Pontivírgula nº17

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Pontivírgula

Direcção: Patrícia Fernandes e Joana Cavaleiro Edição nº17 - Novembro de 2014 - Publicação Mensal

Papa Francisco: uma proposta de abertura “A eleição do Papa Francisco revelou ser a lufada de ar fresco de que a Igreja Católica tanto precisava. Desde o momento em que afirmou que pretendia continuar a viver no seu pequeno apartamento, renunciando aos luxos de que o Vaticano dispõe, marcou posição, deixando claro que o seu pontificado seria pautado pela proximidade com o povo e, especialmente, com os mais desfavorecidos.”

» página 16

Ex-alunos: Experiências “Tinha a certeza de que seria um erro, mas a lei do não-tens-nadaa-perder convenceu-me e, dia 7 de Maio, lá estava eu. De cabeça quente, ainda sem um diploma na mão, com vómitos, unhas mal pintadas e olheiras de metro e meio. Foi o melhor erro da minha vida.” » páginas 10 e 11

O Cais da Noite “Rapidamente esta se tornou numa das mais movimentadas zonas da noite lisboeta. No entanto, apesar de durante a noite o movimento ser intenso, durante o dia trata-se de uma área pacata, com comércio local e famílias que tentam ter um dia-a-dia normal.” » páginas 18 e 19

As leis são como as mulheres: servem para ser violadas

Nesta escola o ensino de Mandarim é obrigatório

“Este comentário feito por Castelão levanta a questão de como é que, em pleno século XXI, ainda existem pessoas que veem a mulher como objeto sexual. Este problema é recorrente e real, na medida em que milhares de mulheres em todo o mundo são ou estão a ser, neste preciso momento, alvo de abuso sexual.”

“No norte de Portugal, em São João da Madeira, é obrigatório em todas as escolas o ensino de Mandarim a crianças do primeiro ciclo, com idades entre os oito e os nove anos.”

» páginas 14 e 15

» página 17


EDITORIAL

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“A arte de escrever é a arte de descobrir aquilo em que acreditas.” Gustave Flauber

Escrever nem sempre é um exercício fácil e escrever para um jornal torna ainda maior a responsabilidade deste simples exercício de enunciação de palavras. Há muito mais para além da noção de responsabilidade na edição de um jornal – é imperativo ter em conta ideias como actualidade, informação, simplicidade e ética. Todos estes elementos tornam-se pequenos suportes de toda a produção escrita que está presente nas páginas deste jornal. Com objectivos claramente definidos, a direcção deste órgão de comunicação tem como principal motivação chegar a todas as pessoas que, directa ou indirectamente, estão envolvidos nesta faculdade. Enquanto directora e responsável por este projecto, acredito em cada palavra aqui escrita, acredito no talento de cada pessoa envolvida, e o meu principal objectivo é contribuir para o crescimento individual de cada redactor e colunista que contribui todos os meses para cada edição. Acredito no seu potencial, na sua autonomia e capacidade de investigação, na sua forma, muitas vezes diferente, de pensar em cada um dos temas abordados. Este espaço é um espaço de crescimento pessoal, mas também de crescimento do próprio projecto. Sendo importante reflectir sobre a primeira edição, claramente, houve críticas que reforçaram a ideia já existente de que um projecto desta dimensão não se dignifica de um mês para o outro e de que o Pontivírgula ainda tem muito a batalhar e desenvolver-se ao longo das suas edições. No entanto, é severamente importante reforçar que não poderia ter tido um melhor início, com feedback satisfatório e que nos empolgou a todos, sem excepção, a continuar a lutar neste projecto.

Ficha Técnica Directora: Patrícia Fernandes

Outra ideia que merece ser destacada é o nosso grande foco na cultura, com o objectivo de trazer novas opiniões, histórias e conhecimentos a cada uma das áreas que o jornal reflecte.

Vice-Directora: Joana Cavaleiro

Neste mês de Novembro, contamos com duas estreias: a coluna Exalunos: Experiências, cujo objectivo é partilhar experiências de antigos alunos da FCH no mundo laboral, nas mais diferentes áreas, e a coluna de séries Fora de Série, que contará a partir de agora, com a review de uma série diferente todos os meses.

Inês Amado

Para além destas estreias, no universo universitário haverá destaque para a entrevista com o professor de Língua Italiana Gaspare Trapani e para uma reportagem de uma visita a Setúbal, organizada pelo Gabinete Internacional da FCH.

Manuel Cavazza

Num âmbito mais internacional, vão abordar-se temas como as eleições do Brasil e a reeleição de Dilma Rousseff, as mudanças efectuadas pelo Papa Francisco desde a sua nomeação em 2013 e uma reflexão sobre a violação das mulheres. Já em Portugal, focamse temas como o ensino de mandarim em escolas do Norte do país, as alterações do horário da noite lisboeta e uma visão da eutanásia, ainda tema tabu, em Portugal. Em termos culturais, vão ser comentados temas tão distintos como a noção do preconceito, a ideia de “falsa liberdade” nos videojogos ou a censura na música, sem esquecer as colunas de desporto, cinema e literatura, reflectindo sempre sobre temáticas importantes em cada área. Deixo ainda uma nota final para a Agenda Cultural que mostra um top 5 de várias áreas culturais a ser exploradas durante o próximo mês. Boas Leituras, Patrícia Fernandes

Redacção Dina Teixeira Inês Cruz Inês Linhares Dias Joana Contreiras Joana Roque Madalena Gil Maria Manuel de Sousa Mariana Fidalgo Susana Santos

Colunistas Catarina Veloso, Moda Daniela Ribeiro de Brito, Desporto Diogo Barreto, Música Joana Cavaleiro, Literatura João Marques da Silva, Cinema Mariana Leão Costa, Lifestyle Michelle Tomás, Actualidade Mitchel Martins Molinos, Gaming/ Internet Pedro Pereira, Literatura Contacto: jornal.pontivirgula@gmail.com

REDES SOCIAIS Site: www.jornalpontivirgula.wix.com/ jornalpontivirgula Facebook: www.facebook.com/ pontivirgula.geral Jornal redigido com o antigo acordo ortográfico, salvo quando indicado.


03

FCH

Setúbal, uma região repleta de emoções Tour da FCH

A FCH Tour, passeio realizado no dia 1 de novembro e organizado pelo Gabinete Internacional da Faculdade de Ciências Humanas, contou com a presença de um grupo de 30 participantes, incluindo professores, alunos portugueses e alunos de Erasmus, que se juntaram a fim de conhecer melhor a riqueza cultural, histórica, artística e natural da região de Setúbal. Os participantes da visita encontraram-se na faculdade pelas nove horas, com destino a Azeitão, onde todos puderam provar a típica torta de Azeitão. Ainda na parte da manhã, visitou-se a Quinta e o Palácio da Bacalhoa, uma antiga propriedade da casa real portuguesa da segunda metade do século XV, adquirida em 2000 por José Berardo. Classificado como monumento nacional pelo Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico em 1996, o Palácio da Bacalhoa tem um interessante conjunto de azulejos, mosaicos e pratas centenárias, bem como quadros alusivos às várias dinastias portuguesas. A principal varanda do Palácio, os vastos jardins, o labirinto de bucho, e o lago inserido na propriedade foram os pontos mais atrativos e apreciados. Os participantes puderam, ainda, visitar várias exposições da coleção de arte particular de José Berardo. A manhã terminou com uma prova de Moscatel de Setúbal, na loja de vinhos da casa Bacalhoa.

Pela hora de almoço, dividimo-nos entre um restaurante e o Castelo de Palmela, e esses puderam aproveitar também para visitar o Castelo. A sensação de estar rodeado pelas vistas deslumbrantes da região de Setúbal e da península de Tróia foi absolutamente fascinante. Da parte da tarde, cumpriu-se um dos mais aguardados momentos do programa: um passeio no rio Sado, com observação de golfinhos, durante o pôrdo-sol. A contar pelas emoções vividas, este esplêndido espetáculo da natureza ficará certamente presente na memória de todos os participantes da FCH Tour. A visita terminou com uma breve passagem por Sesimbra. Segundo Margarida, aluna de Direito e responsável pela organização da visita, com este novo projeto pretendese “divulgar um lado um bocadinho diferente do nosso país, em vez daquele lado mais comercial que toda a gente conhece.” A ilha das Berlengas e a aldeia do Piódão são destinos em mente para próximas viagens a organizar pelo GIFCH. Afirmou ainda que “a ideia seria fazer três ou quatro viagens durante o ano letivo.” Sobre o passeio, as opiniões dos participantes foram unânimes: uma viagem agradável, bem organizada, que deixa vontade para repetir numa próxima oportunidade. Dina Teixeira e Inês Amado Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


FCH

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“Dall’Italia al Portogallo” pela Literatura Entrevista ao Professor Gaspare Trapani “De Itália a Portugal”, uma entrevista feita a Gaspare Trapani, professor de Língua Italiana na Faculdade de Ciências Humanas, que nos conta o que o apaixonou pelo nosso país, onde vive há dezoito anos, analisando, também, o impacto da Semana da Língua Italiana, ocorrida no mês de Outubro, tanto na cidade, como na nossa faculdade. Pontivírgula: Quando fala na cultura portuguesa, quais foram os elementos que o fizeram querer ficar? Gaspare Trapani: A primeira coisa que me atraiu foi, sem dúvida, a própria literatura, graças a Fernando Pessoa, que está traduzido em italiano por Antonio Tabucchi. É aqui que está a minha aproximação, não como estudante, mas como leitor, à literatura portuguesa. Depois, comecei por estudá-la seriamente e apresentei uma tese sobre Neo-Realismo, de modo particular sobre “Gaibéus”, de Alves Redol. Fiz ainda outros estudos, ligados, por exemplo, a Saramago e a outros autores contemporâneos. Pontivírgula: Quais foram as suas impressões, quando chegou a Portugal?

Professor Gaspare Trapani numa conferência em Córdova, Espanha

Pontivírgula: Vive em Portugal há um tempo considerável. O que o trouxe ao nosso país? Gaspare Trapani: Eu vim para Portugal porque fiz os estudos em Língua e Literatura Portuguesa, na Universidade de Milão. Digamos que o primeiro motivo para vir para aqui foi fazer um curso de aperfeiçoamento sobre a língua, sobre a cultura portuguesa, isto no fim de 1996.

“A primeira coisa que me atraiu foi, sem dúvida, a própria Literatura, graças a Fernando Pessoa, que está traduzido em italiano por Antonio Tabucchi.”

primeiras

Gaspare Trapani: Quando cheguei, aconteceu-me aquilo a que os Italianos chamam de “colpo de fulmine”, isto é, um enamoramento imediato. Eu nasci na Sicília, que, estando no Sul da Europa, é uma terra com um clima muito belo, muita luz, muito sol. No entanto, estudei em Milão, uma cidade fantástica do ponto de vista cultural, mas que a nível climático é muito fria, muito cinzenta. Quando cheguei a Lisboa, percebi que havia, na Europa, uma cidade que podia conjugar as duas coisas: o clima – o céu azul, a luz – e, ainda, uma actividade cultural muito intensa. Da primeira vez que visitei a cidade, em 1992, para um curso breve de Português, decidi logo que havia de viver aqui, não sabia se para sempre ou por um longo período. Pontivírgula: E que outras diferenças encontrou? Gaspare Trapani: Para mim, a cidade de Lisboa teve, e ainda tem, uma vantagem. Digamos que é uma espécie de “via di mezzo, una via virtuosa” (‘Via di mezzo’ corresponde à expressão “meio-termo”; via virtuosa alude à frase “no meio é onde está a virtude”, ideia Aristotélica.) entre o Norte de Itália, que é extremamente racional, preciso, e o Sul de Itália, que é extremamente lento, pelo que encontrei aqui uma dimensão adequada ao meu ritmo. Claro que também encontrei a diferença habitual da alimentação. Ao início, gostava muito das coisas italianas e quando ia a Itália voltava com uma mala de 20 quilos de produtos, mas agora já compro muita coisa aqui. Como vou a Itália, pelo menos, cinco vezes por ano, não tenho tempo de sentir saudades.


