Jornal Ora Pro Nobis - Abril/Maio

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Foto: Mariana Ribeiro

LIVRARIAS

Como o papel de mãe se tornou o protagonista da vida de mulheres e porque essa discussão tem tanta importância | PÁGINA 3

Apesar de ser intimamente ligada à educação, a cidadede SJDR tem poucos espaços dedicados à literatura | PÁGINAS 4 e 5

Foto: Alisson Santos

FAMÍLIA

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de São João del-Rei | Abril / Maio de 2016 | Nº 19

Afinal, os sinos falam?

Foto: Lucas Silveira

Os sinos de São João del-Rei, com seus toques e dobres, têm mantido uma linguagem peculiar conhecida por muitos sãojoanenses. Instrumento de comunicação, o símbolo litúrgico acarreta histórias que atravessam séculos, protagoniza lendas e até influencia o cotidiano da cidade. Tombado pelo IPHAN como patrimônio imaterial nacional, os sinos têm nome e até mesmo “vida” | PÁGINAS 6 e 7

Instituições e moradores cuidam de animais abandonados em São João del-Rei. Iniciativa busca diminuir o número de cães e gatos que vivem pela cidade PÁGINA 11

Em nome do ambiente Foto: Clara Rita

Foto: Elaine Maciel

Pelas ruas

Com pequenas ações, um morador do bairro Bonfim busca conscientizar seus vizinhos em questões sobre sustentabilidade PÁGINA 12


2 CRÔNICA

Idas e Vindas Por Isabella Sales Atenção senhores passageiros, com destino a algum lugar, nossa viagem irá começar. Rotina frenética, dia começa e termina assim. Antagonismo velado, rotina que não se repete. Estamos no Terminal Rodoviário Prefeito Octávio de Almeida Neves, precisamente em nossa São João del-Rei. Do lado de cá da cidade que não é tão histórico assim. Partidas e chegadas, lágrimas de alegrias, lágrimas de despedidas. Emoções à parte. Dia desses, construindo as ideias da minha crônica, passei a observar

esse cenário tão simples e tão complexo. Monotonismo fora de cogitação. Passageiros que chegam afoitos na busca imediata de seus destinos, outros parecem não querer acreditar que estão partindo, idosos andando lentamente ansiosos para a consulta, crianças correndo como pássaros soltos das gaiolas, loucos para viajar, e mais enlouquecida a mãe, que como leoa, segura o menino levado. Chão áspero, paredes desgastadas, malas que se arrastam, cães abandonados, mãos que os alimentam. Em meio a tanta efervescência ainda há tempo para o café, o famoso pão de queijo quentinho, e uma olhada no placar do jogo para os fanáticos do futebol.

Na rodoviária é assim, o cotidiano se escreve de diferentes maneiras. Tem aqueles que chegam atrasados, aqueles que são obrigados a esperar a preguiça do relógio, máquinas que alimentam o sonho da molecada, que por muito tempo foi o meu também. Alguns aproveitam para passar no caixa eletrônico, folheiam revistas, leem jornal e dão a última entradinha no banheiro. Outros aguardam o instante final para dizer: “Até mais! Vá com Deus!” O trabalho dentro desse lugar é contínuo, mas pouco notado, muitas vezes ignorado. Reparo, os auxiliares de limpeza,os vendedores de lanches e

os de passagens, motoristas e cobradores, querendo ou não fazem parte dos rumos de outras pessoas. Passageiros. A rodoviária é o porto da cidade sem mar. Ônibus de todas as cores, empresas e destinos. Do lado de fora é vida que segue. Trânsito interminável, taxistas e mototaxistas trabalham ali. Pobreza deslavada, a calçada em frente é a casa de muitos mendigos, que fazem do chão suas camas e do céu os seus tetos. Realmente, olhando de perto, são tantas histórias, conceitos, problemas e sonhos. Como canta o poeta: “E assim chegar e partir, são só dois lados da mesma viagem.”

ARTIGO

Que a história nunca termine Por André Lamounier Pelé não aprendeu a jogar futebol no Santos; nem Zico, no Flamengo. Antes de atuarem por grandes clubes, eles e tantos outros passaram por pequenos times, nos quais se formaram, foram vistos por olheiros e encaminhados aos grandes times. Atualmente, o que mudou é que cada vez menos os pequenos tem condições de se manterem. Falta patrocínio, estrutura e até interesse da torcida. Com tantos jogos entre grandes times na TV, ir ao campo

torcer pelo time da cidade parece piada. Esse é o desafio que o Athletic tem para esse ano. O time, que já disputa o mineiro sub-15 e 17, fez uma parceria com o Guarani para disputar o sub-20. Oportunidade para as crianças das escolinhas se inspirarem nos mais velhos e para a torcida ir ao estádio. Entretanto, isso só foi possível porque o time de Divinópolis não tinha condições de disputar, mesmo sendo profissional. Dois times com décadas de história tendo que juntar

forças para se manterem. Foi num desses campeonatos que Claudio Caçapa “nasceu” para o futebol. O zagueiro jogou pelo Social, do bairro Matosinhos, antes de ter uma oportunidade no Atlético-MG. Lá, se destacou e depois rodou o mundo. Hoje, junto do são-joanense André Luiz, que também jogou no exterior, encabeçam um projeto no Social para revelar novos talentos. Alguns já tentam a sorte na Europa. Esses projetos reavivam a esperança do futebol local voltar a ser competitivo. Da torcida voltar a

apoiar seus times e de grandes jogadores serem revelados. E que a história do futebol são-joanense nunca termine. Se isso parece impossível, não é só por culpa das diretorias. Vale também um mea-culpa: enquanto dermos mais atenção ao futebol do exterior do que ao daqui, continuaremos a manter a infeliz “síndrome do vira-lata”. Não tem nada que o nosso futebol seja incapaz. As cinco estrelas na camisa da nossa seleção são prova disso.

