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Parece maldição
from Jornal De Fato
a éCI o Câ N d I do professor da UERN, aposentado. autor da obra Tempos do verbo aeciocandidocuite@gmail.com entre 6 e 7 horas, por trem e balsa. Com ele, o tempo gasto foi reduzido para 2 horas e meia, usando-se exclusivamente o trem. A travessia do túnel, porém, é feita em 35 minutos. Por ele passam mais de 7 milhões de passageiros por ano.
A construção levou 6 anos, de 1988 a 1994, um notável exemplo de eficiência.
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A construção do túnel ferroviário sob o Canal da Mancha, unindo a Inglaterra à França, é uma afirmação do gênio humano e de sua capacidade de complementar a natureza. O túnel tem um pouco mais de 50 quilômetros de extensão, dos quais 38 km sob o mar, em profundidades que variam de 40 a 70 metros abaixo da lâmina de água.
O Eurotúnel, como é chamado, é uma maravilha da engenharia moderna. Para chegar a ele, problemas nunca enfrentados tiveram que ser solucionados. Como escavar um buraco horizontal com uma largura suficiente para passar um trem, rompendo rochas abaixo de uma lâmina de água de 50 metros? Que logística desenvolver para levar ar e garantir segurança e salubridade a um número tão grande de trabalhadores? E, desafio dos desafios, uma vez que a construção começou simultaneamente dos dois lados, na Inglaterra e na França, como fazer para que as escavações se encontrassem? A engenharia venceu todos os desafios da obra. Foi necessário criar máquinas e ferramentas especialmente para a construção. Uma dessas máquinas, um tatuzão gigantesco, teve que ser deixado enterrado, porque não compensava deslocá-lo para fora.
Na verdade, foram construídos 3 túneis: um para transporte de passageiros, outro para transporte de carros e cargas e outro para dar acesso a serviços de manutenção e garantir a ventilação.
Os desafios para a engenharia não foram os únicos. Havia desafios imensos também na esfera do Direito e na esfera ambiental. Como constituir acordos de uso e de acesso a uma obra que unia dois territórios soberanos? Apesar de todas as dificuldades, o Eurotúnel foi construído e seus efeitos foram imediatos. Sem o Eurotúnel, uma viagem de Londres a Paris consumia
Outro caso de trabalho admiravelmente eficiente: em novembro de 2016, uma cratera de 30 metros de diâmetro e 15 metros de profundidade se abriu em uma rua de Fukuoka, uma cidade do Japão. Rua importante e larga, o trânsito fluía por ela em cinco faixas. A causa do buraco foram infiltrações provenientes de obras realizadas no metrô, situado nas proximidades.
Surgido o problema, em apenas 2 dias a municipalidade consertou o estrago, tapando o buraco com uma liga especial de cimento e areia, e em menos de uma semana devolveu a rua, em perfeitas condições de uso, aos cidadãos. Em perfeitas condições significa com tudo no lugar: a reinstalação de postes de luz, de rede de eletricidade, água, esgoto, gás e telecomunicações.
No Brasil, muito infelizmente, estamos bem distantes desse nível de eficiência, tanto no serviço público como na iniciativa privada. Um exemplo, entre muitos que podem ser dados: a duplicação da BR-304, no município de Macaíba, conhecida como duplicação da Reta Tabajara, uma extensão de menos de 20 km, entre o entroncamento da BR-226 e o final da Reta Tabajara, iniciou-se em 2013 e até hoje não foi concluída. São 9 anos de trabalho arrastado. E trata-se de um trabalho simples, sem maiores desafios para a engenharia: a estrada corre sobre uma planície, sem nenhuma grande montanha a ser rompida, sem nenhum pântano a aterrar, sem nenhum rio a cruzar. O tempo é estável todo o tempo, sem grandes variações de temperatura; o solo é uniforme, bem conhecido, sem surpresas geológicas ou de relevo. Não foi preciso desbravar florestas e desenvolver uma logística inovadora para instalar o canteiro de obras. Trata-se de uma duplicação, logo, a estrada existente está ali ao lado, para facilitar o acesso e deslocamento dos trabalhadores o rganização: CL auder arC a NJ o da obra. É um estirão, nem curvas tem. Com todas essas condições favoráveis, ainda assim, a obra se arrasta por 9 anos.
Outro caso nosso, desta vez estadual: a construção do Campus da UERN em Natal. É um prédio modesto de 3 andares, abrigando 20 salas de aula em cada andar. Foi iniciado em 2009 e entregue ao público apenas em 2022, depois de 12 anos e 4 governos. Nossa ineficiência parece uma maldição. Não é, claro. Somos ineficientes porque nos falta, aos governos e à sociedade, às elites econômicas, políticas e ao povo em geral, uma mentalidade de cálculo e um sentido geral de poupança (num sentido bastante lato). A qualidade do serviço e a eficiência em sua prestação são valores sentidos, mas de modo muito difuso, pela sociedade brasileira, sem uma consciência forte de sua importância. A mentalidade de cálculo nos levaria a um olhar racional sobre o uso dos recursos, incluindo aí o recurso tempo. Junto a isso, para agravar, padecemos de um certo desprezo pelos acordos estabelecidos, ainda que escritos. Não é verdade que es- cutamos com muita frequência a observação marota de que “Papel aguenta tudo”? direção geral: César santos diretor de redação: César santos gereNte admiNiStratiVa: Ângela Karina deP. de aSSiNatUraS: alvanir Carlos www.defato.com e-maIL: redacao@defato.com TWITTer: @jornaldefato_rn | redaçÃo e oFICINaS: Sede: Avenida Rio Branco, 2203, Centro, Mossoró-RN – CEP: 59.063-160
Consequência dessa mentalidade geral, o planejamento e a avaliação não fazem parte, de modo orgânico, do cotidiano da maioria das instituições públicas. O médico do hospital público, assim como seu diretor, não são avaliados para se saber se estão cumprindo com o que se espera deles e com o que foi acordado. Muitas vezes, o acordo mais primário e evidente, o do horário e da carga horária de trabalho, não é cumprido. Por tudo isso, incluindo a longa peregrinação dos processos administrativos pelos setores, é quase impossível se trabalhar com prazos no serviço público, o que é um contrassenso: a imprevisibilidade fere a razão de existir de uma instituição se ela ocorre como regra.
Planejamento e avaliação, objetivos, metas e produtividade são palavras de um universo corporativo que precisam ganhar significado no nosso universo mental particular. Se não lidamos bem com elas, todas as falhas no funcionamento do Estado vão nos parecer maldição.
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