SUMÁRIO
EXPEDIENTE - 4
CARTA AO LEITOR - 5
JOVENS COM TDA/H E S EU FUTURO ACADÊMICO - 6
BATALHA DE HIGOR SOUZA COMO ATLETA PCD DE
E-SPORTS NO COUNTER STRIKE - 8
INSTITUIÇÃO PARA PCD EM JAÚ PASSA POR FASE DE REESTRUTURAÇÃO - 10
A SINDROME DE DOWN NA GASTRONOMIA - 12
PERSONAGENS DE QUADRINHOS GANHAM
MAIOR REPRESENTATIVIDADE - 14
EDIÇÃO:
Nicolle Augustinho Ferraz
Vitória Miriã Navarro
DESIGN E DIAGRAMAÇÃO:
Paulo Roberto Piassi REPORTAGEM:
Ana Luiza Palma Marques
Andressa Santana Vasconcelos
Ithalo Ricardo Rodrigues Salgado
Lucas Cauã Tavares de Godoy
Lucas Pereira Leite Nogueira
Maria Julia Alves Gomes
Nicolle Augustinho Ferraz
Paulo Roberto Piassi
Vitória Miriã Navarro
CARTA AO LEITOR
Caro leitor.
Ao abrir essa revista você está tendo o compromisso de se especializar em assuntos sobre pessoas PCD, problemas de saúde mental e instituições para tratamento. Essa parte da população está escondida e, aqui, temos como objetivo dar ênfase a eles.
Como disse o escritor George Well- “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”. Diante disso, digo de coração que não estamos aqui para fazer propaganda dessas pessoas, mas sim mostrar ao mundo sua beleza e importância. Esperamos que você, querido leitor, veja luz onde geralmente está escuro na sociedade.
Se por acaso se identificou com algum dos casos de saúde mostrados aqui, procure um especialista, cuide de si mesmo. Acredite, não há nada de errado com isso. Todos precisamos de um tempo para nossa saúde física e mental
Por fim, gostaria de parabenizar todos os responsáveis que fizeram essa revista existir, todos foram de suma importância e sem eles, tudo isso não seria possível!
JOVENS COM TDA/H E SEU FUTURO ACADÊMICO
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade visto sob uma perspectiva do portador
Ana Luiza Palma Marques
O TDA/H é um transtorno neurobiológico de causas genéticas, reconhecido oficialmente pela OMS (Organização Mundial da Saúde), através da CID-10 (Classificação Internacional de Doenças). Ele traz consigo a condição de déficit de atenção, hiperatividade e impulsividade.
Dentre os sintomas que o transtorno trás, podem-se destacar alguns mais relevantes como: não prestar atenção em detalhes; ter dificuldade para manter a atenção em tarefas; parecer não escutar quando alguém lhe dirige a palavra; não seguir instruções até o fim; ter dificuldade para organizar tarefas e atividades; evitar tarefas que exijam esforço; remexer as mãos ou os pés; ter sensações de inquietude; não conseguir ficar parado por muito tempo; falar demais; dar respostas precipitadas antes das perguntas; ter dificuldade em esperar a sua vez; se intrometer ou interromper os outros quando estão em atividades em andamento. Esses, dentre outros, geralmente transformam a vida do portador em um verdadeiro caos, às avessas, levando o indivíduo a querer fazer tudo e ao mesmo tempo sem conseguir finalizar nada, gerando estresse e ansiedade ao portador, de acordo com o psiquiatra renomado, Renan Costa.
Uma pesquisa da OMS de 2020 mostra que no Brasil, o transtorno acomete entre 5% e 17% da população brasileira.
Baseados na Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA, s/d), podemos salientar que discorrer sobre o TDA/H nos dias de hoje tem se tornado cada vez mais comum na nossa sociedade, gerando um pico em porcentagem de casos diagnosticados ou suspeitos, tanto de crianças como em adolescentes e adultos. De acordo com o pesquisar Eduardo Teixeira, em seu livro publicado em 2015.
Durante muito tempo ouviu-se falar sobre crianças agitadas, mal educadas, que os pais não colocavam limites, crianças mimadas, ou em resumidas palavras “crianças difíceis”. Com o passar do tempo e o avanço dos estudos em todas as áreas de saúde, entende-se cada vez mais que as crianças ditas “difíceis” poderiam sim ter algumas condições especiais de desenvolvimento e não somente um defeito de controle moral.