Expediente

Charge

Jornalistas responsáveis: Chico Brinati (MTb/MG:10.568) e Jairo Faria Mendes (MTb/MG: 4.913) Chefe de redação: João Henrique Castro Editor de imagens: Lucas Maranhão O Ora-Pro-Nobis, jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), é distribuído na cidade de São João del-Rei-MG, bimestralmente, com tiragem de mil exemplares, impressos na gráfica da UFSJ. Fale com a redação: jornal.orapronobis@gmail.com Lucas Maranhão e Talita Tonso

Facebook: Jornal Ora Pro Nobis Instagram: @jornalorapronobis Issuu: jornalorapronobis


A mulher por trás da mãe

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Como o imaginário popular associa a identidade das mulheres ao papel da maternidade

Fotos: Mariana Ribeiro

GRAZIELA SILVA JULIANA PARAVIZO MIRA MARIANA RIBEIRO

No dia 8 de maio é comemorado o Dia das Mães: almoço, família e presentes. No entanto, a realidade materna, com desafios e renúncias, é diferente da apresentada nos comerciais da TV. Não é questionado se o que a mulher vive é o que esperava para si ou mesmo se ela está disposta a exercer esse papel. “Além de ser você, você é mãe”, diz Amanda Magalhães, dando ênfase à primeira palavra: “Querem que você perca você mesma, cobram isso como se fosse uma coisa completamente normal e não é. Eu tenho a Valentina, mas eu ainda sou a Amanda. Ter a Valentina é só uma de minhas faces”. Amanda, que hoje ama ser mãe, engravidou enquanto cursava Jornalismo na UFSJ e conta que o que vive no seu dia-a-dia com a filha não se parece com o que é visto na TV. A jovem confessa que a cobrança para agir com perfeição é frequente: “Você se sente mal de reclamar do que está sentindo. Se digo ‘não estou aguentando, eu quero dormir’, as pessoas dizem ‘mas ela é sua filha, é sua obrigação”. Recentemente, viralizou no Facebook a hashtag “Desafio da Maternidade”, em que mães desafiavam umas às outras a postarem fotos de momentos que refletissem a sua felicidade. Uma delas, Juliana Reis, postou fotos de instantes reais de seu dia a dia: “Desafio não aceito”, disse. Juliana teve seu perfil bloqueado, mas contagiou outras mães a desconstruírem o estigma da maternidade

AMOR “É algo que me cansa muito, mas que não abro mão”, diz Amanda, mãe de Valentina, sobre a maternidade.

idealizada. Mariana Abdala, de 58 anos, conta que passou por problemas devido à gravidez, nenhum deles relacionado diretamente à filha, mas que a fizeram repensar a maternidade: “Acho melhor começarmos a mostrar para as mulheres que a realidade é dura”. Quando questionada se esse foi um sintoma de depressão, a psicóloga alega: “Claro que existe a depressão pós-parto. Mas existe a decepção pela falta de informação. Ninguém fala que a mãe lida com falta de tempo para si, solidão, afastamento da sua rotina etc”. A psicóloga Flávia Jaques, formada na UFSJ, estagiou lidando com

esses anseios num grupo de mães durante a graduação. As participantes eram, na maioria, mulheres que foram mães adolescentes. Suas vidas

“Estão engessando as mães que, desta forma, perdem seus maiores dons: intuição e espontaneidade” consistiam em cuidar das crianças e se queixavam por não fazerem mais nada além disso: “Existe uma tendência em romantizar a maternidade. Algumas mulheres vivem mais para os próprios filhos, esquecendo-se de seus anseios pessoais. Creio na maternidade como algo a mais para a felicidade da mulher, porém cada mãe viverá essa experiência singularmente’’, comenta. A questão é a decisão que cada mulher toma para si, como diz Amanda: “Eu não desrespeito uma mulher que não queira

OPÇÃO “É uma tarefa muito mais difícil do que parece”, diz Elaine.

ter filhos, porque é um ‘rolê’ que você tem que abrir mão de quase tudo”.

Parece que, no imaginário popular, o desempenho da função materna está associado como algo qualificador da mulher. Assim, além de desmistificar o papel exercido pelas mães, também deve haver um esclarecimento acerca desse caráter compulsório da maternidade relacionado à mulher. A microempreendedora sãojoanense, Elaine Rodrigues, de 43 anos, optou, ainda jovem, por não ser mãe. “Já tive namorados e deixei claro que não quero ter filhos. Ver certos comerciais dá até vontade de ter um bebê, mas logo passa. Porque sei como é difícil”, diz. Assim como Elaine, Simone do Carmo, de 40 anos, também não tem filhos. “A vida me levou por esse caminho. Já tive vontade de ter filhos, porém algumas coisas impediram que ocorresse. Críticas sobre a minha escolha acontecem, mas me acostumei”. Mais do que uma mãe, há uma mulher, capaz de ter suas próprias decisões e que não precisa ser tratada somente como uma cuidadora inata. Cabe exclusivamente às mulheres a decisão de qual face assumir, de qual história escrever e de qual caminho trilhar.


