Jornal Lampião - edição 4

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edição: André Luís Mapa e Rayanne Resende | Fotos: André Luís Mapa


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MARIANA, NOVEMBRO DE 2011 Edição: Eduardo Almeida e Marcela Servano

editorial

Criatividade com Informação Tá chegando a quinta edição Do jornal da universidade Com força de quem faz por merecer A desejada credibilidade Esta edição acalmou os ânimos De quem apenas quer informar Mas a cidade ainda precisa De pessoas que querem inovar Morar em Mariana é um desafio Quem arriscar vai passar aperto A especulação imobiliária Limita qualquer um de acerto O verão já está na porta E a população ainda não aprendeu É também o período da dengue Fique atento com água em pneu

A sacola plástica virou tema De um jornal que só quer melhorar Infelizmente as pessoas mantêm Um hábito impossível de acabar Com dinheiro vamos às compras O final do ano é pra consumir O comércio já se prepara Pois as vendas não podem cair Outra riqueza da região é a pedra sabão, mas os artesãos reclamam da falta de fiscalização A Câmara vai ser restaurada Um prédio antigo será mudado Novas histórias serão contadas Em um espaço mais bem cuidado

Charge

Um plano de deslizamento Foi criado na cidade Pra proteger a população E combater as inundações Entre as demais matérias Os sinos chegam até você Com problemas ou com histórias Que é bom o leitor conhecer Por aqui estamos encerrando Com um editorial diferente Será poesia, poema, cordel Ou apenas um repente? Esse é o Lampião, jornal dos Inconfidentes, feito por estudantes que pensam na nossa gente

Opinião

Perigo das Águas Sargento Tenente Dutra

Entre Olhares Luiza BarufI

Jardim da Praça Gomes Freire Luiza Barufi

Ela desperta o dia antes de ele acordar com os inúmeros trabalhadores que por lá passam, apressados, entre tantas coisas que pulsam na manhã. Às seis horas da matina, se prepara para sua toalete executada pelas mulheres que, religiosamente, fazem-na de segunda a segunda. O trânsito a contorna enquanto a cidade se prepara para mais um dia. Por toda a manhã é movimentada por aqueles que vêm e vão sem, às vezes, notarem toda a vida existente nos arredores. Durante a tarde, a cidade em pleno funcionamento, há os que ali param para apreciarem a vida, matarem um tempo, esperarem por

alguém. A tarde cai vagarosamente. Ao surgir da noite, há os que param para brindar o fim de um dia, bom ou ruim. Fim da noite ou mesmo o início dela. Alguns estendem até o despertar de um amanhecer quando, ao chegar da madrugada, procuram em suas entranhas um espaço para esticarem o corpo, acomodarem-se em seus bancos. E ela quase não dorme. Começa o final de semana e ela já está pronta para exercer sua função de ponto de encontro. A sexta enlaça o sábado e ela fica na companhia daqueles que passam ali até o fim da aurora. Embalada, é visitada por famílias, crianças, gentes daqui e dali. Para ela, o sábado não

tem fim e alcança o domingo, que parece se fazer presente na hora da sesta, ao cair da tarde e quando a terra cora. Seu movimento não finda. Quando cai a noite, ela alcança o ápice de sua popularidade e nela misturam-se os de cá e os de lá. Nada é segregado. Ao final de tudo, prepara-se para mais uma semana que já tem início antes mesmo do sol acordar. Antes de entrar em sua rotina ela, enfim, adormece. Quem passar pela Praça Gomes Freire, também conhecida como o Jardim de Mariana, em uma madrugada de segunda-feira, pode notar que, mesmo adormecida, ela ainda floresce, imersa na história de que faz parte.

Lampejos desta edição “...é uma simples mudança de hábito que pode contribuir para preservação do meio ambiente”. Gustavo Madsen, sobre o uso de sacolas plásticas. p. 4

“É uma tarefa muito complicada agradar a todos nesta situação, pois Ouro Preto foi feita para carroças”. Adriano Sales, Guarda Municipal de Ouro Preto, sobre semáforos da Barra. p.8

“... guardamos os materiais de treino dentro de uma caixa d’água. A prefeitura deveria ajudar mais, mas querem só os resultados”. Juçara Cristina Lopes, quando questionada sobre a precariedade da pista em que treina. p. 10

“Nós tocávamos de graça, as crianças corriam pra ouvir o sino”. Francisco de Assis, sineiro. p. 12

No período das chuvas, a preocupação dos órgãos de Defesa Civil está voltada, principalmente, para os moradores das áreas de riscos. Todo os anos, vemos as mesmas histórias: lama, enxurradas e enchentes, perdas de patrimônios e de vidas. Mas o que fazer para minimizar os impactos impostos pela força da natureza? Alguns municípios fazem ações de defesa civil de forma sazonal, ou seja, só depois do leite derramado, é que se arrumam as vasilhas, isso não adianta. É necessário um investimento sério, eficiente, al[em de sua execução durante o ano inteiro. Deve ser um trabalho preventivo com investimento. Essas ações paliativas, apenas no momento das tragédias, enganam o povo e desestimulam os funcionários da Defesa Civil. Mecanismos de prevenção deveriam ser levados mais a sério pelos nossos governantes. Os argumentos e as desculpas diante de tragédias são, para mim, a sombra da vergonha e da incompetência. Uns culpam o excesso das chuvas no período, outros acusam os próprios moradores de ocuparem áreas de riscos, e por aí vai, é um festival de enganação. Outros são grandiloquentes nas palavras, mas não fazem absolutamente nada para mudarem o rumo da história. É necessário que as autoridades assumam sua responsabilidade e evitem que, nesse período, as mesmas histórias de dor, de tristeza e de perda de seres humanos sejam manchadas pela omissão e incompetência. A culpa é de todos. No período das tragédias até as vítimas atingidas se tornam voluntárias em razão do sofrimento alheio. Quem não se emociona com resgates dos escombros de uma criancinha que está há horas soterrada? Até profissionais da área são marcados pela emoção. Quando um funcionário público comete algum erro no exercício de sua função, ele tem que ressarcir os cofres públicos. Mas quem vai pagar pelas vidas perdidas nas tragédias? E os patrimônios físicos tão sonhados e caros, quem paga? Os moradores que ocupam as áreas de risco têm, como parceira, a conivência das autoridades; é claro que também são responsáveis na hora da tragédia . O que se vê é que ninguém quer se indispor contra esses moradores; afinal, nos períodos eleitorais, eles são as joias mais desejadas no momento das urnas. Entendo que governar é, antes de tudo, fazer a proteção das vidas humanas. Custe o que custar.

Uma vida para mim não tem tem preço. Como b o m b e i ro militar há 30 anos. ração, já vi o suficiente em dor para ficar repetindo as mesmas histórias que poderiam ser evitadas.. Precisamos enfrentar tragédias como enchentes e deslizamentos, com a seriedade e firmeza. Ãs vezes, tornamo-nos especialistas em atos de altruísmo e caridade. Na hora da dor, a sentimos. Diante da perda de vidas, nos tornamos impotentes. Mas o que fazer para evitarmos eventos tão previsíveis,? Na maioria das vezes, não conseguimos fazer o bem pois o mal já está instalado. Não adianta colocar tranca em sua casa depois que ela já foi arrombada. Obras inacabadas, iniciadas nos períodos chuvosos, estabelecem a falta de seriedade e o derespeito com a população, e a principal culpada é a chuva? A teoria evolucionista e a sociologia sugerem que quando um grupo é ameaçado, muitos de seus integrantes se unem para cooperar em escala muito maior do que a habitualmente utilizada em situações normais. Mariana, pela sua própria geografia, possui áreas de riscos que podem comprometer a segurança de vários moradores, assim como qualquer município do país, que, se não for fiscalizado, também sofre desse mesmo mal. A história tem que ser mudada, só depende da gente. E a palavra chave é integração e ação, excluindo o espírito de vaidade. Não vou longe não. Veja o exemplo dado pelo Estado do Rio de Janeiro que ,através do Secretário de Segurança Pública, estabeleceu a paz e a ordem na tomada da comunidade da Rocinha, sem disparar um tiro. Por favor, não me diga que não dá certo. É melhor suar na paz para não sangrar na guerra. Queira Deus que no encerramento de minha carreira, não tenha mais que contar histórias de dor e de perda para meus leitores e amigos. Termino o meu relato amparado nas palavras do apóstolo Paulo e faço da sua máxima a bandeira dos que acreditam na sociedade e no Corpo de Bombeiros. "Eu combati o bom combate, eu completei a carreira e guardei a fé". Sargento Tenente Dutra do Corpo de Bombeiro Militar de Minas Gerais

Jornal laboratório produzido pelos alunos do 6° período de Jornalismo D Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)/Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) D Reitor: Prof. Dr. João Luiz Martins. Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Artur dos Santos Ferreira. Chefe de departamento: Profa. Giulle Vieira da Matta. Presidente do Colegiado de Jornalismo: Profa. Dra. Marta Regina Maia D Professoras responsáveis: Adriana Bravin (Reportagem) e Priscila Borges (Planejamento Visual) D Reportagem, fotografia e edição: Allan Almeida, Alyson Soares, Ana Malaco, André Luís Mapa, Bárbara Andrade, Beatriz de Melo, Deiva Miguel, Eduardo Almeida, Elisabeth Camilo, Eloisa Lima, Erica Pimenta, Eugene Francklin, Fádia Calandrini, Flávio Ulhôa, Gracy Laport, Josie Oliveira, Leandro Sena, Lincon Zarbietti, Lucas Lima, Luiza Barufi, Marcela Servano, Maria Aparecida Pinto, Rayanne Resende, Yasmini Gomes D Projeto gráfico: Enrico Mencarelli, Lucas Lameira, Luiza Lourenço, Mayara Gouvea, Simião Castro, Tábata Romero D Colaboração: Anderson Medeiros, Ivan Cabral, Fábio Germano D Revisão: Alyson Soares, Ana Malaco, Elisabeth Camilo, Maria Aparecida Pinto D Impressão: Sempre Editora Ltda D Tiragem: 3.000 exemplares. E-mail: jornallampiao@gmail.com. Twitter: @JornalLampiao Endereço: Rua do Catete nº 166, Centro, CEP 35420-000, Mariana-MG.


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MARIANA, NOVEMBRO DE 2011 Edição: Eugene Francklin e Maria Aparecida Pinto

comunidade

Mineradora promove encontro

entre empresa e sociedade civil Lideranças reunidas em encontro com a Vale se queixaram de falta de informações sobre a reabertura da Mina Del Rey, prevista para 2014 Ana malaco

Ana Malaco

Nos últimos meses, a preocupação dos marianenses, entre diversos outros problemas que a cidade enfrenta, gira em torno de uma questão ambiental: a reabertura da Mina Del Rey, localizada a 4 quilômetros do centro histórico da cidade. Depois de mais de quatro meses de silêncio, desde a Audiência Pública Contra a Reativação da Mina Del Rey, realizada pela Assembleia Legislativa, no Centro de Convenções de Mariana, em 26 de junho último, a mineradora Vale decidiu convocar uma reunião pública com a intenção de criar laços entre a empresa e a comunidade. O Encontro com Lideranças, como foi chamado o evento, foi realizado no dia 27 de outubro, no Clube Marianense, e destinava-se aos representantes da sociedade civil local, como líderes de sindicatos, de associações de bairros e ONG’s. No entanto, não restringia a participação da população, embora oficialmente esta não tenha sido informada, isto porque não houve convocação através dos meios de comunicação. Os representantes da população civil presentes alegaram que o atraso na entrega do convite do evento, pela Vale, e a falta de esclarecimento da pauta dificultaram a mobilização da população, bem como o preparo para argumentar com a empresa.

O convite do encontro e a decoração do local que sediou o evento propunham um espaço que prezasse a transparência e que tinha como objetivo escutar o povo. Entretanto, o tempo reservado para debate com a população foi de um quarto do tempo total da reunião, que durou três horas. Na recepção, moças usando terninhos e bem maquiadas, distribuíram uma pasta, que além do relatório de sustentabilidade, continha caneta, bloco para anotações com material publicitário da mineradora e um relógio de parede. A atitude da distribuição desse kit foi criticada pelos moradores.

