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Maio de 2015
Aqui um cresce jornal
“Ecos” estava predestinado ”ab origine”, isto é, desde a sua fundação, em 2009, a ser um projeto de longa duração, expressando o desejo dos seus autores. Apesar de ter sido feito um esforço estóico, para a sua manutenção, nos últimos anos, as medidas tomadas pelas instâncias superiores goraram as expetativas, provocando um certo caos, retirando o tempo de pensar, condição “sine qua non”, diga-se, imprescindível para desenvolvimento de projetos. No entanto, o nosso projeto “Ecos” continua “de vento em popa”, pois sabemos que “labor omnia vincit”, ou seja, o trabalho árduo tudo vence e não regateamos esforços para que isso aconteça. Efetivamente a luta tem sido difícil, mas vamos caminhando “ad augusta per angusta”, ou seja, não se vence na vida sem luta e, tendo em conta o aforismo de Hipócrates, “vita brevis, ars longa”, a vida é breve, mas a arte é longa, e citando Virgílio, “sic itur ad astra”, pugnaremos sem tréguas até alcançarmos as estrelas, ou melhor, os nossos objetivos. Abrimos esta edição com uma reflexão sobre autonomia e os vários programas de reforço: celebração de contratos (2007/2011); e o programa “Aproximar Educação”, deixando a questão no ar: será que esses programas não têm tido um efeito antitético, resultando “um esvaziamento na educação”? Evocamos finalmente três pessoas que deixaram fragmentos da vida no Liceu Nacional da Póvoa de Varzim, antepassado da ESEQ: o Dr. Afonso Soares, o professor e reitor desse estabelecimento escolar, no centenário da sua morte; o Dr. Énio Ramalho, com uma vida ao serviço da santa docência e múltiplas atividades paralelas, evidenciadas na inauguração recente de uma exposição na Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim; e o Padre João Marques, falecido recentemente, que iniciou o seu percurso de professor no Liceu e que acumulou múltiplas outras facetas, destacando-se como nome sonante da historiografia portuguesa. Recordamos também o desaparecimento recente de Manoel de Oliveira, cineasta dos séculos XX e XXI que, parafraseando Camões, se libertou da lei da morte. Terminamos fazendo uma homenagem a todos os nossos colaboradores, mormente, àqueles que continuam a primar pela participação e assiduidade desde 2009 até 2015, sétimo ano consecutivo. É este o exemplo que queremos dar aos nossos jovens discentes. Foi sempre um dos grandes objetivos de Ecos despertar nos nossos alunos o gosto pela leitura e escrita. Na verdade, nunca devemos perder a esperança, pois compensa lutar por um ideal sonhado, mesmo que o percurso seja penoso. Assim como dizem os latinos: “accidit in puncto quod non speratur in anno”, ou seja, acontece num minuto o que não se espera num ano e, por isso estamos convictos de que “Ecos” poder-se-á transformar no embrião do futuro.
FICHA TÉCNICA
Produção JOSÉ EDUARDO LEMOS MARIA JOÃO SÁ
Propriedade ESCOLA SECUNDÁRIA EÇA DE QUEIRÓS
Paginação e Design MARIA JOÃO SÁ
Diretor ANTÓNIO FERREIRA DA SILVA
Fotografia PIXABAY, M.ª JOÃO SÁ, AGOSTINHO MOREIRA, ETC
Direção Editorial ANTÓNIO FERREIRA DA SILVA ALDA FERREIRA FÁTIMA GUEDES MARIA JOÃO SÁ
Impressão TIPOGRAFIA MINERVA Tiragem 500 EXEMPLARES Edição online WWW.ESEQ.PT
3 Maio de 2015
Aqui é uma escola DESCENTRALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO Programa “Aproximar Educação”
V
ários Governos tentaram transferir algumas das competências e poderes da Administração Educativa - Central e Regional - para as Escolas, alegadamen-
te, para reforçar a sua autonomia e o poder de decisão dos seus órgãos e agentes. Em setembro de 2007 foram assinados os primeiros vinte e dois “contratos de autonomia”. Seguiram-se outros tantos em 2010 e várias centenas em 2012. Passados estes anos, a conclusão é óbvia: ao contrário do que se propalava, hoje as Escolas têm menos autonomia do que a que tiveram entre 2007 e 2011. Mais recentemente, o Governo gizou um novo programa de transferência de competências da Administração Central para as autarquias locais. Este programa, designado “Aproximar Educação”, alegadamente, serviria para aproximar a Educação das populações e reforçar a autonomia das Escolas. Acontece, porém, que “a bota não bate com a perdigota”, como diz o ditado popular. De facto, não se alcança como será possível reforçar a autonomia das Escolas, introduzindo no sistema uma nova entidade “educativa” – a Autarquia – sem que, simultaneamente, se extinga qualquer uma das entidades da Administração Educativa existentes. Ao contrário do que se afirma, na prática, nos concelhos que aderirem ao programa
biblioteca, sala de estudo orientado,
velmente, por fragilizar as Escolas
“Aproximar Educação”, as Escolas passarão a ter de responder não a uma nova tutela
serviço de apoio educativo, atividades
públicas,
que substitui as anteriores, mas a duas tutelas distintas – a Administração Educativa e
de coadjuvação, desporto escolar, entre
institucional e integrando-as, como
a Autarquia - num claro e inevitável reforço da burocracia e não da autonomia.
outros, possam ser subcontratados a
mais um serviço, entre os que já existem
operadores privados,
nos Municípios aderentes.
prática
diluindo
o
seu
caráter
outsourcing
de
A autonomia e a entrega de poder às
comummente,
se
Escolas é o melhor caminho para
O programa “Aproximar Educação” vem abrir um novo percurso, se não em sentido
numa
contrário, completamente diferente no rumo do encetado pelo programa de Autonomia
atividades
das Escolas. A autonomia tem como consequência a diversificação e diferenciação entre
encontram na esfera direta do Estado e
qua-lificar
projetos educativos e entre Escolas; o programa “Aproximar”, pelo contrário, tenderá
que, se tal acontecer, passarão, forçosa
Educação. Melhor que o atual sistema
a uniformizar os projetos educativos e as Escolas à luz do Plano Estratégico Educativo
e naturalmente, a orientar-se mais para
excessivamente centralizado e melhor
Municipal. A autonomia traduz-se num acréscimo de competências e responsabilidades
a obtenção de lucro e não propriamente
que o programa “Aproximar Educação”.
para as Escolas, o programa “Aproximar” traduzir-se-á num esvaziamento de
por interesses pedagógicos e educativos.
O serviço público de Educação só
competências das Escolas.
Os Contratos com as autarquias não só
pode melhorar se forem transferidas
não resolverão nenhum dos problemas
competências para os decisores escolares
O programa “Aproximar Educação” materializa-se nos contratos de Educação e
com que as Escolas se debatem atual-
– os que estão diariamente no terreno,
Formação Municipal, assinados por três partes: o Ministério da Educação e Ciência
mente, como se constituem como (mais)
os que tem a preparação pedagógica e o
(MEC), a Presidência do Conselho de Ministros e o Município.
uma medida de caráter experimental a
conhecimento dos alunos e dos pais. O
Estes contratos contêm disposições que se traduzem numa transferência de
que algumas Escolas do país (e os alunos)
reforço da autonomia, com verdadeira
competências, não apenas da Administração Central, mas também das Escolas para
não se poderão furtar, em prejuízo da
transferência de poder de decisão para
o Município. Ao contrário do que se afirma nos considerandos iniciais da minuta do
sua autonomia e de um serviço público
os órgãos da Escola, é a via que pode
contrato, as Escolas não verão nem reforçada nem aprofundada a pouca autonomia
de educação de qualidade.
ajudar a Escola, indiscutivelmente um
que têm, antes pelo contrário, perderão autonomia e poder de decisão em favor das
Estes contratos não se constituem
dos serviços públicos mais próximos
autarquias.
como uma via de aprofundamento da
e socialmente mais integradores que o
Outro aspeto preocupante resulta do facto de não existir no contrato uma única norma
autonomia das Escolas, nem de refor-
Estado disponibiliza às populações, a
ou salvaguarda que impeça o município subscritor de subcontratar ou subconcessionar
ço dos seus projetos e identidades.
tornar-se num serviço público moderno
em operadores privados, todas ou parte das competências e atribuições que lhe forem
Pelo contrário, esvaziam-nas da pou-
e eficiente.
transferidas.
ca autonomia que têm e subtraem
Em consequência, este contrato abre portas a que serviços, atividades e projetos,
poder de decisão aos seus órgãos de
nomeadamente serviços de adminis-tração escolar, papelaria escolar, bufete, refeitório,
Administração,
que,
de
acabando,
inevita-
o
serviço
público
de
José Eduardo Lemos
4
Maio de 2015
Aqui é uma escola
Saudade
Q
Os professores estão cansados…
uando estávamos todos cá, nunca tinha transposto aqueles muros altos e pintados de branco, aqui e ali salpicados por portões do mesmo porte de um verde-escuro. Passava pelo passeio, junto aos carros apressados e sentia-me feliz, pois, na minha família, todos estavam vivos.