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São João del-Rei: Uma terra de poucas livrarias? Cidade histórica apresenta um cenário restrito para o comércio de livros CÍCERA ROSA LUCAS MARANHÃO JOÃO JUSTINO

O mercado de livros em São João del-Rei é tímido e se desenvolve a passos lentos. Em toda a cidade existem apenas duas lojas de livros, uma biblioteca municipal e três bibliotecas da Universidade Federal. Os estudantes são uns dos que mais enfrentam dificuldades com a falta de livrarias na cidade: “Quando não encontro os livros que preciso nas bibliotecas ou estão todos emprestados, costumo recorrer às xerox ou baixar o conteúdo da internet mesmo, são as únicas opções que temos”, comenta Danielle Zane, estudante de psicologia da UFSJ. O empresário e escritor Berg Morazzi decidiu abrir uma loja de livros em abril de 2015 e foi obrigado a fechar as portas em agosto do mesmo ano. Analisando essa trajetória, ele aponta alguns fatores para o insucesso do empreendimento: “O aluguel era absurdamente caro e o mercado de São João del-Rei para esse segmento é horrível”. O escritor também responsabiliza a crise econômica, que afeta diversos segmentos, pelo fechamento da loja. “O principal motivo [para o insucesso da loja] acredito que foi o momento que escolhi para abrir, devido a crise econômica do país e o aumento dos adeptos do ebook”, conclui. A proprietária do Ponto Lite-

rário, sebo de livros e discos localizado no centro histórico da cidade, analisa o seu público: “Aqui no sebo, na maioria das vezes, as pessoas não encontram o que desejam quando vêm procurar um livro específico. Nesse caso a internet é o melhor caminho”. Ainda assim, os sebos podem ser uma excelente opção para os amantes de livros. Apesar de possuir preços mais baixos, os sebos

Enquanto o mercado de venda de livros está em queda na região, os números de empréstimos da Biblioteca Municipal estão em alta

têm um público diferenciado, os clientes são aqueles que exploram as pilhas de “livros velhos” por paixão, verdadeiros caçadores de relíquias. “Eu vendo mais para as pessoas que gostam dos livros antigos, que gostam de garimpar, buscando edições clássicas, livros raros, que mesmo em grandes livrarias são difíceis de achar”, conta ela. Já Dona Maria José diz que nos 28 anos de portas abertas tem visto o número de clientes e vendas cair cada vez mais, e que sua salvação tem sido os outros artigos disponíveis para venda.

ALTERNATIVA Para as pessoas que querem economizar, os sebos são uma boa opção para encontrar livros mais baratos e em bom estado de conservação.

Para fugir das dificuldades com o comércio dos livros ela investiu na mistura religiosa, trazendo para seu estabelecimento vários artigos religiosos e imagens católicas: “A minha intenção era abrir uma livraria sem abrir mão dos meus santos, não tenho somente livros católicos aqui, recebo todo ano lançamentos das editoras, inclusive acompanho o mesmo preço para ser mais atrativo e não perder vendas”. Enquanto o mercado de livros está em queda na região, os números de empréstimos da Biblioteca Pública Municipal Baptista Caetano d’Almeida se encontram em alta. O gerente da biblioteca, Vagner Rodrigues, aponta sucessivos recordes na saída de livros. Segundo o gerente, os recordes de empréstimo têm sido quebrados mês a mês. No mês de março de 2013 foram emprestados 560 livros, enquanto a previsão para o mesmo mês desse ano é de mais de 1400. E essa matemática se repete ao analisar os anos: em 2013 o trânsito foi de 11 mil livros enquanto em 2015 foi de 15 mil. Ele relaciona a constante aumento de empréstimos à interação que a biblioteca tem estabelecido com seu público. Nos últimos cinco anos, a instituição

MERCADO Segundo leitores, a cidade

lançou um portal na internet que permite ao leitor acessar e buscar no acervo, além de poder requerer um livro que não faz parte do inventário. Tudo isso no conforto de casa e gratuitamente. A instituição também está presente no Facebook apresentando os novos produtos adquiridos, os eventos que acontecem por lá e também o espaço “Você escritor!”, onde qualquer leitor pode virar escritor, postando artigos e textos em geral.


25 Fotos: Alisson Santos

Biblioteca Municipal recorre às redes sociais após furto de livros Por ironia, até mesmo o best-seller “A Menina Que Roubava Livros” foi levado do local ALISSON SANTOS JOSÉ PAULO GUIMARÃES THAÍS FERNANDA

e conta com número insuficiente de espaços dedicados à literatura

SUMIÇO Livros têm sido levados da Municipal e não são devolvidos

A Biblioteca Municipal Batista Caetano D’Almeida, que foi criada em 1827, é a mais antiga biblioteca pública do estado de Minas Gerais e tem disponível ao acesso cerca de 20 mil livros. No entanto, alguns títulos têm desaparecido das estantes e, por conta disso, a biblioteca não poderá investir em novos lançamentos até recuperá-los. Segundo a coordenação, só nos últimos dois anos foi notada a ausência de pelo menos 30 livros nas prateleiras. Depois que perceberam o sumiço dos exemplares de “Percy Jackson e os Olimpianos: A Maldição do Titã”, “Crônicas de Nárnia”, e “A Menina Que Roubava Livros”, entre outros, os funcionários da biblioteca decidiram mobilizar uma campanha no Facebook em busca de ajuda para recuperar os livros e continuar oferecendo seu serviço. “Este ano, uma senhora veio procurar ‘O Cemitério de Praga’, de Umberto Eco e, quando nós fomos à estante verificar o

livro para fazer o empréstimo, ele não se encontrava lá. Mas no banco de dados constava que ele se encontrava na biblioteca. Feito isso, as colegas de trabalho fizeram uma batida em todas as estantes, imagine o trabalho. Cada livro tem o seu lugar e elas não encontraram. Isso nos acendeu uma luz e pensamos: agora chega! Vamos colocar a boca no trombone e usar uma ferramenta que é uma mídia social, o Facebook. E nós resolvemos fazer essa divulgação, pedindo às pessoas que não adquirissem livros que são furtados aqui na biblioteca”, conta Arthur Moreira, coordenador do serviço de gestão. Ao reter um bem público, outras pessoas estarão sendo privadas do direito de acesso, o que, além de ser um crime que gera de 1 a 4 anos de prisão e multa, vai contra toda a ideologia da biblioteca. Como forma de identificação, todos os livros têm um carimbo e, se encontrados, poderão ser devolvidos diretamente na biblioteca, que fica na Praça Frei Orlando, 90, Centro de São João del-Rei.


