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OPINIÃO

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GERAIS/OPINIÃO

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esPaÇo JoRNaLIsta MaRtINs de VasCoNCeLos

organização: CLaudeR aRCaNJo

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SEXTA-FEIRA 13

ÂNgeLa RodRIgues guRgeL

Escritora e Vice-presidente do ICoP angelargurgel@gmail.com

Por que tememos a sexta-feira 13? Não importa a origem das “maldições” relacionadas à data, a verdade é que, ao menor sinal de “agouro”, profetizamos: é sexta-feira treze! Esse medo irracional e incomum do número 13 está tão enraizado em nossa cultura que a ciência já criou um termo psicológico para definilo: trata-se da triscaidecafobia. Já a fobia em relação à sexta-feira 13 chama-se parascavedecatriafobia ou frigatriscaidecafobia. Confesso que prefiro livrar-me da fobia a ter que aprender a pronunciar esses termos. Mas o que diz a numerologia a respeito do tão temido nome? Segundo Yubertson Miranda, numerólogo, astrólogo e tarólogo graduado em Filosofia, o 13 é formado pelos números 1 e 3. O 1 simboliza coragem, iniciativa e disposição para correr riscos. Já o 3 representa a autoconfiança e o otimismo de acreditar no melhor da vida, além da reação de leveza e liberdade que acompanha essa atitude positiva perante os desafios. O interessante é que o 4, resultante da soma entre os números 1 e 3 – que formam o 13 –, indica justamente o oposto. O 4 gosta de seguir regras e prefere o certo ao incerto. Almeja a estabilidade e não se sente à vontade em arriscar. Prefere seguir um ritmo calmo, com organização, planejamento e praticidade. Então, o conflito está deflagrado dentro do próprio número 13. Há luta entre o risco e a segurança. O 4 é conservador, enquanto o 1 e o 3 preferem o novo, as novidades e a originalidade. O 4 é tradicional; o 1 e o 3 são rebeldes.

É verdade que alguns eventos históricos, bastante traumáticos, aconteceram numa sexta-feira 13. Dentre eles podemos citar, em 1939, o pior incêndio de florestas na história da Austrália, onde cerca de 20 mil quilômetros de terra foram queimados e 71 pessoas morreram; o bombardeio alemão ao Palácio de Buckingham em 1940; em 1951 o estado do Kansas foi atingido por uma forte chuva que danificou milhões de acres de terra, as cidades de Manhattan, Lawrence e Topeka foram as mais afetadas pela enchente. Em 1970, um ciclone matou mais de 300 mil pessoas em Bangladesh; em 1972 um avião da Força Aérea do Chile desapareceu nos Andes; nesse mesmo ano outro avião que estava indo para Leningrado (agora São Petersburgo) caiu com 174 pessoas a bordo, incluindo os dez tripulantes, na época a tragédia do Aeroflot 217 foi o pior acidente de avião na história da Rússia. Em 1996 aconteceu a misteriosa morte do rapper Tupac Shakur; em 2012 um acidente de navio, que fazia um cruzeiro na Costa Concordia - Itália, matou 30 pessoas; em 2015 aconteceu uma série de ataques terroristas em Paris e Saint-Denis/França que deixaram 137 pessoas mortas e outras 415 feridas.

Como podemos perceber, motivos temos de sobra, mas se pararmos para pensar, apesar desses graves acidentes, tragédias maiores já aconteceram (acontecem) todos os dias do ano e não escolhem data. Apenas para ilustrar podemos lembrar que

Continuamos cheios de preconceitos estruturais e crenças esdrúxulas que nos impedem de olhar o outro com empatia.

duas das maiores tragédias da humanidade não aconteceram numa sexta-feira 13. A explosão das bombas atômicas nas cidades de Hiroshima (6, segunda-feira) e Nagasaki (9, quinta-feira), em agosto de 1945. O maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo fora de usinas nucleares, o acidente com Césio-137 em Goiânia, aconteceu em um domingo, que não era 13.

Independente do dia da semana as catástrofes continuam acontecendo. Tão letais quanto a radioatividade das bombas ou o Césio-137 é a nossa incapacidade de aprendermos com nossos erros. Apesar de todo avanço tecnológico, das descobertas científicas, ainda vivemos uma espécie de “barbárie” parecida com aquelas vividas por nossos ancestrais. Continuamos cheios de preconceitos estruturais e crenças esdrúxulas que nos impedem de olhar o outro com empatia. Enquanto isso vamos culpando o tempo, o destino, os signos, a lua, o vento de agosto, a sextafeira 13... O outro. Afinal se “a culpa” é nossa temos todo direito de escolher em quem colocar...

Mas talvez esteja na hora, na verdade creio que já passou da hora, de darmos um mergulho nesse mar misterioso chamado “nosso interior”, vascular os recônditos mais secretos de nossa alma e faxinar tudo que nos empurra para o obscuro mundo da culpabilidade que nos afasta das verdades mais óbvios e dos caminhos que nos levam ao outro. Precisamos, urgentemente, rever nossa lista de prioridades e substituir o “eu” pelo “nós”. Trocar o “foi culpa da lua” pelo peso das consequências de nossas escolhas. Mandar para bem longe aquela nuvem de mágoa que nos impede de seguir adiante com mais leveza e alegria.

Prisioneiros dessas “crenças” não adianta nada evitar passar embaixo de uma escada, não tocar em objetos feitos de madeira, não quebrar espelhos, jogar sal por cima do ombro esquerdo, evitar abrir o guarda-chuva dentro de um espaço fechado, não colocar sapatos novos em cima da mesa, evitar lugares com o número 13, os nossos dias, sejam sexta-feira 13 ou não, vão continuar iguais. Nunca foi sorte ou azar, sempre foi consequência, resultado de nossas escolhas conscientes, ou não. Quando aprendermos a estender a mão em vez de apontar o dedo, colocarmonos no lugar do outro, estaremos ajudando a construir um mundo mais justo e feliz. Afinal, nem tudo é culpa da sexta-feira 13. As eleições no Brasil acontecem em um domingo que nunca é 13. Talvez por isso eu acredite mais na combinação de coragem, iniciativa, disposição para correr riscos, autoconfiança, otimismo, leveza e liberdade, que compõem o número 13, do que no resultante de sua soma. Prefiro correr riscos, continuar vivendo a falsa e conservadora segurança que me impede de ver as estrelas.

dI RE çÃO gE RAl: César santos dIRETOR dE REdAçÃO: César santos gE REN TE Ad MINISTRATIVA: Ângela Karina dEP. dE ASSINATURAS: alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

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