4 minute read

MULHER ........................................ P1 A

Next Article
OPINIÃO

OPINIÃO

como o senhor enxerga esse cenário de polarização que se desenha para as próximas eleições?

É indiscutível que hoje, sem dúvidas, vive-se no Brasil uma polarização, não apenas na seara política, mas no âmbito moral, cultural, comportamental e, até mesmo, a título de saúde pública, envolvendo digladiações no que tange a medicamentos, tratamentos, vacinas, etc. Há pessoas conservadores, há pessoas liberais. Há pessoas de direita, há pessoas de esquerda, como também de centro, e isso é positivo, devendo-se respeitar a formação e opinião de cada um e cada uma. As redes sociais permitem esse acesso rápido à informação e a própria instantaneidade concernente ao repasse e encaminhamento de ideias e opiniões, situação que, muitas vezes, conduz a um acirramento de ânimos e uma verdadeira guerra virtual entre lados opostos, com casos de cancelamentos virtuais. As pessoas estão opinando sobre tudo e cada qual com uma convicção tão própria que impede a própria dialética, a construção de pontes na busca de soluções conjuntas.

Advertisement

Que consequências essa polarização poderá acarretar, na visão do senhor?

A princípio, encaro essa polarização como parte integrante do sistema de liberdades que se possui no Brasil, inclusive no âmbito de expressão de cada cidadão no contexto das suas preferências pessoais e políticas, uma vez que o nosso aís é uma república e se constitui um Estado democrático de Direito, que deve preservar e proteger a liberdade de expressão e manifestação de pensamento. Tudo é construção, inclusive no âmbito democrático, mesmo porque podemos também estar equivocados em relação a algo. A alternância de poder é parte integrante do sistema republicado e as divergências de opiniões fundamentais à democracia. Certamente, todo excesso gera preocupação, como atribuir-se a pecha de inimigo para a pessoa que pensa diferente em nítida conduta maniqueísta, partindo-se para atitudes desrespeitosas e agressivas. Isso deve ser combatido. A tolerância e o respeito ao diferente devem imperar, mas acredito que o Brasil já possui instituições públicas sólidas o suficiente para a manutenção da normalidade no País. Se a construção de pontes é ou não uma quimera, certo é que o respeito e a tolerância devem ser uma realidade, independente do grupo político, cultural ou moral do qual se faz parte.

Quais são, na visão do senhor, os principais desafios do Poder judiciário atualmente?

O grande desafio do Poder Judiciário é tentar julgar mais de 100 milhões de pro-

coNtiNuação

“eu sou um defensor da urna eletrônica”

cessos, mas também não poderia deixar de registrar que, no Brasil, existe uma litigiosidade nunca vista em nenhum país do mundo. Um em cada dois brasileiros possui um processo na Justiça, algumas vezes realmente possuem direito, e em outras situações, não possuem. Os números são preocupantes, e o Judiciário não tem estrutura de logística e de pessoal para uma resolução imediata desses conflitos. Entendo que devem ser buscados meios alternativos para solução dos conflitos, sobretudo no âmbito dos poderes públicos e dos grandes litigantes (bancos, financeiras, concessionárias de serviços públicos, etc). Sem dúvida, além de todo esse contexto, um dos maiores desafios surgiu com os nefastos efeitos pandemia, tanto no tocante à necessidade de resolução das demandas judiciais, quanto no que tange à judicialização de temas extremamente vinculados à política pública do Poder Executivo, nas esferas federal, estadual e municipal.

a pandemia inclusive acelerou o processo de avanço tecnológico, modificando a forma de trabalho de muitas pessoas, inclusive dos magistrados e demais servidores do judiciário...

Felizmente, a virtualização dos processos e os avanços tecnológicos permitiram que as atividades do Poder Judiciário permanecessem ativas, inclusive com aumento da produtividade de magistrados e servidores. No âmbito das decisões judiciais em tempos de pandemia, os desafios ainda permanecem, sobretudo porque surgiram situações de descompasso entre decisões de esferas governamentais e problemas surgidos em relação a mensalidades escolares, convivência de filhos de pais separados, aluguéis, leitos hospitalares, saúde pública e privada, fechamento de comércios e atividades, restrições de circulação, enfim, casos extremamente delicados e que impuseram muita reflexão dos julgadores, diante da sensibilidade das inúmeras situações geradas. Nesse campo, decidir nunca foi tão difícil, à vista do estado de anormalidade, impondo-se, muitas vezes, neste momento trágico, decisões excepcionais e igualmente trágicas.

e qual o principal desafio que o senhor enfrentou na magistratura até aqui?

Na realidade, ainda hoje, o principal desafio na minha profissão é, de fato, decidir com justiça e celeridade, o que é difícil pelo excesso de ações judiciais e limites estruturais. É muita responsabilidade como órgão do Estado o processo de decisão judicial, independente do caso sob apreciação, seja uma ação de alimentos, guarda, patrimonial ou uma ação coletiva em prol de consumidores, seja uma improbidade administrativa promovida contra um gestor ou ex-gestor público ou uma ação criminal envolvendo organização criminosa. Todo processo judicial impõe ao julgador muito estudo, reflexão e coragem para decidir, e com um detalhe: sozinho, decidindo sobre a liberdade, sobre a família, sobre o patrimônio de pessoas e empresas, que, muitas vezes, levam para o lado pessoal algo decorrente do trabalho profissional. É um verdadeiro sacerdócio.

caso queira acrescentar algo que não tenha sido perguntado, fique à vontade.

Apenas gostaria, mais uma vez, de agradecer a Deus, pedindo sabedoria para continuar exercendo a minha missão com justiça e equilíbrio, agradecendo a minha família, aos colegas magistrados de mossoró, servidores, terceirizados, advogados, defensores, promotores, profissionais da imprensa da região e todas as boas pessoas que participaram desta caminhada, que, agora, prossegue, em outra seara. Sou soldado, e sei que ainda há caminhos a percorrer e desafios a atingir, sabendo que o sentimento de saudade de Mossoró e das amizades construídas será grande. Paz e Bem!

This article is from: