Jornal da Facom - 4ª Edição

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Lara Perl | LabFoto

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UFBA

Assembleia de docentes da UFBA do dia 26 de Junho consolida greve que envolve universidades de todo o país

UFBA em greve GRADUAÇÃO    PÁGINA 11

POLÍTICA UNIVERSITÁRIA    PÁGINA 03

SEMIÁRIDO    PÁGINA 08

Curso de férias ajuda a recuperar tempo perdido

Congresso retoma demandas dos estudantes da UFBA

Semiárido é foco de pesquisas inovadoras


PARA NÃO SE PERDER...

onda digital PÁG. 04 E 05

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sentimento de insatisfação com os salários e as condições de trabalho, por parte dos docentes universitários, cristaliza-se agora, na UFBA, com a adesão à greve por parte do sindicato da categoria, unificando assim a luta que um setor dos docentes tinha deflagrado semanas atrás. Para além das diferenças políticas, espera-se maturidade suficiente de ambas as partes, do governo e das entidades representativas da classe, para encaminhar da melhor forma a pauta reivindicativa dos professores, mais do que legítima. As universidades brasileiras são principais responsáveis pela produção de conhecimento e desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. E graças ao trabalho de pesquisa, ensino e extensão (que mostramos aqui, em pequenas doses) o País ocupa lugar de liderança mundial. Os estudantes não ficam alheios a esta situação. Eles ganham voz em apoio às lutas docentes e avançam nas suas reivindicações durante o 7º Congresso de Estudantes da UFBA. Equipes interdisciplinares desta instituição, junto com UEFS e UFRB, inovam com tecnologias para unir o desenvolvimento do semiárido ao cuidado do meio ambiente. Este último preocupa, também, aos estudantes e professores de Computação, engajados na reciclagem de lixo tecnológico, transformando-o em ações educativas e ecológicas. É a vida universitária baiana refletida nestas páginas, nesse delicado momento de mobilização, unidade e luta.

Lara Perl | LabFoto

política universitária PÁG. 03

labmundo PÁG. 06 Educação PÁG. 07 semiárido PÁG. 08, 09 e 10 graduação PÁG. 11 revalidação de diplomas PÁG. 12 e 13 política universitária-II PÁG. 14

Boa leitura!

perfil PÁG. 15 entrevista PÁG. 16

Na matéria do JF n.3 sobre a Fórmula SAE, do Curso de Engenharia Mecânica, o nome da equipe que representa a Bahia é “Fast Track” e não “Fast Car”.

Produção da disciplina Oficina de Jornalismo Impresso, do 3º semestre (Semestre 2012.1) - Quarta edição, ano 2012

Junho 2012 Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia Rua Barão de Geremoabo s/n, Campus de Ondina CEP 40.170-115 Salvador - Bahia - Brasil

Reitora: Dora Leal Rosa Diretor da Facom: Giovandro Ferreira Coordenação Editorial: Graciela Natansohn-DRT/BA 2702 Chefe de redação: Lara Perl Revisão: Carlene Fontoura Edição de fotografia: Lara Perl Projeto Gráfico: Amanda Carrilho e Gabriel Cayres / Edufba Diagramação: Adelmo Menezes Queiroz Filho / Edufba Repórteres (turma 2012.1): Adriele Souza, Agnes Cajaiba, Alles Alves, Alexandre Wanderley, Carol Prado, Daniel Silveira, Dudu Assunção

Edvan Lessa, Fábio Arcanjo, Fabrina Macedo, Gislene Ramos, Guilherme Alves, José Calasans, Júlia Belas Lara Bastos, Lara Maiato, Lara Perl, Luana Amaral Luiz Fernando Teixeira, Marília Cairo, Rafael França Tais Bichara, Thamires Tavares, Thais Motta, Tiago do Nascimento, Val Benvindo. Contato: jornaldafacom2012@gmail.com Distribuição gratuita


Agora vai? Congresso de Estudantes da UFBA resulta em extensa lista de reivindicações, mas mesmo assim não dá para gerar muitas expectativas Guilherme Alves

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Lara Maiato | LabFoto

o longo do 7º Congresso de Estudantes da Isso é responsabilidade do Governo Federal”, opiUniversidade Federal da Bahia (UFBA), reana. Para contornar esse problema, o DCE planeja lizado entre os dias 29 de maio e 1º de junho, realizar uma rodada de conversas com a Reitoria a aprovação de cada conjunto de reivindicações e os pró-reitores da UFBA. “Eles poderiam presera recebida com euforia e otimismo pela maioria sionar o que não é de alçada da UFBA, mas do dos presentes no auditório do PAF III – Pavilhão Ministério da Educação (MEC), dos professores e de Aulas da Federação, em Ondina. Os pedidos dos funcionários. O DCE é representativo. Então, dos alunos contemplam questões que vão destemos que dialogar com as demais instâncias da de assistência estudantil a incentivos ao esporte. Universidade”, completa. Essas reivindicações não são novidade no moviO Congresso mento estudantil, portanto já sendo discutidas há algum tempo. Durante o Congresso, o campus de “As reivindicações deste ano são Ondina da UFBA foi o lugar para “Todo mundo quer mais as mesmas de 2009 e 2011 (quandiversos debates entre os estuprofessores, mas não é a do ocorreu o último congresso de dantes. Grupos de trabalho e megente que vai viabilizar estudantes da UFBA)”, aponta sas de discussão foram realizados a vinda deles. Isso é Yasmin Ferraz, coordenadora-genas salas dos PAF I, III e V, até responsabilidade do ral do Diretório Central dos Estumesmo na Praça das Artes. Houve Governo Federal” dantes (DCE) da UFBA. variedade nos assuntos abordaYasmin Ferraz, coordenadoraPara Yasmin, o êxito dos obdos, mas dois temas foram recorgeral do DCE jetivos estabelecidos esbarra rentes: cotas raciais e assistência nas instâncias superiores da Uniestudantil. O documento final do versidade. “Todo mundo quer mais professores, Congresso será divulgado na página do evento em mas não é a gente que vai viabilizar a vinda deles. www.conufba.wordpress.com