FCH

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“Muitas vezes, a nossa casa não é, necessariamente, o sítio onde nascemos.”

Pontivírgula: Quais foram os desafios que teve de superar? Gaspare Trapani: Tudo, na realidade. Para mim, essa palavra tem um sentido extremamente positivo, visto que penso que viver fora do próprio país é um privilégio. Significa, obviamente, enfrentar as dificuldades que vão surgindo. Aqui, todos os dias devo fazer alguma coisa, mas isso é uma vantagem, porque, se não fosse assim, não tinha aprendido. Espero ter sempre novos desafios, caso contrário seria tudo muito igual, muito banal. Pontivírgula: A língua italiana está entre as mais estudadas no mundo. Será, realmente, uma mais-valia saber italiano? Gaspare Trapani: Para um professor de Italiano, isto é uma coisa belíssima. O italiano é a quarta língua mais estudada, mas é a décima língua mais falada no mundo. A vantagem, do meu ponto de vista, é que a maior parte das pessoas que estuda italiano o faz por prazer, por escolha pessoal e livre. O italiano é, efectivamente, estudado como língua de cultura. À parte disso, vivemos num mundo em que quantas mais línguas conhecermos, melhor. Pontivírgula: Realizou-se, no mês de Outubro, a XIV Semana da Língua Italiana. Qual é o impacto deste evento em Lisboa e aqui na faculdade? Gaspare Trapani: Considerando o facto de esta Semana ser um evento de carácter linguístico, o conhecimento da língua italiana pode ser discriminante. Isto porque pode haver muitas pessoas que não participam por não conhecerem a língua, mas penso que é um evento extremamente importante para mostrar a cultura italiana em Lisboa. Nesta edição, acredito que o que fizemos a nível universitário melhorou, por encontrarmos novas tipologias de comunicação, por exemplo, através da leitura de textos literários em várias línguas, assim como através do encontro com os bloggers italianos residentes em Lisboa.

Pontivírgula: Nessa sessão sobre literatura, será que se representou Itália de um modo demasiado romântico? Gaspare Trapani: Muitas vezes, quando falo com os meus alunos, digo que Itália é um dos países que tem, provavelmente, um maior número de imagens estereotipadas, tanto boas, como más. Obviamente, a principal motivação para criar um evento do género, em colaboração com o Departamento de Línguas da Universidade, foi escolher autores da literatura que tivessem uma certa dignidade. É possível, claro, que passem uma imagem parcial. Se tivéssemos feito uma recolha de textos jornalísticos contemporâneos, a imagem teria sido outra.

“A vantagem, do meu ponto de vista, é que a maior parte das pessoas que estuda italiano o faz por prazer, por escolha pessoal e livre.”

Pontivírgula: E o que dizem os escritores italianos sobre Portugal? Gaspare Trapani: Tabucchi, por exemplo, via Portugal como uma fonte de inspiração. Um episódio que considero relevante, não da sua obra, mas da sua vida pessoal, foi a decisão de morrer em Portugal, visto que estava doente e decidiu passar os seus últimos dias aqui. Muitas vezes, a nossa casa não é, necessariamente, o sítio onde nascemos. Pontivírgula: Consegue encontrar um ditado italiano que demonstre as semelhanças entre Portugal e Itália? Gaspare Trapani: Sinceramente, penso que são muitas as semelhanças. A primeira coisa que me vem à cabeça é um provérbio italiano, que não se traduz à letra em português, embora exista um equivalente: “è meglio un uovo oggi che una gallina domani” (Tradução literal: é melhor um ovo hoje do que uma galinha amanhã. Corresponde ao provérbio português “não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”). Os Portugueses e os Italianos têm tendência a adiar as coisas, em vez de as fazerem logo. Parece que temos sempre tempo, mas, se fazemos sempre tanta coisa, alguma tem de ficar para trás. Uma das coisas com que me identifico é mesmo esta, também existente entre os Italianos do Sul. Mas, apesar disso, também devíamos ser todos mais decididos. Alexandra Antunes


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PSICOLOGIA

Estão a chegar as frequências! E agora?!

“Há várias atitudes que podes adotar para diminuir a

ansiedade que sentes”

Muitos estudantes só se sentem ansiosos quando estão a realizar a prova. Se tu fores um desses estudantes, deves primeiramente organizar o tempo da prova, ou seja, é importante ler atentamente todas as instruções e todas as questões e escolher a melhor forma de organizar o tempo para responder a tudo. Se sublinhares as palavras-chave, torna-se mais simples saber o que tens realmente de colocar na resposta. Para a maior parte dos estudantes universitários, a época de frequências é a pior altura do ano. Com tanta coisa para estudar, com tantos trabalhos para fazer, a ansiedade começa a aumentar e, muitas vezes, é uma das causas do mau desempenho. Aposto que tu não és diferente dos outros estudantes e, nessas alturas, também te sentes mais ansioso, mas não te preocupes: há várias atitudes que podes adotar para diminuir a ansiedade que sentes. Na véspera da prova deves fazer uma revisão final, preferencialmente de manhã. Não vale a pena tentar decorar a matéria toda no último dia, porque na maior parte das vezes não resulta e só aumenta o stress. Prepara o material necessário para a prova no dia anterior e não entres em contacto com pessoas ansiosas, nem fales com os teus colegas acerca da frequência que irá decorrer no dia seguinte. É muito importante fazer uma refeição leve, tomar um banho relaxante antes de dormir e dormir de seis a oito horas. No dia da prova também existem formas de reduzir a ansiedade. Em primeiro lugar, deves acordar com tempo suficiente para te preparares. Deves comer adequadamente antes do exame (comer uma banana ajuda à concentração), usar vestuário confortável e levar relógio, para controlares o tempo durante a prova. É importante planear as deslocações com tempo a mais, de forma a contar sempre com os imprevistos. Se chegares atrasado à prova, a ansiedade aumenta e isso é prejudicial ao teu desempenho. Também não deves chegar demasiado cedo, uns quinze minutos antes são suficientes. Deves aguardar pela hora da prova junto à sala onde terás a avaliação.

E não te esqueças: quantidade não é qualidade. As primeiras questões a responder devem ser as mais fáceis ou aquelas sobre as quais há um maior domínio da matéria. No final da prova, deves reler todas as tuas respostas. Estas são algumas das atitudes que podes adotar para reduzir a ansiedade. Aposto que se as cumprires serás uma pessoa menos ansiosa, o que, consequentemente, te levará a obter melhores resultados. Outro aspeto importante a ter em consideração é o afastamento dos pensamentos negativos. Pensamentos do género “eu não consigo”, “vou chumbar” e “não sei nada” não são bem-vindos! No entanto, se é verdade que temos de ter sempre pensamento positivo, também é certo que não o devemos ter em demasia. Agora pensa: se os outros conseguem controlar a ansiedade, porque não haverás tu de o conseguir também? Segue estas indicações e verás os resultados.

“Agora pensa: se os outros conseguem controlar a ansiedade, porque não haverás tu de o conseguir também?”

Maria Manuel de Sousa Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


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SERVIÇO SOCIAL

Assistente social? O que é isso?

“Muito menos, como ouvimos tantas vezes, serve para retirar as crianças às família, como é costume em todos os filmes em que aparece o “malvado” do assistente social”

Na maior parte das vezes em que me perguntam o que estou a estudar e respondo “Serviço Social”, 50% das pessoas devolve-me um “ai, que giro” e sorri (calculo eu que não devem fazer a mínima ideia do que se trata), os outros 40% têm a coragem de perguntar o que é aquilo, e gosto de acreditar que os 10% que faltam sabem realmente a que me refiro. Na verdade, a maior parte das pessoas nem sequer associa o curso de Serviço Social à profissão de assistente social e, quando explico (já com poucas esperanças de que me entendam) que estou a estudar para ser assistente social, toda a gente parece ficar muito convencida sobre o que se trata, mas fico na dúvida, pois antes de aceitar o desafio eu própria não fazia a mínima ideia do que isso era. Ao contrário da opinião comum, um assistente social não dá comida aos pobrezinhos nem toma conta dos senhores velhotes que estão nos lares nem, muito menos, como ouvimos tantas vezes, serve para retirar as crianças às famílias, como é costume em todos os filmes em que aparece o “malvado” do assistente social. Muito pelo contrário, a disciplina de Serviço Social tem como objetivo, promover a mudança social, habilitar as pessoas para resolver problemas no contexto das relações humanas, capacitá-las para o seu empenhamento na melhoria do bem-estar e relacioná-las com as pessoas e o ambiente que as rodeia. A prática dos assistentes sociais sustenta-se, assim, na promoção dos Direitos Humanos e da justiça social.

As áreas de atuação passam por desenvolver ou propor políticas públicas que possam atender aos serviços e benefícios para a população, nas mais diversas áreas de intervenção, por exemplo: saúde, educação, habitação, crianças e adolescentes, portadores de deficiência, idosos, populações vulneráveis, recursos humanos, relações interpessoais, defesa e garantia de direitos, entre outros.

“A prática dos assistentes sustenta-se, assim, na promoção dos Direitos

Humanos e da justiça social.” Toda esta explicação dá “pano para mangas”, mas, resumindo e concluindo, o assistente social é um profissional agente promotor de mudança que atua para garantir o bem-estar das populações que necessitam da sua intervenção e ajuda!

Inês Cruz Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


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CORRESPONDÊNCIA ERASMUS Um olhar sobre São Paulo

Dizem que São Paulo é como um relacionamento Não, São Paulo não tem as praias do Rio à porta de amoroso: “você sempre está mais apaixonado depois de casa, mas faz-se valer pela cultura e o cruzar de culturas, ‘um tempo’”. Não sei se esta frase foi feita para alguém, mas se o foi tenho a certeza de que foi para mim. São Paulo. A cidade que nunca acaba. A cidade por que me apaixonei.

“As coisas fáceis não têm a

menor graça, e por isso São Paulo obriga cada um a desco-

brir o seu encanto escondido.” Aterrar em São Paulo pode ser um choque desde antes do momento em que as rodas do avião tocam no chão. É uma cidade infinita e, não vou mentir, não é bonita à primeira vista. Mas as coisas fáceis não têm a menor graça, e por isso São Paulo obriga cada um a descobrir o seu encanto escondido. Não posso dizer que São Paulo me tenha recebido de braços abertos desde o início. Cheguei no meio da bagunça, como eles dizem, de uma greve na universidade que se fazia acompanhar de portões trancados, confrontos com polícias, cadeiras empilhadas nas portas das salas... E ninguém sabia bem o que fazer connosco. A indecisão de ficar ou voltar estava a matar-me, mas fiquei. E ainda bem.

por uma vida citadina agitada onde não existe espaço para o aborrecimento, pois existe sempre algo de fascinante e interessante a acontecer, a conhecer, em São Paulo, todos os dias, a todas as horas e para todos os gostos.

