10 2.2 RAÍZES DO OFÍCIO E O PROCESSO DE PRODUÇÃO............................16 2.3 OS ESPAÇOS DE PRODUÇÃO..................................................................23 3 DIAGNÓSTICO...............................................................................................29 3.1 O BAIRRO DE GOIABEIRAS......................................................................29 3.2 O TERRENO................................................................................................31 3.3 O GALPÃO..................................................................................................36 4 PROPOSTA PROJETUAL.............................................................................43 4.1 O EDIFÍCIO DO GALPÃO...........................................................................45 4.2 A ÁREA PÚBLICA.......................................................................................59 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................63 REFERÊNCIAS.................................................................................................66


1. INTRODUÇÃO A extensão territorial e a miscigenação de povos que ocorreu durante seu processo de formação são os principais fatores da rica diversidade cultural do Brasil. A dominação dos indígenas pela colonização europeia e a vinda de africanos para atender ao sistema da escravatura resultou em complexas relações político-sociais que originaram costumes e tradições de enorme singularidade, os quais foram materializados na vestimenta, culinária, ideologias religiosas, celebrações, arquitetura, entre outras manifestações culturais por todo o território brasileiro. Dessa forma, além de apresentar uma natureza exuberante, uma diversidade de ecossistemas e uma rica fauna e flora, o Brasil ainda é leito de inúmeros patrimônios históricos e costumes plurais, o que desperta a curiosidade de milhares de pessoas ao redor do país e do mundo. Nesse sentido, nota-se um grande potencial para o desenvolvimento do setor turístico nacional, que segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2015, representa 7,54% do PIB brasileiro. O Espírito Santo, por sua vez, também apresenta um cenário de grande potencial turístico – como o turismo religioso, histórico, cultural, ecológico, náutico e esotérico – de forma que, segundo dados do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), foi a unidade da federação que apresentou maior índice de crescimento no volume de atividades turísticas em 2017. Dentre os símbolos culturais do estado, tem-se como destaque a panela de barro, que além de ser a maior representação do artesanato local acompanha os pratos típicos da moqueca e da torta capixaba, símbolos da culinária estadual reconhecidos nacionalmente. O processo de produção das panelas de barro é tão especial quanto o próprio objeto, de maneira que, em 2002, foi declarado como o primeiro Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), inaugurando, assim, o instrumento de Registro ao ser inscrito no Livro dos “Saberes” (SOUZA, 2016). Ao ser oficializado como patrimônio nacional, o ofício das paneleiras tornou-se alvo do plano de salvaguarda do Governo, que visa a acompanhar as atividades e intervir nas condições de produção, comercialização e promoção das panelas de barro. Dentre as ações realizadas até então, tem-se a reforma do Galpão das Paneleiras em 2011, que foi inicialmente implantado pela Prefeitura de Vitória


em 1988 para a produção e comercialização das panelas e precisou passar por inúmeros ajustes estruturais ao longo do tempo (SOUZA, 2016). Além disso, a área no entorno do Galpão passou por um serviço de urbanização em 2018 ao receber infraestrutura, drenagem, pavimentação, iluminação, plantio de árvores e realocação de postes com o intuito de melhorar o conforto e a segurança do trabalho das artesãs e aprimorar a experiência dos turistas e visitantes (FOLHA VITÓRIA, 2018). Todavia, conforme visitas ao local, a área apresenta péssimas condições de manutenção, com poluição residual e visual, partes da intervenção inacabadas, difícil acesso e pouca sinalização. Além disso, segundo relatos de paneleiras, o galpão não atende mais à quantidade de artesãs que precisa usufruir do local, sendo necessário promover um rodízio que pode prejudicar a produção individual de cada um. Vale ressaltar, que segundo dados do IBGE (2020), o índice de atividades turísticas despencou 36,7% em 2020 no Brasil, como consequência da Pandemia de Covid-19, afetando direta e indiretamente as atividades e as pessoas dependentes deste setor econômico. Ademais, associada a queda no número de turistas e na venda de panelas, as paneleiras relataram ao jornal A Gazeta (2020) que muitas das artesãs pertencem ao grupo de risco da doença pelo fator idade, o que as impede de sair de casa para trabalhar dificultando ainda mais a preocupante situação. Pretende-se, portanto, como objetivo deste trabalho, propor o desmonte total do atual Galpão das Paneleiras e um novo projeto a nível de estudo preliminar para o edifício e para a área urbana em seu entorno. Como norteadores de projeto foram consideradas técnicas construtivas que resgatem e valorizem a cultura indígena - que foi de certa forma negligenciada na atual arquitetura do edifício. Propõe-se, também, a ampliação de estações de trabalho para atender à demanda de pessoas vinculadas ao ofício, além do acréscimo de espaços que proporcionem integração com a população e desenvolvimento de atividades alternativas de renda para as paneleiras. Por fim, propõe-se uma reestruturação da área urbana que serve de apoio às atividades desenvolvidas no Galpão, com o objetivo de promover a manutenção da produção e valorizar as potencialidades socioeconômicas da região, visando ao fomento da atividade turística e até mesmo ao reconhecimento da identidade cultural pelos próprios capixabas.


De modo a alcançar os objetivos propostos, utiliza-se como metodologia principal pesquisas bibliográficas e documentais, levantamento em banco de dados e estudos de campo a fim de analisar o histórico, o contexto atual e as possíveis intervenções a serem feitas em tais espaços.


2. O OFÍCIO DAS PANELEIRAS DE GOIABEIRAS Primeiramente, conhecer a dinâmica por trás do Ofício das Paneleiras de Goiabeiras – como suas origens históricas, o processo de produção dos artefatos e a evolução dos espaços de produção – é fundamental para compreender o que o tornou o primeiro Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, assim como será apresentado nesta sessão do presente trabalho. 2.1 UM PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL De acordo com o art. 216 da Constituição Federal Brasileira (1988) Patrimônio Cultural corresponde a bens – sejam eles palpáveis ou intangíveis – que fazem referência à identidade e às memórias dos diversos grupos que compuseram a atual sociedade brasileira como por exemplo, formas de expressão, criações artísticas, edificações e manifestações culturais. O artigo define que tais bens devem ser protegidos e resguardados pelo poder público em conjunto com a população, seja por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento, desapropriação, ou qualquer outra forma de preservação. Segundo o IPHAN, o Patrimônio Cultural é dividido em duas esferas, sendo uma de natureza material e outra de natureza imaterial. O Patrimônio Cultural Material foi definido pelo decreto lei n° 25/1937 como “conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”. A lei institui que as obras correspondentes a essa esfera do Patrimônio Cultural devem ser inscritas em um dos quatro Livros do Tombo, sendo eles: (I) Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, para as coisas pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular; (II) Histórico, que abrange as coisas de interesse histórico e as obras de arte histórica; (III) das Belas Artes, que corresponde às coisas de arte erudita, nacional ou estrangeira; e (IV) das Artes Aplicadas, que engloba as obras da categoria das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras (IPHAN, 2021). O Patrimônio Cultural Imaterial, por sua vez, corresponde às “práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as


comunidades, os grupos e, em alguns casos os indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural" (UNESCO, 2003). Diferentemente do Patrimônio Material, o qual deve ter suas características intactas a partir do tombamento, o Patrimônio Imaterial caracteriza-se pela possibilidade de mudanças e até mesmo de abandono por seus praticantes. Dessa forma, após a inclusão dos bens imateriais no conceito de Patrimônio Cultural pela Constituição Federal de 1988, fez-se necessária a criação de medidas de proteção adequadas a tais bens, uma vez que se caracterizam por um patrimônio vivo e em constante transformação (SOUZA, 2016). O processo de salvaguarda desenvolvido pelo IPHAN constitui-se de várias etapas executadas por diferentes órgãos. A primeira delas corresponde ao emprego da metodologia de Inventário Nacional de Referência Cultual (INRC), que consiste no levantamento de informações a respeito da manifestação cultural conforme o ponto de vista de seus próprios praticantes, o qual pode ser efetuado pelo IPHAN ou por um grupo qualquer de pessoas que desejarem o fazer por conta própria. Posteriormente, caso a prática em questão demonstre potencial de salvaguarda, deve ser inscrita em um dos quatro Livros de Registro, tornando-a, oficialmente, um Patrimônio Cultural Imaterial. Com isso, elabora-se um dossiê com as informações relevantes a respeito do bem registrado, com o intuito de compartilhá-las com a sociedade. Por fim, o IPHAN deve promover a revalidação do bem registrado a cada 10 anos, em virtude da possibilidade de as práticas serem abandonadas ou sofrerem alterações que as descaracterizem de sua essência original (SOUZA, 2016). Embora mencionado pela primeira vez na Constituição Federal de 1988, o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial foi instituído apenas em agosto de 2000 pelo decreto lei n° 3551, assim como a criação do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI), o qual tem a função de efetivar as determinações da legislação. O documento define que tal registro de bens imateriais deve ser feito em um dos seguintes livros: (I) dos Saberes, para conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades; (II) das Celebrações, para rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social; (III) das Formas de Expressão, para manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas;


e (IV) dos Lugares, para mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas. Atualmente, no Brasil, a lista de Registro de Patrimônios Imateriais compreende 49 bens (figura 1), tendo sido oficialmente inaugurada pelo Ofício das Paneleiras de Goiabeiras em dezembro de 2002 (IPHAN, 2021).


Figura 1 – Tabela de Patrimônios Imateriais do Brasil

Fonte: IPHAN, 2021. Elaborado pela Autora.