Quando somos jovens, julgamo-nos eternos e sabedores de todas as coisas.
D
eixemo-nos de eufemismos! Nós não estamos cansados. Estamos exaustos. Todos? Ousaria
dizer
que
sim,
mas, talvez fique mal dizê-lo. Alguns.
Aprender a sair para a vida
A
Escola surge como passaporte para uma vida menos limitada, menos redutora, menos
agrilhoada,
mais
recompensadora, mais luminosa, uma
Porquê? Porque já iniciámos o ano
vida que possa realmente ser devida e
Hoje, transpus aqueles portões e olhei para os muros pela parte de dentro. O que ficou
letivo com uma série de cansaços
gratificantemente vivida, corolário de
lá fora já não existe, os carros já não passam junto ao passeio que já não está lá e as casas
acumulados de anos anteriores em que
uma inclusão que se deseja na potência
estão emparedadas lá fora.
a única recompensa que tivemos foi
máxima.
um brilho nos olhos de um aluno pelo
O que começou por ser um desafio
Hoje, a manhã está iluminada por um sol lavado e os ciprestes carregam nas folhas um
prazer da descoberta de algo, ou até
tremendo para a ESEQ, pela novidade
verde primaveril.
mesmo porque nos viram chegar à sala
registada em 2012, com a abertura total
e, porque não, uma troca de palavras
das portas do secundário aos alunos
Já acompanhei muitos amigos e alguns familiares a este espaço semeado de cruzes e
cúmplices nos corredores. Não é pouco.
de Currículo Específico Individual, a
mármore brilhante. As flores em seus arranjos carinhosos perfumam o ar e transportam
Não. Mas não chega para tantas horas,
motivar uma adaptação dos recursos
um colorido delicado ao silêncio em que tudo se encontra mergulhado.
pouco valorizadas, gastas do nosso
físicos
tempo. Não os vamos culpar. Nada
volvidos três anos, num autêntico so-
Percorro os caminhos que me levam até junto do meu pai. Um emaranhado de placas
têm a ver com isto. Também não vou
pro de felicidade para alunos que não
distribui-se por todo o lugar. Datas, nomes, mais datas e mais nomes.
procurar culpas nem culpados porque
usufruem de um currículo comum.
de nada serviria. Só queria alertar
A Escola como verdadeiro laboratório
“Recordação dos teus filhos”, “Lembrança dos teus amigos”, “Saudade Eterna”,
para este facto penoso. Basta olhar
de ensaio e preparação plena e inelutável
“Saudades da tua esposa”, “Saudade do teu marido”…
para a postura física de alguns de nós:
para a vida ativa e adulta, princípios
ombros encolhidos, costas vergadas
sagrados por que se rege a ESEQ,
Percorro o caminho com o sol pelas costas, a manhã já vai alta. Batem-me nos olhos
como se as pastas pesassem toneladas,
mais-valia inestimável para estudantes
centenas de fotografias e afogo-me milhentas vezes na palavra saudade.
ausência de sorrisos ou apenas nos
muito especiais e aos quais se concede o
e
humanos,
transformou-se,
lábios, olhar ausente, sem vontade,
direito absoluto de partilharem espaço e
Fico junto daquela que será a minha última morada, converso com o meu pai, digo-lhe
sequer,
experiências com outros companheiros,
que tenho saudades da sua voz, do seu riso alegre, da sua mão na minha, do beijo que
(muitos são os que passam os intervalos
mostrando-lhes
lhe dava como prenda no dia do pai e vejo-o a sorrir para mim na fotografia, ao lado
na sala, com uma vontade imensa de
tem muito de belo e prazeroso, mas
da palavra saudade.
sossego). Onde estão as anedotas, as
que,
gargalhadas, a “cusquice” malandra?
favoráveis,
Fico ali, perdido nas emoções da sua presença. Lanço olhar à minha volta e descubro
Afinal, em que nos estamos a tornar?
possibilitado pela Escola, seria sempre
outros como eu, que se encontram com os seus pensamentos.
Em seres desinteressantes, amorfos e
encarado como uma realidade inóspita.
de
conversar
no
intervalo
noutras
um
mundo
circunstâncias
sem
o
que menos
enquadramento
velhos? Recuso! (Talvez, olhando para
Papel de relevo do qual a Escola não
Agora, que já não sou jovem, verifico que afinal tinha razão quando me pensava eterno.
o espelho, tenha que reconhecer que
se abstém, a necessidade imperiosa de
É que o meu pai continua vivo em mim e saio dali com ele, com o seu braço por cima
as brancas vão aparecendo…). Acho
dar a conhecer aos alunos a vida ativa,
do meu ombro e com o seu coração no meu, batendo de saudade.
que a resposta é mesmo cansaço. Só?
através de trabalhos e projetos o mais
Sim. Um cansaço cá do fundo, mesmo
aproximados e adequados ao perfil
das profundezas, que é perigoso e
individual, convoca a participação ple-
assustador porque pode levar a querer
na da comunidade escolar, no cum-
desistir daqueles que sempre foram e
primento de uma missão que os conduza
ainda são a razão de estarmos aqui: os
e oriente para uma transição suave rumo
alunos.
a um futuro mais autónomo, só possível
Luís Diamantino C. Batista
necessariamente com a contribuição e empenho ilimitado da família. Se, para a maioria, o aprender a sair para a vida se faz aparentemente com menos dificuldade, será exigir demasiado, será pedir o impossível que os alunos de Currículo Específico Individual também o
possam
fazer,
convenientemente
guiados pela Escola e pela família que os acolhe, os ampara, os acarinha, os motiva e os educa? A ESEQ prova que é possível ensinar a sair para a vida.
5 Maio de 2015
Aqui é uma escola SPO Educação para a Paz
O
uvi pela primeira vez o conceito de não-lugar em outubro do ano passado, pela voz da doutora Rita Falcão, no TEDxLisboaED, em que participei. Serão as escolas de hoje não-lugares? Espaços de transição onde as pessoas sabem exatamente o papel a desempenhar, onde têm acesso a quase tudo sem
precisarem de falar, onde são apenas números mecanográficos? Espaços onde só é
Educação para a Paz
T
odos os anos, milhares de alunos se confrontam com a decisão das suas vidas: que rumo académico
seguir,
quando
preciso cumprir objetivos pré-definidos, também eles reduzidos a números que fazem
afeta
as delícias das estatísticas e se transformam em créditos mais ou menos efémeros para
profissionais?
todos
a
os
crise
sectores
os próximos utentes? “Só preciso de um nove para passar”, “Preciso de um dezanove para entrar na universidade”… Que distanciamento isto demonstra relativamente ao
“Estou tão confusa com
ambiente educativo que uma escola deve fomentar? Estamos numa grande superfície?
a vida”. Este desabafo
Num aeroporto? Estes sim, não-lugares por excelência. Como podem os professores
é extensível a milhares de
lidar com uma escola de números e garantir que a educação acontece? Será a escola
estudantes que todos os anos
também para os professores um não-lugar?
se confrontam com as difíceis
Os valores não se quantificam, mas sentem-se ou não existem, alimentam-se, defendem-
escolhas no acesso ao ensino
se e encorajam-se ou são facilmente substituídos por fanatismos nas mentes em
superior.
formação dos jovens. Ou aceitamos reduzir tudo a estatísticas ou estamos dispostos a evoluir na educação,
Neste sentido, o Servi-
conscientes de que queremos preparar jovens para um mundo diferente.
