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CENÁRIOS DE LUZ DEL FUEGO
from Jornal De Fato
Organização:
Viagens sem pacote turístico, sem roteiro engessado, sem paradas obrigatórias, sem horários e lugares previamente consultados, reservados e rigorosamente definidos, podem não ser as mais confortáveis e seguras, mas certamente são as mais surpreendentes e emocionantes. Foi assim, sem rumo, sem plano e sem roteiro, que conhecemos Bananeiras e Areia, na Paraíba. Escolhemos flanar livremente pelos casarios e ladeiras sinuosas, sem plano, sem horários, sem lenço e sem documento e, a cada descoberta, uma surpresa, seja em uma esquina, seja em um declive de rua, seja até mesmo em um recanto qualquer... Uma experiência única. Em uma noite, saímos em busca de um lugar para jantar e degustar um vinho. Depois de um giro pelo Centro, em volta da graciosa e acolhedora praça, avistamos um casarão muito bonito com o nome “Cenário”, ao lado das escadarias da matriz. O portão estava aberto e dava para um jardim. Subimos vários degraus floridos e adentramos pelos corredores dos canteiros e varandas, a visualizar janelões abertos, deixando livre o interior do casarão colonial, sem avistar nenhum atendente ou recepcionista. Até pensamos que poderia não ser mais um restaurante e sim uma casa de família. Chegamos, no entanto, a um aconchegante alpendre, rodeado de muito verde e com uma vista deslumbrante da geografia da cidade e da praça toda iluminada. O garçom gentilmente nos acolheu e nos tranquilizou de que, sim, ali era um restaurante. Ele nos convidou a sentar e recomendou um prato e um rótulo. Confiamos e não nos arrependemos. Degustamos e apreciamos não somente as texturas e aromas, mas sobretudo aquele retrato cheio de encanto, pela vista deslumbran - te e pela paz que transmitia, por meio de uma música mais que relaxante, dessas que não ouvimos tão facilmente nos dias de hoje. O nome do estabelecimento fazia jus à localização, um verdadeiro “Cenário” surpreendente.
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Deixamos o lugar inebriados não pelo vinho, mas pela atmosfera encantadora. Já era um pouco tarde e decidimos retornar à pousada sem paradas, porém o ecoar de alguns instrumentos musicais, acompanhando vozes a entoarem maravilhosas canções, alterou nossos planos. No interior do aprazível Bar Luz del Fuego, um senhor grisalho e o seu filho interpretavam, com maestria e nenhuma dificuldade vocal, canções no nível de “It’s Now or Never” e “Bridge Over Troubled Water”, do glorioso Elvis Presley, e nada mais nada menos que “New York, New York” e “My Way”, da “Voz” Frank Sinatra. Pedimos dois chopes para justificar a ocupação da mesa e ficamos extasiados a assistir a pai e filho deslumbrarem uma plateia que expressava aplausos e assobios calorosos. Chegamos ao final do show e o cantor da música ao vivo se despediu e agradeceu à talentosa dupla, cantou uma saideira, enquanto o bar anunciou que as portas do Luz del Fuego seriam cerradas.
Retornamos à pousada com o espírito leve e convictos de que flanar, degustar e amar pelos casarios e ladeiras do Brejo Paraibano não pode acontecer por meio de um turismo “normal”. É preciso sair livre por suas veredas sinuosas e se deparar com “Cenários de Luz del Fuego”.