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Minha vida é rodeada de mulheres guerreiras, lindas e exemplares

Precisamos ocupar nossos espaços, não numa disputa de poder entre homens e mulheres, mas numa equiparação ombro a ombro, como diferentes e plurais que somos, somando e agregando ideias e, por que não, legislando e fazendo parte de forma direta das decisões tomadas nas cidades, nos Estados e no País.

Roberta Gontijo Teixeira

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Meu pai, não sem muita indignação, está lendo um livro que emprestei a ele que se chama o Martelo das Feiticeiras. Este livro nada mais é do que o manual da inquisição, redigido por volta do ano 1484, com a finalidade de orientar e direcionar a “caça às bruxas”. O livro traça diretrizes que esclarecem como deveriam dar-se as condenações dos rotulados como bruxos. Mulheres, em sua maioria, mais de 100 mil delas, que durante quatro séculos foram torturadas e queimadas na fogueira por seus conhecimentos ou comportamentos que fugiam do padrão moral e religioso da época. O livro é estarrecedor e esclarecedor. Ajuda-nos a compreender a absurda repressão e perseguição da época.

Por esse e muitos outros motivos é necessário que tenhamos, ao menos uma vez ao ano, o dia da Mulher. Um dia sim de homenagens e congratulações, mas também de lutas por igualdade, respeito e pertencimento social e político.

Precisamos nos ativar nessa luta e entendê-la como uma batalha hercúlea de muitas de nossas antepassadas, escravas, “bruxas”, sufragistas, donas de casa, trabalhadoras rurais e urbanas, mães de família. Uma pequena linha do tempo, com alguns fatos marcantes, talvez nos esclareça um pouco sobre essa trajetória. Apenas em 1827 as primeiras meninas puderam frequentar a escola e, em 1879, as faculdades. Em 1932 passamos a ter direito ao voto e a participar de uma olimpíada. Só nos idos de 1974 a oportunidade de termos nosso próprio cartão de crédito. Em 1979 garantiram-nos o direito de jogar futebol, sendo os direitos à igualdade com os homens reconhecido apenas com a Constituição Federal de 1988. Vale destacar que esta igualdade, legalmente reconhecida, está longe de ser aplicada, havendo muito ainda a ser feito e conquistado. A violência contra as mulheres atinge hoje níveis altíssimos em todo o País, inclusive em Bom Despacho, com casos de feminicídio. A lei Maria da Penha foi sancionada apenas em 2006 e aprovada a lei do feminicídio em 2015.

Ainda há muito a se fazer. Felizmente, importantes medidas e movimentos vêm crescendo e criando força de leste a oeste no País, inclusive no campo político, com a aprovação da lei 14.192/21, que estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher ao longo das eleições e durante o exercício de direitos polí- ticos e de funções públicas.

Em Bom Despacho e em todo o mundo, no dia 8 de março último, muitos movimentos, atos e homenagens foram realizados. Aqui, a Prefeitura Municipal promoveu um evento na Praça da Matriz que contou com música, maquiagem, distribuição de mudas de plantas e manifestações de várias ordens. Nós do grupo Omanas, no plenário da Câmara Municipal, cuidamos de inovar com a organização de um momento de discussões relevantes numa consciente e emocionante roda de conversas, manifestações e debates.

Não podemos perder de vista essa luta. Não podemos deixar de conversar e trazer para a pauta os assuntos árduos. Não podemos fechar os olhos e ser coniventes com as ações de violência, preconceito e feminicídio. Temos que opinar, participar, fazer parte da nossa política partidária. Precisamos ocupar nossos espaços, não numa disputa de poder entre homens e mulheres, mas numa equiparação ombro a ombro, como diferentes e plurais que somos, somando e agregando ideias e, por que não, legislando e fazendo parte de forma direta das decisões tomadas nas cidades, nos Estados e no País. Precisamos estar atentas a essa preciosa e histórica luta.