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Badaladas que contam histó São João del Rei, a “cidade onde os sinos falam”, guarda segredos e peculiaridades nas torres das

EMANUEL REIS LUCAS SILVEIRA TAINARA PAULA

Os sinos tocam na Igreja de São Francisco de Assis em três vezes, repetidamente. Não é dia festivo ou data religiosa. O motivo é a morte de José Teixeira, membro da Ordem Terceira. As pessoas entendem a mensagem. Assim, a cidade ainda mantém a bela e curiosa tradição colonial: a linguagem dos sinos. Com seus toques ou dobrados, os sinos mantém uma linguagem peculiar de grande riqueza cultural, de conhecimento de muitos sãojoanenses. Nos mais distintos tamanhos, com sons e timbre variados, os sinos estão sempre transmitindo mensagens e comunicando com a população, seja para notícias boas e festivas ou para anunciar a morte de algum morador. “O sino era o meio de transmissão dentro da cidade, por isto o nome de ‘cidade

onde os sinos falam’. Hoje, mesmo com tantos meios tecnológicos de comunicação, não tendo mais a necessidade de se comunicar através dele, o sino se mantém com base, firme, sendo preservado e valorizado”, explica Nilson José dos Santos, sineiro há 24 anos. Marca registrada da cidade mineira, o símbolo litúrgico já faz parte da família sãojoanense, afinal, acompanha a rotina diária dos moradores da cidade, desde o amanhecer até o fim do dia. Companheiro de Nilson, “Conceição” – sim, os sinos têm nome – é um dos mais admirados na cidade. Ele integra um dos seis sinos das torres do templo dedicado a São Francisco, “pai dos pobres”. Na maioria das vezes um sino tem uma durabilidade maior que 50 anos e pesa, em média, três mil quilos. Há exceções, presentes na cidade, que chegam até a uma tonelada.

Paixão que vem de berço

SINOS QUE INFORMAM São João del Rei é conhecida como “a cidade q

Rodrigo Leandro da Silva é sineiro na Igreja do Rosário. Praticante da profissão há mais de 30 anos, ele recorda como surgiu toda essa paixão pelo instrumento litúrgico. “Morava nos arredores da Igreja Matriz (Catedral do Pilar) e, toda manhã, observava aquele ‘negócio’ se movimentando no alto da igreja. Eu e meus irmãos ficávamos encanta-

chega dia festivo “logo querem dobrar os sinos”, conta Rodrigo que via Giovani, quando pequeno, repetir os gestos (feitos com o sino) em uma vassoura. “A gente incentiva, afinal, é uma forma de preservar a tradição, mas, como profissão é complicado. O salário é pouco. O que nos estimula mesmo é o amor pelo sino”, reforça Rodrigo.

dos”, recorda. Além de Rodrigo, a curiosidade invadiu toda a família. Seus cinco irmãos também se encantaram pelo instrumento e tornaram sineiros. Já não bastavam os irmãos, a paixão pelo sino também contagiou os sobrinhos de Rodrigo. Giovani e Vinícius não são sineiros por profissão, exercem outras funções, mas, quando

Profissão de risco A Técnica em Segurança do Trabalho Angélica Santos afirma que no caso dos sineros, alguns EPIs (E quip amento de Prote ç ã o Indiv i du a l ) devem ser utilizados: Cinto de segurança, devido à altura; capacete e protetor auricular, pelo


órias suas igrejas

Fotos: Lucas Silveira

O sino que matou o homem Gerônimo foi condenado por matar uma pessoa. Entretanto Gerônimo não era uma pessoa, era um sino. Difícil imaginar um objeto sendo condenado, mas, em São João del-Rei, isso ocorreu em 1910. O sineiro e sacristão da Igreja São Francisco de Assis, Nilson José dos Santos, comenta que o sino Gerônino ocupava o campanário principal da igreja, e que em uma procissão, durante a quaresma daquele ano, matou o sineiro João Pilão. Era o quarto domingo da Quaresma daquele ano, e João Pilão foi encontrado sem vida na torre da igreja. A procissão do Depósito do Senhor dos Passos saía da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar a caminho do São Francisco e o sino era tocado para informar a solenidade que acontecia.

Em um dado momento o sino voltou à sua posição normal e não tocou mais. “Algumas pessoas que já conheciam o João pensaram que ele estivesse ‘tonto’ e não tinha ido tocar o sino”, conta Nilson.

“Após o ocorrido, Gerônimo foi ‘preso’. Quando um sino é preso ele permanece na torre onde está [...] e apenas o badalo é retirado” O fato correu entre os fiéis que acompanhavam a celebração. Algumas pessoas foram até o campanário e encontraram a porta trancada. Houve a necessidade de arrombar a porta, e só assim constataram a morte de Pilão por Gerônimo.

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Após o ocorrido, Gerônimo foi “preso”. Quando um sino é preso ele permanece na torre onde está, ao contrário do que muitas pessoas pensam, e apenas o badalo é retirado. O corpo do sino é coberto com um tecido preto e envolvido por uma corrente. Sua “punição” é não ser tocado por algum tempo. Criou-se então a lenda de que o sino ficou preso em uma cadeia. No prédio onde se encontra a atual Prefeitura de São João del- Rei havia um sino que ficava entre grades, e na época da escravidão ele era utilizado para anunciar os castigos impostos aos escravos. Esse sino foi confundido com Gerônimo, já que este não ficava mais na torre, pois foi derretido devido a uma rachadura que surgiu nele.