Por muito tempo este transtorno foi direcionado somente às crianças, segundo Vinocur (2008), porém com o passar do tempo estas crianças foram crescendo e começou-se a perceber que o TDA/H pode persistir durante a adolescência e vida adulta, gerando muitas dificuldades na qualidade de vida.
Muitos acadêmicos universitários acabam demorando mais tempo para finalizar o curso, muitos não o concluem. É certo que as dificuldades da vida acadêmica permeiam a todos os estudantes, todavia de modo especial os portadores do transtorno.
Cabe ressaltar que as pessoas com TDA/H podem levar uma vida dita normal, desde que tenham o tratamento e o acompanhamento correto, tanto por médicos, psicólogos, familiares e sociedade.
Mas quais são as dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos, diagnosticados com TDA/H, dentro da sua rotina acadêmica?
Em entrevista, jovens universitários que estudam na Universidade do Sagrado Coração em Bauru - São Paulo, esclarecem como é viver sendo portadores do TDA/H e quais suas expectativas de um futuro promissor.
Maria Eduarda Manfrinato Leão, 18 anos, que está cursando o seu 1º ano do curso de design, descobriu ser portadora do transtorno aos 2 anos de idade. “Quando pequena eu era muito hiperativa e difícil de ser controlada, ao longo da minha vida foram feitos diversos testes para médicos e psicólogos, e minha vida gerou em torno de como aprender a lidar com isso”, relata a estudante.
Sobre as dificuldades da vida acadêmica e suas expectativas para o futuro ela diz: “Concluir os trabalhos dentro do prazo é minha maior dificuldade. E como designer e jogadora online, quero me tornar criadora de Skins e artes.”
Sofia de Campos Urbano, 20 anos, que está cursando seu 3º ano do curso de jornalismo, descobriu ser portadora do transtorno aos 17 anos de idade. “Com a vinda dos vestibulares percebi uma maior dificuldade de aprendizado, assim foram feitas diversas consultas até o diagnóstico final. Foi uma nova adaptação que não foi e ainda não é fácil”, relata a estudante.
Sobre as dificuldades da vida acadêmica e suas expectativas para o futuro, ela diz: “Matérias teóricas não entram muito na minha cabeça e dependendo das práticas, me deixam confusa e perdida, eu evito o máximo que posso. Mesmo assim, vou seguir o ramo do entretenimento, seja TV, rádio ou web.”
Caio Henrique Freitas, 18 anos, que está cursando seu 2º ano do curso de engenharia de produção, descobriu ser portador do transtorno aos seus 14 anos de idade: “Assim que entrei no ensino médio surgiram alguns problemas psicológicos e eu sentia muita dificuldade na escola, então meus pais decidiram me levar em uma psicóloga e após algumas consultas, foi fechado meu diagnóstico com ansiedade e TDAH”, relata o estudante.
Sobre as dificuldades da vida acadêmica e suas expectativas para o futuro, ele diz: “Ao mesmo tempo que não consigo ficar quieto, também não consigo fazer muita coisa, sempre fico avoado e isso me atrapalha demais. Ainda não sei ao certo qual área quero seguir, mas sempre lutei contra meus problemas, com certeza ser portador do transtorno não vai me impedir de ter sucesso.”
Bianca Prado, 21 anos, que está cursando o seu 4º ano do curso de Psicologia, descobriu ser portadora do transtorno aos 17 anos de idade. “Eu tinha muita dificuldade na escola, então uma professora indicou para minha mãe procurar uma psicóloga. Em 2017 fecharam meu diagnóstico com dislexia genética e TDAH”, relata a estudante.
Sobre as dificuldades da vida acadêmica e suas expectativas para o futuro, ela diz: “Minha dificuldade é manter a concentração e lembrar dos assuntos estudados. E eu escolhi Psicologia para poder ajudar pessoas nas mesmas condições que eu, assim quero me especializar em educação especial para dislexia e TDAH em crianças, e levar esses conhecimentos para a sociedade.”