A reabertura da mina ainda é um grande mistério para a população As cerca de 200 pessoas presentes estavam visivelmente indignadas durante o mais de 60 minutos de apresentação da empresa, que começou com orientações de segurança e rota de fuga do Clube Marianense, passando pelo conceito de sustentabilidade adotado pelas Organizações das Nações Unidas (ONU), e pelos projetos sociais, culturais e ambientais que a Vale desenvolve no

A reabertura da mina ainda é um mistério para a população. O diretor do Sindicato Metabase dos Inconfidentes, Valério Viera, enxerga na mobilização social a única forma de impedir o funcionamento da mina. Ele afirma ser preciso conscientizar a população. “Acredito na mobilização social e só assim va-

mos fazer com que empresas como esta recuem em suas estratégias prejudiciais a todos nós. Segundo a Constituição brasileira, o subsolo pertence ao povo brasileiro, por isso, a mineração precisa de concessão pública. Deveríamos exigir mais impostos e retorno social pela exploração mineral”, afirmou.

Os males da mineração Ana Malaco

Rodrigo Melo diz que empresa não possui projeto para a mina

município. Em momento algum, foi pautada a questão da Mina Del Rey. Quando a fala foi aberta às lideranças, a maioria dos que se pronunciaram questionou a mineradora a respeito da reabertura da mina. A integrante da Sociedade Reviverde, Aparecida Oliveira, não acredita que a Vale desconheça como será feita a extração na mina e indagou os representantes da empre-

sa: “como a mineradora prevê a reabertura para daqui a dois anos e não tem projeto para a extração?” O Gerente Geral de Mineração do Complexo Mariana, Rodrigo Melo, disse que não existe projeto para extração na Mina Del Rey e que, apenas depois da escolha da empresa terceirizada, prevista para esse mês, a mineradora responderia essas questões à população.

Maior e mais tradicional estado minerador do país, Minas Gerais responde por 44% do total da produção nacional. Entre as mineradoras presentes no estado, a Vale, maior empresa privada da América Latina, é a principal do setor. A empresa causa impactos também em relação ao desenvolvimento socioeconômico dos municípios onde está instalada. Um exemplo é o aumento do número da população flutuante, porque com a falta de mão-de-obra qualificada nas cidades em que atua, a maioria dos empregos gerados são para pessoas de outras cidades. Em Mariana, somente esse ano, as mineradoras esperam receber juntas, aproximadamente, seis mil novos empregados. Esse número representa aumento nas filas em hospitais, mais especulação imobiliária, violência, entre outros índices. Segundo a Receita Fede-

ral, no ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que as empresas teriam que pagar Contribuição Social sobre o Lucro Líquido(CSLL) sobre as exportações. Entretanto, a Vale pagou a dívida de R$ 5,8 bilhões aos municípios em agosto desse ano, porque não tinha mais como recorrer da decisão judicial, que chegou a última instância. Outro fato que contradiz o discurso de responsabilidade socioambiental da empresa é que existe tecnologia para impedir as tempestades de poeira que ela causou em municípios onde atua, como em Itabira e Congonhas, pois esta tecnologia foi implantada em Vitória (ES) e reduziu a emissão de poeira naquela capital. A empresa alegou, durante a reunião com lideranças, que é inviável a implementação dessa tecnologia em todos os lugares em que atua, devido a alto custo desta implantação.

Artesãos reclamam da falta de fiscalização marcela servano

DVDs piratas vendidos na feira de pedra sabão, em Ouro Preto Marcela Servano

Os artesãos, que expõem seus trabalhos na feirinha de pedra sabão de Ouro Preto, enfrentam o problema do comércio de mercadorias piratas. O espaço, que é destinado pela Prefeitura aos expositores, deveria ser usado somente para a venda de produtos artesanais. Porém, existem feirantes que estão utilizando o local para comercializar objetos pirateados. Atualmente, quem visita o lugar pode observar que

existem cerca de quatros barracas que não são apenas de produtos artesanais e vendem, também, CDs, DVDs, jogos e brinquedos pirateados. Segundo os expositores, este número poderia ser maior se não tivessem sido expulsos pelos próprios artesãos. O Lampião esteve na feirinha e confirmou a venda de produtos pirateados. Os CDs custam, em média, R$ 3,00; e paga-se R$ 5,00 por dois CDs. Já os DVDs e jogos

saem a R$ 5,00. Os brinquedos, na sua maioria de origem chinesa, giram em torno de R$ 3,00 a R$ 10,00. Um feirante que não quis se identificar disse que tem autorização para funcionar no local e que vende estes produtos pirateados para complementar o orçamento familiar. Outro fato que preocupa os artesãos é que, como é grande o número de turistas que visitam o local, a presença de produtos ilegais pode abalar a credibilidade da feirinha diante desse público. A fiscalização é de responsabilidade da Prefeitura de Ouro Preto, porém, segundo os feirantes, isso não acontece. É a própria Associação dos Expositores do Largo Coimbra (Adelc) que realiza o trabalho de inspecção. Neste processo, os próprios artesãos providênciam para que os produtos irregulares não sejam comercializados no local. Mas, dentre os que vendem mercadorias pirateadas estão integrantes da própria Adelc, que já foram notificados pelos demais expositores para não comercializarem esses produtos na feirinha. Os artesãos cobram uma fiscalização mais rígida da prefei-

tura. Para o vice-presidente da Adelc, Júlio Ferreira, 42 anos, a banalização do lugar prejudica muito o turismo ouro-pretano. Devido a esses fatores, ele espera uma posição mais firme do poder público em relação à fiscalização do lugar. Fiscais O chefe de Fiscalização de Postura do Patrimônio, da Prefeitura de Ouro Preto, Edison Brandão, 44 anos, nega que exista qualquer co-

mércio ilegal na feirinha de pedra sabão, pois nunca houve apreensão de produtos. “Na maioria das vezes trabalhamos com denúncias anônimas da população”, disse. Brandão também afirmou que nunca deixou de atender a nenhum chamado dos expositores do Largo Coimbra. O assessor do Departamento de Postura, Cristovão Gonzaga, 28 anos, ressaltou que os nove fiscais de posturas atendem a qualquer chamado da população de Ouro

Preto e dos distritos. Sobre o espaço utilizado pelos expositores, ele disse que foi feito um cadastro pela prefeitura para que os feirantes possam utilizar o lugar e que todos que ali se encontram têm autorização para vender produtos de pedra sabão e outros tipos de artesanato. Diante da denúncia apresentada pelo Lampião, os Fiscais de Posturas informaram que iram averiguar e tomar as devidas providências.

Preservação do artesanato Marcela Servano

A Associação dos Expositores do Largo Coimbra (Adelc) foi fundada em 1995 por um conjunto de expositores e artesãos. O objetivo desta organização é divulgar os variados tipos de trabalhos artísticos desenvolvidos em pedra sabão. Com o passar dos anos, eles foram criando normas e regras para que fosse possível comercializar, de forma livre e legal, todas as suas produções artesanais. Atualmente, a associação é considerada porta-voz dos

produtores e artesãos de pedra sabão em Ouro Preto, defendendo seus interesses na cidade e distritos. O presidente da Adelc, Fernando Ferreira, 58, estima que cerca de seis mil famílias são beneficiadas pela pedra sabão na região, desde os artesãos aos produtores.Por isso, outra preocupação do grupo é a exploração desse mineral por empresas exportadoras, o que, segundo ele, pode levar à escassez e até mesmo a extinção da matéria-prima utilizada no trabalho artesanal.

Além disso, Ferreira enfatiza que a pedra sabão é uma riqueza que deve ser preservada, pois faz parte da história dos Inconfidentes. Onde fica a feirinha de pedra Ssbão Largo de Coimbra, s/nº Centro - Ouro Preto - MG CEP: 35.400-000/ TEL: (31) 3551-0057 Horário de funcionamento: Domingo a Domingo das 8h às 19h


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MARIANA, NOVEMBRO DE 2011 Edição: Ana Malaco e Beatriz de Melo

Economia

Quer uma sacolinha?

Bárbara Andrade

Em Ouro Preto, comércio terá até junho de 2012 para abolir uso de sacolas de plástico gislação. Desde junho último, o estabelecimento oferece apenas sacolas ecológicas; os proprietários também estão providenciando sacolas retornáveis de tecido para serem vendidas a preço de custo. A CooperOuro, no bairro Nossa Senhora do Carmo, está distribuindo sacolas oxibiodegradáveis, que são produzidas com um material capaz de se decompor totalmente em até 18 meses. Também incentiva o uso de caixas de papelão para embalar as compras e dá aos associados, na data do aniversário, uma sacola de tecido. Segundo a assessora de imprensa do CooperOuro, Marina Petraglia, a campanha já está fazendo efeito, mas a conscientização da população é lenta e difícil. “Algumas pessoas já estão trazendo sacolas de casa, mas as opiniões ainda

são divididas, pois muitas preferem não abrir mão do conforto e da economia, já que reutilizam as sacolas em casa como sacos de lixo”, explicou Marina. Em uma república estudantil de Ouro Preto, os moradores notaram que o número de sacolas plásticas que eram levadas para a residência era muito superior ao consumido em sacolas de lixo, provocando acúmulo. O fato despertou a consciência ecológica dos jovens. Resolveram, então, substituir as sacolas plásticas por retornáveis. ”Não vejo motivo para não sair de casa com uma sacola retornável, resistente e prática. Acredito que essa é uma simples mudança de hábito que pode contribuir para preservação do meio ambiente”, disse o estudante de Direito, Gustavo Madsen, de 23 anos.

SAIBA ONDE ENCONTRAR SACOLAS RETORNÁVEIS OURO PRETO SJ Supermercados - Rua Alvarenga, 216, Cabeças Sacola retornável: R$ 4,50 CooperOuro - Rodovia Rodrigo Melo Franco Andrade, 991, Nossa Senhora do Carmo Sacola retornável: R$ 5,99 Supermercado Estrela da Barra - Rua Inconfidentes, 268, Barra Sacola retornável: R$ 5,90 Supermercado da Estação - Rua Diogo de Vasconcelos, 355, Pilar Sacola Retornável: R$ 9,10 MARIANA SJ Supermercado - Avenida dos Salgueiros, 205, Jardim Inconfidentes Rua Prefeito Euclides de Souza Vieira, 293, Nossa Senhora do Carmo Sacola Retornável: R$ 4,50

Eloiza Lima

Lima Lucas ão: raç Ilus t

Projeto de lei será votado em Mariana Em Mariana, há um projeto de lei similar ao de Ouro Preto para ser votado na Câmara Municipal. Mesmo sem legislação que obrigue a banir o uso das sacolas plásticas, alguns comerciantes estão conscientes da importância de acabar com essas vilãs do meio ambiente. Segundo Marcelo de Lima, proprietário da Padaria Vitória, os estabelecimentos só têm a ganhar aderindo às sacolas ecológicas, pois ao incentivarem o seu uso, também economizam.

de comprar, as pessoas desejam obter vantagens. Pensando nisso, a loja oferece, a cada R$ 20,00 em compras, um cupom para o consumidor concorrer a uma câmera digital, uma televisão LCD, um computador, um home teather e um patinete. O comércio também é incrementado com mercadorias específicas desse período. Entre elas, artigos natalinos, como árvores, papéis de presentes, pisca-pisca; e comidas típicas da data, como panetone, pernil, lentilhas e nozes. O administrador e professor do curso de Administração da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Antônio Carlos Miranda, acredita que as expectativas dos comerciantes têm tudo para se confirmarem. “As classes C e D tiveram seu poder de compra ampliado em torno de 51%, e as políticas públicas de distribuição de renda incentivam as vendas”, analisa. Outro fator que favorece o crescimento das vendas no fim do ano é a chegada do 13º salário. Segundo dados da Novas Tecnologias para o Pesquisador de Mercado (Netquest), empresa especializada em oferecer solu-

ções e serviços de pesquisa e painel online de consumidores, 64% do público usará o pagamento extra para compras de Natal. Os lojistas, atentos a esse comportamento, abastecem seus estoques e disponibilizam formas flexíveis de pagamentos (parcelamentos em cartões de crédito e cheques e abertura de crediário). Em Mariana, as expectativas com as vendas de final de ano são ainda mais animadoras. Isto porque, segundo o gestor administrativo da Associação Comercial Industrial e Agropecuária de Mariana (ACIAM) e da Câmara de Dirigentes Lojistas de Mariana (CDL), Helielcio Vieira, a chegada dos trabalhadores da mineração movimenta a economia, uma vez que esse público consumidor procura o comércio local para efetuar suas compras. Diante disto, a maior parte das lojas, em Mariana, a partir da segunda quinzena do mês de dezembro, manterá suas portas abertas por duas horas diárias a mais que o habitual, passando a funcionar das 9 às 20 horas, de segunda a sexta, e das 9 às 14 horas, no sábado. Qualidade e rapidez no atendimento são diferenciais observados pelos comerciantes. Assim, serão contratados a mais, em média, de dois a três funcionários para suprirem a demanda dos clientes. O gestor financeiro da ACIAM e CDL, Helielcio Vieira, acredita que esta será “uma ótima oportunidade para os empregados temporários serem efetivados nos seus cargos”.

