Livro comunidade simone tuzzo

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versidade de Columbia) no Rio de Janeiro, onde arquitetos do mundo inteiro e outros profissionais são convidados a discutir o que é a cidade do futuro. Para Wigley, esse futuro não está na Europa ou nos Estados Unidos, mas na América Latina, no Leste Asiático, no Oriente Médio e na África. Ele não tematiza a questão do comum, onde se pode localizar a dimensão humana na espacialização, mas a noção está implícita nas formas de vida experimentais e nas transformações que ele aponta em cidades como o Rio. É que o comum designa um topos. Heidegger sublinha o contraste em Aristóteles de duas atribuições: Topos como espaço ocupado e configurado pelo corpo, logo, como lugar próprio do corpo, e khora como o espaço enquanto pode acolher um lugar e contê-lo, portanto, como receptáculo e continente2, evidentemente de corpos e pessoas. Só na física moderna é que “o espaço perde a distinção e a atribuição dos lugares e das direções nele possíveis. Ele se torna extensão tridimensional uniforme para o movimento dos pontos de massa que não têm lugar distinto atribuído, mas que podem estar em qualquer localização de espaço”.3 Diferentemente de espaço abstrato, lugar é a localização de um corpo ou de um objeto, portanto é espaço ocupado. Território, palavra mais moderna, é o lugar ampliado. Assim, hoje dizemos que território é o espaço afetado pela presença humana, portanto, um lugar da ação humana. Só que essa localização não é necessariamente física, pode ser a propriedade comum de um conjunto de pontos geométricos de um plano ou do espaço. Aí então, nossa referência não é mais topográfica, mas topológica –– a lógica das articulações do lugar, portanto, a teoria das forças, das linhas de tensão e atração, presentes no laço invisível que desenha a cidade como um lugar comum (koiné) ou comunidade (communitas). Nestes termos, lugar é uma configuração de pontos ou de forças, é um campo de fluxos que polariza diferenças e orienta as identificações. Por isso, o filósofo pode defini-lo como possibilidade “interna” Heidegger, M. Remarques sur art-sculpture-espace. Éditions Payot & Rivages, 2009, pp. 18-25..

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Ibidem.

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