Nesse contexto, cabe analisar o processo de Registro do Ofício das Paneleiras de Goiabeiras a fim de identificar os fatores que o tornaram o primeiro Patrimônio Imaterial do Brasil e compreender a consolidação do conceito da “imaterialidade” no país. Durante a década de 1990, enquanto órgãos federais debatiam a criação de políticas de preservação direcionadas aos bens imateriais recém citados pela nova Constituição, o governo do Espírito Santo e a prefeitura de Vitória discutiam sobre a urgência de se proteger a fabricação das panelas de barro que ocorria em Goiabeiras. Dessa forma, medidas tomadas na esfera estadual e municipal ao longo da década facilitaram a definição do Ofício das Paneleiras de Goiabeiras como o primeiro Patrimônio Imaterial oficialmente registrado no Brasil. No início dos anos 90, a câmara dos vereadores de Vitória aprovou o projeto de lei de nº 70/1991 que instituiu o dia 07 de julho como o “Dia das Paneleiras” e determinou que nesse dia sejam realizados trabalhos didáticos referentes ao tema na rede municipal de ensino, com o intuito de promover o reconhecimento cultural pela nova geração de cidadãos vitorienses (SOUZA, 2016). Já em 1998, o aumento da comercialização de panelas de barro de outras localidades produzidas de maneira totalmente distinta comparada às Paneleiras de Goiabeiras despertou a urgência da proteção desses artefatos, os quais foram considerados alvo de falsificações. Dessa forma, criou-se o “selo de autenticidade” (figura 2) e passou a acompanhar as panelas fabricadas em Goiabeiras a fim de diferenciá-la das demais – fato que, consequentemente, contribuiu com o processo de formação da identidade das Paneleiras de Goiabeiras (CAMILLETI, 2007)


Figura 2 - Selo de Autenticidade das Paneleiras de Goiabeiras

Fonte: Folha Vitória Além disso, a prefeitura de Vitória oficializou o apoio à proteção da produção das panelas por meio da publicação do ofício nº 953/99, o qual afirmava que “Realizar o tombamento em nível estadual é o primeiro passo para que seja pleiteado o tombamento em nível nacional. Etapa que aguarda ainda a regulamentação pelo Ministério da Cultura, do processo de tombamento de Patrimônio Cultural Imaterial” (Prefeitura de Vitória, 1999, pg.4).

Diante desse trecho, nota-se o emprego impróprio do termo “tombamento” relacionando-o a um bem imaterial – no caso, o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras – uma vez que o instrumento de Registro foi instituído pelo IPHAN apenas no ano seguinte à publicação deste documento. Finalmente, em 2002, o Registro da prática foi realizado no Livro dos Saberes, o qual teve seu processo registrado em um parecer produzido pelo IPHAN que justifica tal decisão conforme a avaliação do bem cultural. O documento afirma que o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras apresenta características dignas de um Patrimônio Nacional, visto que contempla traços da tradição – como a forte integração com a população e com os ecossistemas locais – e atributos de representatividade cultural nacional – como a interrelação com as culturas nativas do país. É ressaltada, também, a relevância do ofício ao integrar-se a diferentes aspectos identitários capixabas como a culinária, a ecologia, a música e a dança.


Por conseguinte, em 2006, o dossiê que reúne as principais informações a respeito da prática cultural, adquiridas a partir da aplicação da metodologia do INRC, foi publicado pelo IPHAN. Já em 2021, o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras teve o título de Patrimônio Imaterial revalidado, como resultado de um processo executado por órgãos institucionais em conjunto com os próprios praticantes. Nesse sentido, faz-se importante compreender a origem das técnicas e quais são os processos que compõem a produção de panelas de barro em Goiabeiras, assim como será apresentado na próxima seção.

2.2 RAÍZES DO OFÍCIO E O PROCESSO DE PRODUÇÃO O processo de produção das panelas de barro no bairro de Goiabeiras, embora tenha passado por certas mudanças e adaptações ao longo do tempo, é um saber cultivado há séculos que vem sendo transmitido de geração em geração. Segundo estudos arqueológicos, a técnica cerâmica utilizada nesse processo se identifica como uma prática dos grupos indígenas nativos das Américas, como o Tupi-guarani e, principalmente, o Una – dos quais foram encontrados sítios arqueológicos cerâmicos no alto do Morro Boa Vista e nas proximidades do aeroporto de Goiabeiras (PEROTA, ROXEY, NETO, 1997). Embora existam vestígios da população Una datados de 2.500 anos, de acordo com as paneleiras, a tradição possui apenas pouco mais de 4 séculos – fato que pode ser explicado por se referir às primeiras décadas do estabelecimento de escravos africanos nos Espírito Santo, os quais absorveram as técnicas de produzir panela de barro das populações indígenas (DANTAS e CHAIA, 2002). O francês Saint-Hilaire, um dos maiores naturalistas do século XIX, visitou a região em 1815 e descreveu as panelas como “caldeira de terracota, de orla muito baixa e fundo muito raso”, utilizadas para torrar farinha e fabricadas “num lugar chamado Goiabeiras, próximo da capital do Espírito Santo” (SAINTHILAIRE, 1974). Ainda que não citado pelo europeu, há grandes chances de as panelas serem usadas para o preparo de frutos do mar desde aquela época, uma vez que, segundo os estudiosos da cultura capixaba, os sambaquis encontrados em diversos pontos do litoral do Espírito Santo revelam uma atividade milenar de coleta de frutos do mar (NEVES E PACHECO, 2002).


A prática cultural de produção das panelas de barro se caracteriza por um conhecimento passado de geração em geração por meio das figuras femininas da comunidade, sempre dentro do ambiente residencial e através da árvore genealógica da família. Atualmente, muitos homens também participam da produção, sendo a maioria nas etapas que demandam mais força física, como na extração dos recursos naturais do meio ambiente e no preparo do barro. Entretanto, como a maioria dos artesãos ainda é composta por mulheres e pela representatividade feminina ao longo da história da prática, este trabalho seguirá se referindo a todos os artesãos pelo termo “paneleiras”, flexionado, portanto, no gênero feminino. É indiscutível que a prática de fazer panelas de barro possui uma ligação intrínseca com o bairro de Goiabeiras, de modo que a região se tornou nacionalmente conhecida como o “território das Paneleiras”. Tal identidade geográfica deve-se, principalmente, ao fato de a maioria das matérias-primas utilizadas na produção das panelas ser proveniente do entorno natural do bairro, desde o barro até os instrumentos empregados no processo, fato que foi fundamental para a consolidação da prática nessa região. Nesse contexto, é possível inferir que os recursos naturais disponíveis nessa área não apenas asseguraram um espaço físico favorável aos artesãos, mas também os ajudaram a conquistar um espaço na sociedade (DIAS, 2006). A fixação geográfica destes grupos foi fundamental para demarcar e evidenciar sua existência social, o que promoveu, dessa forma, a manutenção e o reconhecimento de suas atividades ao longo do tempo. O processo de produção das panelas de barro exige tanto materiais e instrumentos específicos como certos conhecimentos que apenas pessoas envolvidas nesta atividade ou neste contexto detém. O modo como são feitos os utensílios representa a principal característica desse ofício cultural, de forma que as técnicas empregadas na produção se sobressaíram ao próprio objeto final – no caso, a panela de barro – se tornando, então, alvo de salvaguarda do governo ao serem definidas como o primeiro patrimônio cultural imaterial do Brasil. Os primeiros aspectos que tornam o processo tão especial é o fato de as panelas serem produzidas sem torno e sem forno: a modelagem dos objetos é feita


unicamente pelas mãos dos artesãos e a queima acontece em fogueiras a céu aberto (SOUZA, 2016). Outra característica peculiar das panelas de barro de Goiabeiras é o tipo de barro utilizado como matéria-prima que, por sua vez, apresenta uma composição especial no que diz respeito a sua funcionalidade e excepcionalidade. O material utilizado é formado “pela decomposição de rochas gnáissicas misturadas com feldspato, mica, argilitos, quartzitos, fragmentos de gnaisse e quartzo”, e retirado do Vale do Mulembá localizado em Joana D’Arc (figura 3), um bairro próximo a Goiabeiras. Tal composição resulta em propriedades químicas que beneficiam diversas etapas da produção dos artefatos: garantem fácil manuseio da massa fresca, apresentam secagem rápida, não racham durante o processo de queima e retém calor com facilidade, mantendo o alimento aquecido por mais tempo. Além disso, segundo pesquisa geológicas, esse composto argiloso é obtido apenas no Vale do Mulembá, não tendo sido encontrado qualquer material com propriedades semelhantes em outras regiões do Estado – o que, ao mesmo tempo que garante a singularidade das panelas de Goiabeiras gera uma preocupação com um futuro esgotamento deste recurso (DANTAS E CHAIA, 2002).


Figura 3 – Mapeamento Localização Galpão das Paneleiras x Vale do Mulembá

Dessa forma, por justificativas sustentáveis, a prefeitura de Vitória passou a controlar a extração da matéria-prima pelos mestres de ofício – esses que, até a década de 1980, tinham livre acesso ao Vale do Mulembá – ficando responsável também pelo transporte do material até o Galpão de produção. Devido a esse controle municipal, foi definida pela Associação das Paneleiras a escolha de determinadas pessoas para realizar a atividade de extração, os chamados “tiradores de barro”, que escavam com uma enxada uma profundidade aproximada de 1m do barreiro (figura 4), desempenhando, assim, a primeira etapa do processo de produção das panelas de barro (CAMILETTI, 2007).


