Jornal de fato

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artigo

Parte 4

ENTeNda a mÍdIa – WILLIam RobSoN *

A Escola de Chicago e o funcionalismo

E

ste capítulo abre discussão sobre as perspectivas dos processos midiáticos envolvendo o pensamento das escolas comunicacionais ao longo do século passado. O texto não pretende fazer um apanhado histórico dessas escolas, mas expor o pensamento dos teóricos. Alguns leitores pediram também as referências das leituras abordadas, as quais publico no final do texto. Para começar, uma reflexão acerca do pensamento da Escola de Chicago e do interacionismo simbólico, a partir do pensamento do brasileiro Francisco Rüdiger, direciona a um viés semiótico no processo da comunicação. Que, por meio de símbolos, a comunicação é efetivada e estruturada. Essa estruturação mantém a sociedade em consenso na identificação de objetos simbólicos, dando sentido à realidade da vida cotidiana. Esse interacionismo simbólico apontado pela Escola de Chicago remete às visões semióticas do semioticista Charles Peirce e de Max Bense quanto na identificação sígnica que garante a relação com o mundo. Bense afirma que a intermediação da consciência com o mundo é possível apenas pelo signo. O signo impõe linguagens das mais diversas que são captadas pelo homem de várias formas. Esse parece ser o ponto de partida do interacionismo simbólico da Escola de Chicago. A leitura do mundo, proporcionada pela interpretação dos signos, é um processo mediado pela comunicação, que garante a formação e consolidação da sociedade. A comunicação é vetor dessa circulação de conteúdo simbólico, possibilitando a relação entre as pessoas. A interação dos indivíduos concretiza-se a partir dos elementos sígnicos e simbólicos que são consensualmente compreendidos através dos processos comunicacionais. Os elementos podem ser sons, cheiros, olhares, cores, texturas, percepções, o imaginável e o palpável. “A comunicação constitui, assim, um processo estruturado por símbolos: é o manejo mais ou

menos racional dos símbolos”. Importante considerar que as tecnologias de informação não são meros instrumentos de harmonização social, desempenhando tão somente um papel de agente da sociedade, como defendiam os funcionalistas. Para Harry Pross, não são meros canais de mensagens, mas “mediações tecnológicas de estrutura simbólica vigente na sociedade”. A capacidade da comunicação de estabelecer redimensionamentos sociais, a partir dos meios, imbrica com o ponto de vista de Edward Hall acerca de um pensamento socioantropológico da relação do indivíduo com a tecnologia. O conteúdo simbólico é difundido a partir das tecnologias de comunicação, observando também as matrizes culturais. Como deixa claro no trecho em que aponta que “é um erro dos maiores agir como se o homem fosse uma coisa, e sua casa ou suas cidades, sua tecnologia ou seu idioma fosse outra coisa”. Ou seja, partindo para os atores sociais, pode-se admitir que deixam-se os espaços restritos da mídia para entrar no campo vasto das mediações e a entender todo o processo de recepção ante a diferentes receptores e que tais receptores comportam-se de forma diferente ante a informação veiculada, ante o discurso, ante a produção simbólica da comunicação. Examinar a comunicação em seu papel social e como produtora de conteúdo e os efeitos nos mais diversos nichos culturais demonstra a complexidade de seu conceito. Conceito este que, há séculos, passou de uma relação de comunhão, de “pôr em comum”, para significar a atividade dos ônibus, dos telégrafos... Seja no seu sentido latino (communicare), francês ou inglês (sentido de transmitir, transporte), entre os séculos XIV e XVIII, o termo ganhou amplitude até designar os meios de comunicação, como imprensa, TV, rádio e cinema. Passou pela Teoria Matemática da Informação, que influenciou nomes das ciências huma-

nas e mesmo contestada, ainda é usada até hoje, até um dos questionamentos das pesquisas de linguagem do chamado “colégio invisível”: “Dentre os milhares de comportamentos corporalmente possíveis, quais são aqueles retidos pela cultura para constituir conjuntos significativos?”, questiona Yves Winkin. São visões múltiplas de comunicação e os níveis de complexidade que, no entanto, formam um todo, como numa orquestra. Na analogia de Winkin, as partes de uma orquestra apresentam particularidades, estruturas próprias, identidades e expressões peculiares. Percebi uma relação com as matrizes culturais inseridas no campo da comunicação: cada uma com sua propriedade, mas inserida no todo. É necessário observar o “modelo orquestral da comunicação”, identificar as partes e adentrar na complexidade da comunicação como um fenômeno social. A ESCOLA FUNCIONALISTA Os efeitos dos meios de comunicação de massa têm mostrado-se como uma preocupação da escola funcionalista. Tal preocupação serviu para questionamentos de pesquisadores quanto à relação dos meios com a sociedade, seu poder de influência, sua ação junto à audiência e repercussão. Os funcionalistas buscavam a dimensão desses efeitos, na intenção de responder a questionamentos se a violência pregada pela mídia influenciava a sociedade a ser mais violenta, se determinava o gosto do público ou suas preferências políticas, como enuncia Klapper. Na leitura dos textos de Merton, Lazarsfeld, Klapper e Noelle-Neumann, percebe-se visões que parecem destoantes, mas se assemelham quanto à evolução das pesquisas em comunicação, sobretudo sobre os efeitos dos meios. Hipóteses acerca de sua influência foram válidas durante tempos, como por exemplo a de que os meios de comunicação atuam tão somente como mero reforço da opinião pública,

Jornal de Fato | DOMINGO, 21 de abril de 2013

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