Ele disse que o valor das sacolas oxibiodegradáveis está cada vez mais próximo do preço das tradicionais, o que irá facilitar na escolha. Seu fornecedor vende as sacolas plásticas por R$ 37,00 e as ecológicas por R$ 40,00 a milha (mil unidades). “Parece que alguns estabelecimentos ficam aguardando uma imposição para tomar uma atitude, mas cabe ao consumidor se conscientizar e dar preferência a quem está fazendo seu papel como cidadão”, defendeu Marcelo.

Verão sem censura Josie Mantilla

Comércio espera otimista as vendas de fim de ano Com a chegada das festividades de final de ano o comércio local espera aumentar as vendas, em média, 30% em relação ao mesmo período do ano passado. Estratégias não faltam, e os proprietários de lojas prometem promoções, descontos e facilidade de pagamento para atrair os clientes. Entre os mais otimistas encontram-se os setores de eletrodomésticos, brinquedos, roupas e calçados. Em Mariana, a gerente da Cristal Presentes, Marilda Machado, acredita que as promoções sejam um grande diferencial, pois além

Funcionário do Estrela da Barra embala compras em sacola retornável

A moda primavera verão 2012 está diversa, repleta e, por que não, nostálgica. “A moda vai e volta”. Quem nunca ouviu essa frase? Repaginada, reconfigurada, e readaptada. A inspiração pode estar no passado, mas não exatamente igual ao passado. Exemplo disso é a inspiração desse verão no color blocking (bloco de cores). Na estação mais quente do ano use e abuse do tropicalismo, de rendas, crochês e tricô, saias longas, roupas e acessórios com franjas, estilo marinheiro, listras, pantalonas, plissados, estampas de frutas, calça boca de sino, estampas geométricas, de bolinhas e, por fim, deixe as estampas de onça e renove-se na estampa de cobra. ilustrações: josie mantilla

Flavio Ulhôa

Calcula-se que cada pessoa consome, em média, três sacolas plásticas por dia. A cada compra ganhase uma de brinde. Elas viraram sinônimo de cortesia. Não é raro comprar algo que já vem embalado e ouvir a gentileza: “quer uma sacolinha?”. Mas, elas tornaramse grandes vilãs do meio ambiente. Segundo a revista Planeta Sustentável (www.planetasustentavel.abril. com.br), no Brasil, 1bilhão de sacolas são distribuídas nos supermercados mensalmente e cada uma delas demora cerca de 300 anos para se decompor no meio ambiente. Por esse motivo, inspirada em 19 capitais de todo o país, a Câmara Municipal de Ouro Preto aprovou, em 14 de junho deste ano, a Lei nº. 645 que prevê o prazo de um ano, a partir de sua aprovação, para os comerciantes substituírem as sacolas de plástico por sacolas ecológicas. As novas embalagens devem se biodegradar em, no máximo, 20 meses, tendo como resultado gás carbônico(CO2), água e biomassa. As punições para quem não se adequar à legislação serão multas, cujo valor deve ser decidido pelo Poder Executivo municipal até o próximo mês. Alguns estabelecimentos de Ouro Preto já estão se adaptando à nova lei. Além de substituir as sacolas plásticas, cabe aos comerciantes incentivar os consumidores a levarem de suas casas sacolas retornáveis. O supermercado Estrela da Barra, por exemplo, está vendendo sacolas retornáveis a R$ 5,90. O Lino Supermercado, da Bauxita, também já está se adaptando à le-

O color blocking, famosa tendência nos anos 80 de misturar cores fortes em peças de roupas lisas em um mesmo look, está de volta. A idéia é usar muita cor, como vermelho wcom rosa, amarelo com azul, verde com laranja, roxo com verde, laranja e azul. Misturar com cores parecidas também fica legal, como verde e azul, roxo com rosa, rosa e laranja, pink e vermelho. Essa tendência não está somente nas roupas, mas também nos acessórios, como bolsas e sapatos. O branco e os tons pastéis também são apostas para o verão 2012. Nem só de roupas são feitas as listas de tendência do verão 2012. Os acessórios e os sapatos são elementos importantes na hora de se compor uma produção, e merecem destaque. Os maxicolares podem ser peça principal para todo tipo de combinação. Os tons vivos e divertidos dão vida ao look, já as flo-

res são ideais para pessoas discretas que possuem um estilo romântico. Os anéis podem ser brilhantes, grandes e produzidos com materiais rústicos. Quanto aos óculos, os modelos de gatinho que fizeram sucesso no verão passado voltam renovados com linhas mais suaves. Também aparecem os modelos redondinhos e o clássico aviador. Os de aspectos metalizados em tons dourado e terracota, com lentes degradês ou espelhados, acompanham a temporada internacional. Os sapatos estão com tudo para o verão 2012: textura variada, tons neutros, saltos Anabela e color blocking. O píton (estampa de cobra) é a tendência da vez e aparece também nos sapatos, em tons naturais e coloridos. A espadrilha é a grande aposta para o verão: trata-se de um sapato com solado revestido de cordas, que vem com amarrações, em saltos e detalhes. Materiais rústicos como a palha, para compor peças multicoloridas, saltos em acrílico, lenços amarrados nos tornozelos para deixar os sapatos mais divertidos também são moda. Mesmo com todas essas dicas, não se esqueça do fundamental: estar na moda é seguir o seu estilo.


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MARIANA, NOVEMBRO DE 2011 Edição: Alyson Soares e Lucas Lima

patrimônio

Projeto propõe a restauração da Câmara Equipe de pesquisadores da UFMG realiza estudo para recuperar prédio de 1768, que já foi sede dos três poderes e hoje abriga o Legislativo de Mariana Lincon Zarbietti

Lincon Zarbietti

O passar dos anos é impiedoso com as construções. Ele é o vilão da arquitetura. Mais de dois séculos desde o início da construção da primeira Casa Legislativa de Minas Gerais, em 1768, o prédio da Câmara Municipal de Mariana sofre com as intempéries do tempo. Este fato chamou a atenção de pesquisadores, historiadores, professores de arquitetura e autoridades sobre a importância da restauração das atuais instalações, além da necessidade de adequação do espaço físico. O prédio já foi sede dos três poderes, representou importante papel na fundição do ouro extraído da região e até foi cenário mais sombrio, funcionando como senzala e, posteriormente, cadeia. Hoje, abriga o Poder Legislativo de Mariana, além de ser um dos pontos turísticos mais conhecidos do município. Iniciado em agosto, um projeto de restauração está sendo realizado por uma equipe de professores e

estudantes de vários cursos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com a coordenação do professor Leonardo Barci Castriota. A equipe realizou um estudo arquitetônico da Câmara, em que mediu e redesenhou todo o prédio, incluindo seus anexos. Destacaram-se problemas como: o pequeno espaço do plenário, que dificulta a participação popular; a deficiência na segurança, com riscos de arrombamentos e incêndios; e o espaço interno limitado do prédio, insuficiente e inadequado para a instalação dos gabinetes dos dez vereadores, que hoje atendem em diversos locais de Mariana, o que gera gastos para a Câmara com o aluguel desses espaços. Assim, além da restauração do prédio e da melhoria na estrutura de segurança, será proposta a construção de um anexo, atrás do edifício principal, para instalar os novos gabinetes, concentrando os trabalhos do Legislativo em um só local. Lincon Zarbietti

Efeitos do tempo na entrada de uma das salas da Câmara dos Vereadores de Mariana, que tem quase 300 anos

Para a responsável pelo levantamento histórico do prédio da Câmara, Fernanda Trindade, “é de grande importância não esvaziar por completo o prédio, pois há o risco de se perderem os valores agregados a construção”, enfatiza, referindo-se à construção do anexo para os gabinetes. Por isso, o projeto não valoriza

apenas os valores físicos da construção. O plano de trabalho busca entender, também, quais são os valores atribuídos ao prédio por diferentes grupos de pessoas. A importância desta fase do projeto é a de manter as características singulares da edificação, como os pontos que possuem mais representatividade para a população, os funcio-

nários da Câmara e até mesmo para os turistas. A autoria do projeto do prédio é dada a José Pereira Arouca, mas, na verdade, pertence a José Pereira dos Santos, seu mestre. Arouca comandou a obra por boa parte de sua construção e, ao assiná-la, assumiu também a obra do mestre como se fosse sua.

Pesquisa ouve população e turistas A equipe do projeto de restauro da Câmara procurou evidenciar quais os principais valores agregados ao prédio e decidiu dividir o público da pesquisa em três grupos: vereadores e funcionários; moradores do entorno e frequentadores da Câmara; e turistas. Em relação ao primeiro, o método de estudo utilizado foi o conhecido como Zopp, uma sigla em ale-

Desgaste na pintura externa deixa exposto o reboco da construção

mão que significa planejamento de projeto orientado por objetivo, que busca levantar uma árvore

de problemas do local estudado, ge-

rando outra árvore, desta vez de soluções. A escolha se deu em função da maior proximidade e afinidade dos participantes com a construção. Para o grupo de moradores e pessoas ligadas ao prédio, inicialmente trabalhou-se com grupos focais, para envolver a população na discussão do projeto. Entretanto, o método não atingiu a eficácia esperada devido à baixa participação. Em seu lugar, o grupo será convidado a expressar o que o prédio da Câmara significa através de um desenho. Uma psicóloga irá analisar o

material para traçar o mapa mental dos entrevistados sobre a construção. Por fim, será realizada uma sondagem junto aos turistas que visitam o prédio. Após a conclusão dos estudos, a equipe irá reunir os resultados para definir uma proposta de restauro, que será enviada para análise do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Natural (IPHAN). A duração total do projeto ainda é indeterminada, pois pode haver demora na aprovação da obra, devido a sua complexidade.

cidade

Ouro Preto cria plano contra deslizamentos Eugene Francklin

No início do mês de outubro a Prefeitura de Ouro Preto lançou uma Carta Geológica com o objetivo de prevenir deslizamentos das encostas urbanas, acentuados pelo período chuvoso. Este documento mapeia as áreas de risco na cidade. Dentre elas, as principais estão nos bairros São Cristovão, Piedade, Santana e São Francisco. O estudo que deu origem à Carta Geológica foi realizado através de uma parceria entre a prefeitura e a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Assinam o trabalho o professor Romero César Gomes e o mestrando Michael Fontes, ambos da Engenharia Civil. “Todo o projeto está relacionado com a prevenção, o que vem trazendo resultados positivos ao município”, afirma o prefeito Ângelo Oswaldo. A partir deste trabalho, a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil elaborou um plano de contingenciamento para o período chuvoso para minimizar os riscos de possíveis deslizamentos. O projeto articula vários setores da prefeitura, como as secretarias de Patrimônio e Desenvolvimento, de Obras, de Assistência Social e de Saúde, juntamente com a Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Guarda Municipal, como explica o coordenador da Se-

andré mapa

Casa em área de risco: mapeamento orienta órgãos públicos a organizarem ações na prevenção de acidentes

cretaria Municipal de Defesa Civil, Roberto Antônio Gomes. “O plano envolve todas essas secretarias e cada uma disponibiliza seu pessoal. Elas ficam de sobreaviso para emergências durante esse período para, se amanhã ou depois a gente precisar, acioná-las”, disse. O projeto foi enviado para a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec). “Mandamos o plano

para a Cedec porque, se ocorrer algum evento de grande porte, a gente pode pedir recursos estaduais” afirmou Gomes. População Dentre as medidas a serem tomadas durante o período chuvoso, uma cabe aos habitantes: os moradores da cidade, principalmente os das áreas de risco, devem ficar aten-

tos ao surgimento de rachaduras em suas casas ou trincas em barrancos próximos as suas residências, e solicitar à Coordenadoria Municipal de Defesa Civil uma vistoria nestes locais. Em casos emergenciais as pessoas devem ligar para o Corpo de Bombeiros (193) ou para a Defesa Civil (199) para pronto atendimento.

