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VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO TÊM PAPEL FUNDAMENTAL DURANTE E PÓS-PANDEMIA A MÍDIA IMPRESSA ACABA PAUTANDO AS MÍDIAS DIGITAIS E SEMPRE SERÁ REFERÊNCIA EM JORNALISMO, DIZ O PRESIDENTE DA ABERT, PAULO TONET CAMARGO Marilu Teixeira

O que nos reserva o próximo ano? Essa é a pergunta que não quer calar e está martelando a cabeça de todos, principalmente dos brasileiros que hoje estão no “olho do furacão”. Um mundo diferente, sem precedentes, onde não se pode abraçar o outro. Até mesmo conversar exige o uso de barreiras, como máscara ou tela de celular ou de computador. O mundo mudou, não há dúvida. Estamos aprendendo novos hábitos, novos comportamentos. “Estamos experimentando uma situação mundial e não havia nenhuma espécie de previsão para se lidar com isso. Fomos pegos desprevenidos”, afirma o presidente da Abert (Associação Brasileira de

Emissoras Rádio e TV), Paulo Tonet Camargo. Ele ressalta que a pandemia impactou fortemente o jornalismo, uma vez

Uma tendência que deve permanecer. Assim pensa o vice -presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), o jornalista e escritor Cid Benjamin. “A democracia nos impõe novos desafios a cada dia. Cabe aos democratas enfrentá-los”, diz, explicando que qualquer sociedade moderna busca a informação. Mais ainda se ela é uma democracia. “As pessoas precisam estar informadas para que possam tomar posição, seja nos processos eleitorais, seja no seu dia a dia. Isso não vai desaparecer.” Cid Benjamin também acredita que as chamadas “fake news” nada mais são do que mentiras propagadas de forma massiva, com o intuito de obten-

ção de vantagens políticas. Elas sempre existiram, mas ganharam nova dimensão com as redes sociais, até porque a vítima de uma informação mentirosa nem sempre toma consciência dela imediatamente. “Por isso, a criação de mecanismos para coibir as fake news e punir seus propagadores é um assunto da maior importância nos dias de hoje. A ABI está participando ativamente desse esforço”, afirma. Na opinião do vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa, em breve deverão surgir mecanismos para medição do alcance das divulgações feitas pelas mídias digitais, tal e qual existem com rádio, TV e jornais impressos. Com a proje-

que a busca desenfreada por informação acabou facilitando o surgimento das fake news. “Por isso, o papel da imprensa passou a ser mais relevante, em função da necessidade de infor-

mação confiável, checada e de credibilidade”, pontua. De acordo com Tonet, o rádio, o jornal e a TV têm atributo fundamental, de responsabilidade sobre o conteúdo que

distribuem. Já as plataformas digitais avulsas não têm esse mesmo compromisso, o que as torna uma porta aberta para as fake news. Nesse momento, no Congresso Nacional está se discutindo projeto de lei para enquadrar as gigantes mundiais. “Veículos de comunicação são distribuidores de notícias, vendemos publicidade, geramos receita. Então, as gigantes da internet precisam se submeter à legislação, como o direito de resposta, a transparência. Como formadores de opinião, têm que ser disciplinados também. As mídias têm que ser solução para não ser problema”, afirma, acrescentando que, “pela Abert, temos a crença inquebrantável que o jornalismo sério, de qualidade

e profissional é o único antídoto para as fake news”. Quanto às mídias impressas, o presidente da Abert é categórico ao afirmar que têm sobrevida, sim, no mundo de hoje. “Sem dúvida nenhuma. Eu acredito que tem muita, mas será diferente do que ela foi. A mídia impressa foi a primeira janela de entrada de informação. Hoje perde em alguns sentidos, mas ganha algo que as redes sociais não podem ter: o aprofundamento das notícias, de fatos políticos, sociais e econômicos”, destaca, ressaltando que “a pandemia está atingindo todos os setores, e os veículos de comunicação têm papel fundamental de retratar a verdade, com credibilidade”, encerra Paulo Tonet.

ção que as mídias digitais estão ganhando e a necessidade de sua regulamentação, serão necessários mecanismos também para evitar que sejam usadas cada vez mais em ações criminosas, em especial para a prática de crimes contra a honra. Sobre mudanças na forma de nos comunicarmos, ainda que não tenha números à mão, Cid diz que é sabido que caiu a circulação dos veículos impressos e aumentou o interesse pelas publicações online. Mas, com o fim da pandemia o quadro permanecerá o mesmo? Para ele, a resposta é “sim e não”. Sim, porque nem todas as assinaturas de impressos serão recuperadas. Não, porque algo ficará dessa

experiência de mudança dos tempos de pandemia. Quanto à mídia impressa, o jornalista compara ao que aconteceu quando a televisão surgiu. Muitos previram que o rádio iria “morrer”, o que não aconteceu. Ao contrário: continuam coexistindo até hoje. Porém, a programação do rádio teve que ser adaptada. O mesmo pode ser dito em relação aos veículos impressos e à própria TV com o advento da internet. “Eles terão que se reinventar, mas não creio que caminhem para o fim. A informação é uma necessidade vital numa sociedade moderna e há lugar para múltiplas formas em que ela seja levada aos consumidores”, finaliza.

