Jornal O DIA

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Teresina, Domingo, 25 de Setembro 2011 .d o

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Bom Jesus

Cerrado: cenário modificado pela pujança do agronegócio Os números que envolvem a produção no Cerrado piauiense são gigantescos, tudo é calculado em toneladas e milhões Vanessa Mendonça Repórter Pouco mais de uma década após o início das atividades do agronegócio (produção de soja, milho, arroz, feijão e algodão) em Bom Jesus, a 630 km de Teresina, a Serra do Quilombo apresenta uma das melhores produtividades de grãos do Brasil e a região vive um boom de desenvolvimento. Paralelamente ao incremento da economia local, são visíveis problemas infraestruturais. Além disso, o uso de sementes transgênicas e agressões ao meio ambiente dividem opiniões. Os números que envolvem a produção de grãos no Cerrado piauiense são gigantescos. Apenas a safra 2011/2012, cuja área plantada é estimada em 550 mil hectares, consumirá 90 mil toneladas de calcário, 25 mil toneladas de gesso, 220 mil toneladas de adubo com base em fósforo, 100 mil toneladas de fertilizantes com base em potássio e R$ 400 milhões de reais em defensivos (como herbicidas e inseticidas). A Serra do Quilombo

abrange terras nos municípios de Bom Jesus e Monte Alegre. A estimativa é de que cerca de 150 produtores, de pequenos (terras de até 300 hectares) a grandes (mais de 10 mil hectares), cultivem aproximadamente 150 mil hectares na Quilombo. Desde 1999 empresas multinacionais voltadas para o agronegócio tem se instalado na região, como Bunge e Cargill, o que tem impulsionado ainda serviços relacionados ao setor, como revendas de insumos e de máquinas agrícolas, transportadores de cargas e passageiros. Até mesmo no comércio local multiplicaram-se nos últimos anos de mercadinhos a lojas que comercializam produtos de grandes marcas. O setor educacional também ganha investimentos movidos pelo desenvolvimento do agronegócio. Há cinco anos foi instalado em Bom Jesus o campus Cinobelina Elvas, da Universidade Federal do Piauí, que oferece cursos voltados para suprir a demanda de mãode-obra para o setor agrícola: Engenharia Agronômica, Zootecnia, Enge-

nharia Florestal, Medicina Veterinária e Biologia. A Ufpi também mantém o Colégio Agrícola de Bom Jesus, que no último Exame Nacional do Ensino Médio obteve a melhor colocação entre as escolas públicas do Piauí. O mercado interno forte, especialmente no Ceará e em Pernambuco, dão sustentação ao negócio, apesar da instabilidade atual do Dólar. Apesar dos avanços, como qualquer lavoura, as grandes fazendas de soja e milho do Sul do Estado ficam à mercê de intempéries climáticas e das instabilidades do mercado mundial de comodietties. A produção de soja em grande escala na região se efetivou na safra 2001/2002. Desde então, quatro safras foram comprometidas por falta de chuvas ou por baixos preços. “Mas a última, por exemplo, foi muito boa. E nossa estimativa é de que a próxima se mantenha nesse ritmo”, diz César Marafon, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Bom Jesus do Gurguéia.

Fotos: Paulo Barros

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Campus da UFPI em Bom Jesus tem cursos voltados para o setor agrícola. Produção cresce em vários áreas

Agricultura de Precisão reduz desperdício e danos ao meio ambiente A alta tecnologia é uma característica da produção de grãos no Sul do Piauí. É grande a oferta de produtos de alta performance, como sementes e maquinário de última geração. Produtores mais arrojados tem investido na Agricultura de Precisão (AP). Essa metodologia de manejo de solo possibilita menores gastos com insumos e redução dos danos à natureza. Em todo o Piauí, 23 mil hectares já são cultivados através desse tipo de metodologia. “Estamos avançados nessa área, mas os Estados Unidos ainda dominam. A ideia é achar uma forma de manter áreas homogêneas em relação a micro e macro nutrientes”, explica Antônio Carlos Chies, diretor da Evolução Agrícola, empresa do grupo Stara, uma das detentoras das tecnolo-