Minha vida é rodeada de Mulheres lindas, guerreiras e exemplares. Minha filha Dayane, que é, antes de tudo, uma sobrevivente. Minha mãe, Geni, professora, formadora de opinião, alfabetiza-dora de adultos e crianças. minhas cunhadas, Sinarha, uma mulher linda, atleta, guerreira, de traços indígenas e suaves, e Dan, dona de uma beleza desconcertante, profissional de ponta e dedicação rara, que trouxeram ao mundo e cuidam lindamente das minhas meninas sobrinhas Elis, Lara e Bruna e o pequeno, grande Loli. Minhas amigas, minha riqueza absoluta, que são tão diversas e tantas, que não posso correr o risco de nominar. Thaise que veio do Norte de Minas e faz um trabalho impecável como doméstica. Denise Campos, uma dentista que trabalha com minúcia e excelência, além de ser uma atleta de ponta. Vanderlea, que cuida do corpo, dos bichos, das plantas, da casa e é uma enfermeira sem igual. Renata Lago, que ajudou a fundar a Correbom, é uma grande incentivadora do esporte e ainda acha tempo para ser assistente social no Fórum de Bom Despacho. Tia Ana, que viveu grande parte da vida nos Estados Unidos e agora nos brinda com sua presença por aqui. Rosângela, minha querida gari que faz belas escolhas e vive alegre e lindamente. Roberta Neves e Aliny Diana, que estão à frente da Secretaria de Esportes e realizam algo inédito e brilhante. Talita Aparecida, que ficou viúva muito jovem e se reinventou como mulher, profissional e achou forças para construir uma nova família. Simone, mãe biológica da minha filha adotiva que se viu desamparada em seu caminho e achou jeito de, aos trancos e barrancos, se renovar e, de alguma forma, ocupar seu lugar ao sol. Marisa, psicóloga doce, inteligente, especial, que espalha gentilezas por onde passa. Andrea Miranda, minha amiga querida, inteligente e professora de natação. Lu, que dá aulas na Praça de Esportes e teve a paciência de me ensinar a nadar. Stella Couto, que desempenha um trabalho maravilhoso junto a mulheres desamparadas. Alexandra Couto, musicista que espalha talento por onde passa. Cristina Freitas, Thais Bernardes, Cintia, Joesse, Sueli, Aline Morais, Shirley, Maria do Carmo, Márcia Alves, Eugênia Máximo, Marília, Viviane Teixeira e Rosângela Cristina, de quem estive um pouco distante, mas que nunca deixaram de ser importantes e me ensinar lições valiosas. Carolina Moreira e Malu Hamdan, minhas companheiras em tantas lutas, amantes da boa música e arquitetas formidáveis. Gleise, a mãe dos gêmeos mais lindos que conheço. Valéria, que lutou bravamente contra o câncer e nos deixou há pouco, Débora Rodrigues, que tem me ajudado nas travessias complicadas e Ana Lúcia que, além de fazer a melhor jantinha e caldo de moranga de BD, virou maratonista veloz e superou o Fabinho. Tia Tita, que toca seu bar com uma alegria inenarrável. Rosa Vaz, minha tutora em muitos assuntos. Ana Lúcia e Teta que cuidaram de mim por toda a infância. Luciene Cabral, minha colega de trabalho e presidente do coral voz e vida. Eleuza, minha aliada de anos, que luta bravamente pela vida e pela subsistência, cozinhando como ninguém. Mel, Papaula, Bela, Denise Cançado, Sisse, Lilian Cristina, Denise Coimbra, Alcione Romero, Gabriela Regina, Paula Simões meus amores, ouvintes e inspirações diárias. As doces sogras que passaram pela minha história e me trataram sempre como filha (dona Leonor, Dona Francisca e dona Dulce). A todas as mulheres que passaram e estão ou já se foram da minha vida, minha gratidão, amor, respeito e admiração.