PARA ABI, A MÍDIA IMPRESSA TERÁ DE SE REINVENTAR


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A HUMANIDADE SEMPRE ACREDITOU EMMENTIRASEFOFOCAS,DIZFILÓSOFO

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transformação

digital ACELERADA

LUIZ FELIPE PONDÉ ACREDITA QUE ESSA TENDÊNCIA DE CORRER ATRÁS DE NOTÍCIAS SOBRE A PANDEMIA É EM SI UMA PANDEMIA Marilu Teixeira

“Comunicar em modo remoto já vem em curso há muito tempo. As redes sociais são exatamente isso. É claro que no âmbito de comunicação, como profissional, de trabalho, transferência de conteúdo em eventos e faculdades, isso não era uma coisa tão presente quanto agora, a partir do distanciamento social imposto pela pandemia. Mas eu não acredito que o mundo vai ficar exatamente assim.” A opinião é do professor, filósofo e colunista do jornal Folha de S.Paulo Luiz Felipe Pondé. Para ele, a espécie humana tem, no mínimo, 100 mil anos de contato social, e isso não será jogado fora de uma hora para outra. Por essa razão ele não acredita que as pessoas vão ficar simplesmente fechadas em casa, em home office, a vida inteira. E frisa que o home office vai apresentar suas consequências, seus efeitos colaterais, tanto nos relacionamentos familiares quanto nas despesas da casa. “Nós temos sempre a mania de achar que somos o grande objeto da transformação e que nada do que está acontecendo agora teve precedentes na história da humanidade”, diz. Paralelamente ao home office, o isolamento social decorrente da pandemia projetou outro fenômeno, as chamadas “fake news”, que proliferaram nas redes sociais e motivaram discussões e questionamentos em sociedade. No entanto, Pondé afirma que a humanidade sempre acreditou em mentiras e fofocas. Para ele, fake news

Especialista em comunicação digital e persuasiva, Marília Mayer lembra que a transformação digital com novos modelos de comunicação já estava acontecendo de forma mais intensa nos últimos anos, porém, estima que esse processo se adiantou em, pelo menos, dez anos. “Com o distanciamento social, começamos a utilizar mais aplicativos e redes sociais e, como o contato físico e visual não existe, temos que tomar mais cuidado com a forma como nos comunicamos. Para ela, tudo veio e vai continuar, voltar atrás não é mais uma opção. O que vai

nada mais são do que uma fofoca mediada por ferramentas digitais, operadas por profissionais, com nítida intenção política ou similar. “Pesquisas recentes de comportamento político mostram que as pessoas sempre foram hooligans em política, quando se discute a política para ir pro pau. Essa história de que se discute a política para se atingir a consciência crítica é um fetiche. É uma espécie de Papai Noel chique”, avalia. Para ele, não é nem um pouco estranho que as pessoas acreditem em fake news, principalmente porque elas fazem um uso pragmático disso. E destaca: “Se a pessoa acha que se trata de fake news, mas o conteúdo coincide com o que pen-

sa, ela leva em conta e espalha o assunto. Agora, se não for, a pessoa vai até duvidar. Então, o tema fake news, muito mais do que ser uma questão de jornalismo – é claro que é, porque o jornalismo tem que combatê-lo –, é uma questão da natureza humana mesmo”. Luiz Felipe Pondé ressalta que a pandemia gerou muita informação desencontrada, movimentando um tráfego muito grande de conteúdo, o que deu margem ao surgimento de muitas fake news, além de matérias onde ficaram evidentes os excessos de vaidades de cientistas e médicos. Além disso, justamente em razão do desencontro de informações sobre o assunto, as pesso-

as ficaram confusas, sem saber em que acreditar. “A ciência é controversa, ela não é aquilo que você, ser humano comum, pensa. Principalmente nas áreas de epidemias respiratórias como essa”, ressalta. Por outro lado, ele chama a atenção que essa busca desenfreada por informações a respeito da pandemia acabou se transformando numa outra pandemia. Frisa que nunca houve uma pandemia em que se falou tanto, gerando inclusive um superpânico na população. Por isso, ele acredita que essa onda de fake news, mesmo depois da pandemia, deve perdurar. Destaca que a pandemia não inventou as fake news. “Mas, se essa pandemia seguir o curso de outras, daqui dois anos ninguém vai se lembrar dela, como há seis meses ninguém se lembrava da gripe espanhola”, prevê.