A frase de Wanderson Pimenta, coordenador-geral do DCE, dita em um pronunciamento feito ao longo da abertura do Congresso, dá noção de como deve ser conduzida, daqui pra frente, a gestão do DCE: “Agora é hora de implementação”. A chapa Ciranda de Lutas foi eleita em 6 de dezembro de 2011 com duração de ano, mas segundo os coordenadores, isso não implica na descontinuidade do que foi aprovado em gestões anteriores. Greve O Congresso de Estudantes também teve papel fundamental sobre a mobilização estudantil em torno da paralisação dos docentes da UFBA. No último dia do evento, a greve estudantil foi aprovada durante a Assembleia Geral dos estudantes. “O aluno que ainda tinha dúvidas sobre a importância das pautas, percebeu a importância delas e sentiu a necessidade de entrar em greve, de se mobilizar”, reconhece Yasmin. A pauta da greve ainda mostra que as demandas estudantis são recorrentes ao longo dos últimos anos. Dos 50 pontos da carta de reivindicações, 37 surgiram no ano passado, sendo incluídos, posteriormente, 13 adendos por conta de novas demandas. Participação dos estudantes De acordo com DCE, pouco mais de 600 estudantes se cadastraram no Congresso e tiveram a oportunidade de participar dos quatro dias de discussões. Esse é um número pequeno em comparação ao total de estudantes da UFBA, mas a participação desse ano representou avanço em relação às edições anteriores. “A gente focou muito na divulgação, expondo outdoors e realizando chamadas de vídeo com o cantor Criolo para chamar os estudantes”, finaliza Yasmin.

Mais de 600 estudantes participaram do Congresso JORNAL LABORATÓRIO | FACOM/UFBA

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Ana Paula Santos | LabFoto

Enxergando o mundo além de bytes Estudantes da UFBA coordenam e executam projetos sociais na área de informática O bolsista Rodrigo Corrêa, do E-Lixo, pratica o que aprende em sala de aula

Fábio Arcanjo Fabrina Macedo

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a pequena sala 5 do Restaurante Universitário da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Ondina, podem ser encontrados processadores, monitores, teclados e outros tipos de componentes de computadores. É neste lugar que se situa a sede do Programa Onda Digital (POD), vinculado ao Departamento de Ciências da Computação (DCC) da Universidade. O Onda (como é carinhosamente chamado por seus integrantes) surgiu em 2004, por iniciativa da professora de Ciências da Computação e atual coordenadora do programa, Débora Abdalla. No projeto, estudantes utilizam lixo eletrônico para serem aproveitados em ações de inclusão digital voltadas para escolas e comunidades carentes de Salvador e Região Metropolitana. Atuação em diferentes áreas Em um dos principais projetos do Programa, o Onda Solitária de Inclusão Digital, são ministradas oficinas de informática e software livre

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em comunidades de Candeias. Para as aulas são As doações atualmente podem ser feitas usados computadores doados, visto que a UFBA na sala do programa. O grupo não possui renão disponibiliza seus equipamentos para secursos para investir em outros postos de corem levados até as comunidades. leta e uma das dificuldades é a Mas, o número de doações ultrafalta de espaço para armazenar passou as expectativas e o gruo material recebido. “Não temos po percebeu que seria necessário estrutura física para alocar tanAté 75% das peças descartar alguns aparelhos. ta coisa”, pontua Iaslane Bonde um computador Com essa demanda, surgiram fim, aluna do 3° semestre de Ciusado podem ser duas novas iniciativas: o Onda ências Biológicas. reaproveitadas, Limpa, que visa conscientizar as Os membros reclamam da sem prejudicar a pessoas sobre a importância do falta de incentivo financeiro por natureza descarte ecológico do lixo eleparte da Universidade. A verba Rodrigo Corrêa, estudante trônico e o E-Lixo, no qual o maque eles recebem provém do Edide Ciências da Computação e um dos bolsistas do projeto terial recebido é separado para tal PROEXT (MEC/SISu), da Próreciclagem e reaproveitamento -Reitoria de Extensão da UFBA, em outras ações, como o próprio de 2011, válido por um ano. “AgiOnda Solidária. mos de forma independente. “Até 75% das peças de um computador Precisamos preencher certos pré-requisitos usado podem ser reaproveitadas, sem prejupara concorrer ao edital. Se não formos aprodicar a natureza”, afirma Rodrigo Corrêa, esvados, não temos bolsistas”, afirma Tiago tudante de Ciências da Computação e um dos Moura, estudante do 6° semestre de Ciências bolsistas do Onda. Econômicas.


Ana Paula Santos | LabFoto Ana Paula Santos | LabFoto

Sidnalva Flores, do Onda Digital, trabalha na reciclagem de computadores

Aprendizado pessoal e profissional “Como estudante de Economia, o projeto me fez entender um pouco das questões socioeconômicas da região e melhorou minha visão a respeito de problemas que estão acontecendo”, diz Tiago. Iaslane acrescenta que além do contato com a área de informática, a participação em palestras ambientais tem sido importante para seu futuro profissional. O projeto é aberto a estudantes da UFBA e de fora dela. “Temos hoje 23 bolsistas que são alunos de graduação de diversos cursos, pessoas de Biologia, de Artes, além de três voluntários do ensino médio”, diz Rodrigo. Os estudantes são divididos conforme suas aptidões e interesses em uma das coordenações: técnica, pedagógica, de comunicação, executivo-financeira e executiva. Segundo os participantes, o pré-requisito é um só: querer trabalhar em prol do social. Estudantes da UFBA aproveitam acesso gratuito a internet no RU JORNAL LABORATÓRIO | FACOM/UFBA

ONDA DIGITAL | PÁGINA 5


Thamires Tavares | LabFoto

Tem Relações Internacionais na UFBA? Compreender e analisar o sistema internacional contemporâneo é o principal objetivo do Labmundo Adriele de Jesus Sousa

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om o destaque que o Brasil vem tendo no cenário político internacional, cresce o interesse pelas Relações Internacionais (RI). Neste contexto, o Laboratório de Análise Política Mundial (Labmundo) se propõe a analisar e compreender os fenômenos sociopolíticos, econômicos e culturais que compõem o sistema mundial contemporâneo.