Figura 4 – Atividade de Extração do Barro

Fonte: Marcos Vianna, 2001/IPHAN Em seguida, os “amassadores de barro” – geralmente os mesmos indivíduos responsáveis pela escavação – realizam a limpeza e o amolecimento do material, em que retiram os resíduos da massa, molham, pisoteiam e a dividem em esferas de, aproximadamente, 20kg cada (figura 5). As porções de barro são vendidas aos artesãos que realizarão a etapa da modelagem que, na maioria das vezes, preferem pagar pelo árduo serviço de preparo do barro (MUNIZ, 2014). Figura 5 – Atividade de Preparo do Barro

Fonte: Marcos Vianna, 2001/IPHAN A etapa seguinte consiste na produção do tanino – um pigmento natural avermelhado derivado da casca da árvore mangue-vermelho (Rhizophora Mangle), encontrada no manguezal ao lado do Galpão – o qual é aplicado nas panelas logo após a queima para impermeabilizá-las e atribuir a cor escura tão característica destes objetos. Para isso, os “casqueiros” retiram a casca das


árvores com um porrete, que em seguida são transformadas em lascas menores e deixadas na água de um dia para o outro (figura 6) (SOUZA, 2016). Figura 6 – Preparação do Tanino

Fonte: Luciana Cristina de Souza, 2013 Para a aplicação da tinta resultante utiliza-se vassourinhas de muxinga, feitas com galhos da planta rasteira nativa que também são encontradas no entorno da região. Vale ressaltar que a preocupação com o equilíbrio ambiental se estende a essa etapa do artesanato, uma vez que os casqueiros procuram retirar cascas de diferentes árvores a fim de garantir a manutenção natural desse recurso (figura 7). É constatado que, assim como a técnica de preparo do tanino, a preocupação com os elementos naturais também é um fundamento herdado da cultura indígena (PEROTA, DOXSEY, NETO, 1997). Figura 7 – Placa de Conscientização sobre a Extração do Tanino

Fonte: Geyza Dalmásio Muniz, 2014 Em seguida, se inicia a etapa da modelagem (figura 8) – ou “puxada”, como costumam se referir as artesãs – em que as paneleiras apoiam o barro em uma


tábua e o moldam com as mãos e com o auxílio de uma cuia proveniente do fruto não comestível do pé de coité. Após a definição do tamanho e da espessura do utensílio, a panela segue para secagem à sombra, que demora em torno de 4 horas com oscilações conforme as condições ambientais, levando menos tempo durante dias de sol e calor. Posteriormente, utiliza-se uma faca e um arco para dar acabamento à peça e acrescenta-se as alças da panela para que, assim, siga para sua segunda secagem. Vale pontuar que são produzidas panelas em diferentes formatos e tamanhos e que, apesar de serem identificadas como “paneleiras”, as artesãs também produzem outros utensílios tais quais cinzeiros, pratos e fogareiros, buscando sempre atender à demanda de seus consumidores (CAMILETTI, 2007). Figura 8 – Modelagem ou “Puxada” das Panelas

Fonte: IPHAN, 2006 Depois de secos os artefatos passam pelo alisamento, em que os artesãos utilizam seixos rolados de rios para promover a uniformidade e fechar os poros das peças. Após o acabamento, as panelas seguem para a etapa de queima, sendo dispostas em fileiras sobre um amontoado de grandes fragmentos de madeira e cobertas por peças menores (figura 9). Acende-se, então, uma fogueira a céu aberto que, assim como o processo de secagem, depende de aspectos climáticos como sol e vento para efetivar-se. Essa etapa também foi foco de uma adaptação de cunho sustentável, de forma que a madeira anteriormente retirada do mangue foi substituída por madeiras residuais de construções civis, por intermédio de um trabalho de conscientização do Ibama. Por fim, é aplicado o tanino sobre as panelas ainda quentes com o auxílio da


vassourinha de muxinga, na etapa que é comumente chamada de açoite, tornando os objetos prontos para a comercialização (MUNIZ, 2014). Figura 9 – Etapa de Queima das Panelas

Fonte: Giovanna Cava Camiletti, 2007. Há ainda uma última etapa que deve ser feita momentos antes do primeiro uso da panela, e que, portanto, é instruída aos consumidores por meio de um folheto para que o realizem por conta própria. A ação consiste em untar o utensílio com azeite de oliva e levar ao fogo até que todo o óleo seja consumido e uma fumaça escura seja liberada (CAMILETTI, 2007). Tal prática finaliza a experiência do consumidor com as Paneleiras de Goiabeiras de modo a aproximá-lo ainda mais de todo o processo artesanal da produção das panelas.

2.3 OS ESPAÇOS DE PRODUÇÃO Todo o processo artesanal supracitado se mantém fiel a suas etapas há centenas de anos, embora os espaços destinados à produção das panelas tenham se modificado à medida que o contexto socioeconômico do bairro de Goiabeiras se transformava. Pode-se afirmar que ao longo tempo construiu-se três espaços com diferentes características para o desenvolvimento do ofício das paneleiras, sendo eles: o espaço original do ambiente familiar; o espaço original do ambiente familiar adaptado ao bairro urbanizado; e o espaço do Galpão, o qual só foi conquistado por meio da constituição da Associação das Paneleiras de Goiabeiras (APG) (PIRES, 2016).


O contexto de produção das panelas de barro que precedeu a criação da APG caracterizava-se pela confecção e comercialização dos artefatos nas próprias casas ou quintais das artesãs, com um desconhecimento da quantidade total de mulheres que exerciam o ofício no bairro. As paneleiras descrevem que antes da urbanização de Goiabeiras, por volta da década de 60, grande parte das casas era feita de estuque e tinha quintais extensos que se uniam uns aos outros, uma vez que não apresentavam limites físicos. Dessa forma, formava-se um espaço de produção coletiva das panelas e, especialmente, de construção de laços sociais e familiares, em que a produção se alternava com as atividades domésticas e os conhecimentos eram passados de forma orgânica às novas gerações. À medida que a família crescia, novas casas eram construídas no mesmo quintal, intensificando cada vez mais as relações sociais da comunidade. A queima dos artefatos acontecia em fogueiras coletivas ao ar livre, e as etapas de modelagem eram preferencialmente executadas com as paneleiras sentadas ao chão (PIRES, 2016).

A partir de 1960, a cidade de Vitória passou por um processo de desenvolvimento urbano que construiu um cenário insustentável de produção das panelas. Ao mesmo tempo que a urbanização tornou o bairro de Goiabeiras mais acessível aos turistas e consumidores por meio de melhorias na infraestrutura, promoveu também uma pressão nos quintais residenciais existentes, uma vez que eram ameaçados pelo avanço imobiliário. Dessa forma, ao mesmo tempo que a comercialização das peças se intensificava e exigia um aumento na produção, os espaços de trabalho se tornavam menos acessíveis devido à valorização urbana local. Diante da maior concentração no número de residências no bairro, os quintais foram tomando proporções menores, o que prejudicou a produção coletiva e resultou no incômodo da vizinhança com a fumaça gerada pela queima das panelas – sendo esses, portanto, os principais fatores que impulsionaram a reivindicação de um espaço para produção à Prefeitura Municipal de Vitória (PMV) (DIAS, 2006).

Já na década de 1980, as paneleiras enfrentavam o risco de perda do acesso ao barreiro, de onde retiravam a matéria-prima, para a construção de uma Estação de Tratamento de Esgoto pela Companhia Espírito Santense de Saneamento


(CESAN) no Vale do Mulembá. Tal fato foi determinante para o início da articulação política interna dos artesãos para a criação da APG, que tinham como principal finalidade a tentativa de impedir a construção do empreendimento. Sendo assim, com a ajuda da PMV, na assessoria do processo de organização, e do IPHAN, que iniciaria a pesquisa para o Registro do ofício como Patrimônio Imaterial do Brasil, surge a Associação das Paneleiras de Goiabeiras em 25 de março de 1987 (PEROTA, DOXSEY, BELING NETO, 1997). Todo o processo burocrático para oficializar a instituição foi auxiliado por uma então vereadora, Etta de Assis, a qual foi responsável por elaborar o estatuto vigente na associação. Dentre os objetivos constantes citados pelo estatuto, encontra-se: “Construir sede própria, com um galpão para administração, depósito, comercialização e produção” (s/p APUD PEROTA, 1987). Tal necessidade consistia na principal exigência ao poder público pelas paneleiras, as quais reivindicavam mais espaço e melhores condições de trabalho, que proporcionariam o aumento da produção e o aprimoramento das técnicas empregadas no processo (SOUZA, 2016). Por conseguinte, em 1988 - um ano após a criação da APG - os artesãos conquistaram seu primeiro Galpão financiado pela PMV, que refletiu no aumento de pessoas interessadas em realizar o ofício e comercializar os artefatos. Todavia, o edifício apresentava alguns problemas como frequentes inundações, pouco espaço e a falta de uma área a céu aberto para realizar a queima das panelas, o que motivou uma reforma e ampliação (figura 10) em 1992 (SOUZA, 2016). Figura 10 – Galpão das Paneleiras de Goiabeiras em 1992

Fonte: IPHAN, 2006.


Já em 2009, as paneleiras ficaram instaladas em um galpão provisório (figura 11) em uma área cedida pela PMV, próximo ao Galpão original, até que um novo edifício fosse construído. “A estrutura provisória é feita em metal e cercada por placas de compensado de madeira, o piso é um misto de concreto bruto e chão batido, o que gera muita poeira no interior do estabelecimento. Sua área interna é de aproximadamente 500 m², onde ficam instalados 32 estandes individuais, feitos em madeiras com cerca de 6 m² cada” (CAMPOS, 2012, p. 23).

Figura 11 – Galpão Provisório das Paneleiras de Goiabeiras em 2009

Fonte: IPHAN, 2006.


O novo e atual Galpão (figura 12), entregue em novembro de 2011, foi construído pela PMV com verbas repassadas do Ministério do Turismo (CAMILETTI, 2007). Figura 12 – Atual Galpão das Paneleiras de Goiabeiras

Fonte: Luciana Cristina de Souza, 2013. Todavia, algumas paneleiras continuam produzindo em suas casas, sendo a maioria motivada pela falta de espaço suficiente no Galpão. Já outras optam por produzir no ambiente familiar para manter a tradição da mesma forma que lhe foi passada, e pela flexibilidade de intercalar a produção com as atividades domésticas (BELAS et al., 2015 apud PIRES).