Se há coisa que o brasileiro gosta de fazer é dar, dar o que tem mesmo que do seu jeito muito próprio. “Quer ajuda? Vai em frente, vira à direita e depois à esquerda, é aí. Tudo de bom para você, tem um bom dia!” Não. Na verdade, era na direção oposta. “Que bom conhecer você, por favor aparece lá em casa. Vai voltar? Fica lá em casa! Tudo de bom, um beijo!” Mas... E cadê a morada? “Estou mesmo a chegar.” Encostem-se e esperem uma hora. Mas a intenção é boa e de hospitalidade está o meu intercâmbio cheio. “Sirva-se à vontade, põe farofa, e feijão também. Ficou com fome?” Para o brasileiro “sempre tem como dar um jeitinho” e fazer o outro sentir-se em casa. Em São Paulo, a vida passa a correr, a cidade não para um segundo e chegam a ser precisas vitaminas para acompanhar o ritmo. Talvez por isso só se dê um beijinho, não há tempo a perder! E a esse beijinho segue-se um abraço, até ao cabeleireiro que acabámos de conhecer, talvez também por realmente tudo passar num ápice nesta cidade.

Grupo de estudantes de intercâmbio, na viagem a Ilha Grande, no Rio de Janeiro


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09 Como está tão fácil passear na Europa, tenho aproveitado para conhecer melhor este lado do oceano, e tenho visto lugares incríveis, desde o Machu Picchu ao deserto de sal na Bolívia; meu Deus, as praias maravilhosas do Brasil, as cataratas que o separam da Argentina... Nossa, como é lindo este país e este continente! Estou encantada e sinto-me verdadeiramente abençoada por tudo o que tenho podido conhecer de tão diferente e tão avassalador. Fiz alguns amigos dos mais diversos países e continentes. À mesa sentamos nove nacionalidades e, de repente, uma conversa empieza en Espanõl and ends in English, porque de Japonês e Alemão, por aqui ninguém pesca nada. E, embora o grupo tenha quase tantos portugueses como brasileiros, a verdade é que é impossível passarem-se 15 minutos de conversa sem uma erro de comunicação pelo meio.

Cataratas do Iguaçu, Argentina

E até na tagarelice. Juntem um bando de gringos (como aqui se chama aos estrangeiros) e vão aperceber-se de que aqueles que não se conseguem calar são os portugueses e os brasileiros. Ah, quase me esquecia, comecei a estagiar numa empresa de publicidade! É verdade, aqui residem os verdadeiros bosses da comunicação e, se há área valorizada aqui, é essa. Estou a aprender muito e num ambiente super legal, por isso podem ver que o intercâmbio não precisa de ser só álcool e rebolar no sofá durante o dia, mas sim o que cada um quiser e decidir fazer dele. Pôr-do-sol no parque Ibirapuera, São Paulo

Apesar de a língua ser a mesma, desengane-se quem acha que vai chegar e ser compreendido. É verdade, acreditem ou não, já por três vezes me pediram para, por favor, falar em Inglês porque não percebiam nada. “Você fala muito rápido. Se chama Maria? Mas como se escreve? Meria? Ah, Máááária, entendi.” Nesta mistura de países, continentes e línguas, o mais fascinante é ver que há diferenças entre todos nas coisas mais simples possíveis, como o sentido do humor, a maneira de expressar, o ritmo a dançar... Mas ver também que o português e o brasileiro são, realmente, irmãos e se conectam um com o outro muito bem, quer na alegria face aos dias de chuva, quer na risada que dão de coisas que outros não entendem, naquele jeitinho nato de dar uma volta às situações, até às que não se deve dar a volta...

Termino com o cliché da vida de intercâmbio, contando-vos que, de facto, estou a crescer muito, a aperceber-me do que realmente importa na vida e do que quero para ela. As saudades da família e dos amigos são muitas, deles e do meu país, que de repente parece tão mais bonito. Mas eles que se preparem, porque a rapariga que vai voltar não será certamente a mesma que partiu ainda o verão não tinha acabado.

“Mas eles que se preparem, porque a rapariga que vai voltar não será

Machu Picchu, Peru

certamente a mesma que partiu

ainda o verão não tinha acabado.”

Maria Mihaltchuk Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


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EX-ALUNOS: EXPERIÊNCIAS Ana Pinheiro

“Eu tive sorte, é certo. Tenho perfeita consciência. Mas também aprendi que a sorte dá muito trabalho.”

5 horas, 30 minutos e o despertador já está a tocar. Às vezes, só às vezes. Ou já viveria com uma botija de café às costas. Aliás, pensando bem, não está muito longe da [nova] realidade. Fazer a A5 em menos de dez minutos. Descobrir que as pessoas às seis não têm mais olheiras do que à uma. Entrar na cadeia alimentar do show prep – tease – payoff – on air. Radiologês para o processo de preparação das cinco horas de emissão que, no senso comum, surge por geração espontânea quando se abre o microfone. Observar. Reportar. Ir para a rua. Pintar cenários com a voz. Criar imagens através das ondas da rádio. Reportar. Pesquisar. Comunicar. Perceber tanto de gossip como de surf. Ter o Algarve à porta de casa. Perder fim-de-semana e férias do dicionário. Comunicar. Dar voz ao silêncio. Mergulhar na cadência das músicas. Comunicar. Acrescentar sempre valor. Reportar. Encontrar as palavras certas. Desfrutar, muito. Ter uma equipa mais maluca do que tu. Ter o prazer de uma viagem ao fim do dia com o rádio do carro desligado. Resumo de cinco meses após ter cometido a maior loucura da minha vida – ir a um casting. Nunca me tinha atrevido a tanto. Contratos ganharia, pensava eu, no máximo, com uma úlcera nervosa – ou duas até.

Tinha a certeza de que seria um erro, mas a lei do não-tens-nada-a-perder convenceu-me e, dia 7 de Maio, lá estava eu. De cabeça quente, ainda sem um diploma na mão, com vómitos, unhas mal pintadas e olheiras de metro e meio. Foi o melhor erro da minha vida. Quantas vezes julgamos passar doze anos da nossa vida a estudar, mais três a queimar pestanas – células do fígado e neurónios também, mas isso já não interessa – para, no fim, perder ainda mais algumas horas bónus no centro de emprego ou num corrupio de entrevistas de trabalho? Eu tive sorte, é certo. Tenho perfeita consciência. Mas também aprendi que a sorte dá muito trabalho. Agarra tudo. Vive mais. Apanha os detalhes, os pormenores. Aproveita ao máximo. Atira-te de cabeça. É nestes anos que fazes a bagagem de tudo o que levas para a vida. Experiências, conhecimentos, histórias, aprendizagens, amigos, rotinas, personalidade. Muito do que sei e sou hoje formei-o na faculdade. Todas as directas, sábados e feriados em Economia, todas as ressacas curadas com Teorias da Cultura e festas perdidas por uma aula às 8 e 10 da manhã valeram a pena. As bases ganhei-as lá todas. O mundo do trabalho consegue ser muito assustador, principalmente para uma miúda de 1 metro e 63, mas é menos assustador quando estás bem preparado/a.

“De cabeça quente, ainda sem um diploma na mão, com vómitos, unhas mal pintadas e olheiras de metro e meio. Foi o melhor erro da minha vida.”

© Pedro Lopes


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FCH “O mundo do trabalho consegue ser muito assustador, principalmente para uma miúda de 1 metro e 63, mas é menos assustador quando estás bem preparado/a.”

Quando tens o potencial de um diamante em bruto a ser (muito) trabalhado, limado, desgastado por alguém que aposte em ti. Acredita, daqui para a frente, é a tua dedicação, o teu brio, a tua honestidade, a tua capacidade de aceitar críticas e contornar adversidades, a tua frontalidade, a tua proactividade, o risco que correres, a tua criatividade, a tua diferença, a tua genuinidade, uma coluna vertebral forte, estrutura, que te vão levar todos os dias um centímetro mais perto do que chamam – mas ninguém sabe muito bem o que é – sucesso. De todas elas, diria até, com algum conhecimento de causa, que das mais importantes, sem prejuízo das outras, é a genuinidade. Podem ensinar-te a escrever para rádio, a fazer locução, a ter uma boa dicção e projecção de voz; mas nunca poderão moldar as tuas atitudes e personalidade dentro das quatro paredes de um estúdio. E, por isso, também todas as tardes de inércia nas cadeiras vermelhas do bar fazem parte deste meu percurso que ainda só tem um ponto de partida. Os três anos de Universidade Católica, que se estendem agora em mestrado, deram-me ferramentas; mostraram-me caminhos, pessoas; ajudaram-me a traçar o meu caminho; abriram-me portas e janelas, que, sem dúvida, foram chave para estar hoje onde estou, ainda na dúvida de se estarei a dormir há cinco meses ou se está simplesmente a acontecer tudo muito rápido.

E está de facto. Percebi que tinha de crescer em três dias; ser uma esponja, absorver tudo à minha volta; observar 24 horas por dia, sete dias por semana; ser uma contadora de histórias nata; ter como mandamentos da comunicação que “less is more” e “it’s not about you, it’s about them”; e, acima de tudo, divertirme muito. Sentir o gozo de fazer aquilo de que gosto. Contagiar os outros. Andar de pantufas no trabalho e sair exausta, mas mais feliz do que quando entrei. E aqui estou. E aqui continuo, até se fartarem da “grafonola”. No quarto piso da Rua Ivens, 14, ainda a aprender a ser uma bimby da rádio e a ser muito feliz. Ontem diria que era mentira. Ia rir-me e chamar-te nomes. Hoje espero uma visita. E companhia no carro. Mais: fico à espera de te encontrar no elevador.


ACTUALIDADE

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Dilma Rousseff reeleita Presidente do Brasil Durante o período de campanha eleitoral, ocorreu um dos mais marcantes acontecimentos destas eleições: a 13 de Agosto, o avião em que Eduardo Campos seguia para uma cidade em São Paulo despenhou-se. Os sete ocupantes do avião morreram e seis pessoas em terra ficaram feridas. Este incidente alterou o rumo das eleições e chocou o país. Após as cerimónias fúnebres, foi apresentada a substituta de Eduardo Campos: Marina Silva. As sondagens realizadas na semana seguinte à morte do candidato do PSB mostraram uma subida de 8% para 21%. Se assim fosse, Marina Silva e Dilma Rousseff seriam as candidatas à segunda volta das eleições presidenciais brasileiras.

© flickr/Cadu Gomes

A 26 de Outubro, o Brasil assistiu à segunda volta das mais emocionantes eleições legislativas dos últimos anos. Dilma Rousseff, do Partido Trabalhista, foi reeleita Presidente do Brasil com 51,64% dos votos, enquanto Aécio Neves, do Partido Social Democrata Brasileiro, perdeu as eleições com 48,36% dos votos.

Para compreender as eleições de Outubro de 2014, é preciso recuar mais de um ano. Entre Abril e Julho de 2013, após o anúncio do aumento do preço do bilhete de autocarro em 20 centavos, milhares de brasileiros em São Paulo foram para a rua. A proporção das manifestações foi aumentando e os milhares de brasileiros em São Paulo depressa passaram a milhões em todos os estados brasileiros. O motivo deixou de ser apenas o preço do bilhete de autocarro e os protestos passaram a ter outras causas: os excessivos gastos com a Copa do Mundo, a má qualidade dos serviços públicos, a corrupção, entre outros. Desenvolveu-se o movimento “O Gigante Acordou” e os protestos ganharam cobertura mediática internacional. A popularidade do Governo brasileiro decresceu e foram tomadas medidas para acalmar a população. A popularidade do partido de Dilma caiu até Novembro de 2013, altura em que vários dos protagonistas do escândalo de corrupção política “Mensalão” foram presos. Em Agosto de 2014, iniciou-se a campanha eleitoral. Candidataram-se doze partidos, sendo que os três com mais expressão foram o Partido Trabalhista (PT) de Dilma Rousseff, o Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB) de Aécio Neves e o Partido Social Brasileiro (PSB) de Marina Silva, sendo esta, no início da campanha, a ordem preferencial de intenção de voto.