Relevo acidentado e mineração marcam a geografia da cidade A chegada do período chuvoso, que se concentra entre os meses de outubro e abril, traz riscos de deslizamentos das encostas urbanas. Por isso, o mapeamento das áreas mais afetadas serve para formular ações preventivas de combate a esse tipo de acidente, que causa grandes prejuízos ao município, tanto quanto para a população, desde a perda de bens materiais até mesmo mortes. Além do período da concentração de chuvas, a cidade também apresenta acidentes geográficos causados pela atividade mineradora, existente desde sua fundação, através de grandes desmontes, escavações, abertura de poços, de galerias e canais gerados por atividades extrativas e que marcaram a estrutura do solo de Ouro Preto. Acrescenta-se fatores naturais, como o seu terreno montanhoso com altitudes diversas e vales aplainados, que predispõem a cidade à ocorrência de movimentos nas encostas.


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MARIANA, NOVEMBRO DE 2011 Edição: Allan Almeida, Érica Pimenta e Josie Oliveira

PROCURA-SE ONDE M

Falta de planejamento para abrigar migrantes da zona rual do município, moradias irregulares, déficit habitacional e ausência d Fotos: allan almeida, beatriz melo, leandro sena e lincon zarbietti

Ana Malaco

A questão urbana em Mariana é cada vez mais preocupante. A cidade, planejada para comportar uma sociedade no contexto do século XVIII, não está preparada para a população atual. Nas últimas duas décadas, o aumento no número de habitantes foi de 30%. Em 1990, a cidade tinha cerca de 38 mil habitantes, atualmente o total é de 54 mil habitantes, de acordo com o último Censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Hoje, 88% da população vive na área urbana, enquanto 12%, na área rural. O número elevado de habitantes na cidade reflete a quantidade de pessoas que residem em moradias inadequadas ou que enfrentam dificuldades de encontrar uma casa para locação, devido ao alto preço dos aluguéis. O fenômeno é conhecido como déficit habitacional. Para se entender o processo de urbanização deve-se levar em conta questões políticas e econômicas que constituíram o atual cenário da cidade. Três atores são importantes na formação de Mariana: o governo local, a atividade mineradora e a Igreja Católica. A mineração é, atualmente, uma das responsáveis por parte do inchaço populacional, já que as duas principais mineradoras da região passam por processo de expansão em suas áreas. Já o governo local tomou decisões ao longo da história de Mariana que refletem o atual cenário urbano. Como, por exemplo, na década de 1930, no contexto do Estado Novo, o então prefeito Josa-

Bairros em torno do centro histórico são reflexos do crescimento populacional registrado a partir da década de 70

fá Macedo facilitou a transferência de grande parte do patrimônio do município para a Companhia de Ouro de Passagem, segundo o professor Roque Camêllo. A maioria dos bairros da cidade surgiu com um projeto do então prefeito João Ramos Filho, nos anos 90, para reduzir o número de moradores que viviam nas áreas ocupadas, em péssimas condições. Nesta década, várias pessoas saíram dos distritos e mudaramse para a região urbana de Mariana. De forma geral, a ocupação das demais áreas, fora do centro histórico, se deu de maneira pouco planejada, o que hoje resulta em pro-

blemas de abastecimento de água, trânsito, saneamento básico, esgoto, entre outros. Em Mariana, como no restante do país, não se sabe ao certo o número de pessoas que vivem em habitações inadequadas, devido aos variados critérios usados para classificá-las. Mais do que dúvidas sobre a dimensão absoluta do déficit, tal diversidade dificulta o monitoramento da questão urbana ao longo do tempo, bem como o mapeamento da sua distribuição espacial. Em consequência, fica prejudicada a avaliação da efetividade das políticas públicas voltadas ao combate da questão.

Moradias Inadequadas São aquelas construídas com material precário; na situação em que mais de uma família mora na mesma casa; quando mais de três pessoas dividem o mesmo quarto; ou uma família compromete mais de 30% da renda mensal com o pagamento de aluguel.

Bairros enfrentam problemas com ocupações irregulares Leandro Sena

Quem anda pelo centro histórico de Mariana, pode nem notar, mas alguns aglomerados de casas nas regiões mais afastadas foram pouco a pouco sendo construídos com o passar dos anos. Mistura-se a essa realidade condição que difere o “habitável” do ilegal”, e que muitas vezes foge do controle da gestão pública municipal. As principais ocupações estão nos bairros Alto do Rosário e Santa Rita de Cássia, regiões periféricas e de irregularidade permanente há mais de 20 anos. A equipe do Lampião esteve no Complexo Cabanas – região entre os bairros Santa Rita de Cássia e Cabanas – e constatou as condições precárias que esses moradores vivem e que fogem da dignidade humana. São crianças que convivem diariamente com animais soltos e amontoado de lixo e entulho de construções, todos disputando o mesmo ambiente. Na área inva-

dida, o acesso é difícil pelas ruelas sem calçamento e a falta de segurança é visível devido às pedras, nos morros, que podem deslizar e ocasionar acidentes a qualquer um que transita por ali. Também é fácil observar a presença de casas com placas de “aluga-se” em áreas ilegais para construção de imóveis. O que acontece, na realidade, é que muitas pessoas estão utilizando a ocupação irregular como forma de ganhar dinheiro, como denuncia o presidente da Associação de Moradores do Bairro Cabanas, Raimundo Silvestre. “Tem gente que vendeu casa em outros bairros para vir até aqui e construir outra ilegalmente nessa área”, relata. Para ele, é necessário um levantamento social sobre os moradores com necessidades para que ações possam ser feitas de fato. “Só assim para evitarmos que novas pessoas invadam terreno, através da cobrança de um preço simbólico nessas casas populares”, desa-

bafa Raimundo Silvestre. Já para o coordenador de habitação do município, Alisson José Santos, a propriedade desses terrenos é a principal causa do problema. “As invasões acontecem muitas vezes porque os terrenos da cidade estão nas mãos de poucas pessoas”, revela. Reforma Os moradores dos bairros afastados do centro histórico enfrentam sérios problemas com as ocupações desordenadas, como a forte exposição ao esgoto, a falta de políticas de limpeza urbana e constantes riscos de desmoronamento e inundação nas partes baixas. Essa é só uma parte do problema, que segundo a Secretaria

Municipal de Planejamento e Desenvolvimento Urbano, poderá ser solucionado com a construção de casas populares a preços acessíveis, para evitar novas ocupações. Segundo Alisson Santos, atualmente há um projeto para a construção e reforma de cerca de 25 casas de 36 metros quadrados, na cidade, e aproximadamente 100 casas nos distritos, sendo que 31 delas já foram entregues em alguns bairros. “Estamos preocupados em dar casa para quem realmente precisa. O que não pode é entregar uma casa na mão de alguém que vai alugar ou vender”, afirmou. Nesse projeto social, é necessário que o morador tenha um lote de sua propriedade, sendo que boa parte da mão-de-obra para construção pode vir da própria comunidade, em um esquema de mutirão de trabalho em parceria com as associações de bairro.


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MARIANA, NOVEMBRO DE 2011 Edição: Allan Almeida, Érica Pimenta e Josie Oliveira

MORAR EM MARIANA

de políticas públicas para habitação são alguns dos problemas enfrentados por quem vive na cidade ou quer se mudar para ela

Déficit habitacional

causa transtornos na cidade Yasmini Gomes

O desenvolvimento das grandes indústrias trouxe não só o crescimento econômico para Mariana mas também um aumento populacional. De acordo com dados da Confederação Nacional de Municípios, a população da cidade cresce cerca de mil habitantes por ano. Porém, esse acréscimo não está acompanhando a oferta de residências, principalmente com a expansão das empreiteiras. Segundo informações do ex-secretário de Desenvolvimento Social e Cidadania de Mariana, Edernon Marcos, a cidade carece de, aproximadamente, duas mil residências que seriam construídas pelo programa do Governo Federal “Minha Casa, Minha Vida”. Contudo, devido à instabilidade política e às dívidas que o município tem com o Governo Federal, a verba para a construção das casas ainda não foi liberada. O que resta para a população é arcar com os elevados preços dos imóveis, tanto para compra quanto para a locação. Mariana possui cerca de dez imobiliárias, que são responsáveis por, em média, 45% das vendas e locações de imóveis no município. Segundo o corretor Paulo Godoy, já existe na cidade uma escassez de imóveis disponíveis à locação. “A tendência é diminuir bastante a oferta. Estão chegando muitas empreiteiras, que irão trazer de duas a três mil pessoas. Mesmo que par-

te disso venha da mão-de-obra local, já existe uma dificuldade em se arranjar novos imóveis”, avalia o corretor. Com a oferta menor que a demanda, os valores dos imóveis sofrem grandes alterações. A corretora Eliane Ribeiro explica que o valor dos aluguéis oscila de acordo com o mercado, exceto para aqueles que já estão alugados, que seguem o Índice Geral de Preços de Mercado (IGPM) e sofrem um reajuste anual de 10% a 15%. Porém, no caso de imóveis atualmente disponíveis à locação, os valores sofrem variações maiores. “Se você locar um imóvel novo, primeiro compara com o mercado. Quando há uma grande procura, os preços dos imóveis sofrem um reajuste que varia de 30% a 50%. Este último, só as empresas têm condições de pagar”, comenta a corretora. Variação Em Mariana, o preço de imóveis à venda varia entre R$ 100 mil e R$ 120 mil, para casas de dois quartos, localizadas em bairros mais periféricos, e entre R$ 250 mil e R$ 500 mil, em residências de dois a quatro quartos, localizadas próximas ao Centro. Mas, ainda assim, existem imóveis de valores mais elevados e com uma quantidade menor de cômodos, como residências que chegam a custar de R$ 600 mil a R$ 800 mil, nos grandes condomínios.

O valor dos imóveis também aumentou em decorrência do crescimento do crédito habitacional, assim como a facilidade de acesso a esse tipo de financiamento. O programa “Minha Casa, Minha Vida” surgiu no Governo Lula, voltado para as classes de baixa renda. Mas, mesmo com as melhorias proporcionadas por esse programa, há a excessiva compra dessas casas por compradores independentes e donos de imobiliárias que depois revendem as propriedades a valores

até 50% acima do original. Além do crescimento derivado do desenvolvimento econômico, a cidade também vivencia a expansão da Universidade Federal de Ouro Preto. Estima-se que hoje existam cerca de 40 repúblicas estudantis particulares, localizadas em diversos bairros da cidade. Estas repúblicas alugam casarões, casas e apartamentos e, assim como qualquer habitante de Mariana, seus moradores arcam com os altos preços dos aluguéis.

IBGE estuda novo índice de preços de imóveis Para solucionar a questão imobiliária no país, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está estudando uma metodologia que será aplicada para o novo índice de preços de imóveis no Brasil, segundo publicação no Diário Oficial da União. De acordo com o site (http:// www.ibge.gov.br), o IBGE informou que está desenvolvendo estudos com o objetivo de acompanhar a evolução dos preços no setor imobiliário nacional. A partir disto, pretende

definir médias de valores a serem destinados a cada imóvel, de acordo com suas condições físicas, localização, entre outros critérios. Porém, ainda não há data para a divulgação e implantação do novo índice. A adoção dessa medida poderá ser adequada para que a população tenha uma percepção melhor, se posicione e interfira no processo, utilizando-se das oportunidades e situações adequadas para a compra e locação de imóveis com preços acessíveis.

