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Do impresso ao digital
As transformações do jornalismo e os seus desafios.
Ojornalismo impresso tem um papel histórico fundamental na agenda e na formação da opinião pública. Entretanto, com os avanços tecnológicos e a crise pandêmica dos últimos anos, os hábitos de leitura vêm sendo impactados diretamente, e esse modelo comunicativo tem perdido espaço para as novas tecnologias da informação.
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Segundo dados do IVC (Instituto Verificador de Circulação), em 2022, os jornais impressos brasileiros tiveram uma queda de 16,1% na circulação. Além disso, as assinaturas em 2023 representam apenas 46,7% do número de leito- res fiéis ao jornal em 2019, ano anterior ao início da pandemia. Em contrapartida, as assinaturas digitais cresceram 27% nos últimos 4 anos, ressaltando o fortalecimento do jornalismo digital na atualidade.
Os números mostram que a pandemia acelerou ainda mais os processos de plataformização e a busca por informação em veículos digitais..
Tânia Azevedo, advogada, 67 anos, conta que cancelou as assinaturas dos impressos durante a pandemia por medo de contaminação, mas assinou as versões digitais de dois jornais locais para continuar se mantendo informada. “Mesmo com o fim da pandemia, não pretendo voltar aos jornais físicos. A versão online acaba sendo mais objetiva e prática”, assumiu a advogada.
Para o presidente da ABI (Associação Baiana de Imprensa), Ernesto Dantas, o jornal impresso precisa repensar suas rotinas e mesclar práticas do jornalismo digital para se sustentar no mercado. “Esses jornais não têm mais o poder de in fl uência e relevância de antes. A marca sobrevive, porque ela é conhecida, mas precisa se transformar para sobreviver. O veículo que tem um bom número de tiragens atualmente é porque o seu projeto em web se complementa e funcionam em conjunto”, ressaltou Dantas.
Busca por inovação
Apesar de o panorama refletir a preferência do leitor por notícias online e o enfraquecimento dos moldes de produção e circulação do mode- lo impresso, Meire Oliveira, editora do jornal A Tarde, o mais antigo jornal impresso baiano em circulação, defende que os jornais impressos não serão extintos. “Quando surge um novo veículo de comunicação, há a crença do fim do jornalismo impresso. Porém, até hoje não ocorreu, porque o público do jornal não é o jovem da geração Z. O conforto que ele proporciona ao leitor, de sentir a informação e a materialidade dela, não pode ser transmitido pela internet” afirma a jornalista. Para Meire, a sobrevivência do modelo impresso depende da reinvenção do veículo e de sua capacidade de adequação às tendências atuais, tarefas que devem ser realizadas pela nova geração de profissionais do jornalismo. “Os temas da atualidade precisam estar nas pautas escritas da forma mais didática possível, assim como estão na internet. É papel da nossa nova geração de jornalistas, sejam da FACOM ou de outras universidades, não deixar que o impresso se acomode com o modus operandi de produção tradicional”, defendeu Meire.
Acerca da compreensão da universidade como principal agente formador da profissão na busca pela sobrevivência da prática jornalística alinhada às inovações, a jornalista Clara Albu-
Entre a modernização da linha editorial e da redação
Presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da UFBA, Ernesto Dantas Araújo Marques fala sobre sua trajetória e apresenta perspectivas acerca do jornalismo.

Quando você escolheu seguir carreira no jornalismo, você imaginava assumir cargos em entidades representativas?
Na verdade, eu comecei a brincar de jornalismo ainda criança. Fiz um jornal em casa, nos fins de semana, era costume ter um entra e sai muito grande de familiares e amigos. Então eu fiquei muito impregnado com essa coisa mais romântica do jornalismo, como sempre gostei de ler e escrever. Como secundarista, participei do jornal da escola e na hora de prestar o vestibular, não tive muita dúvida. Eu não tinha muita expectativa nesse sentido, até porque quando eu comecei a trabalhar, acabei enveredando mais para o lado da televisão. Era uma função que eu nunca imaginei fazer, já que eu sempre me considerei um cara mais dos bastidores e da escrita.
Como presidente da ABI, uma instituição que, dentre outras atri buições, tem a missão de manter a memória do jornalismo baiano, como o sr. observa o processo de rejuvenescimento das redações?
A gente chama isso de juniorização das redações. Puxando um pouco a brasa para a sardinha da minha geração, é absurdo você considerar velho um jornalista de 50 anos. É uma fase que você guarda ainda muito vigor no sentido mental e físico mesmo. Mas ao mesmo tempo, você já tem uma experiência de vida considerável, já fez grandes entrevistas. Eu acho que isso é uma coisa que soma muito, principalmente quando você está em cargo de editoria, quando se está secretariando uma redação ou quando está dirigindo um veículo de comunicação. Abrir mão de experiência é uma coisa que me choca, além disso você deixar de ter contato intergeracional. Eu aprendi muito com os jornalistas mais experientes que eu conheci e que me deram atenção, me deram tempo, se preocuparam em conversar e contar vivências profissionais. Histórias em redação ou em mesa de bar, essa querque, ex-aluna da FACOM (Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia) e, atualmente, correspondente da TNT Sports Brasil na Itália, afirma que a faculdade foi um laboratório de aprendizagem e preparação para o mercado. “Todas as transformações que o jornalismo baiano passou foram debatidas no instituto para encontrarmos modos de produção mais qualitativos, encontrarmos avanços e não estagnarmos. A produção científica e acadêmica da FACOM soube cumprir o seu objetivo de nos ensinar como é o jornalismo na prática, para além da sala de aula”, reflete Clara. convivência sua geração não vai ter mais porque um Jornalista como eu é plenamente descartado, você não vai conviver com o cara da minha idade. Apesar de não ser velho.
Como você avalia a transformação das linhas editoriais de jornais com o objetivo de se popularIzar e chamar a atenção do leitor?
Eu acho que vale tudo para chamar atenção do leitor menos depreciar a qualidade da informação. Tudo menos fazer qualquer tipo de confusão entre informação qualificada, jornalismo e conteúdo para se difundir com certa rapidez em redes sociais. Isso essencialmente não é jornalismo. Isso não é produção de informação que tem utilidade pública. Estando em uma realidade que nos empurra nessa direção, eu acho que resistimos muito pouco, a gente absorve.