A primeira volta das eleições aconteceu a 5 de Outubro de 2014. Foram apurados para a segunda volta Dilma Rousseff e Aécio Neves, com 41,59% e 33,55% dos votos, respectivamente. Após a primeira volta das eleições, Marina Silva e outros candidatos declararam o seu apoio a Aécio Neves. A campanha eleitoral que antecedeu o segundo turno foi marcada por acusações pessoais e várias situações que envergonham a democracia.

“Desenvolveu-se o movimento “O Gigante Acordou” e os

protestos ganharam cobertura mediática internacional”

A 24 de Outubro, dois dias antes das eleições, a revista Veja foi lançada com uma matéria de capa que implicava Dilma Rousseff num caso de corrupção e o PT retirou uma parte significativa dos exemplares que se encontravam à venda. A vida pessoal de Aécio Neves foi bastante discutida, em especial a sua fama de playboy, como é apelidado pela imprensa brasileira, e, no dia das eleições, milhares de brasileiros candidatos ao programa habitacional do Governo “Minha Casa, Minha Vida” afirmaram ter recebido mensagens que os aconselhavam a votar no PT, para não perderem a possibilidade de acesso à mesma. A 26 de Outubro, os resultados das eleições mostraram um Brasil dividido: 54.501.118 eleitores votaram no PT, contra 51.041.155 que votaram no PSDB. O Brasil enfrenta agora um dos seus maiores desafios: unir o país. Joana Contreiras


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E.U.A. e os Conflitos Mundiais Actualmente, os Estados Unidos da América são vistos como uma potência mundial e um líder global que não consegue responder aos conflitos à sua volta, nomeadamente às crises políticas na Ucrânia e no Médio Oriente. Em Novembro de 2013, o presidente ucraniano Víktor Yanukovich recusou um acordo comercial com a União Europeia, o que demonstrou o seu interesse pela Rússia e, por conseguinte, a sua vontade de ter uma relação mais próxima com o Kremlin. Entretanto, na península da Crimeia, cujos habitantes se sentem, na sua maioria, russos e não ucranianos, foi realizado um referendum para descobrir se a população preferia fazer parte da Ucrânia ou da Rússia.

Porém, o Ocidente não participou destes avanços políticos, pois quer manter uma relação segura com a Rússia, que, mesmo tendo um governo totalitário, é fonte de energia para a Europa. O presidente russo, Vladimir Putin, vê esta dependência como uma ferramenta política que impede o isolamento internacional entre o seu país e os seus vizinhos, que os Estados Unidos da América desejam. Putin chegou ainda a acusar o presidente Barack Obama de ser “hipócrita” ao comparar a situação entre a Rússia e a Crimeia com a que os E.U.A. estão a viver com o Iraque. No entanto, Obama defende que a invasão ao Iraque foi feita não para conquistar território, mas para implementar um governo democrático que possa governar sozinho, algo que também deseja para a Ucrânia. Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, foi assegurado por Putin que a solução para a crise da Ucrânia seria diplomática e não envolveria quaisquer movimentos militares. Todavia, Ki-Moon alertou à para a importância dos pequenos acontecimentos que podem levar a maiores conflitos.

© Jordan Busson/Flickr

Os resultados foram positivos para os separatistas, os que desejam a separação da Crimeia da Ucrânia, porém o referendum foi declarado ilegal tanto pelos Estados Unidos da América como pela União Europeia, devido ao modo como o sufrágio foi realizado, principalmente pela presença de soldados russos nos locais de votação. Em suma, foi aceite apenas pela Rússia.

Contudo, Obama também tem de lidar com o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS) e a sua vontade de adquirir autoridade religiosa sobre os dois países indicados mais a Jordânia, Israel, Líbano, Palestina, Chipre e uma parte da Turquia, o que faz com que a guerra entre os E.U.A. e o Médio Oriente tenha sido mais recente e mais longa do que a crise vivida na Ucrânia. O problema é a falta de consenso entre os dois lados dos conflitos a par da mediação, ou participação, dos E.U.A. na resolução dos mesmos, que parece ser cada vez mais difícil de se alcançar.

Deste modo, a Ucrânia tem vivido uma instabilidade política acentuada durante este ano que só acalmou com a revolução de Maidan (nome da praça onde a revolução ocorreu), que depôs o governo de Yanukovich. Mais tarde, foi eleito um novo presidente liberal, Petro Poroshenko, e um novo primeiro-ministro, Arseniy Yatsenyuk, com o objectivo de ganhar a confiança dos Estados Unidos da América e fazer com que a Ucrânia se torne membro da União Europeia.

“O problema é a falta de consenso entre os dois lados do conflito”

© The U.S. Army/Flickr

Madalena Gil


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“As leis são como as mulheres: servem para ser violadas” A frase foi dita em outubro de 2012 por José Manuel Castelão, Presidente do organismo espanhol para os cidadãos no estrangeiro, durante uma conversa com outros conselheiros. Este comentário feito por Castelão levanta a questão de como é que, em pleno século XXI, ainda existem pessoas que veem a mulher como objeto sexual. Este problema é recorrente e real, na medida em que milhares de mulheres em todo o mundo são ou estão a ser, neste preciso momento, alvo de abuso sexual. Não há estatísticas precisas ou números exatos, pois a maioria dos casos não é reportado às autoridades, porque muitas sentem vergonha ou receiam ser ostracizadas pela sociedade em que estão inseridas. Muito deste estigma parte da ideia da purificação da mulher que fica danificada, não só devido à agressão que foi feita aos direitos da própria mulher, mas, essencialmente, à agressão à moral e aos bons costumes da sociedade ou comunidade de que faz parte. Por outro lado, a tentativa de encontrar uma explicação “moral” em relação ao agressor e ao motivo que o levou a abusar sexualmente leva a que a mulher seja acusada de ser provocante para o homem, dando sinais de ser permissiva, como se ela própria se sujeitasse aos desejos primários do homem.

“Mas, essencialmente, à agressão à moral e aos bons costumes da sociedade ou

comunidade de que faz parte.” Assim, a premissa que é passada é a de que a mulher tem de se proteger do abuso sexual, por isso deve ser discreta, vestir-se de forma adequada, não passar muito tempo sozinha ou andar na rua à noite, caso contrário é quase vista como se fosse a “responsável” pela agressão. Esta mentalidade, quer seja numa sociedade ou num seio familiar, acaba por permitir que a própria mulher se sinta culpada pelo crime a que foi sujeita. Contudo, existem cada vez mais tentativas de consciencializar os Estados e as populações para a violência que é exercida sobre a condição da mulher e sobre os seus direitos. Isto permite que os governos tomem medidas de precaução para acabar ou, pelo menos, minimizar estas situações.

“Acaba por permitir que a própria mulher se sinta culpada pelo crime a que foi sujeita.”

Mesmo assim, o número de casos vai aumentando, essencialmente em África e na Ásia, onde, por um lado, a violação se torna recorrente e, por outro, é utilizada para inflamar o conflito, aterrorizar e humilhar comunidades geralmente carenciadas. Dos vários casos marcantes que abalaram o mundo, um deles foi o da jovem indiana de 23 anos que, em 2012, em Nova Deli, foi brutalmente violada, em plena luz do dia, dentro de um autocarro, por um grupo de homens, acabando por morrer devido aos ferimentos. A indignação da opinião pública indiana levou a que houvesse uma mudança na lei para proteger as mulheres destes atos violentos. Contudo, e apesar dos esforços, o número de casos não para de aumentar, sobretudo de mulheres e raparigas de comunidades mais pobres. Apesar dos esforços, a Índia é um país que sofre atualmente, em larga escala, de violência sexual, na medida em que, por ano, 25 mil mulheres são violadas. Segundo as estatísticas, na Índia, uma mulher é abusada sexualmente em cada 20 minutos. Outro caso recente que chocou o mundo foi a decisão do Irão de executar a mulher iraniana de 26 anos que assassinou o homem que a tentou violar. As tentativas da comunidade internacional para dissuadir o Irão fracassaram devido à inflexibilidade deste país e aos constantes incumprimentos e desrespeitos pelos direitos humanos. Estes dois casos são apenas uma pequena porção de milhares de situações que ocorrem todos os dias, em todo o mundo, mas que passam despercebidas, chegando até a nunca ser reveladas. A obscuridade em volta da violência sexual leva a que, mesmo que se saiba que se trata de uma violação dos direitos humanos da mulher, surja um certo secretismo e incompreensão por parte da sociedade. Paralelamente, na República Democrática do Congo (RDC), um país em constante conflito, são frequentes os grupos armados que, para impor a sua superioridade e o terror, violam as mulheres de comunidades inteiras. Além disso, as mulheres que são alvo de violência sexual são marcadas com ferro quente, como se de “gado” se tratassem. O objetivo é que as suas famílias e comunidades saibam que foram violadas.


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Porém, em toda esta animalização da mulher, existe quem, através dos seus próprios meios e recursos, tente lutar pela proteção das mulheres. É o caso de Denis Mukwege, médico ginecologista de 59 anos, que criou, em 1999, no leste da RDC, o Hospital Panzi, destinado a tratar mulheres que sofreram e sofrem de abusos sexuais.

defesa dos direitos da mulher, expondo a necessidade de se criarem meios de pôr um fim à utilização da violação sexual como “arma de guerra”. Estas iniciativas demonstram, assim, que começa a haver no mundo um foco cada vez maior de atenção e até mesmo de preocupação que pode, futuramente, criar as condições necessárias para defender a mulher do abuso sexual a que foi sujeita, permitindo que, consequentemente, a mulher seja protegida dos olhares ou atitudes daqueles que a veem não só como vítima, mas como uma suscetível forma de provocação.

As suas constantes denúncias da violência sexual, assim como o incansável apoio e condições de saúde que oferece às mulheres após serem abusadas, valeram-lhe a atribuição do prémio Sakharov por parte do Parlamento Europeu. Ademais, Mukwege viaja regularmente para o estrangeiro em ações centradas na promoção e na

Susana Santos Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico

Eutanásia: assunto Tabu em Portugal Em Portugal, o tema da eutanásia ainda é visto como tabu. Não se fala nisso, não se pensa sequer nisso, e não existe nenhuma lei no nosso país que a aprove. Pelo mundo fora, os poucos sítios onde o doente pode optar pela eutanásia são o estado de Oregon, os Estados Unidos da América, Holanda, Bélgica, Suíça e Áustria.

