Edição 3767 29 Maio 2009

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Conferência Região de Leiria/Governo civil | ESPECIAL 27

Região de Leiria 29 | Maio | 2009

Mais conhecimento científico E Roberto Gamboa era um homem da Física e por lá tencionava continuar, até ao dia em que abriu um curso novo, numa área tão abrangente quanto multidisciplinar: a Protecção Civil. Foi na Escola Superior de Tecnologia do Mar, em Peniche, que o docente do Instituto Politécnico de Leiria se juntou ao interesse nacional alusivo ao tema, que eclodiu nos últimos anos, a partir do ensino superior. De resto, foi só em 2007 que saíram para o mercado de trabalho os primeiros licenciados. O primeiro orador da Conferência fez essa abor-

dagem académica sobre o tema, centrando-se em duas questões fundamentais: a importância de estudar o risco e simultaneamente conhecer as ameaças. “Somos um povo conhecido por resolver as situações que nos aparecem e não pela prevenção. A atitude inteligente é mudar isso”, disse o professor durante a sua intervenção. Lembrou à plateia como depois do sismo em Itália “voltámos a falar do terramoto de 1755” e lembrou os “desastres silenciosos” que é preciso ter em conta, como as ondas de calor, “que só se entendem a seguir” e que exemplifi-

A Roberto Gamboa cam como é desejável “mais conhecimento científico na Protecção Civil”.

O exemplo da Marinha Grande Os exemplos práticos ao nível local foram levados à Conferência por Eunice Marques, comandante operacional municipal da Marinha Grande, que recordou o ano de viragem que foi 2003 para a Protecção Civil daquele concelho. Foi preciso um violento incêndio na mata nacional para que todos adoptassem o esforço de pôr trancas à porta. “Actualmente, para lá dos fogos florestais, o risco nas empresas é aquele que mais nos preocupa”, salientou Eunice Marques, que tem contado com a preciosa colaboração de alguns

alunos (estagiários) do IPL. Um deles realizou um estudo sobre as características do edificado, e construiu a partir daí “uma carta de risco que incluímos no Plano Municipal de Emergência”. Outro apostou num plano de emergência da Zona Industrial da Marinha Grande, revelando-se ambos preciosas ajudas para a Protecção Civil local. “Planear tem sido uma caminhada longa”, disse Eunice Marques, enquanto sublinhava a importância de cada um dos concelhos de uma mesma região “não ser uma ilha”, optan-

A Eunice Marques do pelo necessário trabalho de equipa.

O sismo de Áquila poderia ter desfecho diferente? O sismo de Áquila foi forte. Mas pode muito bem acontecer um ainda mais forte. “Temos muitas falhas tectónicas à volta de Áquila que podem provocar um terramoto de magnitude 7 e este foi 6,3 [graus na escala de Richter]. Este não é o terramoto maior que podemos ter lá, e muitas vezes depois de um terramoto pode vir outro porque há desequilíbrios na zona”. A indicação partiu de Vittorio Bosi, da Protecção Civil Italiana. De acordo com este especialista, a crise sísmica naquela zona de Itália começou meses antes. Mas seria possível evitar a catástrofe? O especialista italiano refere que mesmo percebendo

que algo pode acontecer, a questão será determinar o local onde ocorrerá, quando e qual a magnitude do eventual sismo. Sem estas variáveis preenchidas, será difícil tomar alguma decisão que passe pela evacuação de forma eficaz. Vittorio Bosi recorda o caso de Giampaolo Giuliani que anunciou o perigo de um sismo naquela área. “O problema é que cada previsão feita deve ser cientificamente compatível para que as pessoas possam julgar com bases nos dados que a sustentam. Pedimos muitas vezes para ver os dados que nunca chegaram”, recorda. Afinal, nesse caso não foi possível conferir as variáveis que, caso seja pos-

A Vittorio Bosi sível aferir, permitem tomar uma decisão. “Essas componentes devem ser muito claras e identificáveis”, sublinhou.


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