Criado pelo professor Carlos Milani, em mento em que se busca maior interação com o 2006, Labmundo é uma rede de grupos de cenário internacional”. pesquisas com sedes (conhecidas como antePara divulgar suas pesquisas e discutir temas nas) na Bahia e no Rio de Janeiro. atuais, o núcleo realiza as Plenárias Na Universidade Federal da Bahia Labmundo, que acontecem men(UFBA), o grupo tem dois escrisalmente no IHAC. Nos últimos tórios, um na Escola de Adminisencontros, discutiram sobre Timor tração e outro no Instituto de Leste, Mercosul e impactos da Copa O Labmundo é o Humanidades, Artes e Ciências do Mundo no Brasil. Mas o evento Professor Milton Santos (IHAC). “labmundiano” de maior alcance é único núcleo de Trata-se de uma iniciativa transa Semana Baiana de Relações Inpesquisa na Bahia disciplinar, como enfatiza a proternacionais, um evento bianual onde se discute fessora Elsa Sousa Kraychete, coque reúne pesquisadores nacionais exclusivamente ordenadora do Labmundo-Antena e de outros países na Bahia. Relações Bahia. Por isso, é comum ver pesO Labmundo já promoveu um Internacionais quisadores das áreas de EconoCurso de Especialização em Relamia, Direito, Engenharia, Comunições Internacionais e se prepara cação, dentre outras, trabalhando para mais uma edição do curso, juntos. O grupo fornece estudos ainda neste ano. O mesmo grupo científicos que visam fortalecer também contribuiu com a literao processo de internacionalização da UFBA, tura sobre o assunto, publicando as obras Realém de incentivar o estudo das RI. Mateus Sillações Internacionais - perspectivas francesas, va, mestre em Administração e pesquisador do Globalização e Novos Atores: a paradiplomacia Labmundo, lembra que “Salvador vive um modas cidades brasileiras, A Política Mundial Con-

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Mateus Silva, mestre em Administração, pesquisador do Labmundo

Planos Futuros Em julho de 2012 vai acontecer, na UFBA, o curso sobre Desenvolvimento e Cooperação Internacional, em parceria com a Universidade do Michigan. O grupo almeja a criação de um Programa de Pós-Graduação stricto sensu e um curso de graduação, ambos RI.

temporânea: atores e agendas na perspectiva do Brasil e do México, dentre outras. Além disso, o Labmundo fez tradução para a língua portuguesa de algumas obras francesas que são referência na área de RI.

JORNAL LABORATÓRIO | FACOM/UFBA


A Universidade vai ao campo Aana Paula Santos | LabFoto

Professora Nair Casagrande fala sobre trabalho realizado no Assentamento Nova Panema, ligado à ACC Educação Popular em Área de Reforma Agrária A realidade dos sujeitos é o elemento inicial para a construção de conhecimento, considerando suas experiências e o diálogo com a Universidade

Que respostas as ACCs dão às comunidades?

ACC é uma experiência rica e nem todas as instituições a incentivam. É uma atividade que permite o diálogo entre ensino, pesquisa e extensão, e isso supera a distância entre teoria e prática. O estudante conhece as problemáticas das comunidades e tem que dar respostas a partir desse contato e de suas reflexões pessoais. Os assentamentos do MST são terrenos férteis para contribuir com a transformação da realidade onde vive a classe trabalhadora brasileira. O MST é um espaço avançado para o encontro entre as referências teóricas e as propostas de trabalho que a gente desenvolve para a educação no campo.

Daniel Silveira Thais Motta

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rofessora da Faculdade de Educação (Faced) na Universidade Federal da Bahia (UFBA), gaúcha e companheira das causas da terra. Com esse currículo, Nair Casagrande realiza, desde 2007, a Atividade Curricular em Comunidade (ACC) Educação Popular em Área de Reforma Agrária Desafios do Campo em conjunto com o Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas Agrárias (NEPPA). O projeto, de caráter interdisciplinar, busca o diálogo entre a Universidade e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), percebidos como sujeitos ativos no processo de conhecimento. “A proposta é discutir as problemáticas da reforma agrária usando a educação popular como instrumento”, sugere Nair. Confira a entrevista abaixo:

Como é desenvolvido o trabalho?

O trabalho é realizado no assentamento Nova Panema, próximo ao município Mata de São João (BA), o objetivo é desenvolver oficinas pedagógicas, focalizando aspectos técnicos, didáticos, políticos, que remetam a assuntos de interesse da comunidade usando educação popular. A realidade dos sujeitos é o elemento inicial para a construção de conhecimento, considerando suas experiências e o diálogo com a Universidade. A ACC concentra encontros semanais, visitas ao assentamento e oficinas pedagógicas em escolas. Ter estudantes de diferentes áreas do conhecimento enriquece o processo. JORNAL LABORATÓRIO | FACOM/UFBA

Os assentamentos do MST são terrenos férteis para contribuir com a transformação da realidade onde vive a classe trabalhadora brasileira Quais as principais dificuldades?

A falta de transporte da UFBA para os estudantes. Além disso, temos a necessidade de espaços coletivos para troca de experiências em ACC. Isso acontece apenas em alguns seminários realizado pela Pró-Reitoria [de Extensão].

Como é tratada a criminalização dos movimentos sociais?

Procuramos promover debates sobre esse tema a partir das experiências de outras áreas, para a valorização dos símbolos do movimento. E na sala de aula fazemos uma formação baseada na questão agrária brasileira e na própria história do MST. Quais os principais resultados desses anos de trabalho?

Conseguimos a aprovação no edital de Extensão junto ao Ministério da Educação, angariando cerca de R$ 120 mil, que serão destinados à produção de viveiros, para a construção de maquinário para duas casas de farinha e contribuir com a produção de polpa de fruta para comercialização. A construção da escola do assentamento foi possível após resultado positivo de um processo tramitado no Ministério Público. Além disso, observamos retornos ao desenvolvimento dos trabalhos no assentamento. Nas escolas, as oficinas dos estudantes têm contribuído para diversificar os temas da sala de aula, o que acarreta na formação das crianças e jovens.

