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Entrevista

“EDUCAÇÃO É O PRINCIPAL INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE”

Professora doutora, reeleita como reitora da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), Luciane Bisognin Ceretta acredita que o ensino e a busca por informações são pontos de mudança. Para a reitora, além disso, a união de forças sociais, do setor público, do setor produtivo e de entidades do terceiro setor é fundamental. Sobre esses e outros assuntos, Luciane discorre na entrevista desta edição.

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TUDO – A sra. vem da área da saúde. Pesquisadora, professora com uma vasta trajetória. Como e por que teve o desejo de se tornar reitora? Conte um pouco sobre esse processo.

LUCIANE - Acredito que a reitoria da Unesc tenha sido o desfecho de uma trajetória na gestão universitária, ocasional, como consequência de um trabalho. Não foi projetada e nem desejada, foi resultado de uma trajetória acadêmica. Iniciei na instituição como professora, fui coordenadora de curso, coordenadora de ensino da área da saúde, diretora de área, pró-reitora de pós-graduação, pesquisa e extensão e, então, como consequência, reitora. Posteriormente, fui reeleita, com um bonito resultado de votos, o que representou um momento importante e de ainda maior estímulo para seguir a caminhada. Minha formação é na saúde e é também em gestão; então, a gestão de uma universidade que se faz com conhecimentos de administração, mas também conhecimentos acadêmicos (no ensino, na pesquisa e na extensão), acredito que se conectam com minha formação e minha trajetória acadêmica.

TUDO - O fato de ser mulher e ser a primeira reitora da Unesc já devem ter lhe trazido alguns desafios. Qual foi o maior deles e porquê?

LUCIANE - Sim, o fato de ser mulher e a primeira mulher reitora da Unesc me trouxe inúmeros desafios e testes de resiliência, resistência e coragem, os quais entendo que superei com primazia. Não há um desafio maior ou menor, há desafios cotidianos e os maiores foram como gestora em tempos desafiadores como uma pandemia. A sociedade ainda é masculina em muitos setores de gestão, mas observo que a mulher tem obtido foco e determinação, posicionamento e inteligência e tem se colocado muito bem nos diferentes setores que assume. Entendo que trago uma trajetória de realizações obtidas com uma grande equipe composta por homens e mulheres dedicados e valorosos e, portanto, com muitas realizações.

TUDO - Em sua primeira gestão como reitora, a sra. enfrentou, junto com toda a sociedade, a avassaladora pandemia. De que maneira lidou com essa situação na universidade?

LUCIANE - Coragem, equipe, estratégia e grande senso de prioridade. Primeiro, cuidamos das pessoas (estudantes, professores e colaboradores); depois, organizamos rapidamente o sistema acadêmico, capacitando professores e acolhendo estudantes com um sistema tecnológico e acadêmico completamente ressignificado em 15 dias. Em seguida, cuidamos das contribuições à comunidade externa. Foi um período avassalador para nossas vidas, mas de grandes feitos e a universidade se agigantou nesse período. Observamos que era preciso diversificar nosso portfólio e construímos a escola técnica (Unesc Tec), com 18 novos cursos. Ampliamos o número de estudantes da graduação e do Colégio Unesc, bem como reorganizamos a pós-graduação. A Unesc tomou proporções impressionantes na pandemia, saindo dela como um exemplo de superação.

TUDO - A sra. foi conduzida recentemente para sua segunda gestão como reitora. Quais projetos deseja colocar em prática neste novo momento?

LUCIANE - Para este segundo mandato, temos o desafio contínuo da estabilidade institucional, bem como a construção do novo Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), que inclui os projetos de expansão tanto territoriais quanto acadêmicos. Nossa meta é a excelência e, portanto, esse é o nosso grande projeto.

TUDO - A educação, sem dúvidas, abre portas para o futuro. Para a sra., qual a importância da união de forças para manutenção das universidades comunitárias?

LUCIANE - Sim, a educação é o principal instrumento de transformação da sociedade. A união de forças sociais, do setor público, do setor produtivo

e de entidades do terceiro setor é fundamental. As universidades comunitárias são um patrimônio do estado de Santa Catarina, responsáveis diretas, há mais de 50 anos, pelo desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental do nosso estado. A ciência e a tecnologia em nosso estado também foram ampliadas por conta do conhecimento e da inovação que se produz em nossas universidades. A internacionalização das nossas instituições comunitárias também é um elemento de destaque. Somos responsáveis pelo atendimento à população na área da saúde, das ciências jurídicas, do empreendedorismo e da inovação, com inúmeros projetos de pesquisa e de extensão que transformam vidas e cenários. Logo, a união de forças para a defesa e proteção deste patrimônio catarinense, que são as universidades comunitárias, é de suma importância.

