inventando função pra ele o tempo inteiro. A galera fica lá fumando, que é uma função, coloca TV pra ver jogo, e por ai vai. E não passa pela coisa da organização, passa pelo espontaneísmo, que é a coisa do desejo, desejo das pessoas. O que eu acho super legítimo. (trecho de entrevista com André Silva, morador da ocupação Guarani Kaiowá, em Contagem, MG, in VALLE, 2015).
Hardt e Negri apontam três elementos que compõem o conceito de contrapoder: a resistência, a insurgência e o poder constituinte. Sem querer aprofundar a análise, essas três dimensões do contrapoder, organicamente coadunadas,
também
podem
ser
identificadas
nessa
luta
contra
o
desalojamento das ocupações da Izidora. Resistência contra o desalojamento, liminarmente concedido, tão logo divulgada e denunciada a violação coletiva da cerca que protegia a ilegalidade do descumprimento da função social. Poder insurgente, por sua vez, consubstanciado na quebra do estatuto de propriedade como instituição protegida pelo Estado (constituído), parceiro dos agentes
imobiliários
que
pretendem
construir
na
área
grandes
empreendimentos via operação urbana. Força constituinte conformada pela multidão na defesa e construção do comum urbano, cuja potência é capaz de criar
novas
territorialidades,
novas
sociabilidades,
modos
de
vida,
experimentações e narrativas insurgentes, em que pese o poder simbólico e material da cidade-empresa. Especialmente na última década e, ainda com maior intensidade, após as jornadas de junho de 2013, as ocupações organizadas por movimentos sociais se multiplicam nas metrópoles brasileiras, não raro garantindo o assentamento de milhares de famílias pobres que não podem aceder à aquisição da moradia, nem mesmo pelo Programa Minha Casa, Minha Vida que privilegiou as faixas de renda 2 e 3 nas capitais. Seguindo o exemplo tomado até aqui, em Belo Horizonte os movimentos organizados, articulados em rede, têm conseguido superar de longe, em termos quantitativos e qualitativos, a política pública de provimento habitacional de baixa renda. Somente na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), as ocupações de terrenos acompanhadas por movimentos 232