Entenda o som dos sinos

que os sinos falam”

alto número de decibéis devido ao ruído de impacto. A Técnica concluiu ainda, como o oficio dos sineros não é regulamentado “acidentes de trabalhos não são fixados e sim eventuais, portanto deve-se tomar cuidado e ficar atento, além é claro de fazer o uso de EPIs”.

- Dobre simples, quando o sino cai pelo lado em que está encostado o badalo, ocasionando uma só pancada em cada movimento; - Dobre duplo, quando o sino caindo pelo lado contrário ao que está encostado o badalo, provoca duas pancadas em cada movimento; - Repiques, quando o movimento é feito somente pelo bater dos badalos, com o sino parado.

Enterro de irmãos -Homens - três dobres de 1 pancada. -Mulheres - dois dobres de 1 pancada. -Crianças - (menores de sete anos), repique festivo, na hora do enterro. -Se o homem foi mesário, dobre na hora em que se tornou conhecimento do falecimento e na hora do enterro (três dobres de duas pancadas)

-Se a mulher foi mesária, dois dobres de duas pancadas. -Se o irmão prestou grandes serviços à Ordem ou Irmandade, dobres de 1 em 1 hora, a critério da Mesa. -Falecimento do Papa, dobre de hora em hora, em todas as igrejas. -Bispo: dobres de 3 em 3 horas. -Vigário: dobres de 4 em 4 horas. -Padre: 5 dobres comuns. Fonte: São João del-Rei Transparente


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Ilustração: Cristiano Giovanni

Número de casos de dengue cresce em SJDR Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, até março de 2016 foram confirmados 202 casos LUCAS ALMEIDA LUCAS COMINE SOFIA PACHECO

São João del-Rei apresentou, nos quatro primeiros meses de 2016, um crescimento de 77% de casos confirmados de dengue frente a todo o ano de 2015. A doença, transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti, tem afetado em maior número a população que se encontra na faixa etária de 20 até 49 anos. De acordo com Jean Alex Vilela, coordenador de endemias do município de São João del-Rei, no ano de 2015 foram notificados 348 casos e 144 foram confirmados. Já no primeiro quadrimestre desse ano, foram notificados 930 casos e 202 confirmados. Este crescimento possivelmente está ligado ao aumento de focos da doença na cidade, porém, até o atual momento, dado a medidas de âmbito nacional, o Levantamento de Índice Rápido para Aedes Aegypti (LIRAa) ainda não foi realizado. Em janeiro e fevereiro de 2016, 39.000 residências foram vistoriadas, sendo erradicados 850 focos do mosquito. Sobre esse ano, Jean teme a maior epidemia de todos os tempos, devido a vinda de muitos turistas à cidade. Uma das possíveis justificativas dada pelo coordenador para o baixo número de casos do ano passado, foi que em 2015 o Brasil passava por uma crise hídrica, chegando a haver o raciona-

mento de água na cidade, desta forma diminuindo o ambiente propício para a reprodução do mosquito. Em São João del-Rei, para o controle do mosquito, várias medidas estão sendo tomadas, como: 24 palestras nas redes municipais, estaduais e particulares de ensino foram ministradas no primeiro trimestre, e o Comitê Municipal de Combate à Dengue foi lançado no dia 28 de março para agendar prioridades na cidade e facilitar o trabalho dos agentes de saúde. O coordenador de endemias da cidade também ressalta que a Secretaria de Saúde está conversando com a Prefeitura de São João del-Rei com a finalidade de punir os moradores da cidade que não estão levando a sério a atual situação crítica. “Se não houver punição, ninguém vai fazer nada”, finaliza Jean Alex. A recomendação do Ministério da Saúde para o combate à dengue é a prevenção, mantendo o domicílio sempre limpo, assim eliminando os possíveis criadouros. A relação de números de pacientes infectados por bairro em São João del-Rei ainda está sendo analisada. Em conversa com a Secretaria de Saúde, foi alegado que os dados serão divulgados em breve no boletim informativo. Além da Dengue, o mosquito é responsável pela transmissão de mais duas novas doenças:

Dados: Secretaria Municipal de Saúde

febre de Chikungunya e a febre pelo vírus Zika. Segundo a Secretaria de Saúde, não houve nenhum caso destas doenças notificado dentro do município de São João del-Rei. O crescimento do número de casos de dengue também pode ser visto dentro do estado de Minas Gerais, havendo um aumento de aproximadamente 900% em relação ao ano de 2015. Segundo o boletim epidemiológico emitido pelo Ministério da Saúde em 29 de março, o ano de 2015 apresentou 13.867 casos dentro do estado, enquanto, até o momento, 2016 possui 124.515 casos notificados. Fazendo com que Minas Gerais

seja o estado com maior número de casos notificados e incidência em 2016. Uma possível solução para esse surto da doença pode ser a vacina TV003, desenvolvida por pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos e publicada no jornal científico Science Translational Medicine, no dia 16 de março. Ela vem sendo testada num grupo de 17 mil pessoas desde fevereiro e os resultados são promissores: nos EUA, os voluntários imunizados ficaram resistentes após serem expostos ao vírus. A previsão para ampla distribuição é a partir do ano de 2018. A vacina já foi licenciada no Brasil pelo Instituto Butantã.