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Eu voltarei, viu, pro meu sertão... Professores de universidades baianas atuam com projetos voltados ao desenvolvimento sustentável, à preservação ambiental e ao acesso à água potável no semiárido

Edvan Lessa Luiz Fernando Teixeira Júlia Belas

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criação de hortaliças diretamente na água salobra, o aperfeiçoamento das cisternas de placas do semiárido e o mapeamento dos mestres-artesãos da região do Sisal são alguns dos projetos cujo foco é uma melhor convivência de comunidades com a seca. Os projetos, desenvolvidos por professores de universidades baianas (UFBA, UFRB e UEFS), inovam com mecanismos para aliar o desenvolvimento do semiárido à preservação do meio ambiente e ao acesso à água potável. Iniciativas

terneiros são formados tecnicamente pelo projeto e podem construir e realizar reparos, dispensando equipes de apoio quando necessário. O projeto incentiva a dosagem adequada dos materiais usados na elaboração da argamassa e a moldagem das placas sobre lonas, o que garante a qualidade dos reservatórios e da água que os sertanejos armazenam nos escassos períodos de chuva.

A Bahia apresenta situação crítica em relação a outros estados nordestinos pela escassez de água potável. Nesse cenário, uma alternativa viável é a produção de hortaliças em plataformas hidropônicas, que dispensa o solo para o plantio e proporciona o aproveitamento da água salobra. A hidroponia é uma técnica em que as plantas são criadas O Nordeste brasileiro sem o uso do solo como sustento Preservação da cultura sertaneja passa pelo pior período e recebem os nutrientes através O mapeamento dos mestres-artede estiagem em 30 de uma solução que circula em sãos, identificando os saberes poanos, o que afeta calhas. O projeto do professor Vipulares para reconhecer, valorizar e diretamente 58% tal Pedro da Silva Paz, da Univerdifundir as artes e ofícios populares dos municípios sidade Federal do Recôncavo da nos territórios de identidade da reBahia (UFRB) comprovou que não do semiárido gião sisaleira, resultou em publicahá diferenças consideráveis entre ções acadêmicas e uma articulação as hortaliças, principalmente a com instituições para delinear políticas públicas de alface-roxa, cultivadas com água doce e água com artesanato para o Estado. Desenvolvido pelo Centro teor de sal elevado. Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão SoAprimorar a construção de cisternas de placas, cial, o projeto pretende subsidiar a construção de um muito comuns no semiárido, é um dos objetivos do museu contemporâneo para a valorização dos mesprojeto de Paulo Roberto Lopes Lima, professor da tres-artesãos e de seus discípulos, sob a coordenaUniversidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). ção da professora Tânia Fischer, da Escola de AdmiAs cisternas de placas, ou cisternas calçadão, são nistração da Universidade Federal da Bahia (UFBA). mais viáveis do que as de plástico. Os próprios cis-

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Incentivos “Há uma preocupação com a contribuição das instituições quanto à formulação das políticas públicas para o semiárido”, constata Aurélio Lacerda, professor do Instituto de Letras da UFBA e coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Ações Integrados no Semiárido (NIEAIS). O pesquisador esteve à frente do I Simpósio Nacional Repensando os Sertões Semiáridos do Brasil, realizado em abril de 2012, que manifestou o compromisso de incentivar e apoiar pesquisas e atividades de extensão voltadas ao semiárido brasileiro. Os projetos são geralmente financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), dentre outras instituições. Edízio Bahia, gerente do Agroamigo, Programa de Microfinanças (desenvolvido para a agricultura familiar) do Banco do Nordeste (BNB), revela que “o BNB tem parceria com diversas universidades para a aplicação de projetos inovadores, principalmente voltados para a geração de ocupação, renda e assistência técnica, todos com o objetivo de melhorar as condições de vida da população”.

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Edvan Lessa | LabFoto Alexandre N. Santos

Aldrin Marin no Seminário da Fapesb

A seca no nordeste Em 2012, o Nordeste brasileiro passa pelo pior período de estiagem em 30 anos, o que afeta diretamente 58% dos municípios do semiárido (659 municípios já reconheceram estado de emergência e 70 estão em análise) e prejudica cerca de 53% dos 22,6 milhões de pessoas que habitam a região, segundo dados divulgados em relatório do Instituto Nacional do Semiárido (INSA) no dia 25 de fevereiro deste ano. A Bahia é o Estado mais afetado, com 196 municípios - cerca de 74% do território baiano - em situação crítica Como forma de ajudar a população semiárida, a principal medida do Governo Federal tem sido o abastecimento emergencial da região com carros-pipa. O ideal seria implementar cisternas espalhadas pela região, que seriam responsáveis pela captação da água da chuva; construir barragens subterrâneas; perfurar e recuperar poços; implementar dessalinizadores em comunidades nas quais a água tenha um teor de salinidade elevado; e construir adutoras que mantivessem sistemas de abastecimento em formato de chafarizes. De acordo com Aldrin Martin Perez Marin, tecnologista e coordenador de pesquisa do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), a população semiárida sofre com a seca, mesmo com a tecnologia que está à disposição no Brasil, por causa da falta de vontade dos políticos, que enraizaram seu poder às custas da miséria. Ele enfatiza que os efeitos duradouros dos projetos são ainda mais necessários para a população porque, no futuro, devido a fatores meteorológicos e climáticos, os efeitos da estiagem tendem a aumentar.

