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OPINIÃO

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GERAIS/OPINIÃO

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eSPAÇo JorNALISTA mArTINS de VASCoNCeLoS

Organização: CLAUder ArCANJo

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SObreVIVeMOS aOS aNOS 20

JoSÉ de PAIVA reboUÇAS

é escritor e jornalista josedepaivareboucas@gmail.com

Num futuro não tão distante será possível contar a história de como você sobreviveu ao final dos anos 20 do século 21. Por mais duros que pareçam nossos problemas cotidianos, nada supera atravessar uma pandemia onde milhões perderam suas vidas, centenas de milhares só aqui neste país. Mas essa não será a única experiência de sobrevivência e superação disponível para suas memórias. Uma das mais complexas de explicar é sobre o combate ao neocolonialismo protagonizado pelo neoliberalismo tupiniquim cujo comando estava nas mãos das piores pessoas, técnicas e humanas, já conhecidas por estas gerações.

Parafraseando o líder africano Kwame Nkrumah, um dos fundadores do Pan-Africanismo, o historiador chileno Eduardo Devés Valdés aponta o neocolonialismo como a pior forma de imperialismo, pois significava poder sem responsabilidade e, para aqueles que o sofrem, exploração sem desagravo. Não é fácil perceber, contudo toda a América Latina enfrenta uma pressão externa lancinante, não tanto mais da Europa, mas dos Estados Unidos da América, há décadas maior impositor cultural do mundo, dominação indireta patrocinada, sobretudo, pelas mídias, desde o cinema, presente também na televisão, e agora muito mais pelas redes e mídias sociais.

Nos últimos seis ou quatro anos essa dominação avançou mais sobre a política a partir da concretização de ideias ultrapassadas, como meritocracia, estado mínimo e seus adendos: armamentismo e negacionismo. Os EUA são o país que mais investem na ciência, mas a ciência atrapalha o mercado e, a depender de quem está no governo por lá, cientistas são inimigos do estado. Os estadunidenses, no entanto, têm pano pras mangas, já o Brasil tem pobreza e desigualdade aguda e renitente. Tem ainda uma elite vira-latista capaz de qualquer vexame para receber um aceno de seus ídolos desumanos. Quando alucinados custeados por essa gente alcançam o poder, temos à frente uma bomba social disposta a explodir a qualquer tempo, sobretudo quando se mistura fanatismo, religião e armas de fogo.

Contra esse comportamento desastroso, marcado pela imagem de presidente brasileiro incompetente e debochado, mas também bajulador do imperialismo, ou pelo pensamento subalterno do empresariado que enfeita suas lojas com símbolos estadunidenses, cientistas discutem a descolonialidade, ou pensamento decolonial – também decolonialidade. Mais do que o oposto de colonizar, o professor Breno da Silva Carvalho, do Departamento de Comunicação Social (Decom) da UFRN, lembra se tratar da realização de práticas que questionem uma suposta subalternidade, quer dizer, um estado ou sensação de dependência, de inferioridade.

Qualquer consulta simples na internet e você, sobrevivente desta década, encontra uma ebulição de acontecimentos beirando a distopia. Um discurso diferente da ação cujos prejuízos sociais são incalculáveis, parte deles geradores de todas essas mortes causadas pela pandemia da covid-19. São invasões físicas, terrorismo e desmantelamento do patrimônio nacional. Num grau ideológico, o ataque à diversidade humana, ao meio ambiente e às ideias progressistas, tudo em nome de uma coisa inexistente até nas ideias dos que a pregavam. Entre os inúmeros resultados negativos, voltamos a dialogar com a fome, a intolerância e a insegurança social e sanitária, como também passamos a desconfiar do nacional em favor daquilo vindo de fora, sobretudo do norte do continente.

Um dos principais pontos na discussão sobre colonização, e portanto descolonização, escreveu a jornalista Naomi Lamarck, são a maneira como as relações de poder e dominação e do autoritarismo reformularam as estruturas sociais, principalmente em populações de países categorizados como subalternos. Para a antropóloga Ana Gretel, as práticas descolonizadoras requerem, sobretudo, atenção crítica aos processos e aos contextos. Isso porque, a história e a geopolítica são importantes e relevantes para a discussão, assim como o caráter das interseccionalidades raçacor, classe, gênero e deficiências.

Como disse Rui Barbosa, a liberdade não é um luxo dos tempos de bonança é, sobretudo, o maior elemento de estabilidade das instituições. Então, quando num futuro, próximo ou não, tiver contanto como atravessou a década de 2020, lembre-se de citar como a sua geração superou, mais uma vez, a ignorância, a negação da política e a desinformação numa escala “infodêmica”. Lembre-se de que sobreviver a isso foi tão perigoso quanto evitar um vírus programado para inundar os pulmões humanos e sufocar seus hospedeiros até não haver mais esperança.

errata: O texto “O verde do juazeiro”, publicado neste espaço na última terça-feira (27/12/2022), é de autoria da escritora Vanda Maria Jacinto. Nossas desculpas pelo erro.

dI reçÃO geral: César santos dIretOr de redaçÃO: César santos gereN te ad MINIS tra tIVa: Ângela Karina deP. de aSSINatUraS: alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

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