Jornal de Fato

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OPINIÃO [ ARTIGO

Feliz ano novo José de Paiva Rebouças josedepaivareboucas@gmail.com

A

pressão da expectativa para a virada do ano é tanta que quero entrar em 2018 sem perspectiva nenhuma, além daquelas que tenho todos os dias. Não sei se vou emagrecer, falar menos, trabalhar mais. Saberei depois, com o passar das semanas. Essa coisa de se autopressionar não faz bem ao espírito. A gente acaba achando que fracassou só porque tomou uma Coca-Cola ou preferiu assistir a um filme ao invés de suar numa esteira. Não precisamos, nem merecemos estas bobagens. O ano novo será curto, rasteiro e ligeiro, como diz uma nova amiga. Teremos a preguiça de janeiro, o carnaval até março, a Copa do Mundo em junho, o período eleitoral em agosto e a eleição em outubro. Além disso, viveremos nove feriados e cinco pontos facultativos, isso em nível nacional. Cada estado e município tem seus feriados específicos. Tudo isso gera expectativa. Dias vagos para mim são sinônimos de ficar em casa, ver tevê, passar os olhos em um livro. Encontrar amigos – de preferência em casa, ou na casa do amigo – e tomar um melado, comer uns torrados. Algumas vezes, é que planejo, com bastante antecedência, uma viagem de carro para lugares próximos ou de avião para fora do meu mundo. Tudo organizado com tempo e dentro do que permite o dinheiro. Essa coisa de ter que fazer algo grande ou importante em cada feriado é tão cansativo quanto ter de trabalhar todos os dias da semana. Férias vem do Latim feriae, “dia de descanso ou dedicado a festas”.

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DOMINGO, 31 de dezembro de 2017

Atualmente significa uma época do ano reservada para o descanso estudantil ou profissional. Mas, desde a criação do Instagram, as pessoas só olham para a parte da festa. Depois, reclamam que se cansaram nas férias e voltam ao trabalho mal-humoradas ou sem ânimo. Como diz a razão, é veneno tudo o que for demais. O que eu espero de 2018 é o que espero sempre da vida. Obviamente, com esperança renovada. É preciso também observar que início de ano é mesmo um recomeço, apesar de quase nada ser alterado em nossa rotina. Espero que tenhamos mais senso, mais coragem, vontade e dignidade. Se reclama estar gordo, mude os hábitos alimentares, caminhe um pouco e realize sua própria transformação. Vá ao médico fazer check-up e pedir conselhos profissionais, mas não precisa gastar horrores com especialistas que lhe dirão o que você já sabe. A menos que queira ser fitness. Aí é outra coisa. Para isso não tenho conselho ou interesse. Se lhe falta um bom emprego, foco, estudo e paciência. Os dias estão difíceis, mas há sempre um lugarzinho ao sol para os que têm compromisso, seriedade e paixão pelo que faz. Dinheiro é a resultado, mas a recompensa mesmo é o trabalho e a sensação de dever cumprido, de contribuir com alguma coisa. Caso o problema seja falta de amor, a solução mais certa é olhar no espelho. Não resolve e às vezes piora, mas é sempre bom se amar primeiro. Quando a gente se ama, é incrível como os outros nos amam também. Porém, se a pressa for muita, não deixe de olhar para o leiteiro, a balconista, o entregador de água mineral, a menina da salada. Tudo

muda e um dia eles podem ser o pósdoutor, a empresária ou o amor que sua arrogância não lhe deixou ver. Tem aquela máxima também: se você for jovem, estudante, nunca desdenhe do nerd de sua sala, pois um dia você pode trabalhar pra ele. O que mais posso dizer? Ah, já sei. Se o Brasil está ruim, seu estado ou município, sua rua, será que você não tem culpa nisso? Não jogou lixo no chão, deixou de reclamar ou denunciar algo, fez ouvido de mercador ou olhos de desinteresse? É sempre bom fazer mea-culpa antes de ir para as redes sociais atacar o político ou o eleitor. Pesquise antes de falar qualquer bobagem. Entenda o que é capitalismo, socialismo, comunismo, anarquismo, autocentrismo, essas coisas todas, antes de dizer isso ou aquilo. Entre nesta confusão ou alguém entrará e decidirá por você. Mas entre consciente, atento e informado. Agora, se você é daqueles que chama todo mundo de ladrão e sai dizendo não votar em ninguém, sugiro respirar três vezes e ler de novo esta croniqueta até compreender o tanto de culpa que você tem em tudo que está acontecendo. A mudança começa por nós, acredite e pode me chamar de piegas ou cretino. Tanto faz. Se com tudo isso você insistir em ser de extrema, talvez seja melhor ficar por 2017 mesmo. Este ano sem eira nem beira, sem lenço e documento, sem fim nem começo. Um ano quebrado, salvo apenas por alguns milagres permitidos por aquela força divina que fingimos conhecer, mas esquecemos de lhe dar a atenção devida. Namastê.


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