Esquema do sistema hidropônico sugerido pelo professor Vital Paz, da UFRB, para cultivo de hortaliças utilizando água salobra JORNAL LABORATÓRIO | FACOM/UFBA

SEMIÁRIDO | PÁGINA 9


A população semiárida sofre com a seca, mesmo com a tecnologia que está à disposição no Brasil, por causa da falta de vontade dos políticos

Edvan Lessa | LabFoto

Aldrin Martin Perez Marin

Moradora do povoado de Caiçara, em Capim Grosso, Bahia, recebe água da Operação Gota D’Água

Edvan Lessa | LabFoto

Operação leva água a comunidades do semiárido A empatia é um dos sentimentos que motivam a solidariedade. Ela permite que o indivíduo se coloque no lugar do próximo, mas também reflita sobre si ante a qualquer situação na qual a dignidade humana suponha perecer. Foi exatamente nesse sentido que a Operação Gota D’Água, organizada por Luís Alberto Ferreira, mobilizou equipes em cursos pré-vestibulares, colégios, universidades de Salvador e outras instituições, levando cerca de 12 mil litros de água mineral às comunidades rurais de Nova Fátima e Capim Grosso, interior da Bahia, no dia 16 de junho deste ano. Pelo menos 80 famílias foram beneficiadas com crca de 30 (trinta) litros. “Há pelo menos um mês não chove aqui. Os vizinhos já estão ajudando uns aos outros”, afirmou Marlúcia, uma das residentes do povoado de Caiçara. A moradora de Capim Grosso, assim como as demais pessoas das comunidades visitadas, recebeu a equipe Gota D’Água com satisfação e afetividade, ora estranhando a iniciativa vinda de pessoas comuns, ora celebrando o fato de terem água potável por mais alguns dias. Mais de 300 km foram percorridos pela equipe de 15 pessoas que saiu de Salvador por volta das 07:30 de sábado. “Toda lágrima é uma gota, mas nem toda Gota é uma lágrima”, reflete Luís Alberto (professor de diversos colégios, pré-vestibulares e preparatórios para concurso) sobre a iniciativa que ele reconhece como uma pequena, mas bem intencionada contribuição às comunidades, apesar de a escassez de água atingir muitos outros locais. Além das doações, o trabalho voluntário foi desenvolvido com recursos próprios, que incluíram um caminhão baú e quatro veículos de membros da Operação. Operação Gota D´Água II A expectativa era obter quatro mil litros, mas o triplo dessa quantidade foi arrecadado. As doações foram limitadas apenas pela capacidade de carga do caminhão disponível. De acordo com Luís, uma nova Operação Gota D’Água será realizada após o São João para que a proposta cumpra seu papel. “Estamos ‘oceanizando’ uma gota de esperança no coração de todos os envolvidos, voluntários e beneficiados. Isso é educação humana”, destaca.

Participantes da Operação Gota D’Água chegam a Capim Grosso, Bahia

PÁGINA 10 | PESQUISA APLICADA

JORNAL LABORATÓRIO | FACOM/UFBA


Alternativa para recuperar o tempo perdido Cursos de férias ajudam alunos a regularizar a graduação

Caroline Prado Thamires Tavares Tiago Rego

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trica, é um dos beneficiados que conseguiu não curso de férias foi criado com o propóatrasar a graduação através do curso de férias. sito de regularizar alunos reprovados “Eu tinha perdido em uma disciplina que era durante a graduação ou adiantar as pré-requisito para três matérias do semestre disciplinas da grade curricular. Porém, muiseguinte. Quando o colegiado ofertou o curso, tos cursos ainda não atendem essa demanda. me matriculei de imediato”, conDe acordo com Lafayette Danta. Ele também explica que, na tas, coordenador do colegiado área de ciências exatas, os cursos de Engenharia Ambiental da de férias não são tão raros assim. Universidade Federal da Bahia O curso é intensivo e “Eu sempre recebo, por email, (UFBA), os alunos interessados bastante cansativo, informações sobre as turmas de em cursar determinada disciplimas no final valeu o férias. Acredito que isso se deve na no período de férias entram esforço. Não fiquei ao fato de termos muitas discipliem contato com o respectivo atrasado e vou nas com alto nível de dificuldade colegiado, que encaminha o peme formar no e grande índice de reprovação”. dido ao Departamento. A contempo certo Muitos alunos também usam firmação se dá através da aprePedro Lessa, estudante de Engenharia esse benefício para se matricular sentação de uma justificativa, em disciplinas de semestres mais que pode ser uma matéria com avançados e, assim, se formarem alto índice de reprovação. antes do previsto. Além disso, é preciso que teNo entanto, existem implicações quanto nha um professor disponível para minisao curso de férias. A aluna de Direito da UFBA, trar as aulas, o que nem sempre é possível. Allana Martins, diz que, nas férias, não há tem“O período não pode coincidir com as férias do po suficiente para aprender conteúdo de forma professor. Por isso é tão difícil conseguir abrir apropriada. “Acho que os cursos são mais efiuma turma”, afirma Gabriela Martins, coordecientes para as disciplinas optativas, pois são nadora do curso de Fisioterapia da UFBA. menos essenciais e o tempo curto não se torna Pedro Lessa, estudante de Engenharia EléJORNAL LABORATÓRIO | FACOM/UFBA

um grande problema”, explica. Jorge Vila Flor, estudante de Farmácia da UFBA, também fez o curso, mas não concluiu. “No meu curso, as disciplinas ofertadas nas férias, geralmente, são menos complexas. Mas as aulas acabam sendo corridas demais”. Dessa forma, para estudar nas férias, é preciso ter determinação. Os cursos duram de 30 a 45 dias, sendo realizados de segunda à sexta. Pedro diz que o mais difícil foi abrir mão das férias. “O curso é intensivo e bastante cansativo, mas no final valeu o esforço. Não fiquei atrasado e vou me formar no tempo certo”. Apesar das dificuldades, os cursos de férias ainda é a melhor saída para os alunos que passaram por reprovações e os que querem adiantar sua graduação. Qualquer aluno pode solicitar, no seu colegiado, a abertura de disciplinas nas férias, desde que haja uma boa justificativa e tenha quantidade suficiente de alunos interessados para formar uma turma. Segundo Lafayette, é feito o possível para atender a necessidade dos estudantes. “É para isso que o colegiado existe. Nossa função é cuidar dos interesses dos alunos”, finaliza.