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“CIÊNCIA MÉDICA ESTÁ ENVOLVIDA NA LAMA DA CORRUPÇÃO”, AVALIA PSICANALISTA

Com o objetivo de colocar essa experiência pandêmica de agora dentro dos parâmetros temporais, a psicanalista Ilcea Borba Marquez avalia que se percebe a necessidade de “limpar a área”, afirmando que “estamos há muito fartamente acostumados ao noticiário que envolve políticos e empresários na lama da corrupção”. Para ela, isso não é novidade “e já provoca certo repúdio à repetição enfadonha de mais valores e nomes na situação emblemática de desvios de somas astronômicas, lavagem de dinheiro, laranjas e fantasmas”. Ilcea enxerga características específicas nessa pandemia que a tornam diferentemente assustadora. A psicanalista lembra

acontecer agora é uma estruturação. A transformação digital já aconteceu, mas as pessoas ainda estão muito agitadas com essas mudanças. Ela lembra que, antes da pandemia, a inglesa Tecmark estimou que cada pessoa pega o celular para dar uma olhada 221 vezes ao dia. “Nós já estávamos superconectados, o que mudou é que passamos a reparar nosso comportamento e prestamos mais atenção naquilo que estamos consumindo”, afirma. Marília diz que a crença em fake news é um efeito colateral da transformação digital e até uma questão cultural. As pessoas querem o máximo de informação possível em curtos espaços de tempo. E, para ela, o ambiente digital não é mais uma tendência, é uma realidade.

que a Ciência Médica está agora envolvida na conhecida lama da corrupção, incluindo Organização Mundial da Saúde, ministros da Saúde, governadores, prefeitos, planos de saúde, hospitais e médicos. “Evidentemente, estamos tratando de exceções e não da maioria absoluta”, diz Ilcea. Em sua avaliação, a psicanalista lembra as formulações de Claude Lévi Strauss, no final de “Raça e História”, insistindo na “necessidade de se preservar a diversidade das culturas num mundo ameaçado pela monotonia e pela uniformidade, mesmo que se contraponha ao desejo sempre recorrente de uma internacionalização ou multinacionalização”, conclui Ilcea Borba Marquez.


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pandemia impacta 70% dos pequenos negócios

roscoe aposta em rápida retomada econômica

de cada 10 empresas que se despediram do mercado, quatro foram em função da pandemia Marilu Teixeira

Chavões como “o mundo não será mais o mesmo”, “temos que inovar” e “as melhores ideias surgem durante a crise” são verdadeiras, mas não pagam os boletos que vencem amanhã. Assim o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, José Renato Gomes, avalia o momento da pandemia. Para ele, as pessoas estão preocupadas com o seu dia a dia, o agora e, principalmente, a sobrevivência das empresas. “O susto é e será grande, agora e depois”, diz, ressaltando que de otimista por natureza passou a ser realista por excelência. José Renato conta que fica imaginando os diversos setores que foram comprometidos,

como o de serviços – o mais atingido – e, no seu vácuo, o comércio. “Os dois juntos representam quase 80% das empresas fechadas. De cada 10 empresas que se despediram

cdl incentiva uso de plataformas locais

Digitalização das relações comerciais para uma resposta rápida ao cliente: é o que defende o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) para o enfrentamento às transformações trazidas pela pandemia. “Precisamos focar nesse mercado online, que vai crescer muito. Isso significa que a sobrevivência das empresas estará associada à eficiência da sua comunicação com a clientela. Não vejo futuro para uma loja física trabalhar fora do ambiente digital daqui por diante. Isso não vai existir”, profetiza Angelo Crema. Paralelamente, o líder lojista aposta em

boas oportunidades para pequenos e microempresários, pois as grandes marcas estão encolhendo. Mas, para isso, ele defende a necessidade de conscientização dos consumidores para valorizarem as empresas da cidade, usando os aplicativos locais, como o MeBox, em vez de compras online em sites de grandes empresas nacionais. “Se você compra usando essas plataformas locais, você preserva as empresas da sua cidade e os empregos aqui”, explica. Por outro lado, o presidente da CDL defende a capacitação da mão de obra que está perdendo o emprego durante a pandemia. Para ele, será necessário transformar os desempregados em empreendedores individuais, capazes de contribuir para o desenvolvimento econômico do país.

do mercado, quatro foram em função da pandemia”, avalia. Além disso, 99% dos postos de trabalho perdidos estão em empresa de pequeno porte, que empregam até 49 funcio-

nários. “Os efeitos negativos foram percebidos por 70% das empresas de pequeno porte, 66% de médio porte e 69% das de grande porte. Como se vê, poucas empresas estão assintomáticas”, diz o secretário, lembrando que muitas empresas estão na UTI. Para José Renato, “temos que fazer uma plástica nas nossas rugas do conhecimento, investir o nosso tempo na capacitação. Sabemos que tudo vai mudar, no pensar e no agir. O futuro é home office. Escritórios vão encolher”. Por outro lado, José Renato mantém o otimismo quanto a Uberaba retomar o desenvolvimento com mais facilidade que a média estadual, uma vez que a cidade se destaca também no setor do agronegócio.

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Com 55 mil indústrias no Estado, Minas Gerais ainda não computou o número de perdas. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Flávio Roscoe, acredita no encolhimento de 5% a 8% nos empregos industriais. O líder da indústria mineira explica que o maior impacto da pandemia sobre o setor industrial decorreu da paralisação da atividade comercial, pois, não tendo para quem vender, a indústria foi obrigada a desacelerar a produção. No entanto, ele acredita que a retomada será mais rápida do que o previsto, em função das medidas mitigadoras que o governo federal tomou e de flexibilização

dos estados. “Muitos adotaram um bom programa de combate à pandemia, como é o caso de Minas Gerais, que vai sair dessa situação melhor que o resto do Brasil”, profetiza Roscoe. O presidente da Fiemg ressalta, porém, que a indústria mineira já está se recompondo, com a retomada gradual de sua produção. Outros segmentos, como o comércio, no entanto, sofreram um impacto maior, tendo de se adaptar ao mercado eletrônico. Na avaliação de Roscoe, dois fatores foram fundamentais para evitar o caos na economia mineira: a edição de medidas provisórias pelo governo federal, como a MP 936, para preservar empregos, assim como a criação do Auxílio Emergencial de R$600, que serviu para irrigar o comércio.

