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Geraldo César Moreira – Página

A volta da Festa do Divino e das Cavalhadas

Tradição em Pirenópolis vem desde 1819. Ápice acontece no Domingo de Pentecostes, ou Domingo do Divino, quando tem início as Cavalhadas

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Geraldo César Moreira

Após dois anos de interrupção devido à pandemia de covid-19, a Festa do Divino Espírito Santo e as Cavalhadas de Pirenópolis voltam a ser realizadas. A tradicional festa de Pirenópolis, a cerca de 150 Km de Brasília, acontece desde 1819 e tem origem medieval – foi trazida pelos colonizadores portugueses.

PENTECOSTES – O ápice da festa é no Domingo de Pentecostes, que acontece 50 dias após o Domingo de Páscoa, quando a Igreja Católica celebra a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos.

A programação oficial teve início nesta quarta-feira (25), com a saída da Folia do Divino Tradicional, na zona rural. Na sexta-feira (27), às 4h, teve a alvorada com a Banda de Couro. Em seguida, a Banda de Música Phoênix.

Às 19h, na Igreja Matriz, foi o primeiro dia da Novena em Louvor ao

FOTOS: GERALDO CÉSAR MOREIRA

Os mascarados, um dos símbolos de Pirenópolis, as Cavalhadas e o imperador com a coroa do Divino, diante da Matriz

Divino Espírito Santo, cantada em latim pelo Coral Nossa Senhora do Rosário. A tradicional apresentação da peça As Pastorinhas está marcada para os dias 3 e 4 de junho (sexta-feira e sábado), no Cine Pirineus.

No sábado (4) é o último dia da novena, seguida de muitas atrações, como o levantamento do mastro com a bandeira do Divino, queima da fogueira e queima de fogos na beira rio.

Sorteio do Imperador

Na Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, construída entre 1728 e 1732, ocorre a novena e as missas de onde partem as procissões e ocorre o sorteio do Imperador da festa para o ano seguinte. O sorteio acontece no consistório da igreja, logo após a Missa Solene das 9h, no Domingo do Divino.

Segue então o cortejo levando o imperador da até à sua residência. Lá serão distribuídas as verônicas, doce de origem árabe trazido pelos colonizadores portugueses. Trata-se de uma massa de açúcar bem alva que traz a estampa da pombinha com raios, e simboliza o Divino Espírito Santo. São distribuídos também os pãezinhos do Divino.

PATRIMÔNIO IMATERIAL – A Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis está registrada desde 2010, como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), inscrita no Livro de Registro das Celebrações.

Ela acontece desde 1819. O imperador da celebração naquele ano foi o coronel Joaquim da Costa Teixeira. Anualmente é feita uma publicação atualizada com a relação de todos os nomes dos imperadores ao longo dos mais de 200 anos da tradição no lugar. Em 2022, o imperador é Heráclito da Abadia.

Festa na cidade e na roça

A festa agrega várias atrações, ritos religiosos e manifestações populares na cidade e na zona rural. Tem as alvoradas com a Banda Phoênix, fundada em 1893, e com a Banda de Couro, que remete à antiga orquestra dos negros para louvar Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. O Coral Nossa Senhora do Rosário, entoa os cânticos em latim. Tem ainda a catira de origem indígena, a dança do congo de influência africana e a descarga de roqueira, salva de tiros que imita o canhão roca de origem portuguesa, para saudar o imperador do Divino.

Os mascarados, que usam trajes extravagantes e máscaras representando animais como boi e onça, saem às ruas a pé ou a cavalo, fazendo alvoroço. Segundo contam, também têm origem portuguesa, e estão ligados à crença de espantar os maus espíritos.

As Cavalhadas

Este ano, as Cavalhadas (de 5 a 7 de junho) serão realizadas no Módulo Esportivo, uma vez que a Arena Multiuso Ulisses Jayme, o “Cavalhódromo”, está interditada. A abertura será no domingo (5), na segunda-feira será representado o batismo dos mouros, e na terça-feira a confraternização entre mouros e cristãos.

As Cavalhadas fazem parte da Festa do Divino de Pirenópolis e tem origem medieval. A batalha representada, traz um grupo de 12 cavaleiros que usam a cor azul, os cristãos; e outros 12 cavaleiros que usam vermelho, os mouros.

INFORME

Posto de saúde não é hospital

A medicina de família e comunidade do Distrito Federal está sobrecarregada. Com unidades de emergência e UPAs restringindo a aceitação de pacientes, com a decretação de bandeira vermelha e laranja a todo momento, pacientes estão sendo devolvidos “ao postinho”. E, não raro, sendo mandados com quadros clínicos difíceis de resolver sem a estrutura de hospital, que não existe nas Unidades Básicas de Saúde.

Uma hora, é um paciente com uma alteração cardíaca que precisa ser avaliada por médico especialista; exames que não são feitos em posto de saúde – porque não tem equipamento nem médico treinado para fazer a interpretação do exame –; outra hora uma paciente com diminuição de ritmo dos batimentos cardíacos, uma bradicardia, que pode precisar de marcapasso de urgência (que não tem nas UBSs).