GRADUAÇÃO | PÁGINA 11


por Rowney Scott músico e professor adjunto da Escola de Música da UFBA

Curso de Música Popular da UFBA, um caminho ininterrupto de transformação e desenvolvimento A minha relação com a música, em 30 anos de atividade, tem sido baseada na imersão num universo variado

Estudar fora é bom. O problema está na volta

de expressões musicais, a maior parte delas relacionada a músicas populares. Talvez por isso e por uma “missão cármica”, integrei a comissão que trabalhou na elaboração do projeto do Curso de Graduação em Música Popular da UFBA em 2008, e coordenei o referido curso desde a sua implementação em 2009, até meados de 2011. O processo de criação do curso de MP da UFBA foi afobado e tenso. Os prazos, por pressão do calendário do REUNI, foram curtos. Enfrentamos várias “sinucas de bico” mas tivemos a clareza de avaliar que, mais importante do que

Enquanto o governo proporciona facilidades para estudo no exterior, a validação do diploma pode ser uma dor de cabeça

um projeto supostamente perfeito, era a oportunidade de concretizar o anseio de uma parcela importante da comunidade acadêmica e não acadêmica pela criação de um curso superior de MP na Bahia. Uma espera de mais de 50 anos. As possibilidades teóricas e metodológicas na formatação de um projeto de curso de MP são imensas. E em se tratando de um curso novo, de uma área de conhecimento ainda muito pouco sistematizada para educação formal, o desafio se torna ainda maior. Após três anos de existência do curso de MP da UFBA senti o desejo de analisar de maneira mais aprofundada os seus desafios, tentando reavaliar as decisões tomadas e as suas consequências, ainda não muito claras, com o distanciamento necessário e tendo também como parâmetro outros cursos similares. Nesses seis curtos meses na Holanda realizando pesquisa de pós-doutorado, tenho investigado o Curso de Graduação em Jazz do Conservatório de Amsterdam - um programa já bem estruturado com mais de 30 anos de maturação - e ainda, os cinco cursos e habilitações em MP existentes no Brasil (UNICAMP, UNIRIO, UFBA, UFMG e UFRGS). Tem sido fascinante perceber o histórico de cada um desses cursos, suas estruturas, escolhas, problemas, soluções e transformações, para entender que todos eles têm muito em comum: estão diretamente relacionados às culturas onde estão inseridos e são organismos vivos em constante transformação, na dependência da energia, dedicação, atenção e desejo de seus professores e alunos. Como membro daquela comissão, tantas vezes criticada e cheia de dúvidas genuínas e ricas sobre quais caminhos escolher, fico feliz de perceber que estamos num bom caminho, onde o mais importante é que estejamos sempre atentos e dispostos às transformações. Espero que o resultado dessa pesquisa possa contribuir para a evolução do curso de MP da UFBA e de outros cursos similares, relacionando sintomas e apontando estratégias de desenvolvimento.

PÁGINA 12 | REVALIDAÇÃO DE DIPLOMAS

Lara Perl Lara Maiato

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o decidir fazer alguma pós-graduação fora do Brasil é comum analisar qual a melhor universidade, a cidade onde vai morar, qual curso estudar etc. Para possibilitar essa experiência, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) têm oferecido inúmeras bolsas e outras facilidades. A dor de cabeça, geralmente, ocorre no retorno ao País, quando o indivíduo se depara com a possibilidade de não ter seu diploma reconhecido ou com a demora para revalidação, chegando a durar mais de um ano. A revalidação de diplomas de pós-graduação, mestrado ou doutorado obtidos em países estrangeiros deve ser realizada por uma universidade federal e pode ser um processo mais complexo do que parece. o que chamamos de mestrado ou doutorado no Ronaldo Oliveira, coordenador de Ensino Brasil, seja em relação a exigências de creditade Pós-Graduação na Universidade Federal da ção ou no produto final. Bahia (UFBA), afirma que a dificuldade do processo deve-se Trâmite sem prazo às divergências nos critérios de Na UFBA, o processo de revaavaliação de educação superior Um brasileiro que vai lidação de diplomas começa entre os países. O Processo Bopara o exterior fazer com a entrega de documentos, lonha, por exemplo, conjunto de mestrado ou doutorado, quando volta deve ter na Secretaria Geral dos Cursos mudanças adotado por 29 países imediatamente essa (SGC). O período de envio é eseuropeus, em 1999, tornou-se um revalidação para poder pecificado no calendário acados principais obstáculos para a ascender na escala dêmico, divulgado anualmente revalidação de diplomas no Braprofissional ou mesmo pela Superintendência Acadêsil. O Processo tem objetivo de para poder fazer um concurso mica (Supac). Após análise pelo unificar e simplificar o ensino Marcos Palacios, professor Conselho Acadêmico de Ensino, superior em todos os países que da Faculdade de a documentação é encaminhada assinaram a declaração, reduzir Comunicação da UFBA para o colegiado da área mais a graduação europeia para três próxima do curso, que vai avaanos e transformar os mestraliar a dissertação ou tese com dos em continuação da graduum grupo de professores. Com o ação. Isso mudou as titulações parecer concluído, o processo é enviado para de acordo com as etapas de ensino, que foram Supac a fim de que o diploma seja revalidado. reduzidas e nem sempre são compatíveis com JORNAL LABORATÓRIO | FACOM/UFBA


Lara Maiato | LabFoto

O maior desafio nesse processo é a ausência de um prazo limite para a revalidação. “Um brasileiro que vai para o exterior fazer mestrado ou doutorado, quando volta deve ter imediatamente essa revalidação para poder ascender na escala profissional ou mesmo para poder fazer um concurso”, afirma Marcos Palacios, pós-doutor em Comunicação pela Universidade da Beira Interior, em Portugal e professor da Faculdade de Comunicação da UFBA. O saxofonista Rowney Scott demorou mais de um ano para ter seu mestrado revalidado pela Cal Arts, nos Estados Unidos. Um dos motivos da delonga foi ausência de uma modalidade similar no Brasil, já que Scott fez mestrado profissional prático, no qual não foi necessário escrever dissertação. A comissão da Escola de Música da UFBA exigiu um paper para compensar a falta de produto textual, já que a prova final foi um concerto de formatura. Segundo Ronaldo, o motivo dos prazos serem tão longos se deve ao fato da equipe JORNAL LABORATÓRIO | FACOM/UFBA

avaliadora ter que checar se as instituições são reconhecidas, se o método de avaliação é o mesmo do Brasil, se a carga horária é compatível, dentre outros aspectos. Outro fator que prolonga o processo é a grande demanda de diplomas a serem revalidados, já que a UFBA é uma das universidades que mais recebe processos desse tipo. Mas isso, no entanto, não se restringe à UFBA. Manuela Coelho, formada em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), fez mestrado profissional em Gestão de Atividades Turísticas e Hoteleiras na Universidade Paris 1 Panthéon – Sorbonne e desde de novembro de 2010 espera pela revalidação do seu diploma pela Universidade de Brasília (UnB). “Até o momento não há previsão de quando o processo será finalizado. Ainda tenho que telefonar para a UnB a fim de obter qualquer tipo de informação e insistir para que a revalidação seja acelerada. Isso é extremamente frustrante”, completa.