“Brittany Maynard, tinha 29 anos quando decidiu que ia recorrer à eutanásia para ‘morrer com dignidade’”

O Registo Nacional De Testamento Vital, entrou em vigor a 1 de julho de 2014 e cujo objetivo é organizar, registar e manter atualizada aos cidadãos residentes em Portugal, sejam estrangeiros ou não, a informação relativa ao documento de diretivas antecipadas de vontade e à procuração de cuidados de saúde, onde muitos portugueses escolhem como querem morrer, podem formalizar por escrito em caso de incapacidade ou debilitação física e mental, que não permita o bom julgamento na altura da decisão. A maioria deles das pessoas recusa-se a ser reanimado ou estar ligado a um ventilador. Esta é, provavelmente, a “ligação” mais próxima que Portugal tem à prática de Eutanásia. Recentemente, o caso de Brittany prendeu milhares de portugueses, e cidadãos de todo o mundo. Brittany Maynard, tinha 29 anos quando decidiu que ia recorrer à eutanásia para “morrer com dignidade”, devido a um tumor no cérebro que lhe daria apenas mais seis meses de vida.

captura de imagem

Recusou aceitar que o cancro pudesse matá-la de forma violenta e preferiu juntar o seu marido e familiares no dia 1 de Novembro, para assistirem à sua morte de forma tranquila e da maneira que ela “escolheu”. Para tal, Brittany teve de mudar de casa, pois no estado da Califórnia, local onde vivia, a eutanásia não é permitida e teve que se mudar para Oregon, onde a eutanásia é aceite, legalmente, e onde viveu os seus últimos dias e pôde concretizar o seu desejo. No nosso país, se um doente quisesse pôr “termo” à própria vida, por meios “legais” teria também de se deslocar a outro país para o poder fazer. E foi o que aconteceu com 9 portugueses, 7 homens e 2 mulheres, que se inscreveram na associação Dignitas, que ajuda estrangeiros a recorrer ao suicídio assistido quando têm essa vontade, na Suíça. Apesar de um tema tabu, se houvesse uma remota possibilidade de Portugal vir a adotar a lei da eutanásia, teria, ou não, a adesão do povo português? A dúvida permanece. Joana Roque Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


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Papa Francisco: uma proposta de abertura A eleição do Papa Francisco revelou ser a lufada de ar fresco de que a Igreja Católica tanto precisava. Desde o momento em que afirmou que pretendia continuar a viver no seu pequeno apartamento, renunciando aos luxos de que o Vaticano dispõe, marcou posição, deixando claro que o seu pontificado seria pautado pela proximidade com o povo e, especialmente, com os mais desfavorecidos. E esta tem sido a sua postura, marcada por actos de aproximação aos fiéis e de abertura da Igreja àqueles que esta deixava à margem. Abrindo espaço para discussão acerca daqueles que são considerados os modelos tradicionais de família, o Papa acredita que a Igreja deve ser flexível e acolher os que não encaixam nesse modelo: foi o primeiro Papa a baptizar o filho de uma mãe solteira e uma criança cujos pais tinham um casamento apenas civil, porque acredita que os pais “têm o dever de transmitir a fé às crianças. É a mais bela herança que podem dar-lhes”, disse. Em apenas um ano e meio de pontificado, o Papa Francisco já defendeu que é essencial que as mulheres tenham um papel mais activo na Igreja e que os homossexuais não sejam marginalizados pela Igreja Católica, tendo afirmado: “se uma pessoa é homossexual e procura Deus e a boa vontade divina, quem sou eu para julgá-la?”, sem que, no entanto, tenha abdicado de condenar o lobby gay existente no Vaticano.

“Mas, uma das posições mais aclamadas do Papa Francisco é a defesa de teorias como a da evolução ou a do Big Bang ”

Já tinha sido expressa pelo Papa Pio XII na encíclica Humanis Generis, que legitimava a investigação científica acerca do organismo material do ser humano, mas salvaguardava à teologia a primazia sobre a alma humana, que acreditam ter sido criada por Deus. As recentes declarações sobre a criação, por parte do chefe máximo do Vaticano, são particularmente importantes, numa altura em que muitos defendem a interpretação literal da Bíblia, ainda que esta se oponha à ciência. Nos Estados Unidos da América, há escolas onde é permitido aos professores optarem por ensinar a teoria criacionista ou a teoria do Big Bang e há facções de Republicanos, como é o caso do congressista da Georgia, Paul Broun, que acreditam que as teorias da evolução e do Big Bang são “teorias vindas directamente do Inferno.” Estas concepções de negação da ciência por oposição à fé assumem maior relevância quando vemos que fazem parte do Comité para o Comércio, Ciências e Transportes, que é responsável pela aprovação de grande parte das iniciativas para a ciência da Administração de Obama. A título de exemplo, o Senador Inhofe, do Oklahoma, publicou, em 2012, um livro intitulado “The Greatest Hoax: How the Global Warming Conspiracy Threatens Your Future”, no qual afirma que se sente “ultrajado” com “a arrogância das pessoas em acreditarem que nós, seres humanos, poderíamos ser capazes de mudar o que Ele está a fazer com o clima.” A estas concepções de fechamento, a este obscurantismo, o Papa Francisco responde com abertura - abertura ao diálogo com o que é diferente, com os que são carenciados, com a ciência e até com os textos bíblicos.

Mas, uma das posições mais aclamadas do Papa Francisco é a da defesa de teorias como a da evolução ou a do Big Bang, afirmando que Deus “não é um mágico com uma varinha.” Em declarações feitas na Academia de Ciências Pontifícias, o Papa afasta-se da posição defendida pelo seu antecessor, admitindo que a teoria criacionista não é real e que a Bíblia não deve ser interpretada literalmente, uma vez que há nela espaço para a alegoria. O Papa Francisco defende que as teorias do Big Bang e do Evolucionismo não excluem a hipótese de um criador; pelo contrário, necessitam de um criador a priori. Esta ideia não é, contudo, novidade na Igreja Católica.

Inês Linhares Dias


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Nesta escola, o ensino de Mandarim é obrigatório No norte de Portugal, em São João da Madeira, é obrigatório em todas as escolas o ensino de Mandarim a crianças do primeiro ciclo, com idades entre os oito e os nove anos. Esta nova medida foi implementada devido à dificuldade em entrar no mercado chinês sem o conhecimento prévio da língua. A ideia é vista como um investimento no futuro das crianças portuguesas, para que estas se possam integrar no mercado emergente de trabalho chinês, «o maior mercado da Humanidade». Tendo a crise financeira provocado um aumento significativo da taxa de desemprego em Portugal, que atualmente se situa em 17%, os professores acreditam ser esta a melhor oportunidade para os seus alunos e confirmam que estes gostam de o fazer e aprendem o Mandarim de forma rápida, sendo que alguns deles já demonstraram interesse em fazer uma viagem à China. «O Mandarim é a chave que vai abrir as portas ao maior mercado de trabalho do mundo», afirma a vereadora da Câmara Municipal de São João da Madeira responsável pelo pelouro da Educação, Dilma Nantes.

© Pedro Cunha/Arquivo Público

Castro Almeida define como objetivo deste programa a preparação das indústrias e empresas da região para as próximas décadas e o aumento da sua competitividade.

“Foi realizado um acordo,

“A ideia é vista como um

beneficiando ambas as partes

investimento no futuro

envolvidas, que promove o ensino do

das crianças portuguesas” A região de São João da Madeira é reconhecida ao nível mundial pela produção de calçado de luxo, sendo conhecida como a “capital do calçado”, designação registada no Instituto Nacional de Registo de Marcas e que é internacionalmente reconhecida. A conquista dos mercados externos constitui o principal objetivo comercial daquela região e o mercado chinês, que é considerado o maior produtor de calçado do mundo, representa já um volume de negócios superior a 20 milhões de euros. O presidente da Câmara, Castro Almeida, indica que estas relações entre os dois países serão essenciais para as próximas décadas e afirma que têm grande valor: «não podemos fechar os olhos à realidade. Nós somos uma terra muito virada para a exportação. A China é um parceiro fundamental no comércio internacional e temos que de os considerar cada vez menos um país de onde chegam importações baratas e começar a encarar esse país como um destino para as exportações de grande valor acrescentado».

Mandarim como disciplina opcional nas escolas públicas portuguesas”

O ensino de Mandarim só estava disponível, até então, no ensino universitário do Minho e de Lisboa e como alternativa de língua estrangeira no ensino secundário, e no terceiro ciclo havia sido também um tema discutido, no decurso da visita de Estado do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, à República da China, no mês de maio. No decorrer desta visita, foi realizado um acordo, beneficiando ambas as partes envolvidas, que promove o ensino de Mandarim como disciplina opcional nas escolas públicas portuguesas a partir do ano letivo de 2015/2016, assim como o ensino de Português na China.

Mariana Fidalgo e Manuel Cavazza Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


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Cais à Noite

“O Cais do Sodré é uma das referências da vida nocturna da cidade de Lisboa.”

Desde Novembro, os bares do Cais do Sodré, Bica e Santos deixam de fechar às quatro horas da manhã e passam a fechar às duas nos dias úteis e àstrês aos fins-de-semana.

O Cais do Sodré é uma das referências da vida nocturna da cidade de Lisboa. A Associação Cais Sodré estima que todos os fins-de-semana frequentam esta zona da cidade cerca de duzentas mil pessoas. Há alguns anos, era conhecida como uma zona boémia, frequentada por marinheiros que chegavam ao cais e por prostitutas. Tinha elevados níveis de criminalidade e várias casas de alterne e era uma zona evitada pela maioria das pessoas. Em 2011, a Câmara Municipal de Lisboa (CML), em parceria com a Associação Cais Sodré e com a marca de bebidas alcoólicas Absolut Vodka, investiu na Rua Nova do Carvalho, que, nesse ano, foi inaugurada com o nome Rua Cor-de-Rosa. Este foi um projecto de intervenção urbana do arquitecto José Adrião. Os objectivos traduziram-se na limpeza e iluminação da rua, revitalização da área, organização das esplanadas e criação de um espaço que aliasse a cultura ao lazer. Rapidamente esta se tornou uma das mais movimentadas zonas da noite lisboeta. No entanto, apesar de durante a noite o movimento ser intenso, durante o dia é uma área pacata, com comércio local e famílias que tentam ter um dia-a-dia normal. O movimento não foi, contudo, bem aceite pelos moradores da zona. Em Dezembro de 2013, e após várias queixas por parte dos mesmos devido ao ruído, falta de limpeza e criminalidade, a Divisão do Ambiente da CML decretou a imposição de horários mais reduzidos e a limitação do ruído na rua. No final de Outubro deste ano, o Presidente da CML, António Costa, decretou a aplicação deste despacho.

Por um lado, os moradores aplaudem o facto de os bares fecharem mais cedo. Por outro, surgem os empresários e trabalhadores dos bares e os clientes. São várias as famílias que já tiveram de mudar de casa como consequência das noites agitadas e do vandalismo. Teresa Fonseca, de 42 anos, residente na zona, queixa-se do barulho e da sujidade: “os domingos de manhã são o pior: há copos no chão, vidros partidos, é impossível.” A recolha do lixo acontece de manhã e ao fim da tarde, não tendo capacidade de recolher a quantidade produzida na área durante a noite.

“Desde Novembro, os bares do Cais do Sodré, Bica e Santos deixam de fechar às quatro horas da manhã”

Os proprietários dos bares fizeram avultados investimentos e temem que a alteração do horário de encerramento lhes prejudique o negócio. O proprietário do Bar da Velha Senhora considera que a imposição de encerramento precoce não será suficiente para satisfazer os moradores: “das três às quatro da manhã vai acontecer exactamente a mesma coisa: as pessoas vão continuar a ficar e sabemos perfeitamente que quem quer beber a noite toda consegue, portanto não é por aí...” Outro dos problemas refere-se aos transportes. Cada vez mais pessoas evitam levar o carro. O metro, o barco e o comboio não funcionam durante toda a noite. A única alternativa é a utilização de autocarros nocturnos ou táxis. Os autocarros nocturnos têm um horário bastante espaçado e os táxis não são suficientes para a quantidade de pessoas a circular , além de que têm um preço elevado quando comparado com o dos transportes públicos.


ACTUALIDADE

19 As lojas de conveniência são, para muitos, um dos maiores problemas. Se, por um lado, os bares da Rua Cor-de-Rosa, devido aos preços que praticam, apelam a um determinado tipo de cliente, as lojas de conveniência vendem bebidas a menos de metade do preço, fazendo com que essa selecção da clientela desapareça. Segundo o despacho com as restrições horárias publicado pela CML, este tipo de estabelecimentos não está autorizado a vender bebidas alcoólicas depois das dez horas da noite ou a menores de idade, mas esta situação não é cumprida. Há quem considere que os interesses desta medida vão mais longe: esta zona é cada vez mais procurada por investidores que pretendem recuperar os prédios devolutos, transformando-os em habitações. O ruído prejudica o negócio: por não ser uma zona calma, o valor de venda do imóvel diminui. A criminalidade e o policiamento nas ruas são dois dos temas mais abordados. Ruben Marques, polícia na esquadra do Bairro Alto, afirma que existe policiamento e que esta não é uma situação nova: “a ideia que tenho é de que a criminalidade não aumentou, os níveis mantêm-se estáveis.” No entanto, dados publicados pelo jornal Sol mostram que, em 2012, se registaram no Cais do Sodré aproximadamente 400 furtos e, em 2013, 690. É necessário adoptar medidas que agradem aos moradores e, simultaneamente, aos empresários e clientes. Uma das medidas sugeridas por clientes é a transferência dos bares do centro histórico da cidade para a zona ribeirinha.