ço de Psicologia e
Desde 2004 que a ESEQ participa no projeto “Educação para a Paz”. Este ano o desafio
Orientação da ESEQ,
da realização de um trabalho a integrar a exposição “Mandela - Longa Caminhada
através
até à Liberdade” foi lançado à turma do 9ºA, sob proposta do professor de Educação
Técnicos, Psicóloga,
Visual, Rui Santos. Com o empenho dos alunos resultou um trabalho fantástico que
Conceição Prisco e
esteve patente no Diana Bar de 10 de dezembro de 2014 a 10 de janeiro de 2015, para ser
Assistente
apreciado pela comunidade.
Tiago Teixeira Pa-
Os alunos receberam um diploma de participação que lhes foi entregue pelo professor,
checo, dinamiza-
em ambiente de aula. Não subiram ao palco para o receberem, porque não foi uma meta
ram (de 7 de
imposta por outros, foi simplesmente um meio de se envolverem na construção da sua
Abril a 16 de Abril) uma Sessão de
- Proporcionar ferramentas para a auto
própria educação.
Formação com todas as turmas do
motivação e adoção de uma atitude
12º ano, intitulada “Construção de
diferenciadora face ao mercado de
Talvez um dia este diploma faça a diferença no meio de vários candidatos com
Autonomia
trabalho atual;
currículos todos iguais cheios de licenciaturas, mestrados e especializações. Talvez um
Numa Nova Etapa”.
dia, quando as metas estiverem atingidas e os jovens estiverem tentados a abraçar uma
Esta sessão formativa vem dar resposta
- Informar os jovens sobre motores de
crença que despreza valores como a liberdade e a vida, se lembrem dele.
à necessidade de preparar os jovens
pesquisa de oportunidades formativas e
A todos os alunos do 9ºA e ao professor Rui Santos a ESEQ agradece.
para os desafios que os esperam
recursos sociais, como o acesso a bolsas
após o 12º ano: a importância do
de estudo;
dos
seus
Social,
e
Gestão
da
Carreira
desenvolvimento da autonomia na procura e escolha de opções formativas
- Referir
e laborais, explorando os recursos
ponsabilidade e participação ativa em
da
projectos de cariz social como uma
comunidade
e
desenvolvendo
competências de empregabilidade. A
a
importância
da
res-
mais-valia;
ênfase na importância de valorizar todas as oportunidades de contato com
- Possibilitar
o
actividades profissionais ou lúdicas
componentes
mais
valorizando os “hobbies”, atividades
inserir num “Curriculum Vitae” numa
extra-escolares
perspetiva contínua de “Curriculum”
ou
de
voluntariado
como componentes importantes na
conhecimento importantes
dos a
de Vida.
construção de um “curriculum” de vida .
Várias foram as dúvidas e os temas debatidos durante as sessões, onde
Pretendeu-se com esta formação:
os alunos puderam esclarecer as suas dúvidas, anseios e expectativas.
- Promover o desenvolvimento de competências pessoais e relacionais, integrando-as na gestão de um projecto de carreira e empregabilidade;
6
Maio de 2015
Aqui é uma escola
Centenário da morte do padre Afonso Soares
No centenário da morte do padre Afonso Soares, professor e reitor do Liceu
todos, como anotam os seus biógrafos.
Nacional da Póvoa de Varzim.
Como capelão da Igreja da Lapa, na
O
Póvoa de Varzim, foi para os pescadores um conselheiro na reivindicação dos dia 4 de dezembro de 2014 marcou a data da passagem do 1º centenário
seus direitos e um dos seus melhores
da morte do padre Afonso Soares. A Escola Secundária Eça de Queirós
protetores nas desventuras da sua
comemorou a passagem desta efeméride com uma conferência, que eu próprio proferi,
faina laboriosa. Era o capelão da
no auditório da mesma escola. Neste artigo venho relembrar, de forma breve, o nome
Igreja da Lapa, quando no dia 27 de
deste insigne pedagogo e incontornável na história desta instituição.
fevereiro de 1892 ocorreu a tragédia que
O padre Afonso Soares nasceu em 26 de Abril de 1867, na Póvoa de Varzim , de onde a
enlutou as comunidades piscatórias
sua mãe era natural. O pai nasceu no Porto, identificado em alguns documentos como
da Póvoa, Matosinhos e Afurada, em
organista, músico e proprietário. Morreu quando o filho tinha 12 anos.
que perecerem 105 pescadores, sendo
Afonso Soares principiou os seus estudos na Póvoa e continuou-os no Liceu Central
70 da Póvoa. Não houve família de
do Porto. Enquanto estudante nesta cidade, envolveu-se numa polémica com Rocha
pescadores que não tivesse perdido
Peixoto de que dão conta vários números dos jornais “A Independência” e “Estrella
alguns dos seus familiares, tal o número
Povoense” sob o título “Os Jesuítas” nos anos de 1883 e 1884. Tinham portanto 16
de mortos. Esta tragédia comoveu todo
e 17 anos. Trata-se das primeiras intervenções de ambos na imprensa. Os artigos
o país e movimentou uma campanha
assinados por Augusto César que faz parte do nome completo de Rocha Peixoto são
nacional de auxílio às famílias, aos
muito violentos, numa linguagem desbragada e “ad hominem”, enquanto os escritos
órfãos e às viúvas.
de Afonso Sores ficam mais pela defesa da ação benéfica dos jesuítas. Creio que estes
Depois de enterrar os mortos, de celebrar
factos marcaram as relações futuras entre ambos, que me parecem ter sido de alguma
condignamente as exéquias e demais
indiferença.
rituais fúnebres, ao fazer precisamente
Em 1890 concluiu, com distinção, o curso teológico no Seminário de Braga, pelo que
um mês após a tragédia, o P. Afonso
ponto de apoio dalguns que desejam
estava habilitado à ordenação sacerdotal. Para tal, procedeu-se à inquirição
“De
Soares, com 25 anos apenas, publicou
guindar-se para tristes efémeros júbilos de
Genere”, que em parte, seguiu a que havia sido feita a seu irmão, padre João Soares.
um texto no jornal “Independencia” a
vaidade políticas; (…) Este desleixo, esta
A inquirição “De Genere” era assim designada porque se destinava a conhecer os
que deu o título: “Depois da catástrofe”
apatia, este abandono, esta quase falta de
progenitores dos candidatos que se habilitavam ao ingresso no Seminário, ou à
que é um autêntico manifesto político,
patriotismo é que é necessário que acabe,
obtenção das primeiras ordens.
crítico, mas também pragmático e de
d´uma vez para sempre e no mais curto
O professor Ricardo Teixeira, da Escola Dr. Flávio Gonçalves, facultou-me o processo
confiança no futuro. Não resisto a citar
espaço de tempo”.
“De Genere” e logo me alertou para a certidão de batismo do futuro padre Afonso.
algumas passagens:
Assim se compreende que tenha sido o
Nela consta o padrinho: Afonso Tavares de Albuquerque, morador na cidade do Porto,
“ É tempo de enxugar as lágrimas,
organizador do comício de 8 de Maio de
empregado na Alfândega, que passou procuração ao padre Gaspar Correia Carneiro.
represando-as no coração e de lançar
1892, no Teatro Garrett, a fim de exigir
Do padrinho Afonso recebeu, pois, o nome e eis algo inédito que merece o devido
vista firma e desanuviada para o futuro
dos poderes públicos a conclusão das
destaque.
d´uma desgraçada gente, que ali fica ainda
obras da enseada, isto é, do porto de
Afonso Tavares de Albuquerque estava casado com Carlota Pereira d ´Eça, irmã de
nutrindo lucta acesa com o mais revolto e
abrigo da Póvoa.
