2 OPINIÃO
sábado, 16 de julho de 2022
ESPAÇO JORNALISTA MARTINS DE VASCONCELOS
Organização: clauder arcanjo
NÃO FOI POR FALTA DE ASSUNTO senfreada. Soterrada nos escombros do descaso que permitiu a queda de prédios que contam a história de uma cidade e de seu povo. Anestesiada pelo absurdo de ver uma mulher sendo estuprada por um médico na sala de cirurgia. Espero que em um tempo não muito distante eu possa voltar a escrever e falar de coisas boas, porque elas existem e são elas que nos faz levantar todos os dias, apesar de e mesmo que..., mas está difícil. Mesmo sabendo que não posso fraquejar, pois, tenho compromisso com a vida e a verdade, esse mar de lama, trazido não pelas chuvas torrenciais que caíram nas últimas semanas, está dificultando minha caminhada. Tenho escorregado nas escadarias dos assombros e me perdido nesse labirinto de revolta. A sensação que tenho é que estamos perdendo, a passos largos, o contato com a humanidade. Retrocedemos. Perdemos a noção do belo, do verdadeiro,
Ângela Rodrigues Gurgel
Autora de Ensaio Poético e Confissões Crônicas Idealizadora da confraria Café&Poesia angelargurgel@gmail.com
Desconfio, com grandes doses de certeza, que a cronista, que em mim nunca existiu, saiu definitivamente de férias. Quantos acontecimentos, que dariam ótimas textos, passaram por mim nos últimos dias e não conseguiram, em minha pena, transformarem-se em crônicas? As águas invadiram cidades nordestinos deixando muitos mortos e desabrigados, mataram Bruno e Dom, impediram o aborto de uma criança estuprada, Marcelo Arruda foi assassinado em sua festa de aniversário, um médico estuprou uma paciente na sala de parto, o mercado público da cidade onde vivi minha infância desmoronou e nada disso me permitiu uma manifestação literária. A fonte, que já era escassa, parece ter esvaziado. Não foi por falta de tentativas e assunto que deixei de escrever. Confesso que tentei. Até rascunhei alguns textos, mas estavam tão caóticos quanto o atual momento político de meu país. Sinto-me meio perdida nesse caos de decepções, angústias e medo. Não pensei que viveria para ver o crescimento da intolerância e o assassinato da democracia por meios “legais”. É assustador ver que aquilo que lutamos a vida inteira para “banir” de nossa história está voltando com o apoio de quem deveria combater. Ver pessoas comemorando a morte de outras por que pensam diferentes delas. Ver governantes com medo que clube de tiros sejam transformados em bibliotecas... Eu, otimista por natureza, vejo minha esperança encurralada pelo sangue das vítimas dessa violência crescente e de-
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do respeito ao outro. Sei que nunca fomos exemplo de uma sociedade justa, equânime, empática e politicamente correta, mas havia sinais de avanços. Algumas conquistas importantes colocaram luz na escuridão desse túnel secularmente escurecido pelo desrespeito aos povos indígenas, negros, mulheres... e segue a lista. Havíamos dado alguns passos em direção ao caminho que nos libertaria de tantas injustiças legitimadas por essa sociedade machista e preconceituosa. Apesar das nuvens escuras tento enxergar as estrelas, a lua e vibrar com a chegada do sol em cada amanhecer... não tem sido fácil, mas apesar de (quase) tudo e de muitos, continuo segurando firme nesse fio de esperança que coloca um pouco de luz nessa escuridão... Que venham novos dias. Mais amenos, menos sombrios... e que eu reencontre o prazer de escrever!
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