8
MERCADO
Junho e julho 2020
FOTOS DIVULGAÇÃO
Cenário mostra que etanol terá recuperação gradativa Açúcar com preço fixado e benefícios ambientais contribuirão com retomada ANDRÉIA VITAL
O céu ainda não é de brigadeiro, mas a tempestade perfeita enfrentada pelo setor sucroenergético nos últimos tempos, parece estar ficando para trás. O clima vem se mostrando mais estável baseado na valorização do etanol, em meio a flexibilização das normas adotadas para conter a transmissão da COVID-19. De acordo com o Cepea, o etanol teve sexta alta consecutiva para o hidratado, nas últimas semanas e as vendas no mercado doméstico atingiram 2,04 bilhões de litros em maio. O volume é 29,43% menor que o comercializado em igual período de 2019, mas a redução é mais baixa que a registrada em abril, que foi de 38,37%, com 1,10 bilhão de litros ante 1,78 bilhão de litros vendido no mesmo período em 2019. “Foram criados cenários de guerra bastante difíceis, com indicações de quedas de demanda da ordem de 70%, mas não foi nessa magnitude e hoje estamos comemorando uma queda de 35%, com uma tendência desse percentual se reduzir ao longo do ano”, afirmou Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagência, acrescentando que, apesar das incertezas que ainda pairam sobre o setor diante da incógnita dos futuros impactos da pandemia, o mercado sinaliza recuperação da demanda. “Acho que o pior já passou e a realidade deverá voltar de forma gradativa”, disse.
Para Rodrigues as boas-novas que deveriam ter acontecido em 2020 foram adiadas para o ano que vem. “2021 vai ser um game interessante. Boa parte das usinas já tem o seu açúcar fixado em torno de R$ 1500 a tonelada o que eleva a régua. Com isso vamos criar uma competição no mercado, com demanda de etanol retornado, o RenovaBio e o consumo mais orientado à bioenergia”, disse. Quanto à armazenagem do biocombustível necessária diante das fracas vendas e uma das preocupações do setor desde o início da pandemia, começa a ser equalizada pelas usinas. Segundo o diretor da Agência, a capacidade nominal de estocagem do setor é 17 milhões de m3, sendo que em 2019, foram armazenados pouco mais que 11 milhões de m3. Mas esses níveis de estoque não deverão ser atingidos, mesmo com a demanda diminuída, pois a oferta do etanol é menor, com as usinas produzindo mais açúcar, e em par-
te, pela maioria do produto já estar vendido. Linha de financiamento para quem? Uma das solicitações feitas ao Governo Federal para ajudar o setor atravessar o período conturbado foi atendido parcialmente no começo de junho, com a linha de financiamento criada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com a parceria de bancos privados. Com créditos que podem chegar a R$ 3 bilhões, os contratos de financiamento terão carência de até 12 meses e prazo para pagamento de dois anos. Os estoques de etanol poderão ser usados como garantia para a obtenção dos recursos. O deputado federal e coordenador da Frente Parlamentar do Setor Sucronergético, Arnaldo Jardim, saúda a medida, mas afirma que não é exatamente o que o setor esperava. “Ao longo da pandemia discutimos outras medidas que poderiam dar
competitividade ao etanol. Lamento que isso não tenha tido eco no governo”, afirma Jardim. Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE) e presidente executivo da Associação de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NOVABIO) também diz que a linha de financiamento não atinge de forma democrática todos os interessados, por ser muito seletiva. Além disse, se baliza por um faturamento médio de cada usina superior a R$ 300 milhões o que não corresponde à realidade, bem acima da média de faturamento do setor. “É uma medida paliativa que não atende à grande maioria. É muito restritiva, entre outras exigências que tem, sem falarmos na competitividade dos próprios custos que não são de fato um estímulo ao tomador”, disse. Outra medida relacionada ao etanol que saiu no começo de junho foi a aprovação pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) da resolução que estabelece diretrizes para que produtores possam vender diretamente o etanol hidratado aos postos de combustíveis. O CNPE reúne diversos representantes do governo e é presidido pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. As diretrizes estabelecidas pelo CNPE abordam: isonomia concorrencial no aspecto tributário e preservação da arrecadação de tributos de alíquota específica em relação à comercialização do etanol hidratado com distribuidores de combustíveis; facultatividade de comercialização nessa modalidade pelos agentes interessados; e a isonomia na definição dos padrões e especificação de qualidade do produto final ao consumidor.