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OPINIÃO
from Jornal De Fato
eSPaÇO JOrNaliSTa MarTiNS De VaSCONCelOS
Organização: ClauDer arCaNJO
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COVID II
raiMuNDO aNTONiO De SOuZa lOPeS
é escritor e jornalista rsouzalopes@hotmail.com
3º Dia
Domingo, dia 31, passei o dia ruim, contudo acreditando que não havia possibilidade de ter contraído o vírus, pois cuidado não tinha me faltado. Só que às seis horas a febre aumentou e eu fui obrigado a ir fazer o teste. Por sinal, liguei antes e perguntei se havia teste disponível, ainda tentando achar uma desculpa para não ir. Tinha teste disponível. E que teste!
Logo que cheguei, por sorte a assistente social veio me receber e, juntamente com a chefe do posto, encaminhou-me para o bendito promotor do SWAB nasal. Juro que não tenho medo de injeção, de tomar remédio, de fazer cirurgia, de passar por aquela máquina de ressonância magnética (que a maioria quando entra naquele tubo grita para ser tirado de lá - eu nem esquento), mas se alguém vier mais uma vez com aquele palitinho e enfiar no meu nariz, eu não respondo por mim (acredito que “desço do salto”, “rodo a baiana” e dou um show, de graça, para a plateia). Pense num troço ruim! O enfermeiro (por sinal muito educado e solícito, explicando o procedimento), esfregando-o nas paredes das minhas narinas e as lágrimas descendo pelas rodovias das faces (como bem poetizou Jessier Quirino em seus versos de O barbeiro). No final do “procedimento”, eu já olhava (se é que eu conseguia olhar) para o dedicado profissional como se ele fosse um ser humano ser coração. E tem mais: ao ouvir de mim que aquilo era uma tortura (e das piores), ele olhou para mim (e a plateia presente: a chefe, a assistente social e o meu filho) e disse que ainda não tinha visto alguém passar por ali sem levar “eternas emoções”. Bem, isso me fez compreender que para me trazer o bem-estar antes era preciso me livrar do sofrimento (aprovei, de novo, a teoria de Epicuro) e o absolvi, transformando o martírio das “pinceladas” pelo nariz como a catarse que ele, o condutor do processo para a felicidade, estava me proporcionando. Deus o proteja e o livre do mal.
Depois que passei pelo teste, o resultado saiu em 20 minutos. Na sala em que fui colocado para esperar o resultado, estavam a assistente social, o meu filho e a chefe. As duas, claro, sempre com palavras de incentivo, dizendo especialmente que se desse “reagente” o teste do palitinho (entrando e escavando as narinas), eu ficasse tranquilo, pois já estava vacinado com as duas doses e a tendência era a de não precisar me internar e de nem contrair a forma mais grave da doença. Entretanto, eu olhava para uma e via no seu semblante uma indisfarçável tristeza; olhava para a outra e a mesma coisa acontecia; olhava para meu filho e ele estava cabisbaixo. Pensei, claro: estou “ferrado”.
De repente, a porta se abriu e uma enfermeira chamou a chefe. Ela saiu e quando voltou já trazia dois papéis na mão: um, o resultado do teste das narinas (aquele das emoções eternas) e o outro uma consulta médica. Ao me passar o papel do resultado nem precisei olhar: a sua cara já me deu o diagnóstico. Pense num rosto para dizer as coisas sem nem precisar abrir a boca! E o pior foi ela, antes de me entregar o papel, olhar para a assistente social e as duas dizerem uma para a outra: esse está lascado (tomo a liberdade de dizer assim, mesmo sabendo que elas jamais usariam esses termos, porque foi essa a minha leitura particular de seus olhares, de suas feições).
Diagnóstico: reagente. Após algumas palavras de conforto, de positividade, de confiança e de fé, a assistente social já me levou para a consulta. A médica, ainda nova no ofício (pelo menos na idade), demonstrou, todavia, um conhecimento profissional muito bom, diria excelente. Depois de fazer algumas perguntas, e de dar algumas respostas, passou a receitar o protocolo medicamentoso para a doença. Pediu também um exame de sangue, que foi feito lá mesmo, na mesma hora. Duvido vocês adivinharem quem coletou o sangue… Sim, o senhor das “eternas emoções”, o bom e caridoso enfermeiro que tanto tem livrado do sofrimento os pacientes que por ali passam. Como eu já o tinha elevado a um patamar de glórias, não obstante isso, resolvi dar uma “cutucada” em seus brios, perguntando-lhe se o exame que ia fazer era com ou sem emoção. O dedicado servidor nem de longe se abalou, pelo contrário, respondeu-me “em cima da bucha”: “Depende do senhor. Tem medo de agulha?” Por via das dúvidas, e pelas circunstâncias, achei por bem não provocar o cão com vara curta (no bom sentido, claro).
Exame feito sem maiores “emoções”, com previsão de resultado para dentro de uma hora aproximadamente. A chefe perguntou se eu gostaria de esperar por lá mesmo. Como afirmei que

Ilustrativa sim, fui encaminhado para a já familiar sala de onde recebi o diagnóstico de "reagente". Ah, esqueci um detalhe importante: a partir do “reagente”, para onde eu ia, a assistente ia comigo e não sei se foi porque em duas ocasiões eu andei “trevaliando”, ela passou a segurar meu braço. Gesto bonito, caridoso, comprometido com a segurança de um futuro paciente que seria internado naquela unidade de saúde. Agradeci mentalmente e encaminhei o meu “Deus te abençoe”. Na sala, à espera do resultado do exame de sangue, o mesmo dispositivo anterior: numa cadeira perto da porta, a assistente social; ao lado, o meu filho; mais na frente, em seu birô de trabalho, a chefe. Eu juro por Deus que não queria dizer isso, mas parecia que estava sentado numa cadeira que, naquele instante, parecia aquela cadeira de um tribunal onde se senta o réu de frente para o juiz, entenderam? Juro também que não digo por maldade, mas por ter tido a nítida sensação, depois de observar que entre as funcionárias da repartição de saúde o clima estava pesado, quase beirando a um veredito de “eternas emoções”. Pontualmente, uma hora após a coleta, o obstinado enfermeiro das “emoções eternas” bateu à porta e foi de imediato recebido pela assistente social. Exame em mãos, voltamos para a médica, que autenticou como ótimos os resultados. No íntimo, vibrei. Sim, porque valeram os banhos de sol, os treinos na academia, as caminhadas solitárias nos finais de tarde, as vitaminas de A a Z e as indicadas para a mente, a boa alimentação adotada desde o início da pandemia, tudo isso ajudou muito nesses resultados. Sabia que o coração estava em ordem, pois havia feito uma bateria de testes (duros, por sinal) e tudo parecia em “eternas emoções”. Assim, depois de ouvir as várias recomendações, como isolamento por quatorze dias, cuidado com a medicação, com os meus familiares, fui liberado. De volta para o corredor que me levava à sala onde estava meu filho, o clima que me passou naquele momento era de que o meu muito obrigado às funcionárias podia ser traduzido por “um até logo”, tal era o clima criado. Não estranhei isso. Elas com certeza já tinham visto aquela cena várias vezes, ou seja, a pessoa ser diagnosticada com a covid, ser medicada e dias depois ter que voltar para a unidade para novos e dolorosos procedimentos, alguns até extremos. Saí com essa sensação.
Continua...


DI reçÃO geral: César Santos DIretOr De reDaçÃO: César Santos gereN te aDMINIS tra tIVa: Ângela Karina DeP. De aSSINatUraS: Alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.
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