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Acidentes frequentes na BR-265 são motivos para petição Usuários e responsáveis pela rodovia afirmam que inclusão de terceira faixa é essencial para segurança TALITA TONSO TÚLIO MOURA VINÍCIUS SANTOS

A BR-265, que liga São João del-Rei a Lavras, é a terceira rodovia do Brasil com mais ocorrências de acidentes por causa do alto fluxo de carros e carretas, curvas perigosas, buracos na pista e falta de sinalização e acostamento, segundo levantamento feito pela Secretaria de Estado de Defesa Social. A Polícia Rodoviária Federal de Lavras, que inclui um dos dois batalhões da 6ª companhia (ao todo, 96 km entre Itutinga e Coqueiral) informou que somente entre os meses de agosto de 2015 e fevereiro de 2016 nesta quilometragem foram 82 acidentes. A lista de principais causas é, em primeiro lugar, falta de atenção do motorista, em segundo animais na pista, em terceiro excesso de velocidade e em quarto ultrapassagem em locais

proibidos. A partir desses dados, está sendo organizada uma petição que será entregue ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para que se faça a duplicação da rodovia. Uma das organizadoras é a lavrense Kelly Torres, professora na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e no Instituto de Ensino Superior Presidente Tancredo de Almeida Neves (IPTAN), em São João delRei, que utiliza a 265 semanalmente e já sofreu um acidente em 2014. Cerca de 3 mil assinaturas físicas já foram recolhidas e na internet estão quase atingindo a marca de 6 mil. “Temos apoio de alguns poucos políticos, mas precisamos de mais apoio da população em geral”, diz a professora. Para o gerente de logística da Expresso Nepomuceno (empresa de transporte que atua na rodovia) Bernardo Rodrigues, a estrada está perigosa e deixa muitas vítimas fatais. “É urgente a necessidade dessa duplicação principalmente por causa dos caminhoneiros, a rodovia está colocando em risco Foto: Talita Tonso

PERIGO Rachaduras e buracos na pista na saída da cidade de Lavras

Foto: Túlio Moura

DESCASO Buraco no asfalto, no trevo de Nazareno, próximo ao km 300

a vida de seus usuários”, alerta Bernardo. Segundo Bernardo Moraes, assessor de comunicação do DNIT, a empresa já realizou obras de recapeamento no segmento Lavras - SJDR. “Neste momento, acabamos de assinar contrato de manutenção com a Construtora Ápia, no trecho compreendido entre Lavras e São João del-Rei. As obras terão início imediato”, afirmou o assessor. No entanto, em nota, o DNIT informou que não há previsão de obras de aumento de capacidade/ duplicação. O Tenente Roberto, comandante do 1° batalhão de Lavras, afirmou que uma duplicação ou, pelo menos, inclusão da terceira faixa seria essencial. “Sabemos que o DNIT está ciente da petição e, com certeza, é viável para diminuir o risco de acidentes. Estamos aguardando um momento

econômico mais favorável”, afirma o Tenente. A PRF, por meio de comunicados, diz que trabalha com as formas de evitar acidentes, como fiscalização na rodovia com radar, etilômetro e blitz, ações conjuntas com outros órgãos para reparos, o SIU – Sistema Uniformizado da Unidade - que indica coordenadas geográficas que mostram exatamente o local do acidente, entre outros. O grande número de colisões frontais é mais um dado que sustenta a necessidade de duplicação da rodovia e reitera que é necessária a atenção dos órgãos responsáveis para que o número, se não puder ser zerado, ao menos caia. A petição está disponível no site da Avaaz e será entregue para o DNIT quando atingir a marca de dez mil assinaturas.


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Profissionalismo e tradição

Prática de atividades cada vez mais raras ainda persistem em cidades do interior de Minas Gerais Foto: Thaís Morais

MAYARA ALVES THAÍS MORAIS VITOR AUGUSTO

Com o advento de novas tecnologias e mudanças na sociedade, algumas profissões acabam sendo substituídas por outras ou deixam de existir. Nos dias de hoje, a ideia de levar algum calçado para consertar não é tão comum, como também não é receber o leite na porta de casa. E ter um profissional para bater o sino não é algo encontrado na maioria das cidades. Mas em municípios como São Tiago, Antônio Carlos e Conceição da Barra de Minas se encontram profissionais que realizam essas tarefas. O Sineiro Subir ao campanário, bater os sinos e interpretar o seu som, o chamado é parte da vida e da fé de moradores de diversas cidades brasileiras. É com essa importância que surge a necessidade de perpetuar um ofício, essa é uma das tarefas dos sineiros da nova geração, o trabalho é uma das formas mais antigas de comunicação e é um dos mais tradicionais do país. Aos 31 anos, Gilmar Tadeu Silva é um dos sineiros da cidade de Conceição da Barra de Minas, e explica que mesmo em períodos que esteve fora da cidade sempre fez questão de participar das festas religiosas da cidade como sineiro. Gilmar conta que tudo começou com o convite de um amigo para ir até a torre da igreja, a partir dali houve o interesse pelo aprendizado do ofício. Ele considera que é uma honra ter aprendido o ofício e que é de suma importância para a preservação da tradição. Ele diz esperar ainda que as próximas gerações tenham algum interesse pelos sinos. O sineiro lembra que o irmão já

EXPERIÊNCIA Sr. Antônio José, 60 anos, exerce com orgulho, desde bem jovem, a profissão de sapateiro.

