Região de Leiria 28 Janeiro 2011

Page 48

Saúde

O rastreio sistemático do pé diabético contribui para a diminuição do número de amputações, defende a Direcção-Geral de Saúde

Células estaminais podem ajudar a tratar feridas diabéticas Investigação O pé diabético é um dos exemplos mais significativos de ferida diabética. Cerca de 25% das pessoas com diabetes estão sujeitas ao aparecimento de lesões nos pés. A nova descoberta poderá ajudar a melhorar a sua cicatrização

Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra desenvolveu uma metodologia que combina células estaminais do sangue do cordão umbilical e células dos vasos sanguíneos, permitindo melhorar a cicatrização de feridas crónicas em diabéticos. “É uma descoberta relevante, pode permitir uma solução terapêutica para um problema que tem grande expressão na sociedade actual”, disse à agência Lusa Lino Ferreira, coordenador da equipa do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC/Biocant). Os investigadores descobriram que a utilização de um gel com células estaminais do sangue do cordão umbilical, combinadas com células exis-

48

tentes nos vasos sanguíneos (endoteliais), melhora a cicatrização de feridas crónicas em animais diabéticos. De acordo com o estudo, publicado na segunda-feira na revista científica internacional PLoS ONE, nas experiências laboratoriais foram utilizados seis ratinhos, os quais apresentavam, cada um, duas pequenas feridas de seis milímetros de diâmetro. O tratamento das feridas, através da aplicação do gel, decorreu ao longo de dez dias, período de tempo em que os animais foram mantidos em espaços individuais, com comida e água e temperatura e humidade controlada. “Não chegou a haver cicatrização completa. Mas houve diminuição da [extensão] das feridas ao longo do tempo”,

Região de Leiria — 28 Janeiro, 2011

disse Lino Ferreira. A investigação permitiu concluir que a metodologia utilizada “potenciou o efeito terapêutico”, adiantando que a combinação dos dois tipos de células “melhorou a cicatrização das feridas”, em comparação com feridas tratadas com gel contendo apenas células estaminais. Segundo um documento anexo à investigação divulgada na quarta-feira, que cita dados do Ministério da Saúde, nos seres humanos, o pé diabético “é um dos exemplos mais significativos de ferida diabética”, sendo responsável “por cerca de 70 por cento de todas as amputações efectuadas por causas não traumáticas”.

25 Estima-se que cerca de 25% das pessoas com diabetes tenham condições favoráveis ao aparecimento de lesões nos pés. O pé diabético é responsável por cerca de 70% de todas as amputações por causas não traumáticas.

Rastreio anual do pé diabético para número de amputações Diagnóstico “O pé diabético é uma das complicações mais graves da diabetes, sendo o principal motivo de ocupação prolongada de camas hospitalares pelas pessoas com diabetes e o responsável por cerca de 70% de todas as amputações efectuadas por causas não traumáticas” Segundo a Direcção-Geral de Saúde (DGS), cerca de 25% de todas as pessoas com diabetes reúnem condições favoráveis ao aparecimento de lesões nos pés, nomeadamente pela presença de neuropatia sensitivomotora e de doença vascular aterosclerótica. Numa norma dirigida na passada semana a todos os profissionais do Serviço Nacional de Saúde, a DGS elenca orientação para o diagnóstico sistemático do pé diabético. Nesse documento sublinha a ocorrência, em Portugal, de 1.600 amputações não traumáticas dos membros inferiores por ano. E alerta para o facto de um esforço acrescido do membro remanescente poder conduzir a problemas a curto prazo, “quer se tenha ou não provido de prótese o membro amputado”. “Decorridos cinco

anos sobre a primeira amputação, mais de metade dos casos terão sofrido amputação contralateral”, acrescenta. O rastreio sistemático do pé diabético contribui para diminuir de forma acentuada o número de amputações, sustenta ainda a DGS, que recomenda que todos diabéticos sejam avaliados todos os anos com o objectivo de serem identificados factores de risco condicionantes de lesões dos pés. Para o efeito, são criados três níveis de cuidados de saúde. O primeiro nível implica a criação de uma equipa, em cada Agrupamento de Centros de Saúde, com médico, enfermeiro e profissional treinado em podologia. O segundo prevê uma equipa com endocrinologista ou internista, ortopedista ou cirurgião geral e enfermeiro e profissional treinado em podologia em cada hospital ou centro hospitalar. O último leva à intervenção de uma equipa com estes elementos além de um cirurgião vascular, um fisiatra e um técnico de ortóteses em hospitais ou centros hospitalares que tenham a valência de cirurgia vascular.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.