Nesse sentido, foi constatado que as residências onde atualmente ainda são produzidas panelas de barro apresentam uma configuração espacial similar, revelando as adaptações consequentes da expansão urbana do bairro na década de 60. Os quintais anteriormente extensos hoje se caracterizam por pequenos pátios comprimidos por casa do próprio terreno e de terrenos vizinhos (figura 13). Já as casas de estuque foram substituídas por casas de alvenaria, que se multiplicaram à medida que as famílias cresciam (BELAS et al., 2015 apud PIRES).


Figura 13 – Espaço de Trabalho de Paneleira Doméstica

Fonte: Simone Campos Pires, 2016. Entretanto, um obstáculo encontrado pelas mulheres que mantém a produção no espaço doméstico é o ofuscamento de seus produtos pela grande visibilidade do Galpão. A estrutura urbana instalada e a divulgação realizada pela imprensa para o Galpão das Paneleiras excluem as produtoras domésticas da esfera socioeconômica que se constrói em torno do edifício, o que ao longo do tempo levou muitas artesãs a abandonarem o ofício (PIRES, 2016).


3. DIAGNÓSTICO Além de compreender a dinâmica do processo de produção das panelas, é importante também reconhecer os aspectos físicos e sociais da região em que essa manifestação cultural se desenvolveu e se concretizou. Para isso, é imprescindível a análise dos diversos elementos em diferentes escalas, desde o bairro de Goiabeiras; o terreno em que se localiza o Galpão e o seu entorno; e o próprio edifício atualmente em funcionamento – assim como será apresentado nesta sessão. 3.1 O BAIRRO DE GOIABEIRAS O bairro de Goiabeiras apresenta grande relevância na consolidação da prática cultural da panela de barro e na construção da identidade das Paneleiras. Assim como supracitado, a produção de panelas se estende por mais de 400 anos, o que certifica que está presente no bairro desde sua fundação e enraizada no imaginário da população local. Embora exista poucos registros históricos sobre o bairro, sabe-se que Goiabeiras passou por um lento desenvolvimento, em que o ofício das paneleiras se identifica como uma das únicas atividades que perdurou durante todo o processo (DIAS, 2006). No início do século XX, o bairro de Goiabeiras era composto por fazendas conhecidas pela produção de gado de corte e leite, com foco no abastecimento dos mercados de Vitória, Vila Velha, Cariacica e Santa Leopoldina (figura 14). Nesta época, a ocupação da região era considerada como periferia urbana, com o

território

majoritariamente

caracterizado

por

baixadas

cobertas por

manguezais, sendo seu ponto mais alto o Morro Boa Vista. O crescimento do bairro se intensificou com o fim da 2ª Guerra Mundial, quando surgiram as primeiras companhias de aviação no Brasil, as quais se tornaram proprietárias de uma parte de Goiabeiras onde, também, instalaram suas empresas. Assim, funcionários das companhias aéreas passaram a se instalar na região, que até então era ocupada por pescadores, pequenos comerciantes, paneleiras e militares (MINGO JR., 2000).


Figura 14 - Vista da Fernando Ferrari quando ainda existiam fazenda e animais onde atualmente está localizada a UFES

Fonte: IJSN, 2010.

A ocupação do bairro se intensificou a partir da década de 60, em razão ao crescimento desordenado da cidade que acontecia devido à incorporação de lotes rurais para a construção de conjuntos habitacionais pela COHAB - atual Companhia de Habitação. Outro fator de ocupação do bairro foi a prática de despejo de lixo em área de mangue pela própria Prefeitura de Vitória, que com o tempo resultou em lixões que foram transformados em aterros sanitários, criando, assim, espaços para a ocupação irregular a partir da década de 70. A ocupação irregular, ainda, foi intensificada por moradores dos conjuntos habitacionais que, por situação financeira insustentável, mudavam-se para barracos e palafitas sobre o mangue (figura 15) (MUNIZ apud CAMILLETI, 2007).

A construção do aeroporto Eurico de Aguiar Salles, no final da década de 70, foi fundamental para a urbanização da região de Goiabeiras, uma vez que intensificou ainda mais a expansão urbana em seus arredores atraindo, assim, a atenção do poder público para as intervenções urbanas necessárias. Assim, a duplicação da Avenida Fernando Ferrari, junto com a criação do campus da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e a extinção do lixão de Goiabeiras foram grandes responsáveis pelo crescimento vertiginoso do bairro nesta época (MUNIZ apud CAMILLETI, 2007).


A urbanização acelerada e desordenada do bairro é materializada em seu atual traçado, o qual se caracteriza por caminhos sinuosos e quadras desiguais, notavelmente distintos dos bairros próximos localizados do outro lado da Avenida Fernando Ferrari, os quais foram desenvolvidos mediante um devido planejamento urbano. Figura 15 – Evolução Urbana de Goiabeiras

Fonte: Simone Campos Pires, 2016. 3.2 O TERRENO O atual terreno do edifício do Galpão das paneleiras está localizado na esquina da Rua das Paneleiras com a Rua Silvana Rosa, no Bairro Goiabeiras, sendo a Avenida Fernando Ferrari o seu principal meio de acesso (figura 16).


Figura 16 – Mapeamento Principal Acesso ao Terreno do Galpão

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. Com dimensões de 46x15,8x45x15m, totaliza uma área de 724m², apresentando sua fachada norte rotacionada 36º à oeste e ventos dominantes de sentido nordeste (figura 17). O terreno constitui-se de uma área de aterro do manguezal e, portanto, um terreno de marinha pertencente à União (PIRES, 2016).


Figura 17 – Mapeamento Aspectos Físicos e Territoriais

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. Segundo o Zoneamento Urbanístico publicado no Plano Diretor Urbano (PDU) de Vitória de 2018, o terreno está localizado na Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) 1 e identifica-se como uso comercial. Desse modo, conforme consta na tabela 2 do anexo 9 do PDU, referente aos Índices de Controle Urbanístico, o terreno apresenta Taxa de Ocupação (TO) de 70%; Coeficiente de Aproveitamento (CA) de 1,8; e Taxa de Permeabilidade (TP) de 10%. Além disso, é isento de afastamentos mínimos de fundos e laterais enquanto apresenta 3m de afastamento mínimo frontal (figura 18).


Figura 18 – Tabela Índices Urbanísticos ZEIS

Fonte: PMV, 2018. Conforme a figura 19, nota-se que o entorno do terreno é caracterizado, majoritariamente, pelo uso residencial, com pontuais lotes de misto e comercial, ao quais se apresentam como pequenos estabelecimentos familiares. Além disso, esta região do bairro apresenta pouca verticalização, com gabarito médio de 2 a 3 andares, conforme exposto na figura 20. Figura 19 – Mapeamento de Uso do Solo

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021.


Figura 20 – Mapeamento de Gabarito

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. Quanto às características viárias da região, o terreno se localiza na esquina entre duas vias locais e próximo a uma das principais vias arteriais da cidade: a Avenida Fernando Ferrari (figura 21). Vale lembrar que o canal localizado em frente ao terreno ainda é muito usado por embarcações de pequeno porte, como barcos pesqueiros, e que, portanto, também se apresenta como uma alternativa de acesso ao Galpão.


Figura 21 – Mapeamento de Hierarquia Viária

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. É importante pontuar, também, que o terreno se localiza em uma região de grande importância político-econômica na cidade, próximo a importantes instituições, como a UFES e a Faculdade Multivix, e ao Aeroporto de Vitória. Dessa maneira, a conexão entre o Galpão das Paneleiras e a população é facilitada, permitindo a construção de uma eficiente e agradável rota turística pela cidade de capital do Espírito Santo.

3.3 O GALPÃO De acordo com o Manual do Usuário elaborado pela Atlas Engenharia e Incorporações Ltda, autora e executora do projeto, o Galpão possui uma área 937,69 m², sendo de propriedade da PMV e de responsabilidade da APG. (PIRES, 2016). O edifício se caracteriza por uma estrutura metálica modular e, portanto, de fácil desmontagem e reaproveitamento – fato que leva a suposição de que a escolha do material ocorreu devido ao pertencimento do terreno à


União. Com aspecto moderno, o Galpão apresenta em sua fachada elementos de cor vermelha e fotos referentes ao ofício das paneleiras. O projeto é composto por um espaço térreo que abrange praticamente toda a área do terreno, com um pé-direito elevado que permitiu a proposição de um mezanino com acesso por uma rampa interna. A edificação apresenta acesso a seu interior por dois portões, cada um em uma das fachadas frontais (figura 22) – característica correspondente a terrenos de esquina – sendo o acesso principal a entrada posicionada na Rua das Paneleiras, o qual contém uma versão ampliada escultórica de uma panela de barro (figura 23). Figura 22 – Escultura Panela de Barro

Fonte: Acervo Pessoal, 2021. Figura 23 – Portão de Acesso Secundário ao Galpão

Fonte: Acervo Pessoal, 2021. Como diretriz para alcançar o conforto ambiental, foram instaladas estruturas metálicas vazadas como elemento de vedação das fachadas (figura 24), o que permite a entrada tanto de iluminação quanto de ventilação natural. Além disso, um desnível entre as águas da cobertura metálica atua como um sistema de


shed (figura 25), o qual também auxilia na eficiência energética da edificação. Todavia, ao mesmo tempo que as aberturas possibilitam boa ventilação e iluminação natural, também permitem a entrada da fumaça resultante da queima das panelas – a qual acontece do outro lado da rua do Galpão – causando incômodo nos usuários do edifício. Figura 24 – Elementos Metálico Vazado da Fachada do Galpão Atual

Fonte: Acervo Pessoal, 2021. Figura 25 – Desnível Águas da Cobertura do Galpão Atual

Fonte: Acervo Pessoal, 2021. No pavimento térreo, onde acontece a produção e a venda das panelas, 32 cabines são distribuídas de forma linear formando longos corredores para a circulação dos visitantes (figura 26). Cada cabine apresenta em média 8,4m² e, embora tenha sido projetada para o uso individual das paneleiras, algumas dividem o espaço entre si, uma vez que ao total 40 mulheres exercem o ofício no Galpão. Cada espaço de produção conta com bancadas com pia, armários inferiores às bancadas e expositores para as panelas prontas para a venda (figura 27). Além dos espaços de produção, posiciona-se no térreo também a


sala da APG, uma copa, banheiros divididos entre paneleiras e visitantes, balcão para informações turísticas, armários e bancadas coletivos para a secagem das panelas e área de preparo do barro. Figura 26 – Corredor de Cabines de Produção

Fonte: Acervo Pessoal, 2021. Figura 27 – Unidade de Cabine de Produção

Fonte: Simone Campos Pires, 2016.


