Unidade IV
Saussure: princípio da arbitrariedade
O princípio da arbitrariedade é uma das posições mais determinantes da teoria saussuriana. Relembrado por pesquisadores de diversas épocas, é princípio retomado e criticado, conforme a linha a que o estudo pertence. Marco na discussão de abordagem da língua, aproximando-se daqueles que seguem uma postura mais formalista. Vamos, então, entender este importante princípio da teoria saussuriana. Considerando a imagem, pergunto: O que é?
Você disse... é uma MÃO. Eu respondo: - Isto não é uma mão!! Você diz: - Como!?! Eu respondo: - Isto é a imagem, a representação de uma mão. (parte do corpo, muito importante para a eficiência da libras, por exemplo). Mas não é uma mão. Isto significa dizer que uma pintura, uma imagem, uma gravura, não são a “coisa”, mas a representação da “coisa”. Um signo.
Vamos em frente:
Mesma pergunta: o que é?
praia Nós respondemos: é um signo, pois representa “praia”. Neste caso, não temos uma imagem, uma figura. Temos um elemento lingüístico. Um signo lingüístico. Uma “coisa” representada linguisticamente por um signo.
Mesma pergunta: o que é?
Nós respondemos: é um signo, pois representa “mãe”. Também é um elemento lingüístico. Um signo lingüístico. Uma “coisa” representada linguisticamente por um signo.
Assim, conforme Vilela & Koch( 2001): (...) signos são entidades em que sons ou seqüências de sons – ou as correspondências gráficas – estão ligados com significados ou conteúdos. (...) os signos são assim instrumentos de comunicação e representação, na medida em que, com eles, configuramos linguisticamente a realidade e distinguimos os objetos entre si.
Entendido os fundamentos do signo lingüístico, já podemos apresentar o princípio da arbitrariedade. Vale ressaltar que nosso objetivo é trazer os resultados de
algumas discussões e reflexões realizadas desde a proposta de arbitrariedade do signo lingüístico saussuriano. O signo lingüístico é constituído de significante (Se) / significado (So). Se So Assim, nos signos lingüísticos abaixo: a)
bola
b)
A noção de significado admitida fica próxima da noção de conceito. Neste caso, nos exemplos “a” e “b” ocorrem dois signos lingüísticos diferentes (representações diferentes) com conceitos (So) iguais. Porém, o que dizer sobre o significante? Compreendido o significado, falta tratar do significante. O significado dos dois signos lingüísticos é igual, porém os significantes são diferentes. Por quê? No caso do signo “bola”, leva-se em conta a corrente acústica que constitui a relação entre os fonemas que se combinam para formarem o significado: Fonema /b/ + fonema /o/ + fonema /l/ + fonema /a/ Da mesma forma, na libras, o significado também se relaciona a um tipo de significante que por conta das características inerentes da libras são um pouco distintas do português, isto é, ao invés de fonemas, tratamos de gramemas / quirema. Símbolos mórficos que se combinam para suscitarem o significado de um signo lingüístico.
Assim, os gramemas do signo lingüístico possuem uma relação arbitrária com o conceito de bola (inglês: ball): s. f. Qualquer corpo esférico. Objeto esférico de couro, plástico ou borracha, e inflado de ar comprimido, serve para ser jogado, batido ou chutado em jogos ou esportes. Ex.: A bola está muito murcha para futebol. É preciso inflá-la. Mãos verticais abertas, palma a palma , dedos separados e ligeiramente curvados. É neste sentido que se opta, na atualidade, pela noção de arbitrariedade da relação entre (Se) e (So) e não do signo lingüístico em si. Por exemplo, tomando-se como base os seguintes signos lingüísticos: c)
pedra
d)
Imagine que a partir do exemplo “c” e “d”, eu criasse o signo “pedreira”. Pergunto. O signo lingüístico “pedreira” é arbitrário ou foi motivado pelo signo pedra? Motivado. É por isto que é preferível optar pela noção de arbitrariedade entre o significante e o significado, pois esta relação, realmente é arbitrária.
Veja o exemplo em Libras no vídeo:
Para finalizar esta unidade, é importante que se ratifique nossa afirmação presente na unidade III. O pensamento de Saussure é dicotômico (Matos, 2010, p. 12-
15). No caso da noção de signo lingüístico, podemos afirmar que a dicotomia se instaura: Eis a dicotomia: duas coisas distintas (não necessariamente opostas), mas que constituem uma mesma coisa. (Unidade III, p.14)
Duas coisas distintas (significante e significado), mas que constituem uma mesma coisa (o signo lingüístico). Significante não é significado, significado não é significante, mas só há signo lingüístico se houver significante e significado.
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure. 12ª ed. Petrópolis: Vozes, 2003. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. Trad de A. Chelini , José P. Paes e I. Blikstein. São Paulo: Cultrix; USP, 1969. VILELA, M. & KOCH, I. V. Gramática da língua portuguesa. Coimbra: Almeida, 2001.