Minha Casa, Minha Vida é a solução? Beatriz de Melo

Desde o primeiro semestre, os problemas habitacionais de Mariana vêm sendo discutidos pela população e pelo governo municipal. Em 19 de março desse ano, foi realizada a primeira etapa da I Conferência Municipal de Habitação de Mariana, que teve como objetivos principais construção de novas moradias, melhoria nas condições das existentes, remoção das famílias que vivem em áreas de risco e realojamento daquelas que se encontram desabrigadas. As propostas, votadas e aprovadas na segunda etapa da Conferência, que aconteceu no dia 9 de abril, incluíram a criação de bolsas auxílio-aluguel para a remoção imediata de famílias em área de risco; construção e venda de apartamentos para pessoas com renda de até três salários mínimos, com subsídio do Governo Federal através do programa “Minha Casa, Minha

Vida”; criação de um programa de reforma e ampliação de casas de famílias carentes e assistência técnica, jurídica e social gratuita. A partir de então, Mariana passou a dispor de um Plano Habitacional de Interesse Social, tornando a cidade qualificada para receber os benefícios do programa que, em parceria com estados, municípios, empresas e movimentos sociais, constrói novas casas que, depois de concluídas, são vendidas às famílias que possuem renda mensal de até dez salários mínimos. Mas, a prioridade são as famílias com renda de até três salários. Para ser atendida pelo programa, a família não pode ter sido beneficiada anteriormente em programas de habitação social do governo, nem pode possuir casa própria ou financiamento em qualquer estado brasileiro. Deve, ainda, estar enquadrada na faixa de renda estipulada pelo programa.

As perspectivas da Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento Urbano da administração anterior eram de iniciar as obras do “Minha Casa, Minha Vida” em setembro desse ano, mas as mudanças no Executivo anularam a intenção. Desinformação Quando questionada sobre o programa federal de moradias, a população se mostra desinformada sobre seu funcionamento. “A gente não está ouvindo nada a respeito em Mariana. O que a gente sabe ‘Minha Casa, Minha Vida’ é o que vemos na televisão”, diz Adélia Crisóstomo, moradora do Bairro Cabanas. Outro morador do bairro, que não quis se identificar, e que tem uma casa em terreno irregular, acredita que os moradores da área não tem interesse em deixar suas casas para adquirir outra através do programa do governo.

Segundo o atual Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de Mariana, Rodrigo Melo Franco Almeida, a primeira fase do projeto de expansão urbana já está em andamento. A prefeitura desapropriou uma área de um milhão de metros quadrados no eixo norte da cidade, na direção do Morro do Gogô, com a intenção de construir 250 blocos de apartamentos. No início de janeiro de 2012, o projeto da construção das moradias deverá ser apresentado à população. Se for aprovado, será aberta a licitação para as construtoras até julho. O secretário informou que também em janeiro haverá um cadastramento prévio para qualquer família que desejar adquirir um desses apartamentos pelo programa federal. “A intenção não é criar medidas paliativas, e sim resolver o problema de desenvolvimento urbano da cidade”, diz.


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MARIANA, NOVEMBRO DE 2011 Edição: Fádia Calandrini e Luiza Barufi

TRânsito

Instalação de semáforos em Ouro Preto gera transtornos na Barra Taxistas reclamam que não havia necessidade da implantação dos sinais e afirmam que, depois da mudança, o número de viagens diárias diminuiu FOTOS: bárbara andrade

to, também foram colocadas faixas para pedestres e o passeio central foi ampliado. Essas mudanças desagradaram motoristas de táxi e ônibus da cidade, que questionam a necessidade dos semáforos. A secretária do Sindicato dos Taxistas de Ouro Preto, Sueli Basílio de Andrade, afirma que um abaixo-assinado com mais de 500 assinaturas foi encaminhado à prefeitura, solicitando a desativação dos sinais. De acordo com a secretária, as principais reclamações dizem respeito ao tempo do semáforo, que fica 90 segundos fechado e apenas 60 aberto. “Os motoristas de táxis-lotação alegam estar perdendo cinco viagens por dia, aproximadamente, devido a essa demora”, afirmou a Carros aguardam abertura do semáforo secretária. Bárbara Andrade

A Prefeitura de Ouro Preto colocou em funcionamento, desde o mês de maio, três semáforos no cruzamento entre as ruas Pandiá Calógeras e Antônio Martins, no Bairro Barra. Além da instauração de sinais de trânsi-

Além do problema do tempo, Sueli ressalta o risco de acidentes na época das chuvas intensas. “Se um ônibus que desce o Morro do Gambá tentar frear atrás dos carros que ficam parados no sinal, não vai conseguir quando está chovendo”. O órgão responsável pelas alterações é a Guarda Municipal de Ouro Preto. Principal mediador do processo, o guarda Adriano Sales afirma que a prefeitura realizou estudos que comprovaram a eficácia destes semáforos. Segundo Sales, eles foram instalados porque há grande intensidade de trânsito, o que proporcionava dificuldade de travessia dos pedestres devido ao fluxo de ônibus e táxis-lotação que congestionavam essas ruas. O guarda municipal reconhece que existem problemas, no entanto garante que já estão sendo estudadas formas de aperfeiçoar o procedimento sem que o trânsito seja prejudicado. “Quem reclama é quem precisa de um dia de 48 horas. É uma tarefa muito complicada agradar a todos nesta situação, pois

Filas de carros se formam na região devido ao tempo de 90 segundos de paralisação do sinal

Ouro Preto foi feita para carroças”, comentou. Adriano Sales, também afirma que os principais transtornos, como engarrafamentos que cruzavam a linha do trem e a falta de locais para carga e descarga dos comércios, foram amenizados. Mas, que a prefeitura ainda avalia algumas melhorias, para otimizar o tempo em que o semáforo fica aberto e fechado.

Passageiros reclamam de condições precárias do transporte coletivo Alyson Soares

O preço das passagens, o mau atendimento e a falta de manutenção dos veículos são os principais problemas enfrentados pelos usuários de transporte coletivo em Mariana e Ouro Preto. A superlotação nos horários de pico, próximo às 8 e 18 horas, também é citada pelos usuários da Transcotta e Vale do Ouro, empresas de transporte coletivo que atuam nas duas cidades. As reclamações sobre o serviço dessas empresas são constantes e, de acordo com Fátima Ferreira, que utiliza diariamente a linha Cabanas-Rosário para trabalhar, não é notado pelos moradores um esforço das empresas para melhorar o serviço. “Enquanto os órgãos públicos não tomarem nenhuma providência, a população

continuará sofrendo com todos esses problemas”, diz a moradora. A situação nos distritos da cidade não é diferente. Um exemplo vem dos moradores de Passagem de Mariana, bairro de Mariana que faz divisa com Ouro Preto, que relatam que os ônibus não trafegam pela parte alta do distrito após às 18 horas, dificultando a vida de quem trabalha em Mariana e volta para casa à noite. “Alguém tem que tomar uma providência, onde já se viu ficar sem ônibus à noite”, reclama o morador de Passagem, Cleyton de Oliveira. A empresa Transcotta alega falta de segurança no local a partir desse horário e alerta que o problema não pode ser colocado só na conta dela, é necessário que haja melhorias na segurança pública.

Os problemas mecânicos nos ônibus também são causas comuns dos atrasos, diz o morador de Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto, Walter dos Santos. “É comum ficarmos esperando muito tempo por um ônibus e, quando chega, passamos na estrada e vemos o outro quebrado”. A empresa Vale do Ouro disse que está renovando sua frota de ônibus, tendo como mais antigos veículos fabricados em 2007. Outra falha no serviço prestado é facilmente vista na cidade, que é o fato de idosos não serem transportados gratuitamente em linhas que ligam a cidade a seus distritos. A Transcotta alega que a Prefeitura é responsável por ressarcir esses custos às empresas e que não existe um projeto que garanta isso. A empresa relata que, nos ônialyson soares

Preço elevado das tarifas, falta de manutenção e mau atendimento são as principais queixas

bus circulares, basta o idoso se identificar, com um documento com foto, que ele é liberado a passar pela porta dianteira. Ambas as empresas afirmam que realizam periodicamente treinamentos com seus funcionários, a fim de melhorar a qualidade dos serviços prestados. O artigo 30 da Constituição Federal determina que os municípios são responsáveis pela organização e prestação de transporte público, sendo de maneira direta ou por meio de concessão. A lei municipal 1685/2002 determina que a fixação das tarifas pagas pelos usuários dos ônibus deve ser fixada pelo Poder Executivo municipal, de acordo com o equilíbrio financeiro da cidade. Uma das atitudes que solucionaria, ao menos parcialmente, a lotação dos ônibus, é a regulamentação dos táxislotação, comuns em várias cidades. A lei municipal de Mariana que permite a atuação dos táxis-lotação já está montada desde 1999, mas, ainda não foi regulamentada. Mesmo assim, ainda podemse ver alguns veículos clandestinos fazendo esse trabalho pela cidade. Um processo licitatório para a contratação da empresa de transporte público nos próximos anos foi aberto, mas, por problemas no Poder Judiciário, o mesmo se encontra suspenso. Enquanto isso, a população de Mariana aguarda, mais uma vez, a solução para esse problema.

Apesar das reclamações, os comerciantes da região afetada pelas mudanças alegam que o trânsito e o tráfego de pedestres melhoraram. Uma sugestão proposta por Sueli, em nome dos taxistas, é a retirada do sinal à direita da Rua Pandiá Ca-

lógeras, no sentido CentroBauxita, o que ajudará no fluxo do trânsito, de acordo com a secretária. Cabe agora à Prefeitura, ao Departamento de Trânsito de Ouro Preto (Ourotran) e à Guarda Municipal avaliar a viabilidade da proposta.

Conectados ao coletivo Elisabeth Camilo

Quando falamos em comunidades, logo nos vêm à mente as imagens de pessoas conectadas a computadores, celulares e outros equipamentos, comprometidas com os mesmos interesses, possuindo as mesmas opiniões. Mas, há também outras comunidades, muito visíveis, mas quase nunca admitidas como grupos de interação entre indivíduos. Podemos citar como exemplos aqueles indivíduos com quem nos encontramos todos os dias no restaurante, na rua, no ponto de ônibus, que nos são tão comuns que, quando não os vemos, sentimos sua falta. Um desses grupos se reúne todos os dias dentro dos ônibus das cidades. Tomemos como exemplo as pessoas que estudam e/ou trabalham em Ouro Preto e Mariana. A rotina desses indivíduos é sempre igual: saem de suas casas nas mesmas horas, vão para os mesmos pontos, entram nos ônibus, sentam-se ao lado das mesmas pessoas, conhecem os motoristas e os auxiliares por nome. Ali, sobrevive uma comunidade poderosa, a que se informa dentro do ônibus sobre tudo e sobre todos. A mais sisuda das criaturas, aquela que não quer dialogar com ninguém, acaba participando do grupo porque ouve tudo e, mentalmente, reflete sobre o que ouve. Dentro do ônibus, ficamos sabendo como anda a política local, a estadual e a federal. Qual ministro caiu, quem vai substituí-lo. Nos cansados bancos do coletivo, o esporte ganha vida e abre-se franco diálogo sobre os times de interesse, julgando-se os jogadores, os juízes e os técnicos. Alguém, mais subjetivo, fala do casamento que ocorreu em uma das cidades, da droga que a polícia apreendeu na blitz, do homem que tentou matar a mulher. Um professor fala do fiasco do Enem e um aluno dá sua opinião, dizendo que se sente prejudicado com tudo isso. Uma mulher gorda fala da nova dieta para emagrecer e da proibição da venda de medicamentos que inibem o apetite. Enquanto o ônibus percorre a estrada entre Ouro Preto e Mariana, uma moça simpática fala de vagas para emprego em uma loja e outra fala de um concurso que vai admitir funcionários na mineradora. Um homem critica a situação da estrada e um jovem fala com outro sobre um novo game que “você pode baixar pela Internet”. Na rádio-coletivo, a informação é compartilhada, não pertence a ninguém, é de domínio público. Quando o passageiro desce em seu ponto, ele sabe sobre tudo que é importante sem ter lido revista, jornal, ou assistido os noticiários do rádio ou da TV. Ali, todos os dias, jornalistas de plantão disseminam a notícia, sem preocupação com formas aplicativas de redação técnica jornalística. Eles informam e são informados, na grande rede social dos “usuários informados nas redes de coletivos urbanos e intermunicipais”. Deve acontecer o mesmo nos aviões, nos táxis, nos metrôs e nas praças da vida.