Já no mezanino, que se caracteriza por um espaço de planta livre, foi previsto um restaurante de comida capixaba para os visitantes do Galpão, banheiros, cozinha e uma varanda voltada para a Rua das Paneleiras com vista para o mangue (figura 28). Todavia, é possível identificar processos de corrosão nas estruturas metálicas que comprometem a integridade da edificação, de modo que interdições temporárias do mezanino já foram necessárias por comprometer a segurança de seus usuários. Além disso, a área da cozinha prevista para o restaurante é pequena para exercer tal função, o que, associado a outros fatores estruturais, inviabilizou o funcionamento desde a entrega do edifício às paneleiras até os dias atuais (figura 29). Embora o espaço já tenha usado para a ministração de oficinas a alunos de escolas de Vitória, o mezanino se mantém sem uso. Dessa forma, o acesso ao mezanino, o qual é feito por uma rampa interna, permanece frequentemente bloqueado pelos próprios produtores das panelas. Figura 28 – Mezanino do Galpão

Fonte: Simone Campos Pires, 2016.


Figura 29 – Plantas Baixa Atual Galpão

Fonte: Simone Campos Pires, 2016.

Além disso, algumas etapas do processo de produção dos artefatos acontecem na área externa adjacente ao edifício, na maioria das vezes por necessidade da própria atividade. Assim, às margens do manguezal acontecem a queima das


panelas e o açoite, que representam as últimas etapas do processo (figura 30). Para a queima, são utilizados restos de madeira doados por empresas de construção civil. Entretanto, por serem dispostos de forma orgânica no próprio piso, acumulam resíduos depositados por pessoas que os confundem com lixão, o que dificulta a seleção dos materiais para realizar a queima (figura 31). Já o açoite é realizado sobre cinco bancadas de tijolos em uma área coberta por um simples telheiro. Figura 30 – Área de Queima e Açoite

Fonte: Acervo Pessoal, 2021. Figura 31 – Madeiras para a Queima

Fonte: Google Maps, 2021. Além do espaço insuficiente para comportar todas as paneleiras, o Galpão apresenta uma série de problemas em seu sistema hidrossanitário, o qual resulta em falta de água frequente, falha no sistema de ralos e infiltrações causadas por águas pluviais.


4. PROPOSTA PROJETUAL A proposta projetual para o Galpão das Paneleiras de Goiabeiras - que compreende o edifício do Galpão e espaços urbanos em seu entorno - tem como objetivo promover a manutenção da manifestação cultural da panela de barro por meio da valorização do trabalho e do incentivo ao turismo. É importante pontuar, antes de tudo, que o Galpão das Paneleiras de Goiabeiras comporta duas atividades distintas: a produção das panelas de barro e a visitação para o conhecimento da prática. Nesse sentido, o programa de necessidades do projeto gira em torno, principalmente, de dois grupos de usuários, os quais usufruem do espaço com frequência e objetivos divergentes. Dessa forma, a reestruturação do edifício do Galpão e de seu entorno buscou atender a todas essas funções sem que haja interferências entre si, a fim de garantir a simultaneidade das atividades e permitir a integração entre os artesãos e a sociedade. Nesse sentido, o conceito do projeto surge a partir dessas duas funções, em que visa a oferecer a devida estrutura para o desenvolvimento das técnicas artesanais ao mesmo tempo que valoriza os aspectos histórico-culturais da prática. Além disso, vale considerar também o contexto em que o terreno está inserido, o qual localiza-se em uma região caracterizada por intensa atividade comercial e típica vida urbana de uma capital. Dessa forma, ao analisar os aspectos geográficos e o programa do projeto, encontra-se um paradoxo composto pelo exercício de uma prática artesanal tradicionalmente indígena situado em um meio urbano consolidado. Tais características foram a base para a definição estética do projeto, uma vez que, ao serem combinadas resultam na essência do estilo “Urban Jungle” – em português, “selva urbana” – muito proposto em projetos de interiores. O estilo se caracteriza por associar materiais essencialmente urbanos, como concreto e metais, a elementos naturais como densa vegetação.


Como principal ponto para o partido do projeto, propõe-se o desenvolvimento de tijolos compostos pela argila proveniente do Vale do Mulembá - a mesma usada como matéria-prima para a confecção das panelas de barro. Com dimensões de 30x20x15cm, o elemento foi utilizado para compor as fachadas do edifício do Galpão (figura 32). Unindo conceitos de arquitetura vernacular e da política de salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, pretende-se, a partir do tijolo de barro, valorizar a manifestação cultural das paneleiras à medida que evidencia o material que é responsável por sua grande excepcionalidade. A proposta de tijolos personalizados também objetiva despertar o interesse do grupo de usuários visitantes do edifício, fomentando, assim, a atividade turística na região. Um protótipo do elemento arquitetônico sugerido foi desenvolvido em conjunto com algumas paneleiras do Galpão, com o intuito de visualizar a cor e a textura final do produto. Vale pontuar, no entanto, que para a instalação do artefato no edifício seria necessário realizar testes industriais para avaliar a natureza do material e, até mesmo, acrescentar aditivos para que o composto apresente propriedades físicas adequadas para a construção civil. Figura 32 – Protótipo do Tijolo de Barro em Desenvolvimento

Fonte: Acervo Pessoal, 2021.


4.1 O EDÍFICIO DO GALPÃO A maioria das decisões de projeto do edifício do Galpão foi tomada pela posição geográfica e pelas dimensões do terreno, que medindo 46x15,8x45x15m, apresenta um formato longilíneo e situa-se numa esquina em frente a um manguezal (figura 33). A primeira intervenção, portanto, foi o reposicionamento do acesso principal do edifício, que embora – não coincidentemente – localizase na Rua das Paneleiras, não explora a possibilidade de integração com o mangue que a fachada da Rua Silvana Rosa oferece. Dessa forma, o acesso de artesãos e visitantes foi transferido para o outro lado de esquina do terreno, que se tornou também a nova fachada principal. Outro tipo de acesso exigido pelo programa é o de mercadorias transportadas em veículos, que correspondem aos mantimentos para a cozinha do restaurante e ao próprio barro para a confecção das panelas. Para isso, foi definido um acesso de veículos para carga e descarga também pela Rua Silvana Rosa, que com um espaço coberto de 150cm de profundidade permite o acesso de pedestres ao interior do edifício e o transporte do barro para sua área de preparo. Figura 33 – Implantação Projeto Galpão das Paneleiras

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021.


A primeira mudança determinante no novo projeto consiste na renovação do programa de necessidades, em que foi necessário acrescentar espaços para as novas funções exigidas pelos usuários do edifício. Dentre os espaços de apoio para os produtores das panelas, foram acrescentados banheiros, copas e uma sala de oficinas para a aplicação de atividades com a comunidade. Já em relação à estrutura para a atividade turística no Galpão, foram acrescentados banheiros, uma loja de souvenirs e um restaurante – o qual também tem a função de promover a panela de barro em conjunto com a culinária local e possibilitar uma fonte de renda alternativa para as paneleiras. O volume do edifício também foi influenciado pelas dimensões do terreno, que apresentando um formato retangular de comprimento significativo, induziu ao desenvolvimento de um volume também ortogonal e retangular, com o objetivo de otimizar os espaços internos (figura 34). Outra mudança proposta para o edifício é a quantidade de pavimentos, que de um pavimento térreo mais um mezanino passou a contar com três pavimentos. A ampliação do gabarito foi necessária devido a diversos fatores, como a atual insuficiência de cabines de produção, a demanda de espaços para novas atividades e a devida aplicação dos índices urbanísticos de afastamento e taxa de ocupação. Dessa forma, atendendo aos índices previstos pelo PDU para essa região, o novo projeto apresenta TO de 68%, CA de 1,7 e TP de 18%. Figura 34 – Perspectiva Fachada Frontal do Edifício do Galpão

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021.


Quanto a setorização dos pavimentos, pode-se afirmar que foi desenvolvida a partir do posicionamento da circulação vertical, uma vez que o volume da rampa tem grande impacto no projeto e que o formato do terreno não permite muitas configurações. Dessa maneira, os lances de rampa foram posicionados nas fachadas lateral direita e de fundos: na primeira com o intuito de servir de mirante para a visual do manguezal e na segunda por se identificar como a fachada dos fundos que faz divisa com lotes residenciais (figura 35). Figura 35 – Perspectiva Circulação Vertical

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021.


O pavimento térreo (figura 36) e o segundo pavimento (figura 37) foram definidos como espaços de produção, enquanto o terceiro pavimento comporta os diversos usos. Um bloco de serviço se repete nos dois primeiros pavimentos, no qual foram agrupados os espaços de apoio às paneleiras e aos visitantes, como banheiros acessíveis – sendo dois para cada grupo de usuários – e uma copa para preparo e consumo de refeições pelos artesãos. No térreo, ainda, situa-se à direita, logo após a entrada principal, um balcão para o acesso a informações sobre a visitação e ao lado, estrategicamente posicionada, uma pequena loja de lembranças turísticas. A loja se integra à área de preparo do barro através de uma cortina de vidro sem abertura, com o intuito de aproximar os visitantes dessa etapa da produção garantindo a proteção da matéria-prima. Já no segundo pavimento, uma varanda estende-se por toda a fachada principal, exercendo a função de contemplação do mangue, de acesso aos banheiros de visitantes e de conexão com a circulação vertical que leva ao terceiro pavimento. Ambos os pavimentos apresentam fechamento frontal com um sistema de porta mão-amiga de 5 folhas, em que cada parte puxa a outra sequencialmente possibilitando, assim, a abertura de grandes vãos. Figura 36 – Planta Baixa Térreo Terreno

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021.