Carolina Pereira d ´Eça, mãe de Eça de Queirós. Também Tomaz d`Eça Leal, no livro
traiçoeiro dos elementos: o mar.
Serve
“Eça de Queirós menino e moço” afirma que Eça passava férias com suas primas na
(…) Eu neste momento quão singularíssimo
exemplificar que foi na imprensa onde
casa que o seu tio Afonso tinha na Póvoa, por arrendamento.
assumpto acuso tudo e todos: os governos
brilhou mais o seu talento em prol do
A madrinha é D. Maria Beatriz Freitas Costa Carneiro, casada com Miguel Carneiro
têm olhado sempre indiferentes para o
engrandecimento da sua terra natal.
Pizarro de Mendonça, Fidalgo da Casa Real e Administrador da casa da Costa, casa
labutar pesado e arriscadíssimo da classe
Foi redator principal do jornal “ Estrella
esta, que acolheu num seu anexo Eça de Queirós e a sua ama, Ana Joaquina Leal e
piscatória, cuidando muito em sobrecarregá-
Povoense” para o qual soube atrair a
família, nos idos 1845.
la com tributos e nada em segurar-lhe sequer
elite dos jornalistas novos desse tempo.
No arquivo da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim, datado de maio de 1853,
a vida; a vereação actual e as transactas
Colaborou noutros jornais como a
está o requerimento de admissão como irmão da Misericórdia de Afonso Tavares de
têm ficado impotentes e de braços cruzados
“Independência” e a “Propaganda”. Foi
Albuquerque, já casado com Carlota Carolina Pereira, moradores na Póvoa. Ocuparia
ante o condenável desleixo e abandono dos
diretor de “O Commércio da Póvoa da
mais tarde o cargo de Provedor da referida Misericórdia.
governos, não protestando energicamente
Póvoa de Varzim” desde a sua fundação
A partir desta nova realidade, sou levado a colocar algumas questões: terá Afonso
contra tão censurável indiferentismo, a
até abril de 1904, a convite de Santos
Soares morado na casa do padrinho, quando estudou no Liceu do Porto? Em caso
fim de minorarem, algum tanto, o estado
Graça.
afirmativo, que referências de Eça lhe foram transmitidas? Encontraremos nos seus
mizérrimo do infeliz pescador; os dois
É dele o editorial do 1º número em 3
vários artigos alusões à obra de Eça? Terá o padre Afonso desencadeado ou interferido
partidos, que aí se degladiam, servem-
de dezembro de 1903 com o título “Ao
no processo que culminou na atribuição do nome de Eça de Queirós, ao Liceu da Póvoa
se invariavelmente das obras da enseada
começar” e que inicia assim: “Mais um
de Varzim, precisamente em 1915, o ano a seguir à sua morte?
e de outros melhoramentos para armas
combatente vem hoje a campo pugnar por
Pouco tempo depois da ordenação, em Julho de 1890, foi nomeado capelão da Real
fortes e certeiras em vésperas de eleições,
uma causa justa- a defesa dos elevados
Irmandade da Lapa, cargo em que permaneceu até à morte. Nesse período foi também
sendo certo, contudo, que essas pomposas
interesses da Póvoa de Varzim”.
pároco encomendado da Matriz da Póvoa, durante quatro anos, servindo a contento de
promessas têm unicamente servido para
Foi nomeado professor do Instituto
Padre Afonso Soares (1867-1914)
também
este
extrato
para
7 Maio de 2015
Aqui é uma escola Exposição de animais imaginários
Municipal da Póvoa de Varzim, em 16 de Outubro de 1889, tinha 22 anos e não era ainda padre. Aquando da criação do Liceu foi nomeado professor e viria a ocupar
N
o final do 2º período, a ESEQ foi invadida por uma série de animais fantásticos. Dragões alados, flamingos, fénixes, cabras assustadoras, cobras e
o cargo de reitor. Lecionou as disciplinas de Geografia, História, Botânica, Zoologia,
libelinhas, entre outros, apoderaram-se das paredes, pavimentos e tetos,
Matemática e Desenho. Com a sua boa vontade supria todas as deficiências, visto que
ocupando os espaços inertes e deixando a comunidade escolar assombrada.
até o cargo de secretário do Liceu exerceu.
A atividade, que animou os espaços escolares, foi da iniciativa das professoras Maria
O padre Afonso Soares conheceu e ultrapassou vicissitudes várias para organizar e
João Sá e Graça Dinis, no âmbito de uma proposta de trabalho da disciplina de Oficina
instalar a nova instituição de ensino, motivadas pelo desfasamento entre as intenções
de Artes e envolveu todos os alunos das turmas G e H do 12º ano.
políticas e a realidade económica do país e da autarquia local, cuja compreensão o
O objetivo manifesto foi a de não deixar o observador indiferente, tanto pelo tamanho
levou a prescindir dos seus merecidos ordenados.
das peças expostas, como por vezes, pela própria temática.
Viveu num tempo, onde se evidenciaram as movimentações em defesa da manutenção
Com este tipo de atividade pretendeu-se dar a conhecer as competências artísticas dos
do Liceu face às constantes e cíclicas ameaças de extinção. Foi político do partido
alunos da área artística da escola, animando com vivacidade os espaços escolares e
regenerador, vice - presidente da Real Associação Humanitária dos Bombeiros
provocando a surpresa e discussão dos espetadores.
Voluntários, presidente da comissão encarregado de elaborar os primeiros estatutos de A Beneficente e secretário da Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim. O ano de 1915, ano a seguir à morte do padre Afonso Soares, foi conturbado para o Liceu. Basta ter presente a nomeação, nesse ano, de três reitores, a agressão a um deles por parte dos alunos, a interdição e posterior levantamento da realização dos exames finais, a ameaça iminente de despejo do Colégio Povoense, que então ocupava, para ajuizar do que fora o seu génio e carisma. Viriato Barbosa, aquando da inauguração do novo edifício do Liceu Nacional da Póvoa de Varzim, em 1952, defendeu que o nome do seu antigo professor, Afonso Soares, devia fazer parte da toponímia da nossa cidade da Póvoa de Varzim. E assim aconteceu, desde 1965 até 2012, num arruamento confinante com a Escola Secundária Eça de Queirós. Quero crer que muito em breve, o nome do Padre Afonso Soares vai voltar a uma das ruas da Póvoa para que a memória deste ilustre pedagogo poveiro não se apague ou desapareça para sempre.
Dia de São Valentim Say: “I Love You” with a book quote
Com o intuito de celebrar o Dia de São Valentim alguns alunos do 11ºI e 11ºJ elaboraram ilustrações alusivas a capas de livros com citações de amor dos mesmos, tendo sido estas colocadas em exposição, recriando-se, assim, um ambiente romântico, elogiado por toda a comunidade educativa.
8
Maio de 2015
Aqui é uma escola
O dever de lembrar João Francisco Marques (1929 -2015)
N
Documento de exoneração da ESEQ e de nomeação de professor da Faculdade de Letras da U. do Porto 1984 o sexto dia do mês de março, logo ao raiar da aurora, correu veloz na Póvoa a
tuguesa de História, presidente da Direção
gueira e D. Jorge Ortiga.
inesperada notícia do falecimento do padre João Marques. Deixo para mais tarde
do Centro de Estudos Regianos, membro
Finalmente, sempre que a ele recorri obtive
um testemunho evocativo ditado pelo convívio e amizade de que fui beneficiário
do Centro Interuniversitário de História
o seu sábio conselho e o apoio desinteres-
nos últimos vinte anos. Neste momento, porém, e a fim de dar a conhecer aos leitores deste
da Espiritualidade, membro do Centro de
sado. Esteve presente em iniciativas que le-
jornal da escola, onde também foi professor, sigo deliberadamente o lado institucional da sua
Estudos Africanos (FLUP) e do Centro de
vei a efeito na Santa Casa da Misericórdia
biografia, para enunciar um percurso longo, ímpar, singular e pleno de realizações em diver-
Estudos de História Religiosa da Universi-
e sobretudo na Escola Secundária Eça de
sos domínios.
dade Católica Portuguesa. As suas inves-
Queirós, onde naturalmente se sentia em
João Francisco Marques nasceu na Póvoa de Varzim em 1929, estudou nos Seminários Arqui-
tigações e estudos centraram-se nas áreas
casa. Por tudo isso, o dever de lembrar um
diocesanos de Braga, tendo sido ordenado padre no ano de 1952 e colocado como pároco da
da história das mentalidades, das ideias,
seu antigo e prestigiado professor não pode
Lapa em meados da década de 1950.
da oratória sagrada, da espiritualidade, da
parar aqui. Assim o espero.