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MARIANA, NOVEMBRO DE 2011 Edição: Eloiza Lima e Yasmini Gomes

cidade

Mariana se protege contra a dengue Agentes de endemia da Secretaria Municipal de Saúde irão visitar, até dezembro, 83% das casas para previnir e conscientizar sobre a doença no município andré Mapa

André Mapa

Com o início do período chuvoso, aumenta o risco de aparecimento de casos de dengue, já que o mosquito Aedes aegipt, transmissor da doença, tem mais facilidade para se reproduzir. O período é propício devido ao surgimento de novos locais onde a água se concentra e fica parada a cada chuva. Em Mariana, ações de prevenção e combate ao mosquito têm sido executadas durante todo o ano, no entanto, com o começo das chuvas as atividades são intensificadas. Cada um dos agentes de endemias da Secretaria Municipal de Saúde visita cerca de 40 casas por dia em busca de potenciais criadouros de mosquitos. Segundo a médica veterinária, gerente do serviço de controle de zoonoses em Mariana, Michelle Soares, “são executadas ações preventivas, como a aplicação de larvicida, pó que impede o desenvolvimento das larvas do Aedes aegipt, e pulverização de inseticida em volta da residência em que foi encontrado o foco de reprodução”. De acordo com a gerente quando são encontradas larvas em caixas d’água, vasos de flores, garrafas ou outros locais em que há possibilidade de concentração de água, elas são recolhidas pelo agente e analisadas para verifica-

ção se são ou não do Aedes aegipt, que também transmite a febre amarela. “O mosquito não precisa de muito espaço para se reproduzir. Até mesmo em uma tampa de garrafa ou casca de ovo, que concentrem um pequeno volume de água, ele pode se reproduzir”, afirma. Existem ainda os chamados pontos estratégicos, em que há maior chance de o mosquito se reproduzir. Borracharias, depósitos de veículos e autopeças, e até cemitérios são exemplos de locais onde o mosquito encontra pontos favoráveis à sua reprodução. Nesses ambientes, são realizadas vistorias quinzenais com aplicação de produtos de combate ao Aedes. A meta definida pela Secretaria Estadual de Saúde é que sejam realizadas seis visitas anuais de prevenção à dengue em cada domicílio do Estado. Em Mariana, serão realizadas cerca de cinco visitas por residência até dezembro, o que representa um percentual aproximado de 83% da meta proposta. Além disso, a prevenção à dengue tem sido eficaz devido à participação da população, já que muitos cidadãos solicitam a visita. “Quando existe um lote vago ou algum depósito em que há concentração de água parada, as pessoas nos ligam e pedem para verificarmos”, diz a

Águas paradas em caixa dágua e vasos de flores facilitam a reprodução das larvas do mosquito

médica veterinária Michelle Soares. Para informar sobre potenciais focos de reprodução do mosquito, a população deve ligar para a Coordenadoria de Vigilância em Saúde de Mariana, pelo telefone (31)35582856 ou pelo e-mail vepi@mariana.mg.gov.br. Nas escolas A primeira edição do concurso infantil “Mariana Unida contra a Dengue” é uma das principais armas de combate à epidemia na cidade. A competição parte do princípio de que “a criança

é a maior incentivadora dos adultos na prevenção da doença”, avaliou Michelle. Estudantes do ensino básico, fundamental e especial participaram do concurso, que premiou o melhor desenho, frase e redação sobre a temática da prevenção e combate à dengue. Os prêmios foram entregues durante o “Dia D” de Combate à Dengue, em 19 de novembro. Foram realizadas ações explicativas sobre como eliminar os focos de criadouro do mosquito transmissor e organizado um mutirão de limpeza.

Hábitos saudáveis são o melhor remédio para entrar em forma Érika Santos

Com a proximidade do verão muitas pessoas, principalmente mulheres, querem perder peso. Para isso, recorrem a remédios para emagrecer e a dietas que prometem verdadeiros milagres. Mas, será que essa é a melhor e a mais eficaz alternativa? Quais os riscos que podem trazer para a saúde? Chás e remédios usados como inibidores de apetite e para redução de gordura podem ser facilmente adquiridos através da Internet. No entanto, a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou em 04 de outubro, ampliar o controle sobre a prescrição e a utilização dos remédios emagrecedores. A Anvisa proibiu a produção, manipulação e comercialização de três inibidores de apetite feitos à base de anfetamina: a anfepramona, o femproporex e o mazindol. E se manifestou pela manutenção da sibutramina, um dos remédios mais vendidos no Brasil, que atua na redução do apetite e tratamento da obesidade, porém, impôs novas restrições. No Brasil, o uso e venda da sibutramina jé eram limitados desde 2010, quando o medicamento foi adicionado na lista dos remédios que necessitam de prescrição es-

ÉRIKA SANTOS

Atividades físicas e boa alimentação ajudam no emagrecimento

pecial para serem solicitados pelos médicos. A partir da nova decisão da Anvisa, médicos e pacientes terão, também, que assinar um termo de compromisso ao receitar ou utilizar a substância. Pessoas que ingerirem a sibutramina sem acompanhamento médico podem ter como reação diarréia, boca seca, vontade excessiva de urinar, podendo esse medicamento causar em pessoas cardíacas ou com pressão alta acidente vascular cerebral e enfarte. Segundo a nutricionista Camila Gomes Carvalho, é consenso entre os profissionais de saúde que o combate

à obesidade é eficiente quando o tratamento é baseado em dieta e exercícios. Sendo recomendado somente o uso de remédios para emagrecimento para fins de saúde: “Obesos mórbidos, pessoas com indicação a cirurgia para redução de peso, indivíduos com risco de enfartar e diabéticos descompensados”, exemplifica a nutricionista. Segundo diretrizes da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), “a escolha do tratamento deve se basear na gravidade do problema e na presença de complicações associadas”. E que apesar da possibilidade

da utilização de medicamentos, dieta de baixo valor calórico e em alguns casos, cirurgias, é necessárias mudanças no estilo de vida. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia é taxativa: qualquer medicamento para emagrecer só é aconselhado para quem tem obesidade mórbida ou Índice de Massa Corporal acima de 30 ou 25, nos casos em que está relacionada e predispõe o desenvolvimento de outras doenças. Esse índice é calculado dividindo o peso pelo quadrado da altura. A recomendação é valida também para paciente com sobrepeso que tenha diabetes, por exemplo. Para o proprietário da Corpus Academia, Enderson Vieira, 99% do público que buscava sua academia por motivos estéticos, hoje a procuram por motivos de saúde. A nutricionista Camila Gomes Carvalho alerta que é necessário mudanças de hábitos. “Um bom começo é reduzir a quantidade de alimentos consumidos em um dia. Aprendendo a diferenciar a fome do apetite. Ingerir frutas no intervalo das refeições, consumir a quantidade necessária de água por dia. Reduzir o consumo de álcool, substituir sobremesas doces por frutas, refrigerante por suco natural e praticar atividade física” aconselha.

Uma das formas de combater a proliferação do mosquito Aedes Aegypti é a aplicação de larvicidas e pulveração dos inseticidas em locais onde há suspeita de focos de reprodução

Como se prevenir - Guarde garrafas vazias de cabeça para baixo - Limpe as calhas do telhado, retirando folhas e galhos que possam favorecer o acumulo de água - Mantenha sua caixa d’água fechada - Coloque areia nos pratinhos de vasos de plantas - Jamais jogue lixo em terrenos baldios - Fique atento aos possíveis focos de reprodução do mosquito em locais próximos à sua casa

Surto de meningite preocupa população Deiva Miguel

Em outubro, um surto de meningite C, em Ouro Branco, a 32 quilômetros de Ouro Preto, atingiu cerca de 19 funcionários da Paranasa, empresa que presta serviços de ampliação da Gerdau Açominas no município. Um trabalhador de 19 anos morreu depois da suspeita de contaminação da doença; o restante dos funcionários foi medicado e apresentou melhorias, mas ficou em observação. A Secretaria de Saúde de Ouro Branco informou que todos os prestadores de serviço da empresa foram medicados com antibióticos para impedir a evolução dos sintomas. O alojamento da empresa foi isolado.

Os sintomas são febre alta, sonolência, dores de cabeça muito fortes, perda de apetite e irritabilidade. Para controlar a expansão do contágio da meningite, foram aplicadas vacinas na população de Ouro Branco. O processo foi finalizado no dia 4 de novembro com um total de 13.388 vacinas aplicadas.

A assessoria de comunicação da Prefeitura informou que o surto foi contido. A professora de Infectologia do curso de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Carolina Marinho, informou que a meningite C é a que tem mais facilidade de contaminação, que se dá através das vias respiratórias, em contato próximo e prolongado com a pessoa infectada por, no mínimo, quatro horas ao dia num período de cinco dias. A transmissão ocorre pelo ar. Os sintomas da doença são febre alta, sonolência, dores de cabeça muito fortes, perda de apetite e irritabilidade. A professora alerta que diante de qualquer sintoma desses a pessoa deve procurar um médico. O tratamento é feito com antibióticos, mas sempre acompanhado de receita médica. O ideal, diante de riscos de contaminação, é ficar em alerta, evitar lugares lotados, manter ambientes sempre arejados, hábitos higiênicos, como lavar as mãos antes e depois das refeições. A Secretaria de Saúde de Ouro Preto informou que tem se mantido em estado de vigilância e que, como medida de prevenção, tem realizado palestras de conscientização em grupos de trabalhadores das mineradoras instaladas na região.


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MARIANA, NOVEMBRO DE 2011 Edição: Flávio Ulhôa e Gracy Laport

Esporte

Vencedores sem apoio necessário Atletas da Associação Marianense de Atletismo superam-se e trazem 28 medalhas para Mariana, mesmo sem condições adequadas de treinamento Lucas LIma

do esporte, mas segundo Gustavo Gomides, devido a falta de fiscalização, as bolsas são usadas para outras finalidades. Para as competições, ainda segundo Gustavo, a divisão de Desporto destinou, esse ano, R$ 12 mil para o transporte dos atletas. “São oito a 12 competições por ano”, diz. ”Em cada viagem levamos de 35 a 40 atletas, e gastamos mais ou menos R$ 2 mil”. O estudante e atleta Hugo Felipe Vieira de Paula, 16 anos, frequenta os treinos da AMA há dois anos. “Antes, para mim, não havia união, hoje eu tenho uma família”. E completa. “Mas, falta um treinador”. Hugo não recebe a bolsa, mas sonha com a carreira no atletismo, tal como a estudante Juçara Cristina Lopes, 18 anos, que há quatro anos treina na AMA. No esporte ela descobriu o valor da união. “Mudou tudo na minha vida, pois somos muitos unidos. Aqui é um por todos e todos por um”. Mas, quando questionada sobre o que falta na pista em que treina, não pensa duas vezes. “Tudo: não tem nem banheiro. Além disso, guardamos os materiais de treino dentro de uma caixa de água. A prefeitura deveria ajudar mais, mas querem só os resultados”, desabafa.