BATALHA DE HIGOR SOUZA COMO ATLETA
PCD DE ESPORTS NO COUNTER STRIKE
Higor “Smk” conta as dificuldades que enfrentou para começar a se destacar no nível semiprofissional sendo um competidor PCD
Lucas Pereira Leite Nogueira
Contra todas as apostas, Higor Souza – conhecido como “Smk” –, natural de Minas Gerais mas morando no Estados Unidos atualmente, hoje é um dos jogadores semiprofissionais PCD do game Counter Strike: Global Offensive com maior destaque no Brasil. Higor nasceu com uma condição raríssima que não possibilitou o desenvolvimento de braços e com pernas sem o osso do fêmur, o que gerou dificuldade em seu crescimento.
Jogando com os pés e fazendo transmissões na Twitch, hoje Smk passa cerca de cinco a dez horas de treino como jogador semiprofissional e tem se especializado cada vez mais no Counter Strike, que é um game de FPS (first person shooter), atraindo um público jovem que o assiste e apoia com doações.
Quando nasceu e no decorrer de sua trajetória de vida, ouviu que nunca poderia andar de médicos, nas escolas escutou de professores dizendo que sem as mãos não alcançaria algum posto por não ter tido uma formação “adequada”. No entanto, hoje em dia Higor é destaque como atleta e faz parte do time Wave Rises de CS:GO.
Em 2019, já morando nos Estados Unidos, Higor teve uma interrupção em sua carreira como gamer ao sofrer fraturas nas pernas ao sair às pressas de sua escola em Nantucket após receberem falsos alertas de um atirador. Higor saltou do primeiro andar do edifício da sua escola e acabou quebrando as pernas. Passou por cirurgias e atualmente está de volta a sua carreira.
Questionado sobre se encontrava dificuldades ou limitações ao jogar em um nível competitivo com sua condição, Higor respondeu que até havia algumas, mas que com muito treino conseguia sanar. “Até tenho limitações, mas como qualquer outra pessoa dentro do jogo que tenham dificuldades, eu tenho treinar e praticar o máximo que eu consiga, para que esses obstáculos não se aparentem tanto e eu consiga alcançar o nível da maioria do pessoal que compete sem qualquer deficiência”, respondeu Higor.
Na vida cotidiana, Higor enfrenta suas dificuldades tentando ao máximo se adaptar. Acredita que com muita garra, determinação e adaptação as pessoas podem chegar onde quiserem.
SUPERAÇÃO DE DESAFIOS NA CARREIRA
Com o acidente sofrido em 2019 durante o possível atentado na escola, o atleta Higor SMK teve de ficar afastado dos jogos e de seus treinos enquanto estava fazendo fisioterapia para se recuperar das lesões. Ele se sentiu em um momento sombrio. “Foi um tempo muito difícil, eu não podia fazer nada. Fui para fisioterapia e voltei a andar em quatro meses, minha mãe me ajudou demais. Foi difícil, mas sabia que era mais um desafio que eu superaria”, contou Higor Souza.
Hoje totalmente recuperado e de volta à sua carreira, Higor ainda só não conseguiu suas próteses de braços que sonha há tantos anos, no entanto, um colega de sua escola Nantucket High School está auxiliando com uma proposta de arrecadação pela comunidade da cidade pelo site GoFundMe.
INSTITUIÇÃO
FASE DE REESTRUTURAÇÃO
Estar de bem com o meio ambiente e quitar as dívidas deixadas por direções anteriores estão no plano da AMAI
Quandose fala em PCD ou pessoa com deficiência, você se inclui nessa população?
Talvez você não, mas o futuro é incerto, e todos estamos sujeitos à condição. Essa é a reflexão que Paulo Correa, diretor da AMAI, Associação e Movimento de Assistência Ao Individuo Deficiente, traz a todos que visitam a instituição.
A AMAI, é uma OSC (Organização da Sociedade Civil) localizada na cidade de Jaú, interior de São Paulo, aproximadamente 50km de Bauru. A Instituição, há 37 anos, presta assistência à comunidade de deficientes físicos, visuais, auditivos e múltiplos da cidade. Os trabalhos são realizados como um centro dia, local onde o deficiente pode encontrar um ambiente adaptado para participar de atividades diversas, como, por exemplo: rodas de conversas, aulas de habilidades como pintura e música, além de consultorias individuais para o usuário entender melhor sua condição e ter ciência de seus direitos e deveres na sociedade.