Quanto ao paisagismo das áreas externas do terreno, formas sinuosas foram exploradas para contrastar com a ortogonalidade da edificação. Formas geométricas circulares também foram exploradas no desenho dos canteiros e do mobiliário previsto para proporcionar encontros entre as pessoas. Já na paginação de piso, os acessos de pedestres e carga e descarga de mercadorias são demarcados pela interrupção das curvas por formas ortogonais. Figura 37 – Planta Baixa 2º Pavimento

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. No restante dos espaços do térreo e do segundo pavimento, portanto, foram posicionadas as cabines individuais de produção, justapostas paralelamente com o intuito de aproveitar ao máximo o espaço e formar corredores que proporcionem interação entre as paneleiras e os visitantes. Sendo assim, foram projetadas 17 cabines no pavimento térreo e 20 no segundo pavimento, totalizando, portanto, 37 cabines de produção – 5 unidades a mais do que as existentes no atual Galpão. A área total por cabine foi reduzida de 8m² para 6m² (figura 38), no entanto, ainda com dimensões adequadas e confortáveis para a confecção individual dos artefatos (figura 39). Os dois pavimentos contam com prateleiras coletivas para a etapa de secagem das panelas, além de armários individuais em cada cabine para a armazenagem dos materiais e dos produtos – ambos em acabamento amadeirado.


Figura 38 – Planta Baixa Nova Cabine

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. Figura 39 – Perspectiva Cabines

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021.


Por fim, o terceiro pavimento (figura 40) compreende a sala da APG, a sala para trabalhos com a comunidade, o restaurante – composto pela cozinha e por um salão de mesas – e, novamente, os quatro banheiros divididos entre paneleiras e visitantes. O salão do restaurante tem previsão de 32 lugares e apresenta fechamento tanto na fachada frontal quanto na de fundos, novamente com o sistema de porta mão-amiga. O espaço contempla sistema de ar condicionado para possibilitar a refrigeração elétrica em caso de incômodos causados pela fumaça gerada na queima das panelas (figura 41). Para facilitar o abastecimento da cozinha do restaurante, foi previsto um monta-carga posicionado na copa dos pavimentos inferiores que chega ao acesso ao depósito e à câmara frigorífica no terceiro pavimento. A extensa varanda se repete por toda a fachada principal e dá acesso às duas salas, ao salão do restaurante e aos banheiros de visitantes. Pelos fundos do salão tem-se acesso à circulação de serviço, que leva aos banheiros das paneleiras (ou outros funcionários do restaurante) e à cozinha. Por fim, a cozinha se estende por quase toda a fachada lateral e conecta-se ao depósito de alimentos e à câmara frigorífica através de uma antecâmara. Figura 40 – Planta Baixa 3º Pavimento

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021.


Figura 41 – Perspectiva Restaurante

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. Cabe salientar que a análise dos aspectos de iluminação natural e ventilação também foram muito relevantes nas decisões de projeto, visto que além de serem responsáveis pelo conforto ambiental também auxiliam no processo de produção das panelas. Enquanto a iluminação natural é importante para a atividade visual muito exigida em trabalhos artesanais, a ventilação contribui para as etapas de secagem dos utensílios de barro. Dessa forma, buscou-se explorar ao máximo esses dois elementos, por meio, principalmente, de uma fachada permeável. Para isso, propõe-se que os lances de rampa que contornam as fachadas direita e dos fundos sejam externos ao volume principal, com o objetivo de evitar que interfiram na iluminação e na ventilação que chega aos espaços internos (figura 42). Com isso, a conexão do primeiro e último lances com o bloco da edificação precisou ter acessos com possibilidade de fechamento para garantir a integridade e a segurança do prédio fora do horário de atividade.


Figura 42 – Perspectiva Fachada Posterior

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. Como solução para a vedação do edifício, esquadrias translúcidas e cobogós compõem as fachadas frontal e dos fundos, já que ambos permitem a passagem de luz natural e correntes de ar. Vale pontuar que a escolha de tais fachadas foi motivada por suas extensões e pelo paralelismo que apresentam entre si, o que permite o emprego da estratégia de ventilação cruzada. Outro ponto considerado foi a orientação geográfica que apresentam, que posicionadas em um eixo nordeste-sudoeste tem um maior aproveitamento dos ventos nordestes predominantes na região. Por fim, considerou-se também a lei física que determina que as aberturas de entrada de ar devem totalizar menor área que as aberturas de saída para um melhor fluxo de ventilação, projetando, assim, a fachada frontal (figura 43) mais permeável que a fachada posterior (figura 44).


Figura 43 – Croqui Fachada Frontal

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. Figura 44 – Croqui Fachada Posterior

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. Os cobogós propostos são compostos pelo tijolo de barro anteriormente especificado, que com comprimento de 30cm, altura de 20cm e interseção de 5cm de cada lado entre as colunas, formarão um padrão quadriculado com vazios de 20x20cm (figura 45). Tais planos permeáveis formado pelos tijolos, além de exercerem as funções técnicas supracitadas, também criarão efeitos interessantes de luz e sombra no interior da edificação e funcionarão como expositores da natureza artesanal da panela de barro.


Figura 45 - Perspectiva Cobogós

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. Diante de tamanha permeabilidade, foi necessária a previsão de elementos de proteção solar e contra intempéries pluviais. Para isso, foi projetado um avanço de 120cm em quase todo o perímetro das lajes do segundo e terceiro pavimentos (exceto na fachada dos fundos) com o intuito de desempenharem a função de beirais para os pavimentos inferiores (figura 46). Desse modo, os planos das lajes intersecionam os limites horizontais da edificação, demarcando claramente cada pavimento e reforçando a horizontalidade do volume – característica comumente associada à tipologia arquitetônica de galpões. Ademais, a espessura das lajes foi definida como 30cm por motivações estéticas de proporção e equilíbrio visual. A cobertura, por sua vez, se constitui de telhado embutido com o intuito de reforçar a horizontalidade do volume, apresentando altura de 70cm, telhas metálicas de 10% de inclinação e beirais com largura de, novamente, 120cm.


Figura 46 – Croqui Fachada Lateral

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. A composição de materiais do projeto (figura 47) prezou por texturas brutas, como concreto, madeira e a argila, associadas a materiais industriais, como o aço inox e o vidro. A paleta de materiais se completa com tinta acrílica de tom branco e elementos de vegetação que concretizam o conceito de selva urbana.

Figura 47 – Paleta de Materiais

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021.


Os tijolos de barro foram escolhidos como protagonistas na materialidade do projeto pelo fato de carregarem a essência da manifestação cultural em questão. Propõe-se a produção destes elementos com a mesma base material das panelas de barro, no entanto, sem a finalização com pigmento de tanino que dá a cor escura aos utensílios. Assim, os tijolos manterão a textura e a cor do barro puro, como objetivo de garantir uma maior luminosidade e evitar um conflito visual com os artefatos produzidos no Galpão. A tinta acrílica acinzentada foi escolhida para cobrir o restante da vedação vertical da edificação, enquanto a textura de cimento queimado é proposta para os planos das lajes – ambos com o intuito de compor, junto com o tom natural da argila, a ambiência urbana do projeto (figura 48). Figura 48 – Perspectiva Composição de Materiais da Fachada

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021.


Já o aço inox de coloração preta, foi escolhido por apresentar características técnicas de resistência à oxidação que é acelerada pela maresia local, fato que foi identificado com um problema estrutural do atual edifício. O metal, portanto, é proposto para as esquadrias e guarda-corpos do projeto, que junto com o vidro transparente, trazem modernidade ao conjunto. O vidro, por sua vez, tem o objetivo de garantir a luminosidade natural no interior da edificação e, também, manter evidente a figura principal da composição: o tijolo de barro. Floreiras de 90cm de altura, também com acabamento em cimento queimado, são dispostas como guarda-corpo das fachadas frontal e de fundos, com o objetivo de integrar a vegetação aos espaços internos do edifício. Em ambas fachadas a estrutura avança o limite do espaço em que atuam como guardacorpo, a fim de dinamizar a composição visual desses planos. São associadas, ainda, a uma estrutura de aço inox com seção de 10x10cm posicionadas 20cm acima para completar a altura total mínima do guarda-corpo de 110cm (figura 49). Por fim, para reforçar a integração dos elementos naturais com o edifício, foram escolhidas três paredes no interior do edifício – uma em cada pavimento para receberem uma cobertura de vegetação e atuarem como parede verde no projeto (figura 50). Figura 49 – Perspectiva Floreiras da Fachada

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021.


Figura 50 – Perspectiva Parede Verde

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. 4.2 A ÁREA URBANA DO GALPÃO Conforme supracitado, o terreno que contém o edifício do Galpão localize-se frente ao manguezal, de forma que as etapas de produção que devem acontecer a céu aberto se estendem para a área urbana à margem do mangue. Todas as funções que esta área compreendia foram mantidas, exceto o armazenamento do barro que passou a acontecer na parte interna do edifício do Galpão, próximo à área de preparo do mesmo (figura 51).