No ano letivo de 1953/54 iniciou a sua atividade docente como professor de Religião e Moral
apologética, da missionação ultramarina,
na Escola Industrial e Comercial da Póvoa de Varzim onde permaneceu até ao final do ano le-
da religiosidade popular, da cultura e da
tivo de 1969/70. Frequentou a partir de 1961 a Faculdade de Letras da Universidade de Coim-
literatura portuguesa.
bra, obtendo a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas com a dissertação “A parenética
Foi também assessor do realizador Manoel
portuguesa e a dominação filipina”.
de Oliveira, de quem era amigo, para a re-
Iniciou o seu percurso de professor do Liceu Nacional da Póvoa de Varzim, no ano letivo de
alização de vários filmes, tendo feito parte
1970/71, exercendo também o cargo de diretor da biblioteca da mesma escola. Concluiu no
do elenco de intérpretes em “O Princípio da
ano de 1971/72 o estágio pedagógico das disciplinas de História e Filosofia, no Liceu Normal
Incerteza” (2002) “Espelho Mágico” (2005) e “
D. Manuel II. Foi posteriormente colocado nos Liceus de Matosinhos, Chaves e de Barcelos,
Palavra e Utopia” (2000) concebido a partir de
muito embora exercendo funções de professor metodólogo de História nos Liceus D. Manuel
sermões e cartas do Padre António Vieira.
II, Alexandre Herculano, Rainha Santa Isabel e Vila Real. Retornou ao Liceu da Póvoa de Var-
No primeiro dia de “Correntes d´Escritas”
zim, no ano letivo de 1975/76, e ao mesmo liceu foi requisitado em 1977 para a Faculdade de
de 2015, precisamente na semana anterior à
o qual trouxe à Póvoa de Varzim o Pro-
Letras da Universidade do Porto.
sua morte, o padre João Marques apresen-
fessor Catedrático da Universidade de
Na referida Faculdade foi nomeado professor associado em 1987, professor catedrático de no-
tou no Cine Teatro Garrett a “Obra Comple-
Coimbra, Dr. José Augusto Cardoso Ber-
meação definitiva desde 1993 até à jubilação em1999 e lecionou matérias no âmbito da Teoria
ta do Padre António Vieira” em 30 volumes,
nardes, brindando o auditório com uma
da História, da Cultura Portuguesa e da História Moderna. A par da docência na Faculdade de
que implicou a participação de meia cen-
palestra subordinada ao tema, Camões: o
Letras da Universidade do Porto, também foi professor na Universidade Católica nos núcleos
tena de especialistas portugueses e brasilei-
herói português.
de Braga e Porto.
ros, entre os quais ele próprio se incluía.
A ação decorreu no Cine Teatro Garrett,
Entre 1979 e 1981 seguiu o curso de Jacques le Brun na École Pratique des Hautes Études e o
O padre João Francisco Marques é um
nesta cidade, e o auditório, constituído
Seminário Especializado, Recherches d´Histoire Religieuse, de Jean Delumeau, titular da cátedra
nome grande da historiografia portuguesa
pelos alunos do ensino secundário e pro-
de Sociologie Religieuse no College de France. Foi este mesmo professor que orientou e arguiu
e tem mais de uma centena de trabalhos
fessores acompanhantes da ESEQ, encheu
a sua tese de doutoramento em História, na Universidade do Porto em 1984: “A Parenética
dispersos em revistas científicas e inseridos
por completo esta sala de espetáculo.
Portuguesa, 1640-1668. A Revolta e a Mentalidade” representa uma obra incontornável para o
em obras editadas também no Brasil, Espa-
O palestrante cativou de imediato o pú-
conhecimento do sec. XVII português, nos domínios da problemática político-religiosa e do
nha, França, Itália. Com o apoio da Câmara
blico presente, pela sua simplicidade
período da transição do domínio espanhol para independência portuguesa.
Municipal da Póvoa de Varzim, todos esses
oratória, sabedoria e competência. Todos
O padre João Marques desempenhou o cargo de diretor do Museu Municipal de Etnografia
artigos estão a ser reunidos na “Obra Selec-
saíram satisfeitos e enriquecidos pelos co-
e História da Póvoa de Varzim entre 1976 e 1985. Foi académico de mérito da Academia Por-
ta” que conta já, com 3 volumes editados.
nhecimentos adquiridos, dando por bem
Aguardo a continuidade das próximas edi-
empregado o tempo despendido, e com a
ções, tanto mais que era essa a sua vontade
certeza de que, enquanto houver um país
última, como me confidenciou afinal, pouco
chamado Portugal, haverá um poeta cha-
tempo antes de morrer.
mado Camões.
Conservo do padre João Marques uma
Um agradecimento especial ao subdiretor
grata memória. Nunca poderei esque-
da ESEQ, Dr. José Henrique Lima, bem
cer, pelo seu significado, o convite para
como à Dr.ª Natália Pereira, pela partici-
conjuntamente com os amigos Ricardo
pação e colaboração ativa que tiveram no
Teixeira e Adriano Cerejeira
colóquio.
N
No passado dia onze de abril, realizou-se um colóquio, promovido pela Escola Secundária de Eça de Queirós, a convi-
te da professora Isolete Pessoa Milhazes,
um projeto grandioso como só ele seria
De realçar, ainda, a excelente colabora-
capaz de levar por diante e começava a
ção do vereador da Cultura e Educação,
dar os primeiros passos: reedição da obra
Dr. Luís Diamantino de Carvalho Batis-
enciclopédia “Os Fastos Episcopais da Igre-
ta, quer no caloroso e afável acolhimento
acrescentada do 5º
que proporcionou ao convidado, quer na
ja Primacial de Braga”
Luis Diamantino, João Marques, Fernando Souto e Adriano Cerejeira - Palestra sobre Santos Graça, em 19 de abril de 2012
concretizar
Camões: o herói português
volume, a ser escrito, sobre a vida e obra
participação direta durante a palestra.
dos últimos quatro arcebispos de Braga:
A todos os participantes, colaboradores,
D. António Bento Martins Júnior, D. Fran-
alunos e professores presentes na pales-
cisco Maria da Silva, D. Eurico Dias No-
tra, um grande Bem-haja!
