JornalCana 283 (Agosto/2017)

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GENTE

Agosto 2017

O BRASIL NÃO CONHECE O SETOR! DIVULGAÇÃO

Fundador do Fórum Sucroenergético afirma que o setor não investe o suficiente para que a população reconheça a importância da agroindústria canavieira

LUIZ CUSTÓDIO

ALESSANDRO REIS, DA REDAÇÃO

Nascido na sede da fazenda da Usina Jatiboca, de Urucânga (MG) em 1943, Luiz Custódio Cotta Martins é uma das personalidades cuja história de vida se confunde com a da agroindústria canavieira. O empresário conhece e respira o universo sucroenergético, onde atua desde 1970, como poucos. Graças à sua experiência pessoal e corporativa, Custódio avalia — como fez na entrevista a seguir — que o setor e o valor que ele confere à economia do País, não é suficientemente conhecido ao ponto de que a população brasileira o valorize e apoie. Ele também opinou sobre outros desafios do setor e seu futuro. JornalCana — No momento atual, quais os principais desafios da “porteira pra fora” do setor? E da “porteira pra dentro”? Luiz Custódio Cotta Martins — O que precisamos da porteira pra fora é a agregar na política de preços da gasolina um diferencial ambiental. No caso, uma Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE). Também é preciso um esforço das montadoras de veículos para melhor a eficiência do motor flex. Já da porteira pra dentro, precisamos investir em tecnologia, aumentar a produtividade, diminuir custos e obter novas receitas com subprodutos da cana, como o etanol 2G, por exemplo. Quais lições do passado o setor precisa aplicar para superar estes desafios? É preciso encontrar uma forma de manter a regularidade dos preços dos produtos. Se isto acontecer, haverá condições para se investir em novas tecnologias e aumentar a produtividade. O setor é cíclico e, portanto, precisa de uma política de preços regular. No passado, na época do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) havia um monopólio de exportação e controle total da produção e isto nos dava condições de basear os preços mediante ao custo de produção e isto dava estabilidade. Hoje isso não é possível. É o mercado quem dita as regras. Por isso precisamos de uma política que nos dê regularidade de preços. O senhor acredita que o RenovaBio será, de fato, implementado? Como garantir o crescimento sustentável do etanol neste ambiente conturbado? O RenavaBio é o programa que propõe soluções de longo prazo e com previsibilidade. Se for implementado dará ao empresário segurança para investir. Não dá para garantir que será aprovado. Estamos na torcida. O cenário parece favorável, já

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Nome completo: Luiz Custódio Cotta Martins Nascimento: 13/08/1943 Natural de: Ponte Nova (MG)

que pela primeira vez na história vemos um ministro de Minas e Energia lutando por combustível que não é fóssil. Porém, há um problema que precisa ser resolvido imediatamente. Com a nova política da Petrobras o preço do etanol está atrelado ao preço da gasolina e isto nos prejudicará no curto prazo. Isto precisa mudar. A concentração é uma realidade no setor, mas ela é saudável para a cadeia produtiva? Em sua opinião, haverá espaço no mercado para pequenas e médias usinas independentes? As fusões são inevitáveis. Mas observo que os conglomerados de usinas não trouxeram nenhum ganho representativo. O que pesa hoje não é o tamanho que uma usina tem, mas a qualidade de sua gestão. Médias e pequenas usinas, bem geridas, têm bons resultados. Usinas que esmagam até 2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar ainda são viáveis. A produtividade agroindustrial do setor está estagnada há anos. Em sua opinião, quais tecnologias são imprescindíveis e nas quais o setor deve investir para garantir a competitividade das usinas brasileiras? A produtividade da cana caiu nos últimos anos, principalmente por causa da mecanização. Por isso, creio que é preciso investir em melhor a tecnologia da mecanização. Além disso, é preciso encontrar uma solução definitiva quanto ao uso e recolhimento da palha. Agora, acima de tudo isso, o setor precisa investir mais na divulgação dos benefícios que o setor traz para a economia e para a sociedade. O Brasil não conhece o setor! É por isso que ele não é valorizado e defendido. E o setor é o culpado por isso. O setor gasta muito pouco ou quase nada sobre o que ele é. As usinas devem investir mais nas comunidades que as cercam e investir em todas as mídias para promove-lo.

Apresentação resumida Custódio vem de uma família de produtores de açúcar e álcool. Seu bisavô fundou, em 1883, a primeira usina de açúcar em Minas Gerais, Ana Florência, em Ponte Nova. Já no ano de 1925, seu avô fundou a Usina Jatiboca, em Urucânia, também na Zona da Mata, até hoje em funcionamento. Depois de formado em agronomia, trabalhou na SUCRAL Engenharia e Processos Ltda em Piracicaba/ São Paulo nos anos de 69 e 70, assumiu vários postos de trabalho nas usinas da família, nos anos 71 e 90, como Gerente Industrial e Diretor da Usina Jatiboca e Usina Ana Florência. De 1991 até hoje como Admistrador na Usina Jatiboca Sendo diretor da Associação de Usineiros de Minas Gerais no período de 1982 a 1988. Foi, também, membro do Conselho Deliberativo do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), no período de 1984 a 1989. Foi Secretário-Executivo do Grupo de Países Latino Americanos e do Caribe Exportadores de Açúcar (GEPLACEA), composto por 23 países no México, de 1994 a 1996, com a responsabilidade de divulgar o açúcar e a nova tecnologia brasileira, o álcool combustível, para a região e outros países. Presidiu o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais (Siamig/Sindaçúcar-MG). Atualmente, Luiz Custódio é vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), já no segundo mandato. É também, há dois anos, dirigente do Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais (Instituto IND). Principais conquistas Foi diretor da Usina Jatiboca, umas das primeiras usinas a implantar um modelo de gestão com governa corporativa. Contribuiu para divulgar tanto a produção, quanto a tecnologia de produção do açúcar brasileiro para outros países. Em sua gestão presidencial do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais (Siamig/Sindaçúcar-MG), trabalhou para que as usinas do Estado saltassem dua produção de 15 para 60 milhões de toneladas de cana. Como um dos atos mais relevantes de sua história atual, formalizou a fundação do Fórum Nacional Sucroenergético. Formação Curso: Agronomia Instituto: Primeira Turma da Faculdade de Agronomia de Botucatu (SP) Turma: 1970 Premiação Conquistou o Prêmio MasterCana Centro-Sul na categoria Líde do Ano em 2004, 2008 e 2012. Em 2009 conquistou a mesma categoria no Prêmio MasterCana Brasil.

24/07/2017 16:42:17


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