Mudanças nas relações de consumo vieram para ficar, afirma Venturoso A situação de emergência em saúde pela pandemia da Covid-19 com a imposição de regras de distanciamento e isolamento social afetou as relações de consumo. Enquanto se observou a redução ou paralisação total de atividades de várias empresas, outras descobriram novos nichos de mercado para se favorecerem em razão das regras de distanciamento social. A avaliação é do presidente da Fundação Procon, Marcelo Venturoso.

De acordo com ele, algumas destas tendências impostas pela pandemia, como as lives e as vendas online, por exemplo, vieram para ficar. Além disso, ele observa o incremento exponencial nos mercados de delivery, que já vinham experimentando crescimento e se consolidaram com o isolamento social nos últimos quatro meses. “Expandiram além do previsto e a tendência é que ampliem ainda mais, criando novos players e agentes no mercado da relação de consumo, mudando, também, a forma com que seu consumidor se relaciona com o produto”, acredita Venturoso. Paralelamente, ele observa que o consumidor cada vez menos tem a necessidade de estar em contato físico com o

produto para comprá-lo. Com isso, a loja física deixou de ser grande referência, pois muitas vezes o consumidor está preferindo o mercado virtual e a comodidade de receber o produto em casa. “Isso impacta na forma com que as normas de consumo têm que ser criadas e regulamentadas para enfrentar essas novas situações. O pós-pandemia, no meu entendimento, vai influenciar decisivamente a relação de consumo como um todo, fortalecendo algumas tendências que já se verificam nesse momento

e acentuando a fragilidade de alguns segmentos que já não vinham bem”, explica, acrescentando que alguns deles poderão se recuperar, mas terão de se adaptar e se reestruturar. Neste caso ele cita o mercado de turismo e eventos. O presidente do Procon ainda chama a atenção para as mudanças no relacionamento entre fornecedores e consumidores. Ele acredita que serão cada vez maiores as exigências em relação aos protocolos de saúde, mesmo após o fim da pandemia.


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Isolamentosocialprovocadopelatecnologia

será uma das consequências da pandemia

Raquel Resende fala sobre o ‘encasulamento’, onde as pessoas vão preferir conviver com um grupo menor de amigos e parentes Marilu Teixeira

Nos próximos 20 anos o dia a dia no mundo será irreconhecível para nós, pois a realidade virtual e inteligência artificial (IA) farão parte de nossas vidas. O uso de drones e equipamentos de realidade virtual e os robôs inteligentes vão tornar muitos processos e tarefas automatizadas. A velocidade da internet 5G irá trazer muitas mudanças na nossa forma de viver. A Telemedicina vem para ficar, especialmente, junto com a IA. Essa é a avaliação da gestora do Parque Tecnológico, Raquel

Resende, questionada sobre o que podemos esperar da evolução tecnológica pós-pandemia. Para ela, as competências dos profissionais deste futuro

breve serão outras das conhecidas atualmente e lidar com toda essa tecnologia será decisivo. “O mundo será hiperconectado. As cidades buscarão ser a cada dia

mais inteligentes e eficientes em utilizar energia solar, produzir e distribuir alimentos, oferecer segurança e transporte”, afirma. Após essa pandemia, mui-

Nada será do jeito que já foi um dia, garante o vice-presidente da Codiub Até mesmo os mais reticentes, aqueles que teimavam em não aderir às redes sociais, acabaram se rendendo aos encantos da tecnologia nesta era de pandemia. Hoje, sem o contato físico, algo impossível nas últimas décadas, as distâncias são encurtadas pelas fibras óticas, e o abraço acontece, mesmo sem o calor dos braços. A saudade fica menos doída... O trabalho agora é home office. Virou regra. Novas tecnologias foram desenvolvidas. Empresas já não querem mais funcionários fechados em escritórios. Nada mais vai voltar ao normal. “Nada será do jeito que já foi um dia”, cantarola o vice-presidente da Codiub,

Luiz Eduardo Peppe, lembrando que muitas empresas que não queriam vender seus produtos pela internet, hoje nem querem voltar a abrir as portas. “Encontraram um nicho diferente e promissor”, diz Peppe, ressaltando que muitas ainda precisam entrar nesse futuro, nessa tecnologia. Para ele, a vida mudou, e a tecnologia está mudando nossos hábitos. Nem mesmo aqueles acostumados a frequentar clubes, restaurantes, estarão confortáveis ao novo normal. A diversão é online, o restaurante é delivery. “Quando essa ‘normalidade’ voltar, vai ser difícil tirar a máscara. O que vai ficar é o respeito à

saúde do outro”, diz Luiz Eduardo, afirmando que toda a área de tecnologia está trabalhando para desenvolver novos softwares que vão ratificar essas mudanças comportamentais. De acordo com ele, a área da saúde terá grandes mudanças. Os gestores terão que investir em tecnologia, assim

como a área econômica. “É preciso aprender a ser diferente. Quando o país estava acertando a economia, veio a pandemia e mudou o norte já desenhado”, pontua. Mas, com novas tecnologias, haverá uma reviravolta. “Precisamos deixar de falar em crise e trabalhar. Deixar de remar ao contrário”, encerra.

