Jornal A Sirene - Ed. 6 (setembro)

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A SIRENE

Setembro de 2016

O MAB e a luta dos atingidos em Barra Longa Por Sérgio Papagaio Em Barra Longa, cidade devastada pelo rejeito da Samarco, centenas de famílias perderam tudo. Comerciantes perderam suas mercadorias e o modo de vida da cidade foi totalmente alterado. Pela voz de Sérgio Papagaio, morador da cidade e agora integrante do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), os atingidos falam da importância do movimento para sua organização e para as conquistas desta luta que já completa dez meses.

O MAB apareceu em nossas vidas como um professor e nos ensinou o bê-á-bá. Não sabíamos nada desse negócio de ser atingido e o MAB não só nos mostrou o que é ser atingido, nos dando um norte, como também nos fez entender os nossos direitos, nos organizando como grupo e, consequentemente, nos fortalecendo. (Comissão dos Atingidos de Barra Longa) Sem o MAB, quem sabe não seríamos acometidos pela “síndrome de Estocolmo” e terminaríamos beijando a mão de nossos algozes, assim como fazem várias pessoas, pois ainda acreditam que quem causou toda a tragédia está nos fazendo um favor, quando reconstrói pontes, casas, estradas, igrejas e monumentos. Sem o MAB, estaríamos nas mãos da empresa que causou morte e destruição em Mariana, Barra Longa e todo o Vale do Rio Doce até a costa marítima. Sem o MAB, seríamos atingidos todos os dias, da mesma forma como a Samarco e o governo nos atingem com o “Acordão”. Os causadores avaliam as dores das pessoas que perderam tudo, inclusive entes queridos, pagando por isso um valor em dinheiro e distribuindo cestas básicas nas casas onde outrora distribuíram morte, fome física e mental, tristeza e dor. O MAB nos livrou das viseiras, abriu nosso campo visual, nos possibilitou ter nossa própria visão do emaranhado ilusório ao qual tentaram e tentam nos submeter a cada dia; com falsas promessas, negação de direitos, exclusão de pessoas e um misterioso conceito de atingido.

Foto: MAB Regional Zona da Mata

Os atingidos devem receber indenização pelas terras cheias de lama, devem continuar tendo acesso a elas, para lembrar, reviver, denunciar, para usar o cemitério e as igrejas e o que mais for possível.

Os atingidos são capazes de decidir sobre seu próprio futuro se estiverem unidos e organizados. Quem deve dizer quem é atingido ou não, são os próprios atingidos.


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