9 Maio de 2015
Aqui é uma escola Encontros Literários na ESEQ
N
Dizer não ao PET
E
as Asas Das Palavras
ste ano, tal como no ano
ganizado, turbulento e revelador de
Em dezembro de 2014, no Auditório da ESEQ, realizou-se o VII Sarau de
letivo anterior, os alunos do
uma total falta de respeito para com
Poesia - Nas Asas das Palavras - subordinado ao tema NATAL.
nono ano irão realizar um
os nossos alunos e para com o Sistema
O escritor convidado foi o poeta açoriano Ivo Machado, natural de Biscoitos, que abriu
teste de inglês Cambridge. Desta vez,
a sessão sob o mote “Para que serve a Poesia?”. O escritor encantou um auditório reple-
os alunos serão submetidos a uma
to de alunos, professores, pais e encarregados de educação, falando da sua infância nos
“experiência nova” intitulada PET
Os argumentos aqui apresentados
Açores, da sua obra poética e dos motivos que a inspiram, em suma, da importância das
(Preliminary English Test). Após rea-
centram-se nos alunos, pois é es-
palavras na partilha de sentimentos. Ivo Machado emocionou-se ao recordar outros na-
lização do mesmo, os alunos irão rece-
sencialmente sobre eles que recai
tais, leu poesia, sensibilizou os alunos presentes para a necessidade de cultivar hábitos
ber um certificado correspondente ao
todo este processo. No entanto, não
de leitura e desafiou-os ainda a atreverem-se no voo da escrita.
nível B1, de acordo com o Quadro
podemos dei-xar de acrescentar o
Na segunda parte do Sarau, alunos e professores leram poemas em português, francês,
Europeu Comum de Referência para
nosso testemunho relativo à interfe-
inglês, alemão e es-
as Línguas (QECR). Vamos lá saber
rência do mesmo no nosso trabalho
panhol, acompanha-
porque concordou o nosso Ministé-
quotidiano. Eu, Carla Seixas, como
dos à guitarra pelo
rio da Educação em iniciar este pro-
tantas outras professoras de inglês,
músico José Peixoto,
cesso com a prova “Key for Schools”
não me voluntariei para ser examina-
uma presença mu-
– nível A2 em 2013/14 e logo, no ano
dora Cambridge. Fui, sim, nomeada,
sical
seguinte, aplicar uma prova de nível
sendo obrigada a fazer uma formação
saraus da ESEQ.
superior? Toda esta situação é apar-
irrelevante e destituída de sentido,
A encerrar o evento,
entemente simples e vantajosa para
interferindo esta com a minha prática
Ivo
elo-
os alunos. Mas será essa a realidade?
docente. A referida formação impli-
giou os professores e
Como professoras de inglês não con-
cou faltar às minhas aulas e ativi-
alunos da escola en-
sideramos vantajoso para a disciplina
dades não letivas, acumulando todo o
volvidos no projeto,
e para os alunos um projeto mal or-
trabalho inerente à direção de turma
tanto pelo “momento
ganizado que é aplicado pouco antes
bem com todo o processo de avalia-
de vivência poética”
do término das aulas. Este teste não
ção dos meus alunos. Lembro que as
como pela divulga-
está de acordo com a prática letiva e
datas implicadas coincidiram com os
ção de poemas e au-
tipologia de exercícios a que os alunos
últimos dias do segundo período.
tores, tendo prometi-
portugueses estão habituados. Tam-
do regressar à nossa
bém não vemos benefício em sujeitar
Sentimos que à semelhança do que
escola em saraus fu-
os alunos a um tipo de provas orais
aconteceu o ano passado, são grandes
turos
para as quais não houve suficiente
os constrangimentos de operaciona-
preparação, por falta de tempo para
lização e articulação deste processo
o treino da produção/interação oral,
com todo o restante trabalho efetuado
dado o reduzido número de horas
nas nossas escolas, nomeadamente na
disponibilizado para o ensino/apre-
ESEQ. A exigência, por parte de Cam-
No dia 27 de fevereiro, a Escola Secundária Eça de Queirós recebeu, no âmbito das Cor-
ndizagem desta língua estrangeira ao
bridge, de uma certificação relativa
rentes D’Escritas, os escritores Leonardo Padura, Fausta Cardoso Pereira e João de Melo.
longo do terceiro ciclo e a impossibi-
à proficiência linguística dos docen-
Feita a apresentação dos convidados pela professora Inês Soares, os três escritores esti-
lidade de desdobramento de turmas.
tes de inglês assumiu-se igualmente
veram à conversa com os alunos numa sessão subordinada ao mote: “As Palavras têm
Consideramos este processo desor-
como um procedimento inadmissível
assídua
Machado
nos
Correntes D’Escritas 2015
Educativo Português.
Sangue”, moderada pela docente Ana Paula
e atentatório do nosso brio e pro-
Mateus.
fissionalismo docente. Sem dúvida
Alguns estudantes honraram os textos dos es-
que nos congratulamos com a valori-
critores, lendo excertos das obras: O Homem
zação dada ao ensino/aprendizagem
que gostava de cães e Hereges do escritor cu-
desta língua estrangeira, mas lamen-
bano Leonardo Padura; O Homem do puzzle;
tamos todo o processo organizacio-
e Bom Caminho de Fausta Cardoso Pereira e
nal inerente à aplicação deste tipo de
de Gente Feliz com Lágrimas e Lugar Caído
teste.
do Crepúsculo, do premiadíssimo escritor João de Melo. No auditório da ESEQ, completamente
Terminamos
lotado, falou-se de literatura e de poesia, de
lavras da Fenprof: “Os professores
corroborando
as
pa-
memórias, de emoções, da aventura da es-
não podem sujeitar-se a todas as im-
crita e da arte da palavra, naquele que foi
posições e exigem ser respeitados,
um encontro de inigualável qualidade e ines-
enquanto pessoas e profissionais.” Eis
quecível para todos os presentes.
porque digo “não” ao PET.
10
Maio de 2015
Aqui é uma escola
Clube 8 e meio
Nenhuma arte simula a vida como o cinema. Todavia, não é uma vida. Também não é propriamente uma arte. Porque é uma acumulação, uma síntese de todas as artes. O cinema não existia sem a pintura, sem a literatura, sem a dança, sem a música, sem o som, sem a imagem, tudo isto é um conjunto de todas as artes, de todas sem exceção Manoel de Oliveira
C
MAS AGORA ESTOU NO INTERVALO
PRÉMIO DO PÚBLICO
EM QUE… (Instituto das Artes e da
NÃO
Imagem)
(Instituto das Artes e da Imagem)
Beatriz Lito, Laura Niemeier, Ricardo
João Lusquinhos, Ana Vieira, Diogo
Costa,
Aguiar,
Andreia
Teixeira,
Miguel
Cardoso, João Lusquinhos FLORESTA
ASSOMBRADA
ACREDITO
Hugo
EM
ESPELHOS
Magalhães,
Sandra
Carvalho, João Castro, Marta Santos, (Escola
Isabel Pereira
Secundária José Régio – Vila do Conde) Miguel Ângelo Martins om mais de uma década de existência, o clube de cinema 8 e meio tem desenvolvido um projeto pedagógico de estudo da linguagem do cinema
PRÉMIO ESEQ
em contexto escolar, através do desenvolvimento de várias iniciativas,
33 RPM de Glória (ESEQ – Póvoa de
todas elas concorrentes na formação de um público mais esclarecido e apto a decifrar
Varzim)
as questões que envolvem a 7ª arte. Ciclos de cinema, exposições de arte, prémios de
Tânia Carvalho
crítica literária e o Concurso de Vídeo Escolar 8 e meio constituem os principais vetores de uma programação que se quis sempre exigente e, sobretudo, que funcionasse como uma mais-valia no contexto das aprendizagens extracurriculares. O Concurso de Vídeo Escolar acabou com o tempo por se tornar o evento âncora de toda a programação do clube de cinema 8 e meio e o momento onde a escola se abriu ao exterior, numa interação extremamente produtiva e criativa com os alunos e docentes de outras proveniências geográficas. A 8ª edição, ocorrida em 2013-2014, voltou a registar uma entusiástica participação dos alunos do ensino secundário português, que de uma forma empenhada e repleta de imaginação, apresentaram projetos cinematográficos que cativaram os espectadores presentes nas sessões de encerramento, ocorridas no dia 29 de novembro de 2014, no Auditório da Póvoa de Varzim. O Júri da 9ª Edição foi constituído por Daniel Ribas, José Rosinhas, e Manuel Horta, nas Categorias Geral e de Animação e por Augusta Ferreira, Carla Pereira e Luís Nogueira, no Prémio ESEQ.
PALMARÉS CONCURSO DE VÍDEO ESCOLAR 8 E MEIO - 2014 29 DE NOVEMBRO I AUDITÓRIO MUNICIPAL DA PÓVOA DE VARZIM CATEGORIA GERAL 1º Lugar
Atuação dos Kino Trip na sessão de encerramento do 8º Concurso de Vídeo Escolar 8 e Meio. Os Kino Trip são constituídos pelos alunos da ESEQ Diego Bernard, Guilherme Festas e João Tavares.
