26/03/2011 - JORNAL SEMANÁRIO

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Sábado 26 de março de 2011

26 ª Feira do Livro

Coração valente O médico acaba de me dizer que tenho um coração forte. É óbvio que aguentar o que aguentou quando criança só pode ser um coração muito valente. Final dos anos 60 e início dos anos 70. Tinha eu 12 para 13 anos de idade, pouca vergonha na cara e muito pudim no cérebro. Final da moralidade caquética, início da liberdade patética. Final da blusa de gola alta, início da frente-única. Final da era do rádio, início do mundo da televisão. Final das calças curtas, início das calças compridas boca-de-sino. Final do samba-canção palpitante, início do iêiêiê saltitante. Final das mãos na cintura, início da dança de rosto colado. Final da infância, início da adolescência. Guerra de hormônios contra neurônios. Final do inverno, início da primavera. As jovens do Paredes e arredores aderiram com tudo ao modelito da frente-única e a minissaia, especialmente três irmãs; as três namoradeiras. Não eram, porém, as três irmãs do escritor russo Anton Tchekhov. É claro que nenhuma delas queria qualquer coisa de um bobo com o rosto povoado de espinhas e o coração cheio de amor para dar. Minha ilusão, porém, era muito mais forte do que a razão. Final da tarde, início da noite. As três irmãs voltavam do trabalho na roça para à casa, embarcadas no alto da carroça carregada de pasto, chiando e solavancando. Eu gostava de por-me junto à cerca de pedra de onde espichava meus olhos gulosos e ávidos. A visão das minúsculas tiras de pano a cobrir partes opulentas, incendiavam minha fértil imaginação. Meu coração insistia em saltar do peito. Final da novela, início dos devaneios noturnos. Palpitações, tremores, suores, coração sem freios, acelerado e totalmente desgovernado. Nos meus sonhos, as três irmãs saíam do banho de camisola transparente e me lançavam um sorriso carregado de sensualidade. De repente, abriam os braços numa atitude assim assim... Final da primavera, início do verão. As três irmãs na festa na comunidade desfilando o corpo bronzeado. Fiz barro ao redor das “namoradeiras” e nada. Deixei-me estar até que num momento de extrema ousadia, decidi abordar a mais nova das três com as orelhas sorridentes. – Vá pra lá, pentelho. A resposta dela foi como um direto no queixo. Se houvesse cento e vinte candidatos, certamente eu seria o último da fila. Deixei-me estar, recohi os olhos. Coração pisado como uma barata que se esmaga com o calcanhar até ouvir aquele barulhinho, crash crash e tem certeza de que não tornará a incomodar. Depois ordenei minhas pernas velozes como foguetes espaciais, as coisas que mais amava na vida, a darem o fora dali o mais rápido que pudessem. Final da adolescência, início da juventude... As três irmãs ajeitaram-se na vida com seus namorados, casaram e tiveram filhos. No final de tudo, meu coração machucado resistiu e fez-se forte e valente.

Mapa do evento é divulgado

Pela primeira vez na praça Centenário, feira vem mais leve

A

Tomaz dos Santos

programação da 26º Feira do Livro está praticamente fechada, e os organizadores do evento prometem muitas novidades. Nesta semana, os 22 livreiros que comporão a feira estiveram em Bento, vistoriando o espaço da praça Centenário. Segundo o diretor da biblioteca pública Castro Alves, Pedro Júnior da Fontoura, a maioria dos expositores gostou do espaço. “No geral, os livreiros gostaram, são muito parceiros. Tirando alguns, o pessoal gostou bastante porque não adianta, temos que pelear com as armas que temos”, afirmou Fontoura. Segundo ele, a realização na praça Centenário é um desafio muito grande, mas é a melhor alternativa para feira, pois o local é amplo, arborizado e irá mostrar a grandeza do evento. Por este motivo, sem divulgar muitas informações, Pedro Júnior revelou, com exclusividade ao Semanário, o cartaz e o slogan da feira: Voe alto, leia. A arte traz um céu azul com livros em forma de pássaro. “Por a feira ser na praça, queríamos algo mais leve do que no ano passado, precisávamos algo mais aberto”, avalia. Ao contrário das duas últimas feiras, que tiveram o material gráfico realizado em parceria com as turmas de Publicidade e Propaganda da faculdade Cenecista, neste ano, o material foi criado pela própria biblioteca.

REPRODUÇÃO

Auditório Palco Café Livreiros Entrada principal Posto da Brigada Militar

Feira apresenta disposição do evento na praça Centenário

tor da biblioteca adiantou alguns eventos que já estão confirmados. Além da visita dos autores nas escolas, de shows culturais, de teatro e de música durante o evento, Fontoura destacou o encontro de artistas no “Com a Palavra, a música”. Na segunda noite do evento, o poeta Rodrigo Bauer e o músico Mário Barbará estarão no palco falando sobre o processo de criação entre a literatura e a música. Neste ano, paralelo à feira, ocorre o Congresso Nacional de Ensino de Leitura, Literatura e Língua Portuguesa. No dia da abertura haverá mini-curso com Hermes Bernardi Júnior. Também ocorre mesa redonda que reunirá Carlos Appel, José Edio de Lima Alves, Cícero Galeano Lopes, Colmar Duarte, com mediação de Pedro Júnior da Fonrogramação toura. Além disso, Lea Cassol, Como a programação da feira uma das escritoras já divulgadas, ainda não está pronta, o dire- fará dois recitais no palco da feira.

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Orçamento

O investimento da Administração Municipal na edição deste ano da feira do livro gira em torno de R$ 200 mil, cerca de 30% abaixo do estimado. Com o corte, o show de Zeca Baleiro, que estava praticamente acertado, não será realizado, assim como a contratação do Circo Girassol. Porém, todas as apresentações que serão realizadas na feira, principalmente, por artistas locais, serão remuneradas. “É uma forma de valorizarmos as pessoas daqui. Apesar de também reduzirmos o cachê deles, nos últimos dois anos, eles começaram a ganhar pelo seu trabalho, o que não acontecia anteriormente”, disse Fontoura. reporter1@jornalsemanario.com.br


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