Mapa#16

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MAPA / JORNAL DE INFORMAÇÃO CRÍTICA / ABRIL-JUNHO ’17

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Violência Policial no Bairro do Pendão

Argemela é nossa e há de ser NÁDIA BRITO, MOVIMENTO SERRA DA ARGEMELA É NOSSA

Aldeia de Barco junta-se para travar mina a céu aberto.

“Eles sempre que vêm cá é sempre a mesma coisa”. “Eles não olham onde te vão dar”. “Na esquadra... deram-me socos e pontapés.., diziam que era um preto desgraçado”. Foi no dia 15 de Março no bairro social do Pendão, Queluz. Fomos ouvir a versão dos moradores do bairro que testemunham ter sido, mais uma vez, vítimas de violência policial. Para escutar no site e na plataforma soundcloud do jornal MAPA.

Cartaz que surge na sequência de ínumeros episódios de violência policial nas periferias, feito por vítimas, testemunhas e pessoas solidárias

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ica a 15 km do Fundão e foi outrora palco da resistência das tribos celtiberas aos invasores romanos. Hoje, a Serra da Argemela é palco de uma vibrante luta popular face à ameaça dum novo projecto mineiro. O alerta foi dado no início deste ano, depois de a empresa PANNN, com sede em Aljustrel, ter pedido ao governo uma concessão de exploração - as floresta e zonas de cultivo para agricultura de subsistência, repletas de lendas e vestígios ancestrais, poderão dar lugar a 400 hectares de extracção de lítio e outros minerais a céu aberto. Um contrato de prospecção estava em vigor já desde 2011. “Tudo feito pela calada da noite. O povo não é tido nem achado”, acusam os habitantes. “São 400 campos de futebol. É absolutamente inimaginável. Não aceito que os meus netos amanhã queiram vir para cá, voltar para a aldeia dos seus avós e bisavós e encontrem uma paisagem lunar”. Barco, uma bucólica aldeia no sopé da serra, habituou-se nos últimos meses às acções de protesto. No início de março gritou-se ao som dos bombos: “Argemela é nossa e há de ser!”. A 19 de março, a afluência e solidariedade desde as aldeias vizinhas surpreendeu os próprios organizadores: mais de trezentas pessoas juntaram-se para caminhar 10 km entre a aldeia e o emblemático Castro da Argemela, que remonta ao final da idade do bronze . “Toda a vida tivemos estas árvores e agora querem substituí-las por aquilo. Os químicos usados nas lavagens de minério rapidamente podem infiltrar-se nos cursos de água. O que vai acon-

tecer aos rios, aos poços e à agricultura?”, pergunta Maria Galvão, que ali nasceu há 70 anos. Entre a serra e a aldeia passa o Rio Zêzere, que desagua no Tejo (o nome da aldeia vem de este ter sido um tradicional ponto de travessia). O projecto mineiro surge após o rio ter sido praticamente despoluído e varias espécies selvagens reintroduzidas na serra. “Existem valores mais altos do que o lucro de uma empresa. Não quero que os meus filhos sejam privados da majestosa paisagem, do ar puro que respiram e da saúde que vem da terra e que se tornará em doença caso se dê início à extracção mineira”, escreve Alexandre Carneiro, outro morador da região. “Todos os dias olho com tristeza e vergonha para aquilo que já destruíram desta bela Serra”. Anteriores explorações de minério deixaram feridas abertas na montanha e causaram ao castro danos irreparáveis. Agora, os barquenses garantem que usarão todos os meios até travar este projecto e apelam à solidariedade de todas e de todos. A junta de freguesia e as câmaras da Covilhã e do Fundão garantiram estar ao lado da população. Uma petição circula em linha (https://goo.gl/cLWZx4) e conta à data com duas mil assinaturas. A próxima ocasião para amplificar a luta será já a 29 de abril, no âmbito do Festival Fornos da Argemela (FB: Festival Fornos da Argemela), em que a aldeia de Barco divulga o seu património gastronómico e cultural e atrai centenas de visitantes. FRANCISCO COLAÇO PEDRO