TUDO - A Unesc tem atuado em diversos projetos de extensão. O que isso representa para os alunos e a comunidade em sua volta?

LUCIANE - A extensão universitária desenvolve atitudes, competências e habilidades que transformam estudantes, professores e as comunidades atendidas. Logo, são essenciais à formação acadêmica. Permite aos alunos colocar em prática o conhecimento compartilhado em sala de aula durante a graduação. Atualmente, temos quase 200 projetos de extensão nas cidades da Amrec e Amesc.

TUDO - Sua trajetória é marcada por ser conhecida como uma grande pesquisadora. De que forma a universidade tem incentivado o setor de pesquisas?

LUCIANE - A Unesc é uma das universidades com o maior investimento na produção de ciência e pesquisa e tem sido reconhecida internacionalmente. Hoje, são mais de 500 projetos de iniciação científica que contemplam professores e estudantes, além de oito programas de mestrado e cinco programas de doutorado. A universidade apresenta programas próprios de incentivo à formação e consolidação de pesquisadores e minha trajetória é uma resultante destes investimentos. Recentemente, recebemos os resultados da avaliação quadrienal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação que avalia e certifica a pesquisa no Brasil. Todos os nossos programas foram muito bem avaliados, porém cito o programa de mestrado e doutorado em Ciências da Saúde, que obteve o conceito máximo, nota sete, se consolidando internacionalmente. Somos a única universidade não estatal do Brasil com um programa de Ciências da Saúde com conceito sete. Além disso, o investimento nas colaborações internacionais tem gerado um diferencial qualitativo importante e estimulado alunos e professores à realização de estágios em diferentes países, conectando o conhecimento produzido aqui com o mundo. A Unesc, hoje, se coloca como um grande celeiro de produção da pesquisa, da ciência, da tecnologia e da inovação.

TUDO - Com o advento do avanço das tecnologias, as universidades têm acompanhado esse processo. De que maneira a Unesc tem atuado sobre esse tema?

LUCIANE - No processo de todo o ecossistema acadêmico, ressignificado por meio de currículos que incluem as tecnologias como instrumento de aprendizagem e desenvolvimento de diferentes competências requeridas pelo cenário atual. E também de toda a tecnologia implantada na infraestrutura da Universidade, os processos de formação continuada de professores e de formação de estudantes que envolvem as tecnologias, além de todo o ecossistema de inovação, como o Unesc Connect, o Centro de Realidade Mista, o Programa de Incubação Tecnológica de Ideias e Negócios (Itec.in), que vem contribuindo com diversas startups e, consequentemente, com o ecossistema de inovação do Sul de Santa Catarina, workshops de inovação, Feira de Inovação, as tecnologias assistivas, o Centro de Inovação, o CRIO, localizado no centro da cidade de Criciúma, o Unesc Labs, e todo investimento em ciência, tecnologia e inovação.

TUDO - Sua formação conta com duas graduações: Enfermagem e Administração de Empresas. Além disso, a sra. cursa Direito. O que lhe motivou a buscar a terceira graduação e como isso irá agregar na sua vida pessoal e profissional?

LUCIANE - Entendo que a aprendizagem se dá ao longo da vida e que é absolutamente imprescindível, sobretudo, quando ocupamos funções de gestão. O Direito me produz encantamento desde sempre. É uma área de conhecimento que amplia o olhar, melhora a tomada de decisão, produz narrativas sustentadas na justiça e na legalidade e entendi que se fazia necessário. Ao ingressar no curso e participar dos conteúdos, percebi ainda mais a aderência à minha formação e, sobretudo, às funções que exerço. Além disso, estudar, conhecer e aprender me produzem grande significado. Escolhi, então, continuar estudando, por necessidade e por prazer.

TUDO - Gaúcha, escolheu Santa Catarina para firmar suas raízes e construir sua vida. É também Cidadã Honorária de Criciúma. O que o Estado e a região representam para a sra.?

LUCIANE - Vivi mais tempo em Santa Catarina, em Criciúma, do que no meu estado e cidade de origem. Aqui, construí minha família, minhas amizades, meus projetos profissionais. Minha filha é criciumense. Meus projetos de felicidade estão aqui! Costumo dizer que minha certidão de nascimento se deu ao receber o título de Cidadã Criciumense, do então vereador Itamar da Silva, a quem sempre serei grata.