Portugal com menos casamentos, menos divórcios e menos filhos

Novos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam uma diminuição do número de casamentos, de divórcios e de filhos por casal em Portugal, no ano de 2013. O número de casamentos continua a diminuir. Em 2013, Portugal registou 31.998 casamentos, o que traduz uma diminuição de 2.425 em relação ao ano anterior. Em pé de igualdade, o número de divórcios também diminuiu, passando para 22.525 e registando, assim, uma diminuição de 2.855. Esta queda no número de divórcios, pode estar ligada não só ao factor acima referido, como também à crise económica que se vive em Portugal ou, quem sabe, ao facto de os Portugueses, de repente, acreditarem no lema apaixonado do conto de fadas: “juntos para sempre”. No que toca à natalidade, existe outro problema. Foram registados 82.787 nados-vivos em Portugal, o que traduz um novo mínimo histórico (passando de uma média de 1,28 filhos em 2012 para 1,21 em 2013). Ora, este conjunto de diminuições traduz o que se passa em Portugal. Devido à crise que afeta a nova geração (dos 20 aos 30 anos), os jovens adultos tendem a investir mais na sua formação profissional e menos na sua vida conjugal. Está provado que os jovens vivem mais tempo “agarrados” aos pais do que em gerações anteriores, não porque querem, mas porque não conseguem criar uma vida individual, isto é, não conseguem arranjar um emprego fixo e bem pago, ficando eternamente em empregos mal pagos ou até à experiência e, em resultado, não possuindo o suficiente para ter uma vida autónoma. Em virtude deste fenómeno, é mais difícil constituir família, pois é praticamente impossível formá-la vivendo em casa dos pais ou dos sogros. Com esta falta de trabalho em Portugal para os jovens, estes são obrigados a emigrar, formando famílias lá fora e contribuindo para a natalidade dos países destinatários ao invés da nossa. Consequentemente, é visível, em Portugal, um aumento do envelhecimento da população, que se deve a todos os fatores referidos, desde o número de casamentos até ao aumento da emigração.

Francisco Bruto da Costa e Joana Contreiras

No fundo, o conjunto deste fatores forma uma lógica matemática: se não existe emprego em Portugal, o número de casamentos diminui e, consequentemente, o número de divórcios (não proporcionalmente) e o número de nascimentos também diminuem. Por outro lado, se não existe emprego em Portugal, a emigração aumenta. Se a emigração aumenta, o número de casamentos em Portugal diminui, tal como os restantes factores, formando, assim, um grande círculo vicioso. Guilherme Tavares


OPINIÃO

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Actualidade Podíamos «Têm medo da mudança e por isso chamam populismo e demagogia àquilo que hoje é sentido comum» (Pablo Iglesias)

O Público noticiava há tempos que, a 25 de abril de 2013, Pablo Iglesias, figura mais destacada do partido Podemos, foi o convidado do programa “El gato al agua” da televisão (conservadora) Intereconomia. O diário El Mundo menciona que esse dia, 25 de abril de 2013, friso, foi o dia em que a política espanhola começou a mudar. Numa tarde destas, falava com um amigo espanhol e reparei no entusiasmo com que se referia a este partido. Mencionava Pablo Iglesias como se este pudesse vir a ser o «salvador da pátria». Tento agora recordarme da última vez em que vi alguém a referir-se a um político português com semelhante entusiasmo. Adiante, se me lembrar, entretanto, refiro. Desde o 25 de abril (o nosso), Portugal vai saltando entre PS, PSD e CDS-PP. Espanha, desde a morte de Franco, varia entre PP e PSOE. Porém, em Espanha, emergiu um partido com um programa qualificado, por alguns, de populismo de esquerda e que tem vindo a conquistar a população. E não conquistou «aos poucos». Quatro meses depois da sua formação, o partido consegue 9,7% dos votos nas eleições europeias de 2014, sendo o quarto partido mais votado de Espanha. Pablo Iglesias – professor catedrático de Ciência Política na Universidade Complutense de Madrid – é a figura que se destaca. A base em que assenta o partido é «converter a indignação em mudança política». Como espetadora, vejo-os como um grupo de pessoas idealistas, bem intencionadas e que querem mudar a política do país, para melhor. E queria integrar este 25 de abril. Não em Espanha, em Portugal.

Imagine, caro leitor, o que seria se emergisse, em Portugal, um partido com semelhantes características? Imagine o que seria se existisse um Pablo Iglesias, português, que proferisse discursos entusiastas e que neles dissesse que o seu principal objetivo era «varrer a corrupção da sociedade». Que se idealizasse, finalmente, uma política de pessoas para pessoas e não uma política de alguns para alguns (como tem vindo a ser). Uma política que nos integrasse, finalmente. Uma política. Uma democracia.

“Como espetadora, vejo-os como um grupo de pessoas idealistas, bem intencionadas e que querem mudar a política do país, para melhor.”

Podíamos mudar. Podíamos criar uma nova história, como já outros fizeram. Podíamos ser, em 2014, os heróis nacionais como os que, em 1974, abriram portas à democracia. Podíamos acordar cedo e, agitar, uma vez mais, aquela madrugada de abril. Há 40 anos que não o fazemos. Podíamos querer. Só podemos se quisermos.

Michelle Tomás Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


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OPINIÃO

A Rapariga do Blazer Rosa Lifestyle O Preconceito Não vou ser irrealista e dizer que não tenho preconceitos, tenho alguns. Não me venham dizer que não os têm. Todos têm. E podem não saber, mas há uma parte “boa” nisto tudo de ser preconceituoso. Não me interpretem mal, é feio pensar que aquela pessoa pode ter aquele defeito, só porque tem uma característica diferente. Claro que é. Mas o melhor de tudo isso é quando as pessoas revelam que não são nada do que esperávamos e nos dão uma bofetada de luva branca. Eu, pelo menos, gosto. Gosto de ser surpreendida. Há uns tempos, ia a descer no elevador e entra, num dos andares, um senhor com um ar muito duvidoso. Com um daqueles ares a respeito dos quais a nossa mãe nos diz: “vá, não olhes. Aquele senhor pode fazer-te mal.” Já eu esperava nunca mais sair daquele elevador quando chegamos ao rés-do-chão e o senhor segura na porta para eu sair. Dá aquele jeito ao braço como quem diz “pode passar” e segura a porta para mim. Fiquei parva com tanta estupidez minha. Bati três vezes com a cabeça na parede, metaforicamente, claro. Já em casa, dei por mim a rever aquele momento. Gostei que o senhor me tivesse “surpreendido”, gostei de ficar parva por ser preconceituosa.

“Gostei que o senhor me tivesse ‘surpreendido’, gostei de ficar

parva por ser preconceituosa.” Pensei para os meus botões que, ao menos, tinha a consciência de que não tinha sido correcta. Juro que pedi desculpa àquele senhor 50 vezes na minha cabeça. Pior do que as pessoas que são preconceituosas e se apercebem da sua patetice, são as pessoas que juram a pés juntos que nunca o fizeram. “Não! Ora essa! Nunca! Gosto muito que os ciganos vivam aqui ao pé de minha casa, mas às vezes… Às vezes não deixo a minha filha sair de casa com medo de que eles a assaltem.” Adoro. Se há coisa de que gosto neste mundo são estes falsos moralistas. Para mim, não há nada pior do que o cinismo. Pessoas, deixem-se maravilhar com a espécie humana. Aquele ditado é mesmo verdade,: não julguem o livro pela capa. É delicioso quando recebemos uma bofetada de luva branca para nos apercebermos da nossa crueldade.

Mariana Leão Costa

araparigadoblazerrosa.wordpress.com


CULTURA

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Tiqui-taca do Desporto Desporto

Nani: Negócio de Ouro ou Negócio da China? Quando era apenas um menino, deixou Alvalade para rumar ao “Palco dos Sonhos”, em Manchester. O Sporting recebeu 25,5 milhões de euros, a transferência mais lucrativa da história dos leões, uma vez que Cristiano Ronaldo rendeu apenas 8,25 milhões de euros.

Começou a época a falhar um penálti, mas atualmente já leva golos importantes tanto na Liga Portuguesa como na Liga dos Campeões: o golo frente ao Maribor foi considerado o melhor golo da semana na primeira jornada da Champions. Por vezes, é preciso dar um passo atrás para se conseguir dar dois à frente. Para Nani, este empréstimo foi um remate certeiro para o relançamento da sua carreira, pois, tanto no futebol como na vida, pode ser necessário voltar às origens e ao ponto de partida para se encontrar o caminho certo do sucesso. Exemplo de um bom “retorno a casa” é Ricardo Quaresma, que, após andar perdido pela Europa, encontrou refúgio nos Dragões e relançou-se como internacional português.

O percurso de Nani nunca foi fácil em Inglaterra, tendo às suas costas o peso de ser um “descendente” de Cristiano Ronaldo – mesma nacionalidade, mesma academia e com um estilo de jogo semelhante. Um jogador é 50% físico e 50% mental e, no caso de Nani, a pressão exercida acabou por afetar o seu rendimento, não o deixando ser mais do que uma sombra de Ronaldo. Queria fazer tanto em tão pouco tempo que acabou por nunca ganhar um lugar cativo na equipa, apesar de ser o extremo mais talentoso e criativo dentro do leque de opções de Alex Ferguson. Na presente temporada, a chegada de Van Gaal foi determinante para a sua decisão de regressar a terras lusitanas e voltar a sentir-se desejado e amado pelos adeptos: “dos jovens com a camisola 77 aos adeptos que terminaram a noite a entoar o seu nome, não faltou apoio a Nani em Alvalade (…). Há sinais de que Nani está a controlar o seu talento de forma a ser um jogador eficaz. No Manchester United, a pressa em impressionar acabava por afetar o seu julgamento na hora de decidir”, pode ler-se num jornal inglês, Sky Sport, em relação às suas últimas exibições. A transferência de Rojo para o United foi o momento chave para o português regressar e o Sporting esfregou as mãos de contente: 20 milhões de euros mais Nani, sem ter de suportar os custos de ordenado. Que negócio de ouro, Sr. Bruno de Carvalho!

Ora, que o Sporting precisava de Nani e vice-versa, já todos sabemos. Agora, será que o Manchester precisava de Rojo? Não terá sido um preço demasiado alto por um jogador que pouco provou profissionalmente? Falou-se no regresso de Piqué e na contratação de Matt Hummels, mas, ao invés disso, optou-se por uma contratação um pouco “à lei do menor esforço” que resultou numa defesa débil e num péssimo início de temporada para os reds. Destaques:

- Sara Moreira chega em 3.º lugar à meta da Maratona de Nova Iorque; - Telma Monteiro ganha o ouro no Grand Slam de Abu Dhabi; - O português Pedro Martins venceu os Campeonatos Internacionais de Marrocos de Badmínton, em Casablanca, ao derrotar na final o belga Yuhan Tan; - A portuguesa Filipa Martins conquista a medalha de ouro no concurso de paralelas assimétricas na Taça do Mundo de Ginástica Artística de Medellín, na Colômbia; - A seleção portuguesa de futebol de praia fica no em terceiro lugar na Taça Intercontinental Dubai 2014, nos Emirados Árabes Unidos, depois de bater o Irão, por 3-0.