Ronaldo Oliveira, coordenador de Ensino de PósGraduação: “antes de decidir a onde estudar lá fora, é preciso estar atento ao trâmites de revalidação”

Mudanças previstas Ronaldo ainda afirma que Capes e CNPq junto ao MEC estão tentando estabelecer alguns critérios para facilitar o processo de revalidação de diploma. Por exemplo, se a Coordenação paga bolsa para um brasileiro estudar em uma universidade estrangeira, automaticamente aquele diploma já deveria passar por todas essas etapas, precisando apenas da avaliação de mérito. Por enquanto, esse transtorno só pode ser evitado se o estudante, antes de ir de estudar fora, verificar se a instituição é reconhecida pelo MEC e se a modalidade de estudo é compatível com o modelo brasileiro (em carga horária, exigência de créditos e o tipo de produto final).

REVALIDAÇÃO DE DIPLOMAS | PÁGINA 13


Greve por tempo indeterminado Lara Perl | LabFoto

Da redação

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pós um longo processo de discussão, a Universidade Federal da Bahia finaliza o primeiro semestre de 2012 com greve oficialmente reconhecida e calendário acadêmico comprometido. Na terça feira, 26 de junho, o Salão Nobre da Reitoria da UFBA abriu as portas para a assembleia geral dos docentes, convocada pela diretoria da APUB Sindicato. A diretoria reconheceu o início da greve no dia 29 de maio e retomou a participação no Comando Local de Greve, prometendo convocar uma coletiva de imprensa para maiores esclarecimentos sobre a continuidade do movimento, medida aprovada, por unanimidade, pelos 306 professores presentes. As camisas vermelhas, vendidas a 15 reais pelo Comando Local da Greve, ocuparam boa parte das cadeiras do salão nobre, visivelmente lotado. O momento é histórico, já que a UFBA se junta às dezenas de universidades federais em greve, em todo o Brasil. Entre as reivindicações estão, principalmente, a luta pela reestruturação da carreira e melhoria das condições de trabalho dos professores. Além disso, estudantes e servidores também decretaram greve geral, o que representa uma verdadeira mobilização por uma universidade pública de qualidade.

DEPOIMENTOS Maurício Araujo, professor da faculdade de direito Estamos vivendo um momento decisivo. O motivo da movimentação não é somente salarial: a carreira docente proposta é uma tragédia, leva-se 24 anos para chegar ao topo de carreira, o professor doutor entrará na Universidade como auxiliar, o inchamento das universidades e o crescimento sem planejamento são fatores desestimulantes para a universidade pública. Celi Taffarel, diretora da FACED A pauta dos docentes é justa. Reivindicamos carreira, salários, melhoria nas condições do ensino. Os estudantes e os técnicos-administrativos também estão com a gente e reivindicam melhores condições de trabalho, estudo, ensino, pesquisa e extensão. Marina Rute, estudante de Ciências Sociais Eu sou contra a greve dos estudantes, na conjuntura atual, e a favor da greve dos professores. O CA de Ciências Sociais também apoia os professores na decisão de greve. O REUNI [Reestruturação e Expansão das Universidades Federais] é importante pela inclusão, pelo oferecimento de mais cursos, mais vagas, porém a quantidade de professores não aumentou, assim como não melhoraram a estrutura da Universidade. Tadeu Hermida, membro do DCE Apesar do DCE [Diretório Central dos Estudantes] apoiar a greve, eu acho que o que há, na verdade é uma disputa sindical entre ANDES [Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior] e PROIFES (Federação de Professores) e, por isso, sou contra a greve. Acho que os estudantes não tem que pagar o preço pelas disputas políticas e partidárias dos professores.

Lucia Neco, membro do CA de biologia Nós, estudantes, enviamos uma carta de reivindicações para a reitora Dora [Leal] no ano passado e nela, há 37 pontos, dos quais 11 seriam cumpridos até o primeiro semestre. Nada ainda foi feito.

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Docentes assinam livro de presença da APUB e do Comando de Greve

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Divulgação

O sonho de Edgar Santos: Hospital Universitário ontem e hoje Hospital, que ainda não possui UTI Neonatal, passa por reformas para ampliar atendimento Marília Cairo

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oi na Bahia dos anos 1930, quando os estudantes da faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA) tinham suas aulas práticas no antigo Hospital Santa Izabel, que surgiu o sonho de conciliar a assistência à população carente com ensino e pesquisa de qualidade. Assim nasceu, em 1948, após dez anos de construção, o Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), mais conhecido pela população como Hospital das Clínicas, idealizado pelo então Reitor da UFBA que inspirou o seu nome. Quando abriu suas portas, o Hospital foi referência em doenças parasitárias e infecciosas e o primeiro no Estado a ter lavanderia e cozinha industriais. Alguns anos depois, em 1980, o Hupes passou por um período de decadência e chegou a fechar as portas por falta de recursos. Na década de 90, a instituição começa a se reestruturar e faz parte hoje do Complexo Hupes, que abrange além do Hospital, o Centro Pediátrico Professora Hosannah de Oliveira e o Ambulatório Professor Magalhães Neto, contando com 278 leitos, mais de dois mil funcionários e 36 especialidades. O complexo realiza, em média, 22 mil consultas por mês e cerca de 4.600 cirurgias. Por ano, são mais de sete mil pacientes internados. Apesar dos problemas de intraestrutura, falta de material e mão de obra qualificada, em decorrência, muitas vezes, do orçamento restrito (o Hospital não conta, por exemplo, com uma UTI Neonatal JORNAL LABORATÓRIO | FACOM/UFBA