fazia parte da equipe anteriormente e que foi um dos incentivadores durante o aprendizado. Questionado sobre a inserção de maquinários que executam a função ele diz; “é uma forma mais segura e tudo indica que será assim no futuro. Porém isso significaria a perca da originalidade, além de ser uma quebra de parte da tradição. Ser sineiro é algo que que exige amor e não pode haver descuido, mas também é fazer parte da história local”. O Sapateiro O lugar cheira forte. É uma bagunça organizada, só ele sabe aonde encontra os pares de sapatos no meio daquela sala coberta por eles. O cômodo abafado, no fundo da casa, com apenas uma janela era o ambiente de trabalho de seu José. Era a única sapataria da pequena São Tiago há 30 anos, conta seu Antônio. Antônio José, 60 anos. Foi apresentado a profissão de sapateiro quando ainda era bem pequeno, na sua infância. Seu pai José sempre sobreviveu e manteve a família por meio do trabalho de consertos de

sapatos. A cidade conhecia seu José como o “José da Sapataria”. Como era o único da cidade ficava abarrotado de serviço, principalmente na época de festas. Antônio conta que, começou a seguir os passos do pai e ajudá-lo com nove anos de idade, e depois disso nunca mais parou. “A sapataria sempre foi nosso ganha pão”. Como era difícil estudar na época, ele disse que preferiu trabalhar com pai e que se orgulha disso até hoje. “Tenho minha sapataria no centro da cidade e é ela que ainda me mantém financeiramente. Hoje em dia tenho pouco trabalho, porque os sapatos já veem feitos e bem duráveis, quase ninguém os conserta. Se estraga a pessoa prefere comprar outro”. Depois da morte do pai, Antônio teve de sustentar a família, foi aí que mudou a sapataria de endereço. “Tive de abrir em um ponto comercial no centro da cidade, para chamar mais atenção e tornar o ponto mais viável para os clientes, já que começaram a aparecer novos sapateiros.” Ele mantém a sapataria no mesmo local. O cômodo é antigo, os sa-

patos ficam amontoados, como na época do pai, o cheiro também é forte e o ambiente é pouco arejado. O Leiteiro Atuando na produção e venda de leite há quase trinta anos, Jorge Bergamaschini atua na cidade de Antônio Carlos, em um sítio localizado na Parada Araújo, zona rural da cidade. Durante todos os dias da semana é possível aos compradores receberem o leite em suas casas. A venda começou na mesma época em que a produção teve início. Devido à procura das pessoas pelo produto, ele e sua esposa, Maria Elena, começaram atender aos pedidos. Os interessados não eram apenas os residentes do bairro onde moram, e segundo ele, hoje atende praticamente a cidade toda. Quando questionado sobre as dificuldades da profissão, Jorge diz não encontrar muitas. Como explicou, isso se deve ao fato de gostar do que faz e, além disso, as pessoas continuam procurando pelo produto, gostam de receber o leite na porta de suas casas.


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Cães vivem à espera de adoção Os animais dependem do apoio de instituições e moradores para viverem com saúde

Fotos: Elaine Maciel

ANA RESENDE QUADROS ELAINE MACIEL

Abandonar cães e gatos é mais comum do que se imagina. Ao todo são mais de 30 milhões de animais deixados nas ruas das cidades brasileiras, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em São João del-Rei, a situação não é diferente. Segundo a vice presidente da Sociedade Protetora dos Animais, Ângela Cristina Muffato ,“o abandono é muito grande, todo dia tem um cachorro novo na rua”. A Sociedade é formada por cinco mulheres e sobrevive através de doações. Ela possui um abrigo com 35 cães e 3 lares temporários, dois deles com 185 animais e o outro com mais quatro. “Temos muitas dificuldades, mas a principal delas é a financeira”, conta. Em São João del-Rei existem alguns projetos que buscam aumentar a qualidade de vida dos animais abandonados. Um deles é o “Amigos de Quatro Patas” que surgiu em 2011 e tem por objetivos o recolhimento, castração e tratamento de cães de rua da cidade. Os animais acolhidos pelo programa são, posteriormente, encaminhados para a adoção. “O programa tem como objetivo principal o controle populacional dos cães de rua do município de São João del-Rei.”, explica Fernanda Alves, bolsista do projeto. “Hoje estamos com uma equipe contendo 3 bolsistas e 8 voluntários.” A aluna também conta que mais de 300 cães de rua já foram esterilizados . A maior dificuldade enfrentada é que os lares que ajudam o projeto já estão superlotados de cães para adoção. Os eventos realizados como o Workshop ou a Cãominhada recebem apoio das empresas patrocinadoras para ajudar a divulgar e conscientizar. “Estamos sempre aceitando doações e qualquer pessoa pode entrar em contato pela nossa

DESCASO De acordo com a OMS, no Brasil são cerca de 30 milhões de cães abandonados nas ruas

“Depois que você cuida de quatro, cinco, é a mesma coisa de cuidar de 10, de 15, quando diz respeito a psicologia canina” fanpage Amigos de Quatro Patas no Facebook.”, Fernanda explica. Vinculado à UFSJ, o Amigo de Quatro patas funciona em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e o Clube dos Vira Latas. Ao longo do ano, o programa visita escolas municipais e estaduais para a realização de campanhas educativas que visam tornar as crianças sanjoanenses conscientes das responsabilidades dos prazeres que um animal de estimação geram.