Caixa d’água onde são guardados os materiais esportivos da Associação Marianense de Atletismo, sujeitos aos danos causados pela umidade Lucas Lima

O atletismo local, representado pela Associação Marianense de Atletismo (AMA), trouxe da última edição dos Jogos do Interior de Minas, realizado de 12 a 16 de outubro, em Patos de Minas (MG), mais de 28 medalhas e elevou a cidade do 90º para 12º lugar no ranking estadual. Porém, os atletas

não possuem um espaço adequado para treinar e nem um treinador. Segundo o fisioterapeuta Luís Gustavo Gomides, que auxilia os jovens atletas nos treinos, a Prefeitura de Mariana prometeu construir uma pista adequada ao atletismo há três anos, mas até hoje os jovem treinam em uma grama rala ou na terra mesmo, em um terreno

localizado no Bairro Cabanas. Quanto a um treinador, Luís Gustavo afirma que isso também foi solicitado junto aos órgãos competentes, mas o pedido não foi atendido. “Nós pedimos várias vezes, chegamos a brigar, mas nada”. Segundo ele, o grupo é formado por 40 atletas e, destes, “cinco são de nível nacional”. “A prefei-

tura se orgulha dos resultados, mas na hora de investir...”. Segundo o Chefe de Infraestrutura de Desportos, Marcio José Luiz, a prefeitura dá suporte aos atletas, inclusive, oferece 20 bolsas para os de baixa renda, no valor de R$ 245,00. Esse dinheiro deveria ser investido em materiais, como tênis e roupas para a prática

cidadania

Coral oferece espaço de recreação para idosos

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verde faz parte do uniforme do Guarany Futebol Clube. - Pico da (?): atração turística de Mariana. 22 Local onde acontecem as reuniões da associação de moradores.

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1 Distrito do projeto “Ladeira das Artes”. 2 Que se refere ao povo em geral. 3 Serviço Autônomo de Água e Esgoto. 4 Mascote do Clube Atlético Mineiro 5 Festa do (?): tradicional evento estudantil ouropretano. 6 Ítem da bagagem do turista. 7Achou graça. 8 Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais. 9 Ritmo folclórico da banda da Apae de Mariana. 10 Sistema de leitura com o tato para cegos. 11 Teve zelo por; vigiou com cuidado. 12 (?) Rosário: bairro de 13 Técnica oriental de automassagem. 14 Associação de Moradores do Bairro Cabanas 15 (?) da Vale: percorre o trajeto Mariana - Ouro Preto. 16 Varredora de rua. 17 Claridade da lua 18 Coral (Mús.). 19 Centro de Aproveitamento de Materiais Recicláveis 20 A (?)

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CRAS - ALTO DA CRUZ Rua Rezende, 159 – Bairro Alto da Cruz, Telefone: 3551- 1509 RECRIAVIDA Rua 2 de outubro s/ nº Vila Maquiné, Telefone: 3558-2890

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Onde fica

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Além disso, segundo a coordenadora, o coral foi uma forma de aproximar os idosos em situação de vulnerabilidade ao tratamento da entidade. Além do coral, o CRAS do Alto da Cruz desenvolve outras atividades lúdicas e recreativas voltadas aos idosos. Seções de yoga e massoterapia, oficinas de resgate de

A exemplo da cidade de Ouro Preto, Mariana conta também com um coral formado por pessoas da terceira idade. O Grupo Musical Recriavida surgiu do trabalho realizado com integrantes do projeto de mesmo nome. Conta atualmente com 20 idosos e é regido pelo maestro Rodrigo Teodoro. Ele desenvolve prática do canto, musicalização, noções de história da música e práticas percursivas, sempre valorizando a música popular produzida no Brasil. Assim como o coral do CRAS Alto da Cruz de Ouro Preto, a atividade do Recriavida busca o resgate da memória dos idosos, exercitado através das canções.

Alunos do Coral do CRAS cantam e se divertem sob a regência do maestro Marcio Miranda

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O coral funciona desde janeiro, mas seus alunos já colecionam exibições de destaque

Recriavida atrai a melhor idade

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Os idosos do Bairro Alto da Cruz e comunidades próximas, em Ouro Preto, contam com uma opção de lazer melódica, o Coral do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Ele funciona na unidade que atende o bairro, na Rua Rezende, 159. O grupo nasceu da parceria entre o CRAS e a Fundação Cultural de Belo Horizonte. É formado por 15 idosos, com idades entre 55 e 75 anos. Para ensinar aos alunos as técnicas musicais, uma vez por semana, o maestro Márcio Miranda se desloca de Belo Horizonte para prestar esse serviço, voluntariamente. O coral está em funcionamento desde janeiro desse ano, mas seus alunos já colecionam exibições de destaque. Entre elas estão as apresentações nas Conferências de Assistência Social e do Idoso, realizadas no primeiro semestre desse ano. Mesmo com pouco tempo ativo, a coordenadora do CRAS do Alto da Cruz, Maria de Fátima Reis, aponta algumas mudanças positivas entre os participantes. “Essa atividade trouxe melhorias visíveis. Levantou a auto-estima, trouxe mais alegria e disposição”.

memória e aulas de teatro são oferecidas ao longo da semana. As opiniões dos alunos são variadas e refletem a satisfação por fazerem parte do grupo. A aposentada Maria Helena da Rocha enfatiza a importância do canto em sua vida. “Participar do coral acrescentou mais responsabilidade à minha vida. A música ajuda a gente, exercita nossa memória e nos faz aprender coisas novas”, disse. Já o aposentado José Raimundo dos Santos é mais poético ao falar do grupo. “A música alimenta a alma. Quando começamos a ensaiar, os problemas do dia-a-dia ficam do lado de fora da sala. Isso nos faz aproveitar ainda mais cada momento alegre vivido aqui.”

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Allan Almeida


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MARIANA, NOVEMBRO DE 2011 Edição: Bárbara Andrade e Deiva Miguel

Cultura

110 anos de histórias que atravessam gerações

A União XV de Novembro, banda mais antiga de Mariana, celebra seu aniversário com a expectativa de desenvolver um trabalho ainda mais social Luiza Barufi

Jovens músicos ensaiam na sede da banda: corporação conta com 40 integrantes, muitos deles adolescentes Luiza Barufi

Há quem diga que o mineiro costuma acordar com os sinos e, durante a tarde, ir às ruas para ver a banda passar. No feriado da Proclamação da República, mesmo debaixo de chuva, não foi diferente, e as ruas de Mariana foram palco de desfiles de diversas bandas em comemoração aos 110 anos de músi-

ca e tradição daquela que é a mais antiga da cidade, a União XV de Novembro. Com sede na Rua Direita, 151, a banda apresenta uma trajetória marcada por disputas político-partidárias e dificuldades na obtenção e manutenção de instrumentos. À frente da presidência da corporação há 43 anos, Amadeu da Silva

afirma haver melhorias nas atuais condições dos instrumentos recebidos do poder público. “Somos muito ‘pidãos’ (sic); a gente sai pedindo e acaba recebendo”, conta satisfeito. Segundo ele, nas comemorações do 110º aniversário, mais de dez instrumentos doados pela Secretaria de Cultura do Estado foram inaugurados.

Diário de um sopro Fádia Calandrini

No andar térreo da sede da banda encontra-se uma pequena porta onde, há 32 anos, trabalha o alfaiate Franciso de Assis Moreira, que há 50 anos leciona na banda. Órfão desde os 8 anos, Chiquinho Alfaiate, como é conhecido, afirma que a corporação já o ajudou muito, principalmente em questões financeiras. Começou a trabalhar como alfaiate e aprendeu a tocar desde cedo. “Meu avô tocava de tudo; eu aprendi com meu tio desde pequeno. Eu era muito curioso e tinha uma voz muito boa”, lembra. Entre trechos de melodias antigas e ajustes em uniformes da banda, o alfaiate confessa amar o que faz e desabafa. “Agora, com essas músicas novas, os jovens só ouvem essas modernidades e perderam o entusiasmo pela fanfarra”, lamenta. A União conta com mais de 40 músicos, destacando-se jovens entre 12 e 14 anos. Realizam em média 40 apresentações por ano, principalmente em eventos religiosos e políticos em Mariana. Para o presidente da banda, quando se trata de música é preciso disciplina. “A banda deve estar sempre afinada e disciplinada. O músico deve ter postura até ao sentar na cadeira.”

Fádia Calandrini

Onze da manhã. O sol mais uma vez banha-me na tentativa de desgaste e oxidação. Os dias nublados e as noites frescas me compensam, garantindo minha longevidade. Diferentemente dos outros dias dessa semana, hoje posso retribuir a esta sexta-feira ensolarada com o meu agudo canto, clamando por atenção. Cuidadosamente, espio cada um que vai entrando em velocidade de observação, lapidando cada canto e rompendo gradativamente o sigilo de meu lar. Preciso me concentrar, em meia hora preciso estar com pulmões cheios de ar, mas a nostalgia não me permite aquecer a voz. Lembro-me então do norte germânico, assistindo minha criação por Arp Schnitger, e desde então já embalo os anjos europeus com a harmonia de meus mil e trinta e nove tubos na era setecentista. Pouco tempo em Hamburgo, saúdo a estadia em uma Ordem Franciscana de terras lusitanas. Passam-se quinze minutos. Fujo das lembranças e continuo observando o que está a minha frente. Aos poucos, os bancos vão sendo ocupados, e ouço murmúrios que, de repente, são interrompidos por aquela que me permitirá soltar a voz. Quantas advertências! Um simples andar pelas tábuas sa-

cras dispersa meu som. Portanto, o recado foi dado. Dentre todas as instruções, me perdi mais uma vez em minhas origens. A vaidade me domina ao me lembrar da cansativa viagem sobre as águas do Atlântico. Entretanto, não perdi o fôlego. Dezoito caixões, grandes e pequenos embrulhos numerados garantiram que meu cansaço fosse passageiro. Chego num período dourado em serras mineiras, quebrando o silêncio dacidade de Mariana.

Não ofereço pistas, e as pinturas chinesas que me ornamentam confundem ainda mais meu passado Onze e meia. Está na hora. Permito-me pronunciar o nome daquela que me rege. Josinéia Godinho abre delicadamente a passagem de ar de cada flauta que me compõe. A harmonia é garantida pelas mãos e pés inquietos formados na Escola Superior de Música Marcelina, de São Paulo. Vejo lá de cima um jovem casal cochilando ao se apoiarem mutua-

mente pelos ombros. Irrito-me pela falta de vigilância, embora não tenha me deixado desafinar. Aqueles ali, no canto direito, me olham atentamente, e o grisalho baila seus dedos tentando guiar-me. Há outra ali que não para de movimentar uma caneta verde sobre um caderno pequeno. Hora de descanso. A cada momento em que cesso por um instante para umidificar a garganta, os ágeis dedos de Josinéia param o toque do teclado e procuram a próxima partitura. Enquanto isso, os dispersos lá embaixo se entreolham durante os intervalos. Ouço um ali dizendo à moça da caneta incessante o quanto é incrível minha conservação. Sujeito curioso! Diz a ela também da agonia em não saber onde residi precisamente antes de chegar a terras brasileiras. Não ofereço pistas, e as pinturas chinesas que me ornamentam confundem ainda mais meu passado. Depois de amanhã tudo se repete. O sétimo dia sagrado para descanso escuta meu clamor ao meiodia e quinze, e mais uma vez, os poucos indivíduos entram exalando curiosidade em troca de seus dezoito reais. E sempre, sempre percebo a estranha contradição da posição laica que praticamente todos se colocam ao ficarem de costas para o altar.

A banda nasceu em Mariana no século XX, quando conservadores da Monarquia representavam resistência diante da Proclamação da República, em 1889. Por iniciativa de Gomes Freire de Andrade - médico, professor, diretor do Partido Republicano local - surge a Sociedade Musical União XV de Novembro, em 1901, como propaganda republicana. Conhecida como “furiosa”, hoje a banda é totalmente desvinculada de participações político-partidárias e faz parte do patrimônio histórico e cultural da cidade. Segundo o presidente da União, não há só um papel cultural, mas também social do conjunto, já que muitos jovens participam da banda. Complementa que se sente muito honrado em fazer parte dessa história, já que começou a acompanhar o grupo aos 12 anos, como auxiliar da organização da sede, e hoje é presidente.

Cine Inconfidentes incentiva produções Gracy Laport

Detalhe do Orgão da Sé: o único da linha Schnitger fora da Europa

Como tudo começou?

