A Terra Das Sombras - A Mediadora

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perança. Foi desta para melhor. Quando vi por sua expressão de perplexidade que ele continuava sem entender, finalmente eu disse, algo exasperada: — Morreu. — Ah — fez ele. — Morri. Mas em vez de responder a minha pergunta, ele balançou a cabeça. — Não estou entendendo — disse, com ar de espanto. — Não entendo como você consegue me ver. Durante todos esses anos, ninguém nunca... — Claro — fui cortando, pois como você já deve estar sabendo estou cansada de ouvir esse tipo de coisa. — Olha só, os tempos mudaram um bocado, sabia? Então, qual é a sua? Ele piscou com aqueles enormes olhos negros. Suas pestanas eram mais longas que as minhas. Não é sempre que eu dou de cara com um fantasma que também é uma graça, mas aquele cara... caramba, ele devia ter sido alguma coisa quando vivo, pois ali estava ele morto e eu já estava querendo adivinhar como eram as coisas por baixo da camisa branca que usava, bem aberta, mostrando um bocado o peito, e até um pouco do abdômen. Será que fantasma também faz abdominal? Era o tipo da coisa que eu nunca tivera oportunidade — ou vontade — de explorar até então. Não que eu fosse me deixar perturbar por esse tipo de coisa àquela altura dos acontecimentos. Afinal de contas, sou uma profissional. — A minha? — repetiu ele. Até sua voz parecia liqüefeita, com um inglês mo-


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