Figura 51 – Planta Baixa Térreo Área de Apoio ao Edifício

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. Uma das mudanças propostas para o espaço é a inversão da área de queima com a área de açoite, posicionando as fogueiras mais próximas às margens do mangue para afastá-las da edificação e amenizar os desconfortos consequentes da fumaça. As cinco bancadas para açoite foram dispostas novamente de forma linear, entretanto em textura cimentícia, com os mesmos formatos circulares para dar continuidade a identidade do paisagismo. A cobertura da área de açoite, por sua vez, teve seus pilares mantidos por apresentar singularidade e, consequentemente, identificação dos usuários do espaço com a estrutura. Já a cobertura foi substituída por uma estrutura em aço inox preto para criar uma unidade visual com as bases que a sustentam (figura 52).


Figura 52 – Perspectiva Cobertura do Açoite

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. Outro ponto de intervenção é a área de estoque da madeira usada nas fogueiras, com a proposição de um tablado de 33m² composto por concreto com acabamento em cimento queimado, elevado a 40cm do piso, foi previsto para ordenar as tábuas que serão futuramente usadas. Foi inserida, ainda, uma área de carga e descarga ao lado da área de estoque para os veículos que transportam a madeira, esses que, atualmente, estacionam na própria via e prejudicam o trânsito local (figura 53).


Figura 53 – Perspectiva Área Pública de Apoio ao Edifício

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021. Por fim, propõe-se a expansão do deck existente, para que além de articular a rota turística aquática prevista pela prefeitura sirva de espaço de permanência e contemplação. Assim, com um formato também sinuoso, o deck se estende pelo limite de toda a área urbana do Galpão, atuando como uma expansão da mesma. Do mesmo modo, todo o paisagismo e paginação de piso dessa área seguem os padrões sinuosos do terreno do edifício, compondo com os elementos circulares das fogueiras e dos balcões para açoite (figura 54).


Figura 54 - Perspectiva Projeto Completa

Fonte: Elaborado pela Autora, 2021.


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento deste trabalho foi impulsionado, mediante motivações pessoais, pela representatividade feminina e indígena por trás da manifestação cultural da panela de barro. Conforme supracitado, as Paneleiras de Goiabeiras têm apresentado considerável visibilidade diante do poder público com recentes intervenções em seus espaços de trabalho; entretanto, de forma ineficiente para garantir a devida manutenção e valorização da prática. Portanto, diante deste cenário e a partir dos conceitos de valorização do patrimônio histórico-cultural adquiridos ao longo do curso de Arquitetura e Urbanismo, desenvolveu-se um projeto arquitetônico e urbanístico a nível de estudo preliminar que aplicasse adequadamente a política de salvaguarda prevista pelo governo ao Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Durante o levantamento de dados por meio dos estudos de campo, foi possível notar a importância da participação dos detentores da prática cultural no desenvolvimento do projeto. Identificar as atuais demandas de uso do espaço em que acontece a manifestação cultural é imprescindível para compreender o programa de necessidades, mas entender as raízes históricas e a dinâmica daquela prática é fundamental para valorizar o bem imaterial em questão. Conclui-se, assim, que apenas por intermédio dos praticantes é possível elaborar diretrizes projetuais que atendam às necessidades técnicas da atividade ao mesmo tempo que prestigiam e respeitam os respectivos princípios culturais. No entanto, ao longo da construção do embasamento teórico foi possível encontrar uma lacuna na literatura que aborda o Patrimônio Cultural Imaterial do país no que diz respeito à importância da arquitetura no processo de salvaguarda. A ideia de “arquitetura” é comumente relacionada ao Patrimônio Cultural Material e ao processo de tombamento a que os bens materiais são submetidos, o qual estabelece a não destruição ou descaracterização dos mesmos. Já em relação ao Patrimônio Cultural Imaterial, que se apresenta como um conceito relativamente recente na História, pouco se aborda ou se compreende o significado da arquitetura em seu processo de preservação.


Nesse contexto, constata-se a importância do reconhecimento e da conscientização sobre as peculiaridades de projetos arquitetônicos e urbanísticos referentes ao Patrimônio Cultural Imaterial. Vale lembrar que, diferentemente dos bem materiais, os bens intangíveis são organismo vivos e em constante transformação, o que torna as medidas de proteção ainda mais complexas e voláteis. Dessa forma, conclui-se que é importante não apenas o reconhecimento da arquitetura de forma passiva, mas também compreendê-la como um agente ativo nas ações de preservação do Patrimônio Histórico Cultural do Brasil.


REFERÊNCIAS ARTE de produzir panelas de barro, A. A Gazeta, Vitória, 7 abr 2004. Caderno de Turismo, p. 3-5.

CAMILETTI, G. G. Modernidade e tradição esculpidas no barro: uma reflexão da Associação Paneleiras de Goiabeiras. Dissertação (Mestrado em Administração no Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas) - UFES, Vitória/ES, 2007. 164 f.

DANTAS, Graciano e CHAIA, Viviane Medeiros. Panela de Barro: Raiz da Cultura Capixaba. Vitória: Secretaria de Estado de Turismo, 2002.

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IPHAN. As panelas de barro de Goiabeiras: Vitória/ES. Brasília: Iphan, 2007. Folheto. 12p. MINGO JR., Nilo. Goiabeiras. Vitória: Secretaria Municipal de Cultura, 2000. MUNIZ, Claudia. Projeto Parque Linear Manguezal. 2003. Disponível em www.univix.br/bienal_resulatdos.asp. Acesso em 02 Set 2021.

NEVES, Luis Guilherme Santos & PACHECO, Renato. Torta Capixaba. Vitória: Eldorado Comunicacties, 2002.


NICOLE, B. C; NASCIMENTO, J. C.; MARQUES, M. S.; COSTA, M. H. T.; PEREIRA, P. H. M.; PRADO, R. V.; CALOTI, V. A. (Graduandos em Ciências Sociais – UFES). As paneleiras de Goiabeiras e a arte de fazer panela de barro - Ensaio etnográfico sobre a cultura do barro. Revista Simbiótica, UFES, v. ún., n. 01, 37 p. Junho/2012.

PATRIMÔNIO IMATERIAL: O Registro do Patrimônio Imaterial: Dossiê final das atividades da Comissão e do Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial. Brasília: MinC/IPHAN, 2003.

PEROTA, Celso; DOXSEY, J. R.; BELING NETO, R. A. As Paneleiras de Goiabeiras. Vitória: Secretaria Municipal de Cultura, 1997.

PEROTA, Celso. Impactos do artesanato sobre o turismo no Espírito Santo. Vitória: Sebrae/ES, 2007.

PIRES, Simone. A transformação do espaço de produção das panelas de barro de Goiabeiras a partir da urbanização, do associativismo e da patrimonialização. 2016, 30p. Artigo Científico – Vitória.

RODRIGUES, Luiz Henrique. Transmissão cultural e mercantilização: uma etnografia da produção e comercialização de panelas de barro pelas paneleiras de goiabeiras. Publicado em Periódicos UFES – Anais do Seminário Nacional da Pós- Graduação em Ciências Sociais – UFES. v. 1, n. 1, 2011.

SAINT-HILLAIRE, Auguste de. Segunda Viagem ao Interior do Brasil (Espírito Santo). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939.

SOUZA, Luciana. Sem torno, nem forno: uma análise do processo de institucionalização da categoria Imaterial do Patrimônio e o caso das Paneleiras de Goiabeiras (1936-2013). 2016, 104p. Dissertação Mestrado em Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas Campinas.


UNESCO. Recomendação de Paris – Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, de 17 de outubro de 2003. Paris, 2003. Disponível em: <http://portal. iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=271>. Acesso em: 20 mai. 2021.


4632,55 3855

N

N

777,55

4524,24

1578,93

1275

682,37

3855 4537,37

150

RUA SILVANA ROSA

600

150

303,93

5/5

FACHADA NORTE

S ANELEIRA

EDIFÍCIO DO GALPÃO

1578,93

P RUA DAS

4632,55

5/5

FACHADA OESTE

ÁREA PÚBLICA

1

PLANTA DE SITUAÇÃO

2

1 : 500

PLANTA DE LOCAÇÃO 1 : 250

PROJETO GALPÃO PANELEIRAS DE GOIABEIRAS CONTEÚDO PLANTA DE SITUAÇÃO E PLANTA DE LOCAÇÃO ESCALA

Como indicado

DATA

1/5 17/11/2021


CORTE BB 5/5

ELEMENTO RAMPADO EM CONCRETO

ELEMENTO VAZADO CERÂMICO 1160X270cm

PROJ. RAMPA

PROJ. FLOREIRA

4632,55 777,55

130

140

1000

150

1080

575

285

315

120

60

MURO H=150cm

J3

FLOREIRAS H=90cm

120

i = 8%

DEPÓSITO

i = 8%

1,55

J1

i = 8%

8,63 m²

54,87 m² 0,15

15,80 m²

J1

C01

C02

C03

C04

C05

C06

C07

C08

C09

C10

3,78 m²

3,78 m²

4/5

138,40 m²

INFO TURÍSTICAS

0,15

10,08 m²

3,78 m²

C13

C14

C15

C16

320

PAINEL DE VIDRO 690X240cm

J1

NELEIRAS

0,15

180

135

J1

10,73 m²

250

C12

0,13

0,13

CIRCULAÇÃO

S

210

3,78 m²

C11

135

MONTA-CARGA

WC VIS.

140

14,81 m²

WC VIS.

CORTE AA

ÁREA DE PRODUÇÃO

0,13

0,13

PREPARO BARRO

0,15

150

WC PAN.

1578,93

0,13

i = 8,33%

GUARDA-CORPO H=110cm

i = 8,33%

17,25 m²

WC PAN.

