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| GAZETA REGIONAL |11 a 17 de junho de 2022 |
CIDADES
VULNERABILIDADE MORADORES, QUE VIVEM EM SITUAÇÃO CRÍTICA NA OCUPAÇÃO, RELATAM SUAS HISTÓRIAS
Vila São Francisco: uma Mogi em debate
Área segue ocupada por centenas de pessoas Além de viver em uma condição extremamente delicada, pelo local onde vive e por conta da idade, Souza ainda é colostomizado e aguarda para realizar uma cirurgia. Questionado pelo motivo de estar ali, com muita simplicidade Souza respondeu: “Não tenho moradia, minha ‘fia’, aí, nessa ocupação, eles me de-
SITUAÇÃO
Centenas de barracos tomam conta da área ocupada
ram um barraco e eu vim.” A situação retrata a realidade de muitos que vivem ali. A difícil condição financeira é motivo de grande parte das mais de 300 famílias, segundo os líderes do local, morarem ali. Esse é o caso da família de Gabriel Costa, 27, que durante a pandemia não conseguiu pa-
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“Não tenho moradia, minha ‘fia’, aí, nessa ocupação, eles me deram um barraco e eu vim” Valdomir de Souza, aposentado
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Um vídeo que repercutiu nas redes sociais na última semana, em Mogi das Cruzes, mais uma vez trouxe à tona o caso da ocupação da Vila São Francisco, cujas famílias resistem no local desde março de 2021. As imagens de aproximadamente 10 segundos mostravam o secretário municipal de Segurança Pública, Toriel Sardinha, sacando a arma próximo a um munícipe na ocupação. O caso chamou a atenção da GAZETA, que decidiu entender como é a realidade das pessoas que vivem naquele espaço. A reportagem passou um dia na comunidade e conheceu diferentes moradores e suas histórias. Um dos casos que mais chamou a atenção foi o de Valdomir de Souza, um senhor de 75 anos. O idoso sofreu um infarto ali mesmo na ocupação, no seu ‘barraco’, sendo levado às pressas para o hospital. Após ficar internado 13 dias, ele acabara de chegar quando a reportagem visitou o local, na quinta-feira (9).
FOTOS: BRUNO ARIB
Por Júlia Andrade reportagem@leiaogazeta.com.br
gar as contas e o aluguel do lugar em que morava e se mudou para a Vila São Francisco. Hoje, Costa trabalha informalmente em “bicos” que ele arruma. O homem mora com a mãe, o filho de um ano e a esposa que está à espera do segundo filho do casal. Os moradores da vila vivem em condições subumanas, sem saneamento básico, sem energia elétrica, com exceção de ligações clandestinas, sem asfalto ou qualquer outra estrutura. É literalmente um lugar ocupado e sem assistência. A área, que pertence à empresa Trefiltubo, foi ocupada inicialmente por grupos de fora da cidade, como sustenta a prefeitura. No local, a situação é de extrema precariedade e risco à saúde pública, com a inexistência de fornecimento de água e de esgotamento sanitário, entre outros serviços.
Secretário de Segurança fala sobre a ocupação e a forma como ocorreu uma operação da GCM Em entrevista à GAZETA, o secretário de Segurança Pública de Mogi das Cruzes, Toriel Sardinha, falou sobre o caso que aconteceu no sábado (6), na Vila São Francisco, além de trazer dados sobre a ocupação e a posição da prefeitura em relação à comunidade. “O vídeo que circula pela internet mostra apenas alguns segundos de uma operação que durou horas”, defendeu o chefe da Pasta. Sardinha, que é delegado, está sendo acusado por telespectadores do vídeo e moradores da comunidade de abuso de poder por apontar uma arma para um homem com transtornos mentais. No entanto, o secretário afirma que não foi isso que aconteceu.
De acordo com o servidor público, a equipe da prefeitura, com a GCM, se deslocaram ao local para fazer a desapropriação de cerca de 100 barracos que estavam vazios, sem moradores. Contudo, no meio da ação, ao tentarem demolir um dos barracos, a comunidade f icou descontente e questionou a ação. Foi nesse momento, segundo Sardinha, que o morador ultrapassou a linha de isolamento e se aproximou de armas brancas que pertenciam a um dos barracos destruídos. Ainda segundo o relato do secretário, ao se deparar com a situação, ele sacou a arma para própria defesa e a manteve virada para baixo e com o dedo fora do gatilho. O relato
traz ainda a versão de que o morador, antes do acontecimento, teria feito ameaças ao servidor público. Em relação à prefeitura, o secretário explicou que a administração municipal já acompanha o caso da ocupação há um tempo e tenta prover medidas para resolver o embate. Conforme as informações, o intuito é realizar o levantamento dos moradores que realmente precisam de moradia e, após isso, buscar alternativas de acolhimento e assistência social. A prefeitura disse ainda que, além de acompanhar a situação, também já realizou um mutirão do Mogi Conecta Empregos no local para promover emprego aos moradores da comunidade. (J.A.)