tas mudanças são esperadas em nossas vidas, como por exemplo a maneira como nos relacionamos, como trabalhamos, como consumimos. “O uso de ferramentas digitais será uma constante, bem como o teletrabalho e a ocupação dos espaços urbanos. A tecnologia vai interferir de diversas maneiras nos nossos hábitos, na nossa rotina. Existe uma macrotendência ao que chamamos de ‘encasulamento’, ou seja, as pessoas vão preferir conviver com um grupo menor de amigos, parentes, e investir muito em seu ambiente de moradia”, diz. Segundo Raquel, haverá crescimento exponencial da

aquisição de dispositivos e tecnologias, sem falar na facilidade de acesso que todos terão, e podemos esperar como resultado isolamento social provocado pela tecnologia. “Podemos esperar o aumento do uso de telepresença, dos “mundos virtuais”, e da interface cérebrocomputador”, avalia. Quanto ao Parque Tecnológico, como complexo, tanto suas empresas como instituições de ensino, ele afirma que estão trabalhando e contribuindo para o enfrentamento da pandemia, seja na fabricação de equipamentos, como na criação de testes para Covid, bem como no patrocínio de diversas ações.

O presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Uberab (Aciu), Anderson Cadima, avalia que muitas empresas fecharam e outras ainda devem fechar, mas a situação está mais ligada ao segmento de mercado da empresa. “Por outro lado, muitas empresas estão faturando muito mais do que antes da pandemia”, diz. Para ele, será preciso muito apoio do governo, independentemente do tamanho da empresa, na disponibilidade de subsídios, financiamentos acessíveis, para que aquelas que estão “respirando por aparelho” possam se recuperar e voltar a gerar emprego e renda. “Temos visto que muitos setores demitiram devido ao fechamento de empresas e ao encolhimento de outras, porém, essa situação começa a dar sinais de

melhora”, afirma, contando que em Uberaba, por exemplo, 106 empresas abriram as portas em junho, contra 65 fechadas, ou seja, um saldo positivo considerável. “Se tem empresa abrindo, tem gente investindo e consequentemente mais geração de emprego. E com a reforma tributária, também acredito que haverá uma melhora nesse cenário de desemprego. Sei que o momento é difícil, mas agora, mais do que nunca, é hora dos profissionais se atualizarem, pois a disputa por vagas em empresas deverá ser maior, assim como a procura por empregos públicos, devido à estabilidade”, finaliza.


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PANDEMIA EXPÕE FRAGILIDADE DA EDUCAÇÃO SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO, SILVANA ELIAS AVALIA QUE ESCOLA QUE EXISTIU ATÉ MARÇO DE 2020 NUNCA MAIS SERÁ A MESMA Marilu Teixeira

A pandemia e a necessidade de enfrentamento à Covid-19 explicitaram as mazelas e as desigualdades sociais do país, não só no setor educacional, mas em todos os setores. A afirmação é da secretária municipal de Educação, professora Silvana Elias, acrescentando que “o abalo sofrido pela educação passa, sobretudo, pela falta de investimentos na infraestrutura tecnológica, em especial no que se refere a recursos federais. São muito aquém do básico, para não dizer ridículos, os programas federais que se apresentam como possibilidade de avanços tecnológicos para a educação. Só para se ter uma ideia, nem mesmo a aquisição de equipamentos para

as escolas, como computadores, notebooks, datashows, televisão educativa gratuita, entre outros, é viabilizada de forma adequada, com recursos do MEC”, critica a secretária. Isso, de acordo com Silvana, sobrecarrega os municípios, já que o Fundeb é sempre insuficiente, até mesmo para o

pagamento da folha dos profissionais do magistério. Silvana conta que o município de Uberaba recebeu do Ministério da Educação, no ano passado, R$160 mil para serem distribuídos em 57 escolas, sendo que a rede tem 27 mil alunos e 3.800 profissionais do magis-

tério. “É possível avançar em tecnologia com esses recursos?”, questiona. “É notória a falta de acesso das famílias, especialmente das escolas públicas, aos bens socioculturais e tecnológicos”, ressalta, reforçando que 58% dos estudantes brasileiros não têm acesso à internet. Silvana vai além e diz que a escola terá que se reinventar, pois a que existiu até março de 2020 nunca mais será a mesma. “Num esforço muito isolado, aos poucos, buscava se adaptar às novas exigências da sociedade do século XXI. No entanto, foi atropelada pela pandemia e precisou se reinventar, de um dia para o outro. Isso causa angústias e sofrimentos, mas faz crescer e acelera o futuro”, avalia.

