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— Mas que coincidência, dona Júlia, eu estava justamente me recordando de seu pai. A que devo este telefonema? — É um pouco difícil explicar pelo telefone, eu poderia falar pessoalmente com o senhor? — Mas claro, quando quiser. — Pode ser amanhã mesmo? Eu estou morando em Jacareí. Pode ser no começo da tarde, lá pelas duas? Magno sente ansiedade na voz da moça. — Sim, claro, eu a espero no Instituto de Criminalística; fica colado ao Instituto Butantã, está bem assim? — Está bem, eu sei onde fica. — É só perguntar por mim na portaria que encaminham. Sentindo que fora formal demais, acrescenta: — Tem estacionamento ao lado, a senhora não se preocupe com a hora, estarei à sua espera até o final da tarde. Magno não retorna ao filme. O telefonema lhe trouxe de volta uma enxurrada de lembranças, quase como se fosse também um filme de suspense. O tio Nunes preso no porão infecto do Raul Soares, os conselhos do Durval num momento tão delicado como aquele, ele ainda meninão, não sabendo o que fazer. A alegria, no dia em que soltaram o tio, assim que a Gazeta publicou a lista de estivadores presos, exatamente como o Durval tinha previsto.