E não os problemas não ocorrem apenas com adultos. Na pandemia, todo mundo aprendeu que o nível de saturação de oxigênio no sangue é considerado normal entre 95% e 100%. Tem criança sendo devolvida aos postos de saúde com saturação em 79%. E as UBSs estão sem salbutamol, medicamento usado tanto para tratamento de asma quanto de doenças pulmonares obstrutivas.

O gestor público que deixa isso ocorrer não sabe o que é ver uma criança com dificuldade de respirar e não ter como ajudar.

No final de semana, uma colega que atende em UBS desabafou comigo que um paciente dela, com apenas sete meses de idade, só conseguiu atendimento no pronto-socorro do Hospital Materno Infantil (HMIB) quando chegou ao estado de anúria (quando não se produz ou elimina a urina, por obstrução das vias urinárias ou insuficiência renal aguda). E a mãe teve que peregrinar por três hospitais até conseguir atendimento.

Quando o paciente é devolvido para o posto de saúde, ele e a família já chegam lá com raiva, com o sentimento de revolta de quem está sendo maltratado. E os médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários, que se tornam alvo dessa raiva, muitas vezes não têm como dar a assistência que esses pacientes e essas famílias precisam.

As UBS são a porta preferencial de entrada no sistema público de saúde, mas não são a única. Se o paciente tem necessidade urgente de atendimento, tem que ser atendido nas UPAs e emergências hospitalares. UBS não é UPA, não tem estrutura para atender todas as urgências e emergências.

Há uma grave crise no sistema público de saúde, a qual está sendo encoberta com o recurso das bandeiras vermelhas sem fim: médicos e demais profissionais de saúde em quantidade insuficiente. E o GDF não está desenvolvendo ações para atrair e manter médicos no quadro de servidores da Secretaria de Saúde.

É uma questão de vontade política e de compromisso com a população: médico para contratar não falta em Brasília. Se derem as condições de trabalho, a assistência aos pacientes vai melhorar.

Ou passamos a tratar de forma sistêmica a organização das redes de atenção à saúde

Dr. Gutemberg Fialho

Médico e advogado Presidente da Federação Nacional dos Médicos e do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal

do DF, ou o caos vai continuar e até piorar. É imprescindível acabarmos com a fragmentação e a desorganização do sistema público de saúde. Essa é uma missão ignorada pelo atual governo e que tem de ser encarada de frente pelo próximo, com empenho redobrado.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasília Capital

INFORME

“Projeto de Nação” é ameaça à democracia

Na semana passada, generais ligados ao presidente Jair Bolsonaro e ao vice, Hamilton Mourão, lançaram um documento intitulado “Projeto de Nação – O Brasil em 2035”, com o qual traçam um projeto de ditadura militar para o País, a começar este ano.

Com 93 páginas, o documento desenha um aparato de estrutura político-estratégica que extingue a Constituição de 1988 e prevê o fim da democracia. Na avaliação do Sinpro-DF, trata-se de um documento com graves ameaças às eleições de 2022 e que precisa ser combatido.

Para o Sindicato, o documento rompe com a normalidade democrática, institui a ditadura militar, o autoritarismo e a repressão; elimina direitos trabalhistas; privatiza patrimônios públicos; mercantiliza direitos fundamentais e humanos contidos na Constituição; e, sobretudo, extingue a democracia.

Assinado por três organizações militares, o “Projeto de Nação” foi lançado em Brasília com a música “Eu te amo, meu Brasil”, insistentemente tocada nos veículos de comunicação nos anos 1970 pela ditadura instalada pelo golpe de 1964.

Privatização da educação básica e

superior – Na avaliação da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), “o projeto é reacionário, com o pensamento voltado apenas para as classes dominantes e não prevê um projeto de nação”. Para a entidade, o conteúdo mostra, claramente, que se ele for implantado terá um imenso impacto negativo na educação básica e superior porque aprofunda as medidas neoliberais impostas pelo golpe de Estado de 2016.

“É a continuação e o aprofundamento das medidas neoliberais que já vêm ocorrendo no Brasil e em outros países da América Latina, principalmente sobre educação básica e superior. Se na educação superior pública eles aprovam e querem a cobrança de mensalidade, a educação básica, segundo o projeto dos militares, passa pela privatização e mercantilização ainda mais profunda. Portanto, só vai ter acesso à educação no Brasil quem tiver condições financeiras”, denuncia Luiz Carlos Vieira, diretor de Imprensa e Divulgação da CNTE.

Os militares projetam privatizar o Sistema Único de Saúde até 2025. Ou seja, daqui a três anos o País não terá mais saúde pública e, sim, somente, privada. O professor Vieira afirma que é um plano para dar continuidade ao bolsonarismo, diante do que está colocado. Esse pensamento que une o neoliberalismo, o conservadorismo e as fake news, com tendência ditatorial e que tem alguns apoiadores no Brasil.

“Porém, sabemos que o processo eleitoral está muito perto, que essa visão que eles colocaram no documento não terá condições de fazer a sua propaganda de fato e convencer a população de que essa é a saída proposta por eles. Se, de fato, for implantado, é o fim da democracia e dos processos eleitorais brasileiros, não só o deste ano”.

Para Viera, as eleições brasileiras passarão a ser mera formalidade. “O que está colocado claramente é que aquilo que os militares chamam de democracia, nada mais é do que uma ditadura militar disfarçada”.

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasília Capital