MOMENTO EXIGE REFLEXÃO SOBRE O FUTURO DA EDUCAÇÃO E DA PRÓPRIA HUMANIDADE Falar de educação em tempos de pandemia é abordar um tema bastante complexo. Hoje se fala muito em “aulas virtuais”, “e-books”, e muitas outras ferramentas para um “novo” aprendizado. Mas e os educadores? O que pensam dessa nova realidade? O professor Renato Muniz Barretto de Carvalho fala sobre o despreparo da sociedade, das instituições e do próprio governo para lidar com essa situação que há muito se desenhava. “Devíamos estar preparados, pois avisos não faltaram. Explodiu no fim de 2019 e início de 2020 na forma da Covid-19. Se não forem modificadas as causas que conduziram à pandemia e potencializaram os danos, outras situações semelhantes ou piores surgirão”, adverte.

No caso das escolas, como instituições sociais, elas estavam despreparadas, assim como a sociedade, para a pandemia. Para ele, este despreparo é estrutural. “A escola, de modo geral, vive uma séria crise, sofre ataques, carece de verbas. As deficiências se manifestam na infraestrutura, na desvaloriza-

que envolvem a desigualdade de acesso à internet e a outras ferramentas por parte da comunidade escolar. Renato Muniz acredita que existe o risco de crianças desaprenderem a se relacionar com outras crianças ou jovens em razão da mudança repentina do sistema de aulas presenciais para virtuais, e as consequências podem ser graves. “Por isso, é preciso lembrar que a educação não se restringe a ambientes fechação dos docentes, e isso ocorre dos”, diz o professor, para quem tanto na escola pública quanto a sociedade deve aproveitar este na escola privada, com impac- momento para discutir o papel tos diferenciados”, pontua. “A da educação a distância, assim questão da tecnologia é com- como a utilização correta das replexa, não se resume a “aulas des sociais, a democratização e o virtuais”, a “home office” e a acesso à internet. “Pode ser um ensino a distância. Isso é apenas bom momento de refletir sobre o um pedacinho do problema”, futuro da educação e da própria diz, apontando para fragilidades humanidade”, encerra Muniz.

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ENSINO HÍBRIDO É O FUTURO A Uniube está preparada para ministrar as aulas presenciais e remotas, através dos ambientes virtuais de aprendizagem, segundo informa o reitor Marcelo Palmério. Ele destaca que as mudanças no ensino são a grande discussão mundial no momento. “O que se percebe é que as coisas não voltarão a ser como eram antigamente”, avalia, frisando que a tese predominante aponta para o chamado ensino híbrido. Isso significa que o modelo tradicional de ensino, com alunos sentados em frente do professor em salas de aulas físicas, tende a desaparecer. “Hoje o aluno compartilha uma informação que é mundial. Aqui, nos Estados Unidos ou na Europa. O aluno pode buscar informação onde ele quiser. No entanto, precisa ter disposição, entendimento da importância dessa busca por conhecimento”, afirma. Com o desemprego galopante no país, Marcelo Palmério acredita que haverá maior

disputa por vagas no mercado de trabalho e, com isso, quanto mais informado, mais preparado, melhor o aluno irá se sair. “Então, será necessário haver disposição e uma boa preparação dos professores para ajudar e orientar os estudantes nesse novo modelo de formação profissional. O ensino será uma combinação de presencialidade, que é importante até pela questão do contato social, com a busca virtual do conhecimento. A formação acadêmica não poderá mais ser só ali, na escola; a busca por conhecimento terá que ser uma iniciativa pessoal de cada estudante”, encerra o reitor.

ROTINA NAS ESCOLAS VAI MUDAR Para o reitor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), professor Luiz Fernando dos Santos Anjo, “as novas tecnologias são uma realidade à qual teremos que nos adaptar em todos os segmentos, não só nas escolas”. Embora a rotina das escolas e das atividades de ensino ainda estejam muito relacionada com as atividades presenciais, a pandemia veio para tirar todos da zona de conforto, tanto professores quanto alunos, forçando-os a se adaptar ao chamado “novo normal”. No entanto, Luiz Fernando acredita que daqui para frente a escola estará mais preparada e adaptada para as novas tecnologias. Novas maneiras de ensinar e aprender estão sendo colocadas em prática, com experiências positivas para o campo do ensino, que certamente serão incorporadas. “As aulas presenciais e a distância serão uma realidade no ensino das instituições. Quanto a livros e demais instrumentos de ensino, acredito que o meio digital até poderá alcançar lugar de destaque, mas conviverão ainda por um bom tempo entre o físico e o virtual”, encerra.