Acompanha no facebook: Movimento Serra da Argemela é Nossa

Ponho-me à frente das máquinas! Feldspatos em Monchique

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exploração de feldspatos em minas a céu aberto é um projeto antigo ao qual a população de Monchique trava há vários anos uma forte oposição. Rui André, que preside a autarquia, promete ir até às últimas consequências, declarando à comunicação social, que «se for preciso, ponho-me à frente das máquinas!». As declarações de março passado surgem na sequência de vários episódios. Em outubro de 2015 e fevereiro de 2016 a empresa Sifucel – Sílicas SA, procedeu em Carapitotas (Picota) à remoção não autorizada das rochas que contêm o feldspato usado

na indústria do vidro e cerâmica. Os trabalhos foram embargados, mas não há ainda qualquer desfecho do processo de contraordenação. Já este ano, a 23 de fevereiro, surge um novo pedido de prospeção e pesquisa deste mineral na zona da Corte Grande, desta feita pela Felmica, do Grupo Mota, sediada em Mangualde, aumentando para 15 hectares o anterior pedido feito em 2010 à Direção Geral de Energia e Geologia. Em suspenso está ainda a concessão à Sifucel, do grupo Parapedra de Rio Maior, de uma mina na zona da Corte Pequena. Nestas áreas, apesar de situadas em Rede Natura, Reserva Ecológica Nacional e Reserva Agrícola

Nacional, estão em causa danos ambientais, na fauna e flora, às crateras na paisagem ou à contaminação das águas. O coro de protestos, repetido por várias forças políticas desde o PSD ao PCP, é uma frente de batalha desde 2010 da associação ambiental A Nossa Terra, que acentua essencialmente o risco sobre as águas subterrâneas que abastecem os lugares e povoações de Monchique e a ameaça sobre o ecossistema natural e social local. A insistente intenção da exploração do feldspato continuará a contar com a sua oposição. Uma oposição sólida como as pedras da serra de Monchique. FILIPE NUNES

#freegabriele, right now!

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activista italiano Gabriele Del Grande, jornalista free lancer e escritor, encontra-se preso na Turquia desde o dia 9 de Abril. O Gabriele é autor do blogue Fortress Europe (http://fortresseurope.blogspot.pt/), autor de dois livros sobre migrações na Europa, e o seu trabalho como jornalista social incide, sobretudo, sobre os temas das fronteiras e do direito dos migrantes no Mediterrâneo. Esteve duas vezes em Lisboa, a primeira para um seminário no Instituto de Ciências Sociais e a segunda para apresentar o seu filme, ‘Eu estou com a noiva’, em Setembro de 2016, no Museu do Aljube. Encontrava-se na Turquia para

recolher as histórias dos refugiados da guerra na Síria quando, apesar das autorizações regulares, foi arrestado na região de fronteira de Hatay no dia 9 de Abril e detido no centro para identificação e expulsão de estrangeiros da mesma cidade. Conseguiu enviar uma mensagem pelo telefone de outra pessoa no dia 10 para informar a família. Depois de oito dias de silêncio, foi-lhe permitido ligar para casa no dia 18 de Abril, sob a vigilância de quatro agentes dos serviços de segurança. Informou que o seu telefone e os seus bens materiais foram sequestrados e que foi interrogado várias vezes, sem que lhe fosse permitido encontrar um advogado e sem que

nenhuma acusação formal fosse avançada contra ele. A partir da noite de 18 de Abril, começou uma greve da fome para solicitar o respeito dos seus direitos e o acesso a um advogado. Várias mobilizações estão a ser organizadas em numerosas cidades para pressionar o governo de Ankara para a sua libertação, precisamente neste momento pós-referendo, em que ganhou a posição que legitima os poderes autoritários de Erdogan, o presidente Turco. Nos dia que antecederam o referendo houve vários actos repressivos, a somar às purgas pós golpe de 2016, que já levaram à detenção, suspensão e despedimentos de mais de 100.000 pessoas. FRANCESCO VACCHIANO


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