COMPETIÇÃO (Instituto das Artes e da Imagem) Bárbara Ramos, Liliana Freitas, Bruno Pinto 2º Lugar KILLING LOVE, (Instituto das Artes e da Imagem) João Lusquinhos, Ana Vieira, Diogo Aguiar, Laura Niemeirer CATEGORIA ANIMAÇÃO 1º Lugar UMBRA (Agrupamento de Escolas de Valdevez) Coletivo de autores: ABNARA (Sara Pinto Fernandes) 2º Lugar Passeio (Escola Secundária José Estêvão - Aveiro) Joana Isabel Rei Cruz Lucas Emídio
MENÇÕES HONROSAS NÃO ACREDITO EM ESPELHOS (Instituto das Artes e da Imagem) João Lusquinhos, Ana Vieira, Diogo Aguiar, Hugo Magalhães, Sandra Carvalho, João Castro, Marta Santos, Isabel Pereira
Vencedores da oitava edição do Concurso de Vídeo Escolar 8 e Meio.
11 Maio de 2015
Aqui é uma escola
Como nota final, deixamos o nosso pesar pelo recente desaparecimento do cineasta Manoel de Oliveira, cuja cinematografia foi de resto alvo de várias sessões por nós programadas. Foi, para além do mais, o patrono dos prémios da 6ª edição do Concurso de Vídeo escolar 8 e Meio, como justa forma de realçar a importância e prestígio (nacional e mundial) da obra deste realizador singular. Um autor como Manoel de Oliveira nunca morre verdadeiramente, ficando o seu legado cinematográfico em permanente diálogo com novos públicos e novas leituras.
Cartaz para o filme Aniki Bóbó, de Manoel de Oliveira, projetado em 20 de maio de 2011. A este tempo, está já lançada a 9º Edição do Concurso de Vídeo Escolar 8 e Meio. Espera-se novamente a participação entusiástica dos alunos portugueses, com a generosidade e entrega a que nos habituaram. Uma vez mais, o concurso encontra-se aberto à
Ao lon go desta aventura pedagógica de uma década, o clube de cinema 8 e meio
participação dos estudantes do ensino secundário português, que concorrerão nas
contou com a colaboração de inúmeras entidades e particulares que ajudaram ao
categorias Geral (englobando a produção de documentários e ficção) e de Animação,
desenvolvimento
dotadas ambas de prémios de respetivamente 500 e 250 euros para os primeiro e
das atividades sonhadas pela organização. Sem eles o projeto teria sido muito mais
segundo classificados. Haverá ainda um prémio para o melhor filme de um aluno
difícil, pelo que aqui registamos a nossa gratidão reconhecida.
da escola organizadora, ESEQ, e o usual Prémio do Público, votado pelos espectadores presentes nas sessões de encerramento (a acontecer em novembro de 2015 e em data a anunciar). O site do concurso é www.8emeio.net.
12
Maio de 2015
Aqui é uma escola
So much to see! So little time…
O
encanto natural de Londres, a sua faceta multicultural onde o “melting pot”
tivo por que razão é tão célebre. - José
tanto se evidencia; a sua intensa vida cultural, que tanto se pode apreciar
Miguel Trovão, 10º C
quando se visitam magníficos museus e galerias; a sua história, sempre ao
Tive a oportunidade de passar algum
lado do visitante que não consegue parar de admirar os monumentos e o-bras de arte
tempo com os meus amigos num local
comemorativas de eventos memoráveis tão importantes para a história não só dos in-
diferente, sempre ocupado com muitas
gleses mas também dos europeus e dos povos dos quatro cantos do mundo, são com
atividades, e de experimentar o famoso
certeza mais do que válidas razões que nos permitem entender o motivo pelo qual visi-
café londrino e evidenciar uma cidade
tar Londres foi sempre um destino muito atrativo para muitas gerações de portugueses.
multicultural e com muita história. -
Foi então com este espírito que, durante os dias 19, 20 e 21 de abril, trinta alunos da
Hélder Santos, 10ºC
nossa escola, acompanhados pelas professoras de inglês Dulce Caseira, Isabel Vieitas e
Do meu ponto de vista, esta viagem foi
Isabel Costa, realizaram uma visita de estudo a esta magnífica cidade, com a colabora-
uma forma de presenciar o verdadeiro
ção das professoras do grupo de Inglês, numa atividade proposta no âmbito do clube
estilo de vida britânico e pôr em prática
Europeu da ESEQ.
os conhecimentos adquiridos na discipli-
Mal entramos no aeroporto, que aparentemente se encontrava deserto, demos logo com
na de inglês. - Francisca Assunção, 10º C
o nosso grupo de viajantes, prontos para abraçar novas aventuras, alargar horizontes culturais e, claro está, desenvolver as suas competências linguísticas.
A ESEQ proporcionou-nos uma ex-
A viagem a Londres para mim foi espe-
Enquanto se efetuava o “check in” e outros preparativos de embarque, ficamos a ob-
celente experiência pessoal, cultural e
tacular, porque desde pequena queria ir
servar os alunos com os seus pais: ouvíamos as recomendações, os conselhos… e não
social. As nossas professoras foram es-
lá. O facto de existirem tantas etnias e
conseguíamos deixar de pensar que provavelmente nenhum aluno os estaria a ouvir,
petaculares, sempre atentas para que
culturas na mesma cidade espantou-me
tal era a excitação e o nervosismo, pois para alguns seria a sua primeira de muitas idas
nada de mal nos acontecesse, expli-
- Inês Spínola 10º K
a Londres, para outros a sua primeira viagem sem os seus pais a acompanhá-los e para
cando tudo o que vimos. Regressamos,
outros ainda a sua primeira viagem de avião…
supercansados mas mais ricos em ter-
As professoras foram espetaculares e
E aí fomos nós ao encontro de uma nova e grande aventura!
mos culturais e pessoais. Como aluno
tornaram a viagem mais divertida. Lon-
Londres recebeu-nos bem, como sempre o faz e os nossos alunos corresponderam a
da ESEQ agradeço esta iniciativa. - José
dres é uma cidade de renome e com um
essa receção, evidenciando em todas as situações o seu excelente sentido de civismo,
Lopes nº 16, 10º C
património cultural de outro mundo! A
educação e boa disposição tão própria dos portugueses. Podemos mesmo dizer, com
diversidade de culturas (muçulmanos,
algum orgulho que dignificaram de uma forma única o nome da ESEQ.
Gostei de tudo o que visitamos, princi-
asiáticos…) é impressionante. Londres é
Quando regressamos estávamos claramente cansados, mas muito felizes e definitiva-
palmente do museu Madame Tussauds
um bom exemplo a seguir. Espero poder
mente mais ricos, pois agora possuíamos algo que não tínhamos quando partimos.
e da roda gigante, London Eye. - Sara
lá voltar, pois quem vai a Londres, não
Alguns dias depois desta viagem quisemos saber a opinião dos nossos alunos e aqui
Costa, 10º C
volta a mesma pessoa. – Beatriz, 11º A
partilhar, com emoção, o que esta nova experiência representou para todos os que nos acompanharam. Talvez agora se identifiquem um pouco com Ben Aaronovitch quando escreveu estas linhas em Moon over Soho: “My Dad says that being a Londoner has nothing to do with where you’re born. He says that there are people who get off a jumbo jet at Heathrow, go through immigration waving any kind of passport, hop on the tube and by the time the train’s pulled into Piccadilly Circus they’ve become a Londoner.” Comentários dos alunos
A viagem que realizei foi, para mim, uma viagem inesquecível, quer pela companhia dos meus colegas, quer pelo empenho e dedicação das professoras responsáveis que nos mostraram as diversas atrações de Londres. - Diogo Correia, 10ºC Em Londres tivemos uma aventura com os alunos da ESEQ em diversão. Com “Hello” e “Olá” à mistura, os ingleses sofreram a nossa colonização. - Cátia Marques,10º C Em Londres vi-me numa cidade universal e fantástica, desfrutando de uma viagem que me levou a perceber o mo-
31 Maio de 2015
Aqui é uma escola Opening Doors
O
Caminhando… por Paris
n the 15th December a group of small children from the institution “Maria
A experiência de uma visita de es-
ço! Gostei de percorrer as grandes ruas,
da Paz Varzim” visited our school. It was time for our students from grade
tudo escolar, em especial a um país
de admirar os bouquinistes nas mar-
11 (classes C and O) to open their arms and give a warm welcome to these
estrangeiro, não deixa nenhum jovem
gens do rio Sena, de subir o bairro de
cheerful and vivacious children. Setting foot on our school was a unique experience for
aluno indiferente no momento em que
Montmartre até à igreja do Sacré -Coeur
them. Some even knew that later in their lives they themselves would be students at-
a vivencia, refletindo-se na sua via pes-
e ver a Praça dos Pintores, de percorrer
tending our school. Their eyes were full of curiosity and amazement, even some vanity
soal e profissional no futuro.
a Avenida dos Campos Elísios, à noite, e
and pride were perceived in their looks.