10 cães e quatro gatos em sua casa. “Meu limite é só financeiro agora. Se eu ganhasse o dobro eu teria o dobro de cães”, conta Douglas. O primeiro cachorro deles foi comprado, mas todos os outros foram retirados das ruas. “Tudo começou naturalmente. Minha intenção foi pegar um, mas moro em um bairro que desovam os cães e eu acabei pegando vários”, explica o professor. Lucy foi a primeira a ser resgatada das ruas por Douglas. Durante um passeio de bicicleta ele encontrou uma cadela com os filhotes e, por se encantar com a cria preta e branca, levou-a para casa. “Logo depois vi um outro filhote e peguei também. Daí foram aparecendo outros aqui na porta de casa. Eu penso assim, depois que você cuida de quatro, cinco, é a mesma coisa de cuidar de 10, de 15, quando diz respeito a psicologia

canina”, conta. Com os gatos, o processo foi um pouco diferente dos cachorros, três deles foram encontrados através de grupos de adoção na internet. O hoje falecido Freddie poderia ter sido morto bem mais cedo, caso Lidia e Douglas não o tivessem salvo de envenenamento e o adotado em 2012. Já a caçula da casa, Bia, foi encontrada por Douglas na escola onde trabalha. Douglas explica também a diferença entre os cachorreiros e os acumuladores de cães: “O cachorreiro é aquele que, independente do número de cães, tem condição de manter os animais bem alimentados, saudáveis, com espaço e sem estresse. A maior questão é de tempo e dinheiro para que os cães estejam bem. O acumulador é aquele que acaba fazendo mal aos animais”, conclui.

Cachorreiros Os moradores também buscam fazer sua parte. Sensibilizados com o abandono dos bichinhos, os chamados cachorreiros recolhem os cães das ruas e os abrigam em suas casas. Um exemplo disso é o casal de professores Douglas Pereira e Lidia Cordeiro, que desde 2011 cuidam de

CARINHO Douglas brinca com alguns de seus cachorros adotados


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O anônimo ecoamigo Morador do bairro Bonfim alerta vizinhos sobre questões de sustentabilidade Fotos: Clara Rita

CLARA RITA

Um morador do bairro Bonfim, mais especificamente na rua Geraldo Pinto de Lima que dá acesso ao Trevo do Bonfim na BR265, espalhou placas conscientizando as pessoas a não deixar lixo espalhado pelas ruas. São oito placas distribuídas em pontos estratégicos, onde antes eram depositados sacos de lixo e entulhos em geral. A pessoa que pratica esse ato sustentável prefere manter o anonimato, ela instala as placas durante a noite, quando a rua fica menos movimentada. O anônimo conta que a ideia surgiu durante a Copa do Mundo sediada no Brasil, em 2014, e como a rua Geraldo Pinto de Lima é uma das principais passagens para se chegar ao centro de São João, alguns turistas que já visitaram a cidade, poderiam ter ficado com um pouco de ressentimento ao entrar na cidade e ver que a rua era entregue ao descuido. “Era engraçado ver propagandas na TV sobre as obras para a Copa e como estaríamos prontos para receber turistas de todo mundo. Isso me fez pensar que nossa cidade, mesmo não sendo muito grande, é palco de grandes eventos e que todo ano passa milhares de turistas pela cidade e nossas ruas nunca estarão apresentáveis o suficiente para essas pessoas. ” Ele utiliza de materiais reciclados para fabricação das placas. “Normalmente eu uso pedaços de madeira que encontrei em entulhos espalhados pela rua, que vai desde porta de guarda-roupas até tábuas de passar roupa, só tenho que chegar em casa e passar uma ‘demão’ de tinta branca para que a mensagem que for pintada chame a atenção de quem passa na rua e fique muito bem

COMPROMISSO Casa no bairro Bonfim exibe os avisos do ecoamigo

EXEMPLO Placa deixada pelo ecoamigo como forma de conscientização

entendida. Além do mais, também uso uma mistura de tintas que no passado foram usadas para pintar paredes e muros de minha casa, invento várias cores chamativas e escuras ”, explica. Com várias estratégias para chamar atenção dos moradores, o anônimo diz que faz tudo de caso pensado, sempre observando os lugares onde são depositados lixos pelos moradores nos dias de coleta e se estes lugares são acessíveis para os cachorros rasgar as sacolas e espalhar

lixo por aí. Ele ainda comenta que o descuido e pouco caso também partia da parte dele que só julgava os vizinhos por terem aquelas atitudes, mas na verdade não tinha ninguém para avisa-los do que era certo ou errado. “Estava sendo egoísta nessa questão, eu via todo aquele lixo espalhado pelo chão e só conseguia julgar meus vizinhos mentalmente dizendo que eles estavam errados em descartar o lixo daquela maneira, mas talvez eles não

enxergavam que aquilo era um erro, então decidi dar um empurrãozinho e começar a mostrar para eles sem nem precisar revelar minha identidade que talvez poderia causar alguns conflitos entre mim e eles”, esclarece. Depois de praticamente dois anos implementando esse novo meio de conscientizar os vizinhos, o anônimo diz que suas placas surtiram um efeito muito bom e que não esperava que as pessoas fossem respeitar “uma placa mal escrita de um trabalho muito amador.” Com o resultado que as placas geraram, o lixo parou de ser colocado em lugares indevidos, mas ainda assim havia restos de lixos jogados nas ruas que não eram recolhidos pelos lixeiros. O anônimo diz que realizou uma limpeza pela rua e foram mais de dois sacos de lixo recolhidos. Mesmo assim, alguns vizinhos simplesmente não colaboram com a causa. A contadora Margarete Nogueira, acha essa atitude memorável e consciente. “Fico satisfeita em saber que esse cidadão está conscientizando a todos por aqui. Ainda assim, tem algumas pessoas que insistem em ignorar as placas, mas isso só faz com que outros moradores notem o ocorrido e passem a pensar em como isso pode afeta-los ”, afirma. A estudante Fernanda Almeida diz estar insatisfeita com a falta de educação de alguns moradores que insistem em jogar o lixo em lugares indevidos. “Surte o efeito, mas nem sempre o esperado, pois o lixo ainda é jogado por uma minoria que ignora essas placas, acho um grande passo porque o lixo é jogado por falta de respeito mesmo e não de aviso. ”


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