Daniela Ribeiro de Brito

danielar-footballmagazine.blogspot.pt Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


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O Cabide Moda

Alexander Wang x H&M No outro dia, ali na rua do Carmo, lá estava eu parada casualmente na fila da H&M, à espera que abrissem a loja para a colecção do Alexander Wang. Sem mais nem menos, e quase em jeito de intervenção, passou um homem a gritar em plenos pulmões, com uma raiva revoltante: “escravos da moda! Escravos do capitalismo! Escravos do século XXI!”

Todo este circo disfarçado de loja deixou-me surpreendida. E um tanto desconfortável. Claro que não nos podemos esquecer de que, apesar de tudo, a moda não deixa de ser uma indústria como todas as outras e o seu intuito é criar objectos de desejo, convencendo as pessoas que não podem (nem conseguem) viver sem essas peças.

“Todo este circo disfarçado de loja deixou-me surpreendida. E um tanto desconfortável.”

Estes gritos de indignação deixaram-me a pensar e fizeram-me questionar as minhas motivações, porque eu também estava ali, pronta para lutar pelas peças que queria. Tentei, mentalmente, arranjar meia dúzia de desculpas para não matutar muito no assunto e continuar com a minha vida. Mas foi impossível. A comédia começou quando entrámos e todo o staff da loja aplaudiu como se tivéssemos ganho um prémio. A secção das mulheres, chamada “gaiola” (irónico, não?), estava organizada por pulseiras coloridas, a que eram atribuídas horas de entrada. Só havia dez minutos para comprar e, para assinalar a troca de turno, estava uma senhora empoleirada numa cadeira a tocar uma sineta.

Mas estamos assim tão formatados para o consumismo desenfreado que nem nos apercebemos do quão supérfluo é? Estamos assim tão esfomeados para deitar a mão a todas as peças de marca por um preço low cost? Somos cegados pelo facto de ser uma “colecção exclusiva”? Ou somos apenas vítimas de um enorme e bem desenvolvido golpe de marketing? Se alguém souber a resposta, avise-me.

Por outro lado, a colecção de homem abria a todos os consumidores ao mesmo tempo. Vi homens correr, atropelar e acotovelar, num desespero sôfrego para conseguir a camisola ou os sapatos que tanto desejavam.

“Estes gritos de indignação deixaram-me a pensar e fizeram-me questionar as minhas motivações”

Catarina Veloso

o-cabide-moda.blogspot.pt


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Fora de Série Séries

Primeiro Episódio Uma das primeiras séries que gostaria de vos recomendar é Transparent. Tropecei nela por acaso, mas o primeiro episódio cativou-me desde o início, sendo evidentes as semelhanças com Girls, que também aconselho. O que têm em comum é a sua peculiaridade, numa fuga ao convencional, às caras bonitas e às personagens previsíveis. No primeiro caso, é a história de um pai de família que decide tornar-se mulher, para surpresa dos seus três filhos.

“O que têm em comum é a sua peculiaridade, numa fuga ao convencional, às caras bonitas

e às personagens previsíveis.”

Apesar de tudo convergir para a delicada situação da personagem desempenhada por Jeffrey Tambor (que já vimos em The Good Wife, como juiz), há oportunidade de conhecer a fundo a personalidade destes três irmãos, o que acaba por ser relevante e interessante, porque conhecermos melhor cada um deles, muito envoltos em si mesmos, apesar de estarem integrados numa família unida, ajuda-nos a perceber porque é que, às vezes, este pai se sente transparente.

Posso e devo até acrescentar que Gaby Hoffmann fez também parte do elenco de Girls, o que não será coincidência e se explica pela sua original forma de representar, que, mais uma vez, desafia as ditaduras hollywoodescas. Pode não ser uma série glamorosa, mas é, acima de tudo, uma série autêntica e genuína. E é isso que me agrada. Os dez episódios desta primeira temporada já estão disponíveis, nesta nova forma de ver séries que mais facilmente resulta em maratonas do que na formulação de grandes expectativas por novos episódios a cada dia que passa. Post Scriptum: Numa nota mais breve, aconselhovos Madam Secretary, que acompanha a vida da Secretária de Estado americana, protagonizada por Téa Leoni. A narrativa desenvolve-se a partir de certos pormenores enigmáticos ainda não desvendados, mas, no geral, é uma série de finais felizes, agradável de ver. Tim Daly, que podem conhecer como Pete Wilder de Private Practice, também faz parte deste elenco, no papel de marido desta proeminente figura feminina, que tenta conciliar um trabalho tão importante com a sua vida familiar.

“Pode não ser uma série glamorosa, mas é, acima de tudo, uma série autêntica e genuína.”

Nota: Podem partilhar as vossas sugestões, porque estou sempre aberta a novas séries. Se quiserem partilhar a vossa opinião acerca de algo que tenham lido nesta coluna Fora de Série, podem fazê-lo através de ines.sousa.almeida@gmail.com.

Inês Sousa Almeida


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Astigmatismo Proficiente Cinema

Os restos dos Rostos Está tudo lá. No rosto humano. Nas sobrancelhas chaplianas de George C. Scott em Dr. Strangelove, no olhar de esguelha de Lee Van Cleef aquando do conhecido duelo em il buono, il brutto, il cattivo, nas rugas que Emanuelle Riva herdou em Hiroshima e replicou em Amour, na excêntrica cabeça de papiermâché de Frank, em lábios, entre dentes e em narinas. O cinema cabe numa feição. Este é o aforismo de Ingmar Bergman, para quem “o rosto humano é o grande assunto do cinema.” Em Persona (1966), o realizador sueco escava os rostos de Liv Ulmann e Bibi Andersson (escolhidas propositadamente pelas parecenças entre si) à procura do minério cinematográfico e traz à superfície uma história de contraste e desequilíbrio. Tecnicamente, fundamenta estas duas ideias na sublime utilização do preto e branco, no uso das sombras e luz (aqui deve muito a Sven Nykvist), na fusão de perspectivas, no abundante recurso do close-up e no silêncio de uma das personagens principais. Persona denuncia um abismo entre duas forças femininas. O monólogo do desequilíbrio como ponto de chegada. Uma incompatibilidade linguística. Partindo de um princípio em que a violência é o desequilíbrio de forças, conclui-se que o silêncio é algo profundamente violento. Elizabeth (Ulmann) é uma actriz que cessa voluntariamente de falar a meio de uma das suas peças. Alma (Andersson) é a enfermeira destacada para acompanhar Elizabeth num retiro com vista à melhoria da sua condição silente. Aqui, o silêncio representa a doença a extinguir e a inexistência consequente. No entanto, esta ideia vai sendo contrariada ao longo do filme, quando a ausência de fala por parte de Elizabeth ganha contornos de tentação e armadilha. Alma vai sendo esvaziada pelo silêncio de Elizabeth, isto é, a personagem que deposita a sua confiança no discurso é aquela que vai incorrer em vícios e culminar na fraqueza e angústia da inexistência. O momento de maior vivacidade da enfermeira acontece quando ela descreve uma orgia juvenil na praia. A memória erótica como oposto do presente familiar e matrimonial.

No tempo que passam juntas, as identidades das duas fundem-se em certa medida, o que dá ao espectador uma ilusão de simbiose. Estes são os momentos de guerra (não guerra literal, mas guerra como significado de equilíbrio de forças).

“A dupla negação sublinha a preocupação pelo rosto, que encerra a história, absorve os planos, direcciona pontos de vista, cria relevos e encena brilhos.”

Interrompe-se a violência, que não é compatível com guerra. Num momento de descontrolo, Alma ameaça atirar água a ferver para cima de Elizabeth. A actriz, na iminência do perigo, quebra o seu silêncio. O “No! Don’t!” de Elizabeth possibilita ao seu silêncio sobrepor-se à verbalização da Alma. É no silêncio que vegeta a revelação. A dupla negação sublinha a preocupação pelo rosto, que encerra a história, absorve os planos, direcciona pontos de vista, cria relevos e encena brilhos. Persona não é uma exortação ao quebrantamento das máscaras, antes prefere ser a blandícia cega e confusa no rosto do marido de outra mulher. O rosto é mais que o produto da fusão sugerida no final. É o campo de batalha da violência, simultaneamente a arma e o espólio conquistado. O que sobra? Os restos. A expressão do “irrealizável sonho de existir, não o de parecer, mas o de ser.”

João Marques da Silva


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Inteligência Artificial Gaming/Internet

Liberdade Artificial Este mês quero abordar um tópico que me tem chamado a atenção ultimamente: os videojogos de mundo aberto. Quando nos é apresentada a oportunidade de fazer aquilo que queremos, isto é, completa liberdade, imediatamente, e de forma quase instintiva, demonstramos algum tipo de emoção, isto porque, ainda que a ideia da completa liberdade soe apelativa, a sua aplicação a qualquer tipo de média acaba por ser incompleta, tanto pela parte de produção como pela leitura feita por cada um de nós. A imersão que cada individuo consegue atingir dentro de uma narrativa (filmes, livros ou videojogos) é condicionada, principalmente, por dois factores: a suspensão da descrença (suspension of disbelief) e as próprias experiências de vida do indivíduo, isto é, experiências que possam criar pontes ou relações de empatia entre o leitor e a acção a decorrer na narrativa. Tendo isso em conta, a liberdade total é um conceito que não existe dentro das fronteiras das sociedades tidas como “normais”. Não sabemos o que é a completa liberdade, pois nunca a experienciámos, porque existem limites. Assim sendo, o problema surge quando, num videojogo, nos é apresentada a ideia de “poder fazer tudo aquilo que nós quisermos.” O nosso cérebro não é capaz, dentro do ambiente em que existe, de processar este tipo de “benefício” e, como consequência, acabamos por recorrer à limitação das nossas próprias acções. Tudo acaba por ser banal, inconsequente e de pouca importância.

“O nosso cérebro não é capaz, dentro do ambiente em que existe, de processar este tipo de ‘benefício’”

Dada a escolha, um jogador poderia ter escolhido passar horas da sua vida a recolher flores, não progredindo na dita história principal, só por ter essa possibilidade.

“É preferível ter um caminho delineado que sugira ao jogador certo tipo de acções de forma periódica”

Isto acontece porque, ainda que a ideia da liberdade seja entendida como “desejável”, a realidade é que o ser humano é incapaz de funcionar a cem-por-cento sem algum tipo de limitação que o puxe a melhorar. O problema da limitação conjuga-se com o problema da motivação: ao serem apresentadas oportunidades ilimitadas, temos problemas em fazer, ou inclusive manter, uma escolha, o princípio de “ter tantas coisas para fazer que não apetece fazer nada”. É preferível ter um caminho delineado que sugira ao jogador certo tipo de acções de forma periódica, apresentando, ao mesmo tempo, uma pequena “caixa de areia” para o desenvolvimento dessas acções, em que os pontos fulcrais da narrativa apresentem o poder da escolha e as suas ramificações a ilusão da escolha, enfim, mantendo a ordem sem esta ser evidente. De qualquer forma, deixo-vos com alguns jogos que apresentam esta dicotomia e que podem ser interessantes de analisar: TES, Skyrim, Far Cry 3, The Sims. Mitchel Martins Molinos


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Harmonias e Contrapontos Música

Recording Industry Association of America (RIAA) Mais um mês e mais uma vez tive imensa dificuldade em encontrar um tema para esta coluna que tanto me apraz manter. Enquanto olhava para o cursor do Word a piscar, encabeçando uma página em branco, a escolha aleatória do iTunes fez surgir uma música do enorme Frank Zappa: “G-Spot Tornado”. Eureka! Vou escrever algo relacionado com a controvérsia que surgiu com o lançamento do disco em que se inclui esta música! “G-Spot Tornado” pertence ao disco Jazz From Hell, de 1986, e a música foi inteiramente tocada num Synclavier, como a maior parte do disco. Sobre esta composição em especial, Zappa afirmou que nunca seria possível ser tocada por mãos humanas. O compositor americano foi provado errado quando, em 1993… Não, não, isto são coisas de outras núpcias. O ponto principal desta crónica é a controvérsia do disco e, a partir de agora, vou apenas focar-me nisso!