todos”, explica. Apesar das dificuldades técnicas, ou atendimento de emergência), a instituição está Anália diz que gosta do que faz e que acredita que passando por reformas para ampliação dos leitos e o Hospital esteja passando por constantes melhotem buscado otimizar a qualidade no atendimento a ras. “Estamos em obra para ampliar o número de partir da educação continuada de seus funcionários leitos e quantidade de especialidades atendidas. e de ações de cidadania voltadas para os pacientes. Tem gente que vem de outros estados para o trataDe acordo com Almerinda Luedy, vice-diretora do mento com células-tronco aqui”, destaca. complexo, “foram realizados no ano passado cerca Os Hospitais Universitários, de forma geral, de cinco mil treinamentos com os funcionários”. podem ser considerados centros de referência no Já as ações visando o bem estar dos pacientes, atendimento à população em geral. È o que diz realizadas pelo Setor de Hotelaria, incluem o Dia da Luiza Cabus, professora da Faculdade de Medicina Beleza e o De olho na Tela. No Dia da Beleza, funda UFBA, que atua no setor de cionários e voluntários escolhem Pediatria do Hupes. “Isso aconpacientes para ministrar cuidatece porque é aqui onde se condos com a aparência, valorizando Em nenhum outro centram mais especialistas. E na a autoestima dos enfermos. Já o momento o usuário Bahia não é diferente”. De olho na Tela, que é a exibição apareceu no organograma. Em 2007, o Hupes incluiu os mensal de filmes no auditório do Esta foi uma mudança usuários no seu Conselho GesHospital, começou como uma muito importante tor. A partir do novo regimento ação voltada para os funcionários, para nós interno, pacientes podem eleger mas devido a pedidos dos pacienAlmerinda Luedy, vice-diretora representantes para defender as tes, hoje as sessões são destinado Hupes suas necessidades nas reuniões das especialmente para eles. do Conselho e ter suas revindiO Hupes atende principalcações na pauta da diretoria. “Em nenhum outro mente a comunidade carente, que depende do momento o usuário apareceu no organograma. SUS – Sistema Único de Saúde. Para ter acesso Esta foi uma mudança muito importante para aos serviços, é necessário ter a carteira do SUS e nós”, finaliza Almerinda. ser cadastrado no Hospital. Anália Souza, Técnica de Enfermagem que atua no setor de Ortopedia, e funcionária há 26 anos, diz que a procura é muito grande. “Infelizmente não podemos atender a

PERFIL | PÁGINA 15


Yuri Rosat | Labfoto

Vandex, ex-Evandro: um roqueiro patológico Entrevistamos o fundador da banda Úteros em Fúria, atualmente em carreira solo com o CD Ironia Erótica. O resultado é o tumor do rock e muito bom humor José Calasans Jr.

“Eu era um cara bem-sucedido, boa-pinta, tinha 1,90 metros e uma linda cabeleira loura... Saía nos melhores blocos de carnaval, tinha um ‘carrão’, comprava sempre roupas de grife, curtia novela e Big-Brother... Nossa! Eu era um cara muito feliz. Mas, infelizmente, num belo dia eu contraí uma virose! Terrível! Avassaladora. Uma virose ‘super violenta’, dessas que aparecem depois do carnaval. Foi por isso que fiquei assim desse jeito... Você já deve ter percebido, não? Desde então passei a me chamar Vandex... Vandex de Rotterdam”.

É assim que Evandro Botti de Cerqueira, 40 anos, se define. Carrega o peso de fundar a banda de rock Úteros em Fúria, muito presente no underground baiano do final dos anos 80. Atualmente faz carreira solo e divulga o CD Ironia Erótica, álbum que foi bem recebido pela crítica musical. Multi-tarefas, idealizou a Vandex TV, programa semanal que exibe rock com qualidade ao vivo via internet e trabalha no Estúdio Em Transe, em Salvador, fazendo spots comerciais e gravações de bandas. Como é que inventou isso de se chamar “Vandex”?

Como te falei, esse nome veio depois da virose que contraí em 2007. Nem lembro bem como tudo aconteceu... Em quais outras bandas participou depois da Úteros em Fúria?

Fui o fundador da Úteros e depois, participei da “Pancá” com Edinho, da [Ronei Jorge e os] Ladrões de Bicicleta e da “Guizzzmo”, com Apú (ex-Úteros). É verdade que você consegue viver só de música?

Sobrevivo de música sim, mas é uma luta árdua.

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Não aconselho ninguém a tentar. Principalmente em Salvador. Tenho que matar um leão todo dia. O estúdio em que trabalha é de sua propriedade?

Evandro Botti, ou Vandex.

Saiba mais sobre os trabalhos do homem que já foi Evandro Botti, pelo site: www.vandex.com.br

Sim, o Estúdio em Transe é meu. O nome é uma homenagem ao maior cineasta brasileiro, Glauber Rocha. Comecei a construí-lo em 1998. Como a Vandex Tv surgiu e qual a proposta dela?

A Vandex Tv surgiu para promover meu primeiro disco. A proposta inicial era fazer um programa sozinho. Eu mesmo tocando minhas canções. Depois veio a ideia de chamar convidados. A ideia básica é fazer som, o mais à vontade possível. Você recentemente lançou o CD Ironia Erótica. Conte-nos um pouco do processo de criação e sobre a banda que se apresenta com você.

Sim! Ironia Erótica, meu primeiro CD, tem quase todas as composições assinadas por mim. O disco conta com participações especiais de músicos renomados, como o baterista Dom Lula Nascimento (ex-Nina Simone e Elza Soares), Aderbal Duarte, Alex Mesquita, Poliana Monteiro (Banda de Boca) e Nancyta (Radiola).

O disco foi lançado graças ao Prêmio Pixinguinha da FUNARTE. Você é um multi-instrumentista. Quantos e quais são os instrumentos musicais que você toca?

Quem sabe? Primeiro a gente tem que ter a música no corpo, depois tanto faz o instrumento. Vandex é um personagem ou representa, de fato, Evandro Botti?

Quem é mesmo Evandro Botti?

JORNAL LABORATÓRIO | FACOM/UFBA


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