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UBERABA SE DESTACA NO AGRONEGÓCIO NACIONAL E AJUDA A ALIMENTAR O MUNDO COM QUALIDADE PARA LUIZ CARLOS SAAD, A NECESSIDADE DE ALIMENTAR A POPULAÇÃO MUNDIAL LEVOU O BRASIL A PRODUZIR QUATRO VEZES MAIS QUE O SEU CONSUMO INTERNO Marilu Teixeira

O agronegócio é a locomotiva que fez o país vencer todas as crises. Clima, terras, topografia, água, mão de obra, planejamento e tecnologia são diferenciais que garantiram a liderança do Brasil em várias culturas básicas de alimentos no mundo. A análise é do secretário municipal de Desenvolvimento do Agronegócio, Luiz Carlos Saad, para quem a necessidade de alimentar a população mundial levou o Brasil a produzir quatro vezes mais que o seu consumo inter-

no, sendo os três quartos excedentes destinados à exportação, gerando divisas para o país. Essa realidade, conforme o secretário, vem-se concre-

tizando nos últimos 20 anos e, no momento, está sendo o caminho para vencer a crise de saúde pública. Ele acredita que a tendência é aumentar

a produção, com abertura de novas áreas, novas culturas e incremento da produtividade. “O Brasil é um gigante na produção de alimentos em toda a cadeia do agronegócio, mas precisa enfatizar a produção de fertilizantes e suplementos para produtividade”, analisa. Saad observa que Uberaba, nos últimos anos, se posicionou como liderança na pecuária seletiva, assim como na produção de soja, milho, cana e, recentemente, na cultura do trigo no cerrado. Ele conta que o Centro de Pesquisa Embrapa Trigo do Cerrado Uberaba-MG vem buscando excelência na pesquisa e produção de sementes

EMPREENDEDORISMO EM TEMPO DE CRISE

FAZ A DIFERENÇA NO AGRONEGÓCIO

Enquanto inúmeras empresas e indústrias pedem falência ou concordata mundo afora, em consequência da pandemia, o agronegócio vai muito bem, inclusive com previsão de recordes de produção e de exportação. Para o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Rivaldo Machado Borges Jr., o agronegócio sempre foi a moeda forte do país, e isso ficou ainda mais evidenciado durante a pandemia. “Os produtores rurais do Brasil alimentam o mundo e, em tempos onde outras regiões produtoras, que dividem conosco os mercados nacional e internacional, tiveram bastante dificuldade em manter o abastecimento, nós conseguimos e até mesmo aumentamos a nos-

sa produção. Isso tem a ver com o fato de a crise ser nova, mas o perfil do nosso setor não”, diz, acrescentando que já passaram por outros momentos difíceis, e o agronegócio brasileiro sempre foi marcado, não só pela qualidade da produção, mas também pela dedicação e o empreendedorismo dos produtores rurais. Mas não é

só. Rivaldo diz que alguns indicadores são otimistas. “Temos importantes previsões de órgãos internacionais apontando que, por conta desse nosso enfrentamento da crise, o Brasil deve se tornar o maior produtor de alimentos no mundo ainda esse ano. E o nosso otimismo, claro, não é sustentado apenas por leFoto/JM MATOS

vantamentos comparativos com outros países, mas também por uma análise do mercado interno. E conseguimos, inclusive, trazer isso para nossa realidade local”, afirma o presidente da ABCZ. Na outra vertente, o agro não sentiu o impacto da escalada do desemprego no país, porque tem características próprias. Na agricultura tem períodos de safra e entressafra. Na pecuária tem as estações de monta que seguem calendários específicos. “Então, quando pensamos em profissionais ligados diretamente ao setor produtivo, minha percepção é de um impacto mínimo, ou quase inexistente. Afinal, como tem sido amplamente destacado em todo Brasil, o agro não para”, arremata.

para adaptação ao cerrado brasileiro –como aconteceu com a soja – e no desenvolvimento de pesquisa do gado zebu juntamente com ABCZ, e de alimentação animal (braquiária). Na visão do titular da Sagri, com todo esse passado e presente, o agronegócio será a atividade econômica mais forte dos anos futuros, com preservação ambiental, produção de alimentos e de equipamentos industriais, armazenagem, industrialização de proteína animal e grãos, alavancando outros setores, como transporte e logística, tecnologia e qualificação cada vez maior da mão de obra.

AGRO VIVE MOMENTO ESPETACULAR, DIZ PAOLINELLI Engenheiro agrônomo e empresário e produtor rural bem-sucedido, além de versátil nos negócios, Marco Túlio Paolinelli é um dos uberabenses mais otimistas com o setor do agronegócio. Para ele, o setor já vinha explodindo no Brasil e a tendência é de maior prosperidade em curto prazo. “Acredito que o próximo ano será um sucesso. Nem o coronavírus segura o agro”, afirma Paolinelli, mencionando recente entrevista da ministra Tereza Cristina, da Agricultura, onde ela afirma ter aberto no último ano quase 70 novos mercados externos para negócios com o

Brasil, em diversas áreas. Ele destaca que China, Estados Unidos e Europa diminuíram muito a produção por causa da pandemia, enquanto o Brasil batia todos os recordes. De outro lado, ele avalia que, com a baixa produção lá fora, o Brasil vai exportar muito, podendo haver um desequilíbrio com a falta de produtos no mercado interno e até mesmo uma inflação desenfreada. Mesmo assim, Marco Túlio considera o momento espetacular para o desenvolvimento de toda a cadeia do agro.


