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O Currículo oculto presente no currículo cristão

Leila Matos educadora

Existem muitos elementos presentes na construção de um currículo educacional. Elementos necessários, mesmo antes da sua elaboração como: público-alvo, periodicidade, recursos e contexto regional, estão intrínsecos no fazer de um currículo. O currículo pode ser:

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Formal: Prescrito, composto pelo conteúdo formal, que se quer transmitir, para se chegar ao objetivo.

Real: O currículo em ação, realizado no espaço escolar com os professores e alunos, no dia a dia.

Oculto: Implícito, conteúdos informais que nem sempre são percebidos. Saberes não escritos e, muitas vezes não verbais, que estão presentes, não de forma clara, no ensino que é transmitido, podendo mesmo interferir na compreensão do conteúdo formal. São elementos que estão presentes em uma brincadeira, em um ritual, em um jogo, em uma frase.

O currículo oculto também está presente no currículo educacional cristão. Junto com o conteúdo bíblico/cristão que está discriminado em nosso currículo, outros ensinos estão sendo transmitidos pela prática encontrada no espaço pedagógico: o que se fala, no que se intervém, a escolha de uma atividade lúdica, de uma metodologia…

Se um professor grita em sala de aula pedindo atenção da classe, ele também está ensinando que se pode conseguir algo na vida com o grito, e que é preciso gritar para que os outros o notem.

Se eu chego sempre atrasada na sala, estou ensinando que não é importante cumprir compromissos, e que também os alunos não são importantes. E, se além de chegar atrasada costumeiramente, digo que a classe não pode se atrasar, passo a mensagem de que sou mais importante do que eles, e, que por conseguinte, de que as pessoas devem ser valorizadas pelos cargos que ocupam.

Se eu falo que é importante preservar a natureza, mas uso diversos copos de água durante a aula, acendo as lâmpadas, mesmo com o dia claro, e ligo o ventilador ou o ar-condicionado, mesmo com uma brisa agradável do lado de fora da sala, eu estou ensinando que posso desperdiçar os recursos naturais.

Se eu uso em minhas ilustrações, somente figuras de personagens de determinada classe social ou raça, estou ensinando que as outras classes ou raças não são importantes, e que o aluno deve se mirar na figura apresentada, tentando ser igual.

Se a Igreja faz campanha para ter ar-condicionado na sala de reunião da liderança, e esquece as salas de aula, pode demonstrar que o ensino não está sendo valorizado. Qual a mensagem que passo quando alguns ambientes na Igreja são mais estruturados que outros?

E se a organização da sala de aula é em círculo, em fila, um atrás do outro, o professor que está em destaque está no mesmo patamar dos alunos? Como conduzo minha aula na EBD? O aluno só pode falar no final da aula, ou pode interromper e fazer perguntas? Há uma interação na sala de aula, com contribuições do educando ou somente o professor pode falar? Estou ensinando que todos podem participar e que a contribuição de todos é bem-vinda? Quais os ensinos implícitos na organização da classe?

Se eu não cumpro o que falo em sala de aula, passo a ideia de que a mentira é permitida, e que existem situações em que não preciso cumprir o que prometi. Ensino também uma ética relativa, pois minha palavra não precisa ser “sim, sim, não, não” (Mt 5.37), e que por conseguinte os ensinos de Jesus Cristo podem ser questionados.

Se conto as histórias dos heróis bíblicos sem mencionar suas fraquezas e lutas, passo a ideia de que o cristão não passa por dificuldades, como destacado por Jesus Cristo em João 16.33. Também de que as histórias