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ESPaÇO JORNaliSTa maRTiNS DE VaSCONCElOS

Organização: ClaUDER aRCaNJO

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UM fiM SeM fiM

ClaUDER aRCaNJO

escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras. clauderarcanjo@gmail.com

Apesar de todas as notícias falsas plantadas pelos negacionistas, a população de Licânia acorreu às filas de vacinação. Para os assustados pela possível presença do Fantasma de Licânia, a vacina foi à casa deles.

Um detalhe interessante: o companheiro Acácio se transformou em garoto-propaganda da campanha “Vacina ou morte!”. Nos cartazes, Acácio aparecia ladeado pela jumentinha Sancha, tendo aos seus pés o indefectível Nabuco.

Com a cobertura vacinal superando a marca dos noventa por cento, a cidade voltou a sorrir, sem máscara. E, pouco a pouco, Licânia foi retornando ao seu ritmo costumeiro: os bêbados na pedra do Mercado, as pias filhas de Maria nas missas, as fuxiqueiras a tecerem novos casos contra as vidas alheias... Enfim, a velha e revelha pasmaceira licaniense.

Na abertura das novenas da padroeira, padre Araquento orou pelo fim da pandemia e pelas almas daqueles que se foram, levando os presentes às lágrimas. Ao final pediu uma salva de palmas para os “heróis da saúde”. Mas, quando convocou os valorosos acacianos a ficarem de pé, correu uma forte ventania que cobriu todas as ruas com uma densa nuvem de poeira.

Falam os mais supersticiosos que tal fenômeno foi jo, confesso que cansei. Com razão ou sem razão, seguirei sem rumo certo.

Foi interrompido pelo bichano Nabuco: — Shii.... Sh… Shizzz… miau! — Grato, caríssimo Nabuco. Você também foi um valoroso companheiro. Entendo que deve ficar com esse escrevinhador de província. Ele está lhe devendo uma novela à altura dos seus dotes artísticos. Cobre-o — respondeu Acácio, como sempre, me provocando.

Ao perceber que me encontrava embargado pela emoção, Nabuco subiu no meu colo, lambendo-me a face tristonha.

Ao meu lado também se encontravam Lourenço, Peditão, Pasmácio, Gazumba, padre Araquento, Lau e, mais afastado, o nosso proto-filósofo João Américo. — Mas, Acácio, eu ainda nem terminei esta novela. Você...

Antes que eu concluísse, Acácio cortou a minha fala: — Bem sabemos que A Razão de Acácio é uma trama sem fim. Adeus!

O sol se punha na várzea coberta pelas carnaubeiras e oiticicas. No lusco-fusco do cair da tarde, Licânia se recolhia para mais uma noite. Eu, tristonho, ouvindo o passaredo e o repique do sino da Matriz de Sant’Anna, mergulhava numa melancolia que nem sei descrever. Deitado aos meus pés, o bichano Nabuco, silenciosamente fiel.

De repente alguém bate à porta. Levanto-me e, ao abrila, não vejo ninguém. No chão, uma carta. Ao lê-la, meu corpo se vê tomado por um assombroso arrepio.

No céu, o voejar de uma rasga-mortalha faz com que me benza seguidas vezes. — Valei-nos, Senhora Sant’Anna!

Mas isso já é trama para um novo livro.

Ilustrativa

gerado pela carreira do Fantasma a sumir no rumo do Serrote da Rola.

Ao assentar a poeira, a igreja matriz estava totalmente vazia. Melhor, apenas com seus santos e santas, de olhos esbugalhados por presenciarem tantas loucuras naquele chão.

— Aonde você vai, Companheiro?!

Acácio, montado na jumentinha Sancha, corre os olhos pelas ruas, antes de anunciar: — Amigo Clauder Arcan-

'' Na abertura das NoveNas da padroeira, padre araqueNto orou pelo fim da paNdemia e pelas almas daqueles que se foram, levaNdo os preseNtes às lágrimas.

direção geral: César Santos diretor de redação: César Santos gerente ad Mi niS tra ti Va: Ângela Karina deP. de aSSinatUraS: Alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

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