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ARCEBISPO AVALIA QUE PANDEMIA RESGATOU CONVIVÊNCIA FAMILIAR Marilu Teixeira

mente, a festa de Nossa Senhora da Abadia. Mas, por outro lado, descobrimos as redes sociais, uma nova forma de nos fazermos presentes nas casas, nas famílias e na vida das pes-

soas. Estamos transmitindo as missas em quase todas as paróquias”, avalia dom Paulo, para quem a retomada das missas presenciais deverá demorar um pouco mais.

INFECTOLOGISTA ESPERA QUE PANDEMIA DEIXE APRENDIZADO

O médico infectologista Rodrigo Molina espera que as pessoas tenham um comportamento mais higiênico após essa pandemia. Ele lembra que, durante a pandemia do H1N1, as pessoas adotaram

uma boa toalete para espirrar e não se tocar. Entretanto, após o surto, o que se viu foi a retomada dos velhos maus hábitos. “Espero que essa pandemia nos ensine muitas coisas boas, principalmente o respeito ao próximo, o cuidado de lavar as

mãos antes de fazer ou tocar qualquer coisa, o uso do álcool em gel com mais frequência, e o hábito de tirar os sapatos antes de entrar em casa”, diz o infectologista. Quanto ao uso da máscara, Molina acredita que ela será incorporada ao nosso dress code, especialmente em casos de quadro gripal, a exemplo do que fazem os povos orientais. Molina mantém a expectativa de que as pessoas tenham aprendido a ter um pouco mais de resignação, valorizando mais os momentos próximos de outras pessoas e saibam que ninguém morre apenas com um pouco de isolamento social.

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Corona desperta reflexões

DOM PAULO TORNOU-SE ADEPTO DAS LIVES PARA INFORMAÇÕES DAS ATIVIDADES DA IGREJA Quando a tempestade passar, muitos serão os aprendizados e as lições. A pandemia fechou as portas das igrejas, mas elas continuaram alimentando seus seguidores através da oração, da Palavra, das celebrações transmitidas pelas TVs Católicas, rádios e mídias sociais. O arcebispo metropolitano de Uberaba, dom Paulo Mendes Peixoto, diz que a pandemia vai deixar consequências negativas, como o luto de muitas famílias, mas também as positivas, como a oportunidade para as famílias ficarem mais unidas, motivando a fraternidade no seio familiar. “Tivemos que suspender os principais eventos da Igreja. Não teremos, muito provavel-

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A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) divulgou o resultado de uma pesquisa realizada com médicos psiquiatras de 23 estados e do Distrito Federal. Levantamento identificou que 47,9% dos entrevistados perceberam aumento em seus atendimentos após o início da pandemia. A pesquisa também revelou que 67,8% dos psiquiatras registrou aumento significativo nos atendimentos a pacientes novos, ou que apresentaram recaída após o tratamento já finalizado ou o agravamento de quadros psiquiátricos em pacientes que ainda estão em tratamento. “Daqui pra frente precisaremos encarar a saúde

como prioridade, o que não parecia ser feito anteriormente”, afirma o médico psiquiatra Fauze Sadalah. Psiquiatras alertam para um “tsunami” de problemas de saúde mental devido à pandemia. Fatores como a solidão, o medo da Covid-19 (morte) e incertezas quanto ao futuro agravam doenças mentais preexistentes e criam novos problemas para pessoas até então saudáveis. Questionado se devemos temer mais a morte daqui para frente, Fauze Sadalah acredita que não. “Passar a respeitá-la mais, sim, dando maior importância à nossa vida e cuidando dela de forma mais ampla”,

aconselha. Para ele, a ameaça que o coronavírus representa e as mudanças que ele impôs às nossas rotinas devem trazer a reflexão sobre o que é mais importante em nossas vidas. “Talvez devamos cuidar mais de nossa saúde, dos nossos relacionamentos familiares e fazer também coisas que nos tragam bem-estar, e não somente o que é preciso ser feito”, recomenda.

NÃO TEMOS O CONTROLE DE TUDO, DIZ PSICÓLOGO

Em meio a rotinas produtivistas permeadas por fazer, competir, comprar, vender e vencer, nas quais os espaços para reflexões tendem a esvaziar-se, o diretor de Atenção Psicossocial da Secretaria Municipal de Saúde, Sérgio Henrique Marçal, analisa que a pandemia de Covid-19 “traz à sociedade a lembrança importante de que não temos o

controle de tudo, e que esse controle, na mesma medida, não é necessário, nem sequer possível”. O psicólogo acredita que a humanidade terá de lidar com as consequências das ansiedades, estresses agudos, alterações de humor, incluída a depressão, resultantes da pandemia. “Muitos viverão lutos inesperados. Talvez essas vivências serão um despertar para percebermos a necessidade de construir e alimentar novas formas de existir, de viver”, salienta. A Organização Mundial da

Saúde (OMS) define que gozar de saúde mental consiste em encontrar-se em completa sensação de bem-estar biopsicossocial-espiritual. Com base nesta definição, Marçal orienta que devemos avaliar como cuidamos de cada um desses aspectos na vida para produzirmos mudanças. “Obviamente, as saídas não são descobertas ou construídas solitariamente. Que sejamos, uns para os outros, esperança, colo, calma, segundo as condições e possibilidades de vida de uns e outros, de uns para os outros”, encerra.


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