Para se compreenderem as motivações que levaram à realização do Projeto Inconfidentes – Festival Nacional de Cinema e Vídeo, que realizou sua segunda edição entre os dias 19 e 23 de outubro em Ouro Preto, Mariana e no distrito de Monsenhor Horta, é preciso vasculhar os cantos afetivos e, por que não dizer, inquietantes de seu idealizador, o professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Adriano Medeiros da Rocha. O projeto para o qual se dedica há pouco mais de cinco anos tem como bandeira aquilo que motivava o Cinema Novo, nos idos dos anos 50 e 60: “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, prenúncio que incitou os jovens a revolucionarem a cinematografia brasileira, mostrando com novas compreensões aquilo que poucos queriam fazer ver: as ruas e a gente marginalizada do país. O Festival deste ano recebeu 149 filmes para a seleção, entre eles curtas, médias e longas metragens. Roteiro/ idéia geradora, fotografia/imagens, desenho de som, montagem/edição e direção foram os quesitos utilizados para a análise das curadorias. São Paulo, com 31 produções, foi o Estado que mais enviou películas, seguido do Paraná, com 22, Minas Gerais, com 21, e Rio de Janeiro, com 14. Além de trazer produções cinematográficas

de outras regiões do país, buscou proporcionar a difusão de produções realizadas em Marina, Ouro Preto e região. Desta forma, busca consolidar, anualmente, um espaço para cineastas de diversas regiões do país estimulando a aproximação de valores culturais e artísticos amplos e globais àqueles locais. Quando indagado sobre os desafios enfrentados pelo cinema e seus cineastas atualmente, o professor expõe as facilidades técnicas da atualidade, mas afirma que sem “uma ideia na cabeça”, os avanços tecnológicos não valem por si. E conclui: “fazer cultura neste país não é fácil, quanto mais se você tem o idealismo de descentralização, acesso livre e gratuito; pior ainda é para um evento que está engatinhando em uma região desconhecida”. O Cine Inconfidentes propõe novas maneiras de se pensar o cinema, através de palestras, oficinas, apresentações culturais, exibição de filmes e festas para debates a respeito de outras experimentações de linguagem e técnica e a interação do público. Toda a programação foi oferecida gratuitamente. A tradição a que o festival almeja efetivar-se deve estar compreendida na ideia da coragem e da comunhão. Para Glauber Rocha, “o Cinema Novo não é apenas uma questão de idade; é uma questão de verdade”. Para Adriano Medeiros, o Cinema Novo somos nós. Gracy Laport

Cortejo de abertura do Cine Inconfidentes, em Mariana


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MARIANA, NOVEMBRO DE 2011 Edição: Leandro Sena e Lincon Zarbietti

PATRIMÔNIO

Quando os sinos dobram Maria Aparecida Pinto fotos: allan almeida

A solitária gameleira envolve aquele pequeno cenário. E não há nenhum porta-retrato ou moldura mais bonita. Tudo petrificado. Casinhas, igrejas barrocas com seus campanários, casarios, ruas de pé-demoleque são protegidos por uma gaze sublime, meiga e dócil. Como se faz delicada a fotografia. Sentimental e literária. São seis da manhã. Mas falta algo. Todos os toques. Todos os sinos. Todos os bronzes. Muito além, um sopro latino. Signum. Sinal católico que vem retumbando desde o Século V. Era em Nápoles, o religioso Paolino de Nola. Região de Campânia, Itália. Surgem a “campana” e o “campanário”. Sino e sua torre. Os sons agradáveis e cadenciados chegam ao Brasil no século do descobrimento. Desembarcam com o bispo Dom Pero Sardinha, que assume a diocese de Salvador, em 1552. Colônia, o que Portugal fazia de você? Os primeiros sinos fundidos, no país, datam de 1589. Produzidos na metalurgia do português Afonso Sardinha. São sinos moldados com barro do lugar, hoje, conhecido como município de Ipe-

ró, localizado em São Paulo. “A voz dos bronzes” e seus dizeres. Gerenciados pelo catolicismo, codificados em linguagem sineira. Em Portugal, no século XVIII. Aqui, os sopros das constituições primeiras da Diocese de Salvador se deram em 1707. É meio-dia. Eis que, em uma aragem, escuta-se o toque de dor. Três grupos de sinais graves dialogam com toques agudos em conversa descompassada. Um homem morreu. Se fos-

do. Não há pecado. Não há. Mas, os sinos contam outras histórias. Incêndios ou enchentes podem ser anunciados pela “voz de Deus”, assim como nascimentos e casamentos. Além das ocorrências civis, há os toques festivos das celebrações litúrgicas, como os amarelos, roxos e azulados da quaresma. Frequentemente, ávidos de fé e de celebração, convidam para as missas dominicais. Dois repiques rápidos, porém não urgentes, acenam

sem dois grupos, seria uma mulher. Hierarquias nas badaladas aflitas que choram. Mas, toda vez que um homem morre, morre também uma parte feminina. Eva não surgiu de Adão? É o que dizem... É o que dobram. Quando um anjo (zero a sete anos) sobe ao céu, uma sequência de repiques de quatro sinos o acompanha. Não há pecado. Não há peca-

para a cerimônia. Mas, se não for possível marcar presença, pode-se acompanhar as partes da missa, de longe, pelo som melódico e ritmado. Celebrar é tão tradicional quanto o bronze. Celebrar é compartilhar. Às vezes, pode voltar a tristeza em toques. Quando um marianense morre fora da cidade, recebe os sinais às 14 horas. Um papa morre e

12 circunspectas badaladas se pronunciam seguidas de nove grupos de sinais a cada duas horas até o sétimo dia. Se for um bispo, são nove badaladas e cinco grupos de sinais de três em três horas. Dos padres até os monsenhores, cinco grupos de sinais ao dia. E o que os sinos fazem? Indicam, também, os lugares: do incêndio, da enchente. De onde era fulano que morreu? De qual irmandade? Há uma gama de lugares: o ponto do percurso onde se encontra a procissão e, nas cidades-sedes de bispado, onde se encontra o bispo? Lugares sociais: toques mais duradouros para membros da elite... Mais dobres. Mais dobres. São Nobres. São Nobres. Se não... Pobres. Pobres. - Como é tarde! Diz a arrebalde e com estardalhaço o sino da Câmara Municipal. - Mas, afinal, são dezoito ou são vinte? - O melhor é recolher! Responde o sino civil, com convicção. E volta-se a moldura natural vista da serra. O que faltava? A fala do sino. A outra moldura, que não restringe o olhar ao centro, mas propõe um fluxo para o fora.

Sino sem sonoridade, sino sem utilidade ELISABETH CAMILO

Elisabeth Camilo

Quando o padre João Faria de Fialho chegou, juntamente com os bandeirantes, no território de Vila Rica, fez construir capela delicada no bairro que se situa entre montanhas e que, hoje, possui o seu nome. A igrejinha, situada em pequena elevação no vale, é simples por fora

e luxuosa por dentro. Com a nave toda em ouro, anjos com asas de borboletas e pintura no teto, ainda possui uma cruz com três braços, de 1756, e um sino de bronze bastante especial, pois possui em alto relevo a data de sua fundição (1750) e a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Ela é conhecida como Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Brancos, já que a “dos Pretos” fica no Bairro Rosário, no centro histórico de Ouro Preto. O fato que mais chama a atenção de historiadores, estudiosos da cultura e especialistas em sinos é que, debruçada sobre uma área de vale que ainda hoje é desabitada, quando o sino badalava, por quase cinco minutos havia um eco que percorria o vale

até a região de Passagem de Mariana. Ali se situa extenso corredor geográfico, incluindo o leito do Rio Tripuí, onde foram recolhidas primeiras pepitas de ouro negro, que deram nome à cidade. Esta sonoridade especial torna o símbolo do Bairro Padre Faria marcante para a história local. Na morte de Tiradentes, ele foi tocado, assim como séculos depois, na fundação da capital do Brasil, em 21 de abril de 1960. A última vez que foi retirado do campanário para viagem ocorreu quando Brasília se preparava para a posse de Tancredo Neves, mas imediatamente retornou devido à doença que resultou na sua morte. Sinos tocam por morte, por festas, por quaisquer

motivos, mas o sino do Padre Faria só toca para missas e festividades. A beleza do eco acoplada a uma físi-

O velho sino tem agora uma rachadura, que prejudica a melodia de seu toque ca especial fizeram do bairro, da capela e de seu sino, materiais para o literata Autran Dourado escrever “Os Sinos da Agonia”, em que narra a história do triângulo amoroso entre Malvina, Gaspar e José Diogo. O velho sino tem agora uma rachadura, que preju-

dica a melodia de seu toque. O zelador da capela, Wilson Ferreira, conta, com que na última vez que alguém se preocupou com ela, levouse o sino para o Parque Metalúrgico da Escola de Minas, há aproximadamente 20 anos. Ele afirma ter escrito cartas para diversos governantes, sem nunca ter obtido qualquer resposta sobre o conserto. Questionado a respeito do problema, o assessor de comunicação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/ MG), Gleison Nunes, afirma que, em breve, terá uma resposta para a restauração, já que refundir sinos é tarefa que sempre tira a sonoridade dos mesmos. Também há dificuldade em encontrar um

especialista em restauração de sinos raros, pois há poucos profissionais deste ramo no mundo e o trabalho é lento e clínico. O Instituto Brasileiro de Museus também admite que o caso é de difícil solução. A casa que Autran Dourado cita em seu romance foi recuperada e se transformou em espaço social do bairro. A capela sempre recebe pintura. O sino se emudece mais a cada dia, entretanto; fica esquecido, agora merecendo o título de “sino da agonia”, ou melhor, agonizante. A secretária Laura Cristina de Sena, idade, moradora do bairro Colina, também defende o badalar dos sinos. “O toque desperta curiosidade, comentário e curiosidade. Eu amo o toque do sino”.

O eco que se perde através dos séculos já sente o efeito do tempo; o manejar dos sinos começa a se perder. “A maior parte dos sineiros é formada por meninos que têm pouca instrução na ação do toque”, afirma Francisco. Por isso, os mais capacitados dos tocadores de hoje, cometem erros, completa. O aposentado Elias Gomes Camacho, 61 anos, morador da Rua das Mercês, no Centro de Mariana, concorda com Francisco. “Antigamente era uma senhora que tocava o sino da Igreja das Mercês, e tocava muito bem”, lembra, e completa. “Mas, hoje, quem toca são uns me-

ninos que não têm noção nenhuma; o que fazem é barulho!”. As palavras da estudante de Letras, Thais Guerra Campolina, 20 anos, que mora na Praça Gomes Freire, ao lado da Praça Minas Gerais, se assemelham as de Elias. “Eles (os tocadores de sinos) começam e não param, não têm ritmo, é muito incômodo”. Já o aposentado Roberto Carvalho, 61 anos, morador da Rua das Mercês, não se incomoda. “Aprendi a conviver com o som, além disso a vida já tem tanta poluição sonora. Essa acaba sendo mais uma”.

Para a auxiliar administrativa, Maria Aparecida Roberta, 53 anos, que mora no Barro Preto, não há do que reclamar em relação aos sinos. “A gente que é da terra sabe a tradução dos toques. Eles nos lembram dos parentes que se foram, da nossa infância...”, afirma, saudosa. O sineiro Francisco de Assis, ao falar do tempo que tocava, sorri. “Nós tocávamos de graça, as crianças corriam pra ouvir o sino”, diz o “guardador de sons” que aprendeu com os mestres, como Zé Xiringa, Fancy, Caiacu, Diogo da Conceição, Chico Cidade, Mané Rita, Zé

Supimpa... “Todos exímios tocadores de sinos de Mariana”, elogia, emocionado, ao lembrar de seus mestres.

ALLAN ALMEIDA

Lucas Lima

O badalar dos sinos ecoa pelos vales de Mariana desde sua fundação. Uma linguagem que canta e alegra os moradores. Para quem decifra seus significados, os chamados dos sinos convidam os fiéis à prece, informam anúncios fúnebres, festividades, grandes eventos sociais, religiosos ou históricos. O toque dos sinos requer uma técnica apurada, passada de geração para geração. “O tocar do sino tem uma arte, não é um simples barulho”, diz o sineiro aposentado Francisco de Assis Santos. Mas essa arte


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