210

720

COPA

5/5

PA RUA DAS

FACHADA NORTE

12,13 m²

J4

CORTE AA 4/5

LOJA

855

J1

ARMAZEN. BARRO

240

CIRCULAÇÃO

370

N

90

15

0,75

150

165

GUARDA-CORPO H=110cm

0,75

180

CARGA/DESCARGA ACESSO PRINCIPAL

573,93

CORTE BB

PROJ. 2º PAVIMENTO

423,93

5/5

0,15

ESCULTURA PANELA DE BARRO

ELEMENTO VAZADO CERÂMICO 1230X270cm

ELEMENTO VAZADO CERÂMICO 850X270cm

5/5 FACHADA OESTE

RUA SILVANA ROSA 0,15

TABLADO PARA APOIO MADEIRA

PROJ. COBERTURA TELHEIRO

479,76

PILAR COBERTURA EM AÇO INOX PRETO

MESA DE CONCRETO PARA AÇOITE

969,76

0,15

0,55

170 170

56,81

170

0 17

0,10

AREIA PARA FOGUEIRA

150

400

230

PLANTA BAIXA TÉRREO 1 : 100

0,10

206,38

0,10

0,10

360

3

490

0,15

920

CARGA/DESCARGA

49,76

1066,11

35,55

450

430

425

187,11

PROJETO GALPÃO PANELEIRAS DE GOIABEIRAS CONTEÚDO PLANTA BAIXA PAVIMENTO TÉRREO ESCALA

1 : 100

2/5 DATA

17/11/2021


CORTE BB ELEMENTO VAZADO CERÂMICO 1160X270cm 5/5 ELEMENTO RAMPADO EM CONCRETO

PROJ. FLOREIRA

3855 1000

150

1000

150

1000

150

120

60

150

60

120

PROJ. RAMPA

i = 8%

4,55

165

165

GUARDA-CORPO H=110cm

3,75

3,15

N

3,75

CIRCULAÇÃO 25,23 m²

240

J5

3,15

J1

GUARDA-CORPO H=110cm

C21

C22

C23

C24

C25

C26

C27

C28

3,78 m² 3,13

ÁREA DE PRODUÇÃO

4/5

175,95 m² 3,15

COPA 17,25 m² 3,13 MONTA-CARGA

WC VIS.

WC VIS.

3,78 m²

3,78 m²

150

250

3,13

3,13

180

J1

J1

C29

C30

C31

C32

VARANDA

180

C33

C34

C35

C36

135

i = 8,33%

C20

690

WC PAN.

3,78 m²

S

135

C19

CORTE AA

WC PAN. 3,13

120

C18

210

J4

C17

210

720

1215

4/5

i = 8,33%

CORTE AA

J1

2780

48,53 m² 3,15 GUARDA-CORPO H=110cm

FLOREIRA H=90cm

120

120

3,15

590

2930

335

CORTE BB

ELEMENTO VAZADO CERÂMICO 820X270cm

ELEMENTO VAZADO CERÂMICO 400X270cm

5/5

PLANTA BAIXA 2º PAVIMENTO

4

1 : 100 CORTE BB 5/5

ELEMENTO RAMPADO EM CONCRETO

120

135

ELEMENTO VAZADO CERÂMICO 1160X270cm

3855 265

775

1160

725

300

150

120

60

60

PROJ. COBERTURA

i = 8%

5,35

D

J3

N

165

165

i = 8%

4,55

J3

J2

6,15

CIRC. SERVIÇO 150 4,72 m²

3,15

3,15

1

WC PAN.

4,72 m²

6,15

4

WC PAN.

78,30 m² 7

J1

*

J1

2

165

RESTAURANTE 5

J3

6,15

8

12,79 m²

0

GUARDA-CORPO H=110cm

3

150

i = 8%

6

LAVA PRATOS

9

6,75

#

165

GUARDA-CORPO H=110cm

Nome

Telefone

J5

4

5

1

2

i = 8,33%

33,76 m²

2,34 m²

6,15

135

MONTA-CARGA

6,74 m²

250

WC VIS.

WC VIS.

4,72 m²

4,72 m²

3,15

CAM. FRIGORIFICA

180

180

6,15

20,70 m² 6,15

3,15

110

100

GUARDA-CORPO H=110cm

6,15

10,58 m²

SALA APG

255

ANTE. 130

COZINHA

J1 185 J1

185

1160

725

VARANDA 48,60 m²

300

150

120

6,15

GUARDA-CORPO H=110cm

120

FLOREIRAS H=90cm

940

2060

855

ELEMENTO VAZADO CERÂMICO 1220X270cm

ELEMENTO VAZADO CERÂMICO 1235X270cm

CORTE BB

5

PLANTA BAIXA 3º PAVIMENTO 1 : 100

4/5

135

255

Nome

CIRC.

50,03 m² 6,15

690

7

8

SALA OFICINAS

1215

*

0

590

255

6 3

720

CORTE AA 9

6,15

#

4/5

9,56 m²

Telefone

DEPÓSITO CORTE AA

5/5

PROJETO GALPÃO PANELEIRAS DE GOIABEIRAS CONTEÚDO PLANTA BAIXA 2º E 3º PAVIMENTO ESCALA

1 : 100

3/5 DATA

17/11/2021


CORTE BB 5/5 PROJ. EDIFICAÇÃO

1520

CALHA METÁLICA

600

PROJ. CALHA

CALHA DE CONCRETO

3955

TUBO DE QUEDA

805

2480

2015

i = 2%

i = 2%

CORTE AA

CAIXA D'ÁGUA 1500 L.

555

4/5

CAIXA D'ÁGUA 1500 L. CONDICIONADORES

CAIXA D'ÁGUA 1500 L.

CAIXA D'ÁGUA 1500 L.

15 15 0

i = 2%

N

15

i = 2%

630

4/5

15

PLATIBANDA H=290cm

TELHA DE ALUMÍNIO i = 10%

i = 2%

775

525

TELHA DE ALUMÍNIO i = 10%

CORTE AA

i = 2%

15

RUFO DE CONCRETO

50

PLATIBANDA H=290cm

PROJ. ALÇAPÃO

805

1275

i = 2%

565

TELHA DE ALUMÍNIO i = 10%

15

PLATIBANDA H=110cm

1520

600

15

775

15

2480

2015

CORTE BB

6

PLANTA DE COBERTURA

5/5

7

1 : 100

PLANTA BAIXA BARRILETE 1 : 100

TELHA DE ALUMÍNIO i=10%

TELHA DE ALUMÍNIO i=10%

RUFO DE CONCRETO

140

QUADRO DE ESQUADRIA - PORTA

270

COZINHA RESTAURANTE

4,72 m²

78,30 m²

6,13

6,13

6,15

110

WC PAN.

4,72 m²

90

WC PAN.

9,56 m²

6,15

SALA OFICINAS

SALA APG

CIRC.

50,03 m²

20,70 m²

10,58 m²

6,15

6,15

6,15

LARGURA (cm) 80 80 290 170 765 1160 1160

1040

6,13

DEPÓSITO

70

300

33,76 m² 6,75

100

60

TIPO P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 TOTAL: 34

ALTURA (cm) 210 210 210 240 240 240 270

QUANT. 14 12 2 1 1 3 1

DESCRIÇÃO GIRO PORTA DE CORRER PORTA DE CORRER

3,75

COPA

WC PAN.

WC PAN.

CIRCULAÇÃO

17,25 m²

3,78 m²

3,78 m²

25,23 m²

3,13

3,15

3,13

ÁREA DE PRODUÇÃO 175,95 m²

TIPO J1 J2 J3 J4 J5 TOTAL: 22

3,15

WC PAN.

WC PAN.

3,78 m²

3,78 m²

0,13

8

0,13

CIRCULAÇÃO 54,87 m² 0,15

ÁREA DE PRODUÇÃO 138,40 m² 0,15

LOJA 15,80 m²

PREPARO BARRO 0,15

14,81 m²

LARGURA 60 150 250 580 745

ALTURA 45 100 100 100 100

PEITORIL 165 110 110 140 110

QUANT. 13 1 4 2 2

150

COPA 17,25 m²

110

0,75

210

300

100

60

3,13

60

300

QUADRO DE ESQUADRIA- JANELA

0,15

CORTE AA 1 : 100

PROJETO GALPÃO PANELEIRAS DE GOIABEIRAS CONTEÚDO PLANTA DE COBERTURA, PLANTA BAIXA BARRILETE E CORTE AA ESCALA

1 : 100

DATA

17/11/2021

4/5


290

180 110 30

ALVENARIA COM ACABAMENTO EM CIMENTO QUEIMADO

TINTA ACRÍLICA BRANCA

270

ESQUADRIA EM AÇO INOX PRETO

VARANDA

RESTAURANTE

48,60 m²

78,30 m² 6,15

30

LAJE EM CONCRETO COM ACABAMENTO EM CIMENTO QUEIMADO

4,55

VARANDA

ÁREA DE PRODUÇÃO

48,53 m²

175,95 m²

3,15

3,15

FLOREIRAS EM CONCRETO COM ACABAMENTO EM CIMENTO QUEIMADO

GUARDA-CORPO EM AÇO INOX PRETO

9

0,15

ÁREA DE PRODUÇÃO

1,55

138,40 m²

CORTE BB 1 : 100

150

54,87 m²

110

0,15

160

CIRCULAÇÃO 210

270

60

30

90

270

180

1190

6,15

0,15

10

FACHADA NORTE 1 : 100

ALVENARIA COM ACABAMENTO EM CIMENTO QUEIMADO

LAJE EM CONCRETO COM ACABAMENTO EM CIMENTO QUEIMADO

ESQUADRIA EM AÇO INOX PRETO

FLOREIRAS EM CONCRETO COM ACABAMENTO EM CIMENTO QUEIMADO

GUARDA-CORPO EM AÇO INOX PRETO

TINTA ACRÍLICA BRANCA

11

FACHADA OESTE 1 : 100

PROJETO GALPÃO PANELEIRAS DE GOIABEIRAS CONTEÚDO CORTE BB, FACHADA NORTE E FACHADA OESTE ESCALA

1 : 100

DATA

5/5 17/11/2021


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