A função da instituição é dar suporte e acolher a pessoa com deficiência e aqueles que estão em
processo de se tornar deficiente. Paulo conta da visita que recebeu de uma senhora que procurou a instituição após ser diagnosticada com diabetes. Seu médico lhe deu a premissa de que em alguns meses ela perderá a visão. “Ela é uma mulher que, até então, enxergava normal. De repente, por uma questão de saúde, ela está perdendo a visão gradativamente. Imagine o pânico que ela não está por dentro... Ela veio nos procurar para um apoio que ela não achou em nenhum outro lugar”, conta Paulo. O apoio que a instituição oferece vai desde as orientações para entrar com o pedido de benefícios na prefeitura até orientação vocacional no esporte.
A Prefeitura de Jaú oferece à AMAI um professor de Educação Física semanalmente para conversar com os usuários do serviço sobre qual sua melhor maneira de se inserir no mundo dos esportes. O diretor ainda conta que eles trabalham com o modelo cubano de apresentação ao esporte, em que o indivíduo é apresentado a maior variedade possível de modalidades e assim define qual praticar.
Cleiton Lopes tem 29 anos e é corredor paralímpico profissional. Começou na entidade há 15 anos através de sua irmã, que assim como ele e seus outros dois irmãos nasceu com baixa visão. Os irmãos são inseridos na AMAI em quase todas as atividades, conta Cleiton. “Nós participamos de projetos de mosaico, coral, pintura em tela e tudo mais”.
Mas é no esporte que Cleiton diz se garantir. Já foi campeão brasileiro em Fortaleza, conduziu a tocha olímpica por Jaú em 2016 e treina religiosamente para alcançar seu sonho de representar o Brasil nas Paraolimpíadas. “Tudo com o suporte da entidade”, complementa o paratleta.
O prédio da instituição conta com várias salas multiuso que se convertem em salas de convivência, de música, a maior biblioteca de livros em braile da região e sala do administrativo que conta com, além do Diretor, mais duas assistentes sociais que atendem os usuários.
Ana Gabriela e Ana Claudia estão na instituição há cerca de 7 meses e diariamente enfrentam os desafios de trabalhar em uma instituição como a AMAI. “Nosso objetivo aqui é tentar suprir as injustiças nas quais essas pessoas são submetidas”, conta Ana Claudia. Ana Gabriela ainda salienta a sensação de realização de trabalhar na instituição. “É sempre um desafio muito grande trabalhar com a perspectiva de garantir direitos sociais, mas a gente recebe um retorno deles (dos usuários) muito grande e isso nos satisfaz ao realizar um trabalho bem-feito”, afirma.
A REESTRUTURAÇÃO
Segundo a diretoria da AMAI, a fase em que a instituição se encontra agora é de reestruturação. No final de 2019, a antiga direção deixou dívidas que passavam dos 280 mil reais, multas com a prefeitura e processos trabalhistas, o que levou a Prefeitura de Jaú a cortar a verba direcionada à instituição. Atualmente a AMAI sobrevive com receita própria gerada através de doações, recolhimento de notas fiscais e venda de reciclagem. A reciclagem é um dos pontos principais da reestruturação, segundo a direção da instituição, eles trabalham para deixá-la cada vez mais amiga da natureza junto com a FATEC (Faculdade de Tecnologia de Jaú) que tem projetos de iniciação cientifica para a autossuficiência do prédio. Aos poucos as dívidas foram renegociadas e a instituição trabalha firmemente para manter o financeiro em dia.
“O controle financeiro hoje é diferenciado, nós temos um escritório de contabilidade que faz nossas contas e está desenvolvendo um sistema de gerenciamento financeiro. Nós não estaremos aqui para sempre, então fortalecendo essa base financeira, vai impedir que um próximo venha a fazer algo de errado, se uma das linhas de segurança for rompida, é fácil de notar”, conta Dagoberto Alasmar, presidente da AMAI.
PARA PCD EM JAÚ PASSA PORFoto: Cleiton correndo a Running Bauru em 2015 Paulo Piassi Foto: Sala de Convivência Foto: Paulo Correa no acervo de livros em braile
RECEITA DO OMELETE ESPECIAL DE RAYSSA:
Receita do Omelete especial de Rayssa:
Ingredientes:
-2 ovos
-1 colher de chá de sal, pimenta e orégano
-1 fio de azeite