gias da AP no Brasil. Na Serra do Quilombo, assim como no restante do Brasil, a metodologia mais comum é o mapeamento de área, que define quantidades de insumo a serem aplicadas de forma genérica. Através da Agricultura de Precisão, é possível aplicar a quantidade necessária de cada micro e macro nutriente por hectare. A dosagem de insumos é feita de forma automatizada, com base em dados conseguidos a partir de análise laboratorial de 12 amostras feitas em cada talhão do terreno. “Fazemos um mapa que mostra a necessidade de fósforo em cada parte da área. O mesmo com o potássio, o enxofre e os outros nutrientes. Esses insumos são aplicados com maquinário que tem acoplado

um equipamento próprio. São abertas comportas que liberam a quantidade necessária de nutriente para aquele trecho”, explica Antônio Carlos Chies. Segundo o executivo, o estágio final de preparação do solo via AP se dá a partir do terceiro ano. “Depois disso é necessário apenas manter a área homogênea. Reduz-se o desperdício, melhora-se a produtividade”, analisa. A técnica pode ser utilizada em qualquer cultura. “É uma técnica acessível. No Piauí, diferente de outros lugares, nossos melhores clientes são pequenos produtores”, acrescenta. No Brasil, as técnicas da AP foram desenvolvidas através do projeto Aquarius, encabeçado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFMS) em parceria com

Antonio Carlos Chies explica a metodologia utilizada para preparar o solo sem ter prejuízos grandes empresas do setor. O Aquarius possui o

maior banco de dados de agricultura de precisão do

mundo.

(Vanessa Mendonça)

Terras baratas são principal atrativo para produtores do Sul

O gaúcho Ricardo Dezordi chegou ao Piauí há dez anos com o pai e o irmão, atraídos pela perspectiva de bons negócios A história do paranaense César Marafon é semelhante à de muitos agricultores sulistas de

deixaram seus estados para tentar ganhar a vida no Cerrado piauiense. Como principal atrativo,

terras baratas e em abundância. Natural de Ibema (PR), Marafon chegou há 12 anos, trazendo toda

a família (esposa e três filhos), a Bom Jesus. “O que trouxe a gente para cá foi a qualidade das

terras e a perspectiva de crescimento. O Piauí não é só uma das últimas fronteiras agrícolas do país. É uma das melhores”, explica César Marafon. Um dos primeiros ‘forasteiros’ a chegar à Serra do Quilombo, o paranaense foi atraído pela propaganda feita pelo então governador do Estado, Mão Santa, e o então secretário estadual de Agricultura, o hoje deputado federal Marcelo Castro. “A gente nem sabia o que era o Piauí, mas viemos conhecer. Apesar de termos uma boa produção lá (no Paraná), tínhamos poucas terras. O preço de um hectare lá equivale a 10 por aqui”, lembra. A produtividade de soja das terras de Marafon impressiona: 62 sacas por hectare – a média no Piauí é de 58 sacas por hectare e a nacional é 50 sacas por hectare. Tecnologia (preparação de solo, adubação e sementes), qualidade do solo e know how justificam esses números. Os pais, avós e bisavós de Marafon sempre mexeram com agricul-

tura, especialmente soja e milho. “A gente se criou e vive disso, não sabe fazer outra coisa”, diz o produtor, que hoje possui, em parceria com um irmão, 1.200 hectares na Serra do Quilombo onde são produzidos soja, milho, feijão, milheto e sorgo. Ricardo Lamaisson Dezordi deixou Salto do Jacuí (RS) há 10 anos com o pai e o irmão também atraído pelas promessas de prosperidade na Serra do Quilombo. “Temos um bom mercado interno, boa produtividade”, diz o fazendeiro, que planta soja, milho, arroz e feijão em 2.309 hectares. Os principais compradores dos grãos da Fazenda Jacuí são granjas e beneficiadoras localizadas no Nordeste. “Aqui temos pouco serviço manual. E a maior parte da nossa mão-de-obra é local. Nossa produção também é para mercado interno”, relata Ricardo Dezordi, que diz não ter pretensões de deixar o Piauí. (Vanessa Mendonça)


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