O comité pediu ainda à RIAA que obrigasse as discográficas a imprimirem as letras das músicas nos discos, que proibisse a exposição de discos ofensivos, bem como a passagem na televisão de telediscos que sugerissem temas “imorais”, e que criasse um painel que seria responsável por seleccionar as músicas que poderiam, ou não, ser passadas.

“A censura não prevalecia sobre a indústria musical, mas a liberdade de expressão tinha sofrido um embate que ainda hoje perdura”

Foram 19 as editoras que concordaram em colocar o autocolante “Parental Guidance: Explicit Lyrics” na capa dos discos considerados obscenos. O Senado, antes de aprovar esta medida, promoveu uma audiência sobre o chamado “porn rock”. Foram ouvidos três membros do PMRC, dois senadores a defenderem o comité e três músicos que se afirmaram contra a medida: Frank Zappa, Dee Snider e John Denver. Antes do fim das audiências, a RIAA concordou em colocar autocolantes a dizer “Parental Advisory”, mas recusou-se a descrever os temas dos discos, bem como a imprimir as letras das músicas. A censura não prevalecia sobre a indústria musical, mas a liberdade de expressão tinha sofrido um embate que ainda hoje perdura.

Em 1985, a Recording Industry Association of America (RIAA) recebeu uma queixa do Parents Music Resource Center (PMRC), em que este apresentava um índex com 15 músicas que os membros da organização achavam serem imorais. O índex era encabeçado pela faixa “Darling Nikki” do músico Prince, uma música que referia sexo e masturbação. A sugestão do PMRC foi a criação de um sistema de “guia/classificação da música”, como existe nos filmes (maiores de 12, 18, etc.).

Agora (não se preocupem, não me esqueci do tema da coluna), o engraçado é que o disco em causa de Frank Zappa, Jazz From Hell, tinha um autocolante de “Parental Advisory” na capa… Mesmo sendo um disco instrumental! Diogo Barreto


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Criticamente Correto Literatura

Literatura “leve” e literatura “pesada” vs. Literatura Nesta ânsia por classificar, o mundo parece ter-se esquecido de que a literatura (como, de resto, a cultura, a arte) não quer apenas informar e educar. Quer mais. Quer entreter, distrair, emocionar e comover, quer divertir e envolver, fazer pensar e fazer sentir, quer sensibilizar, vulnerabilizar e até perturbar. E isso conseguem-no os grandes clássicos tanto quanto as narrativas do nosso tempo. Quem somos nós para determinar o que vale e o que não vale?

Antes de me iniciar no mundo da crítica literária propriamente dita, quero deixar clara a minha posição sobre um assunto que continua a produzir muitas discussões entre os entendidos e os outros: a cultura (no sentido de cultura “cultivada”) presente nas obras que carregamos connosco, isto é, o tipo e grau de conhecimentos passíveis de ser por nós, enquanto leitores, absorvidos ou, em linguagem popular, o “sumo” intelectual que somos capazes de extrair de um livro, com os ensinamentos quantificados em litros. Num destes dias, a pedido de uma amiga, aceitei participar num trabalho de vídeo para uma disciplina da faculdade. Sei que ela não se vai zangar comigo depois de ler esta crítica (que tão pouco a ela se dirige, em particular) e, portanto, aqui vai: a certa altura, perguntou-me se preferia literatura “leve” (“superficial” foi outro dos adjetivos que usou) ou literatura “pesada”. Percebi o alcance da pergunta e percebi, também, as conotações que a motivaram e as conclusões a retirar da minha resposta, ancoradas em juízos de valor na minha opinião falhados. Que géneros literários é que cabem dentro de cada uma destas categorias? E o que é que as distingue? O tema, o estilo de escrita, ambos? Um romance, por exemplo, tem de ser considerado “leve” só porque fala, primordialmente, ao coração? Ainda que, não raras vezes, conte histórias que são as nossas? A minha vida, a tua vida, por palavras, num papel…

Por isso, penso que a pergunta a fazer – antes e mais do que «preferes literatura “leve” ou literatura “pesada”?» – deveria ser «tens hábitos de leitura?». Afinal, pouco interessa ter a estante cheia de livros, se nenhum ocupa o protagonismo da mesa-decabeceira. Educar o gosto é importante e urgente, mas secundário, porque só é possível aproximar as pessoas da literatura dita “letrada” depois de as aproximar da literatura, de uma forma geral. É preciso, enfim, em primeiro lugar, calçá-las com os sapatos da literatura. Sapatos feitos de romances, dramas, comédias e policiais; feitos de poesia, terror, fantasia, ficção científica e literatura erótica; feitos de biografias, sátiras, crónicas e ensaios. Mas, não menos importante nem menos urgente, é preciso deixá-las escolher o modelo que considerarem mais confortável, sem preconceitos nem censuras aportados em elitismos vãos, sejam chinelos de praia Havaianas ou stilettos Louboutin. Ganha a cultura em caminho percorrido.

“Percebi o alcance da pergunta e percebi, também, as conotações que a motivaram e as conclusões a retirar da minha resposta.”

Joana Cavaleiro Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


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“PRODUÇÃO ESCRITA” Literatura

Lembro-me... Lembro-me dela e entristeço-me. Penso na sua cara, na cor dos seus cabelos, no seu sorriso nos dias mais felizes e na sua voz melodiosa a vibrar pelo ar e encolho-me de dor. Sempre que penso nas palavras dela, nos seus gestos pintados no mundo e nos seus movimentos de ninfa que me cativavam, estremeço no meu quarto e grito sem voz, desesperado. Agarrando-me à mente e impedindome de descansar. Da minha testa escorrem suores frios, as minhas mãos tremem pegajosas do suor e ferro as unhas na palma das minhas mãos, tentando controlar o desespero que me tenta levar à loucura. Deito-me na cama molhada e relembro aquele dia, vez atrás de vez, os meus olhos a brotarem da minha cara magra e cansada, envolvidos em olheiras e pele pálida.

“Penso no dia em que a conheci, penso em como estávamos destinados à grandeza, à eternidade do para

sempre e do nunca nos vamos separar.” Em cada noite sinto-me mais um cadáver. Tudo por causa dela. Penso no dia em que a conheci, penso em como estávamos destinados à grandeza, à eternidade do para sempre e do nunca nos vamos separar. Lembro-me de um amor que seria eterno, um amor que passava a barreira de amizade e cumplicidade, paixão e confiança, e lembro-me de a ver desaparecer diante dos meus olhos. Lembro-me da cor do céu nesse dia de Outono. Cinzento, coberto de nuvens disformes, retorcidas pela água que se amontoava nelas, tornando-as pesadas e opressivas. Lembro-me da força do vento, rasgando através das árvores, silvando pelas folhas, rugindo aos meus ouvidos enquanto ela sorria e corria monte acima no seu vestido verde.

“Lembro-me de estar feliz, lembro-me de pensar que ela estava feliz, que ela era feliz. Esse sentimento aquecia-me o coração.”

Engulo em seco. Penso na corrida, nas escadas de pedra quebradas até ao topo, no seu riso enquanto subíamos, passo atrás de passo, completamente sozinhos naquele canto do nosso mundo. Lembro-me de estar feliz, lembro-me de pensar que ela estava feliz, que ela era feliz. Esse sentimento aquecia-me o coração. A vista era magnífica, toda a serra surgindo do solo, titãs adormecidos, serpenteando a terra e separando mundos, altos e magníficos, capazes de furar os céus, o vento rugindo ao passar por eles, incapaz de mesmo assim acordá-los. Lembro-me da cara dela, do silêncio preso nos seus lábios antes de desaparecer. Porquê? Na ponta do abismo, lembro-me de a ver reflectir, pensar, perdida nos mundos só seus como tantas vezes antes, o seu cabelo negro a dançar ao sabor do vento. Lembro-me de a ver tremer, de frio ou de medo, não sei. Lembro-me de como o seu olhar mudou antes da queda. Ainda penso nela, do último olhar que me deu. Da queda. De um grito, inteligível quase, engolido pelo silvar dos ventos. Lembro--me de tremer, a minha mão esticada, o meu cérebro a tentar compreender o que acontecera, o sentimento de saber que tudo acabara, que nunca mais a veria, que aquele sorriso desaparecera, lembro-me de a ver cair e saber que o tempo não voltaria atrás. E até hoje ainda me pergunto: porque é que eu a empurrei daquele desfiladeiro?

Pedro Pereira


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Desenho por André Maia

“O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e,

em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.” Fernando Pessoa

Playlist “Controvérsia mora ao lado” 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.

Sex Pistols – God Save the Queen The Prodigy – Smack my Bitch Up Eminem – Kim NWA – Fuck Tha Police The Doors – The End The Velvet Underground – I’m Waiting for my Man John Legend – Imagine Slayer – Angel of Death Metallica – Fade to Black Rage Against the Machine – Killing in the Name

11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20.

Nine Inch Nails – Closer Nirvana – Rape Me Guns N’ Roses – One in a Million Frank Zappa - Dumb All Over Prince – Sister Prince – Darling Nikki Ozzy Osbourne – Suicide Solution Van Halen – Hot For Teacher GNR - Vídeo Maria B Fachada – Deus, Pátria e Família


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CULTURA

Agenda Cultural Concertos: 28 e 29 de Novembro, sexta-feira e sábado - Vodafone Mexefest, Avenida da Liberdade; 29 e 30 de Novembro, sábado e domingo - PAUS,Linda Martini e Filho da Mãe no Galeria Zé dos Bóis; 04 de Dezembro, quinta-feira - Dead Combo na Coliseu dos Recreios; 10 de Dezembro, quarta-feira - Xutos & Pontapés e Linda Martini no Teatro Tivoli; 15 de Dezembro, segunda-feira - Buraka Som Sistema no Casino Lisboa. Eventos: 27 de Novembro a 07 de Dezembro - Festival InShadow (Festival Internacional de Vídeo, Performance e Tecnologias), vários espaços culturais - Lisboa; A partir de 27 de Novembro - Festival Pós-Ecrã (Festival de Arte, Novos Media e Ciberculturas), Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa - Lisboa; Novembro a Janeiro - Festival Temps d’Images Lisboa, vários espaços culturais - Lisboa; 5 de Dezembro a 4 de Janeiro - Óbidos Vila Natal; 1 de Dezembro a 21 de Fevereiro de 2015 - Ciclo de Cinema “P’ra Rir” - Fundação Calouste Gulbenkian. Livros: “Prometo Falhar”, de Pedro Chagas Freitas; “Madrugada Suja”, de Miguel Sousa Tavares; “Amores e Saudades de um Português Arreliado”, de Miguel Esteves Cardoso; “Até Onde Te Leva o Coração”, de Susanna Tamaro; Filmes: “Nightcrawler - Repórter na noite”, de Dan Gilroy; “20 000 dias na Terra”, de Iain Forsyth e Jane Pollard; “Dois dias, uma noite”, dos irmãos Dardenne; “Campo de flamingos sem flamingos”, de André Princípe; “Get on up: a história de James Brown”, de Tate Taylor. Séries: Sons of Anarchy; The Affair; How To Get Away With Murder; Red Band Society; Stalker. Jogos: Dragon Age Inquisition (PC, PS3, PS4, Xbox360, XboxOne); Far Cry 4 (PC, PS3, PS4, Xbox360, XboxOne); Little Big Planet 3 (PS4); Super Smash Bros - Wii U (Wii U); Call of Duty: Advanced Warfare (PC, PS3, PS4, Xbox360, XboxOne).



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