Colocar os jovens perante novas re-
ver o distinto Arco do Triunfo, de visitar
They finally arrived at our library where they had the opportunity of getting involved
alidades, seja ao nível das responsabi-
o Museu do Louvre, a Ópera de Paris,
in a series of activities prepared by our students from class O. They were offered some
lidades que deve assumir, seja ao nível
as Galerias Lafayette, a imponência da
enchanting moments with storytelling, drawing, painting and English language learn-
das aprendizagens que deve incorpo-
Catedral de Notre-Dame… Certamente
ing. Teatime arrived with some delicious croissants, orange juice and Christmas choco-
rar, traz benefícios inequívocos no de-
que a grandiosidade da Torre Eiffel me
lates - the perfect combination for this special season. Before leaving they still had the
senvolvimento das suas capacidades de
fascinou bem como a ostentação e o re-
opportunity of seeing several baskets which were later handed in at “Maria da Paz
autonomia e de cidadania.
quinte do Palácio de Versalhes.
Varzim”. These baskets were full of toys, food, clothes, games and books all wrapped
Todos estes aspetos contrariam a ideia
Adorei esta viagem e, claro, sem a com-
up with true affection, love and friendship from our students.
dos que afirmam que os alunos e pro-
panhia dos meus colegas e professoras
Eça de Queirós school is specially focused on academics but it is also aware that devel-
fessores vão apenas “em passeio”. As
não teria sido tão agradável!” Ana Mar-
oping civic skills is a priority in fostering personal growth and promoting a sustainable
aquisições de caráter interdisciplinar, as
garida Figueiredo, 11º N
society. By participating in this project, our students showed that it’s possible to link
experiências afetivas, a sensibilização
“A torre Eiffel é tão alta quanto dizem,
education and action to help solve problems at the local level. Inês Sousa confirmed this
para abordagem a novos temas, cons-
a Disneyland Paris é incrivelmente
by saying that “Being altruistic and making kind gestures is a behavior that should be
troem o que cada aluno será como ci-
mágica e o Museu do Louvre é de cor-
shared with the whole community.” Another student - Inês Caldeira recognized how
dadão na idade adulta.
tar a respiração… Tudo o que vimos
lucky she is as she has everything she needs and felt it’s her duty “…to help others
É sabido que a maior aventura do ser hu-
esteve ao nível das nossas expectativas!
around making solidarity not just a Christmas action!”
mano é sair do seu espaço e empreender
O grupo foi espetacular e o convívio
Our society needs active, informed and responsible citizens who are willing and able
a procura de “provisões” de caráter
tornou esta viagem ainda melhor. Es-
to take responsibility for themselves and their communities. Being concerned about the
múltiplo (se se seguir a etimologia da
távamos fascinados e acredito que es-
welfare of others is a task which concerns everyone. According to João Nuno “This was a
palavra latina viaticum). Efetivamente,
tes dias ficarão para sempre nas nossas
kind of act made out of love and generosity, which made us proud to participate in.” A sim-
nesta perspetiva, foi uma “aventura” a
memórias.” Frederica Ferreira, 11º N
ilar idea is pres-
ida a Paris, de 15 a 18 de fevereiro, dos
“ Risos, longas caminhadas, muitas visi-
ent in Vanessa
vinte alunos envolvidos oriundos das
tas, entreajuda, boa disposição, desco-
Va l e ’ s w o r d s
turmas M, N e L e das duas professoras
berta, aprendizagem, eis o que carac-
“Our class was
responsáveis, Maria Filomena Pacheco
terizou esta viagem a Paris!” Andreia
very pleased to
e Maria Antonieta Silva.
Marques, 11º N
have these less
Vinte alunos, vinte vivências, vinte
“Paris, a cidade do amor e da luz! Uma
fortunate
olhares. Aqui ficam alguns deles…
experiência em tudo diferente das de-
in our school. It
kids
“A cidade de Paris é, sem dúvida, mag-
mais
was a remark-
nífica! As longas avenidas rodeadas de
aprendemos, explorámos mas, sobre-
able and unfor-
árvores, as imensas pontes, os famosos
tudo, ficamos a conhecer-nos melhor
gettable experi-
cafés, a arquitetura dos prédios, a ilu-
enquanto indivíduos e colegas. Amigos
ence.”
minação da cidade à noite, os sumptuo-
que viajaram entre histórias, desfru-
sos museus e os monumentos mais fa-
tando ao máximo de todas as vivências
Crianças do Instituto Maria da Paz Varzim
mosos do mundo… e os maravilhosos
proporcionadas…” Inês Moita, 11º N
Citizenship is much more than a subject. If taught well and tailored to local needs its
crepes…tudo me deslumbrou! Havia
NOTA: No próximo mês de junho, de
skills and values will enhance democratic life for all of us. Both rights and responsibili-
sempre mais alguma coisa para visitar,
4 a 7, um novo grupo de alunos cami-
ties begin at school spreading next to the surrounding world. Fulfillment and a sense of
mais uns quilómetros para andar, mas
nhará por Paris, acompanhado pelas
reward can consequently appear, leading Inês Briote to state that “…it was an initiative
compensava sempre o esforço e o cansa-
docentes Maria de Fátima Guedes e Ma-
for a school project that I think made these children happy; if we can make them smile and happy then we should give our best!” With this school project we hope to have reinforced our students’ motivation and responsibility. In the end we were sure that our learners had undoubtedly become more critical, more collaborative and more participant. This assumption is confirmed by Diogo Rafael’s words “This only shows how much committed this school and its students are to participate in solidarity events.” Profª Maria Albertina Anjo e alunos do 11ºC: Diogo Rafael, nº 8, Inês Sousa, nº 14, Inês Briote, nº 15, Inês Caldeira, nº16, João Nuno, nº 18, Vanessa Vale, nº 28)
aprendizagens!
ria Filomena Pacheco.
Convivemos,
14
Maio de 2015
Aqui é uma escola
Recordando Énio Ramalho
O
corre-me, neste momento, por me encontrar numa situação algo paralela, o
nância. É que a entoação do seu dizer,
pelas suas mãos de artista, da capa do
depoimento de Énio Ramalho para o livro Reencontro com o Dr. Luís Amaro de
para além do próprio dizer, conseguia
CD – Coletânea Musical de Énio Ramalho,
Oliveira – O Professor e o Amigo. Escreveu, então, o Dr. Énio:
envolver-nos profundamente.
aliás, na Exposição.
«Falar sobre a vida do Sr. Dr. Luís Amaro de Oliveira torna-se difícil e, mais
Num dos nossos encontros, talvez o
Podemos dizer que Énio Ramalho se
ainda fazê-lo sucintamente num breve relato de poucas linhas; isto, se o relator o co-
último, o Dr. Énio assumiu-se apenas
manteve em atividade quase até dei-
nhecia de perto, e dele foi amigo. Então, as palavras mal se adequam aos pensamentos,
como “ouvinte”, lançando mão de um
xar de estar entre nós (13/7/2013). Mas
e será maior a dificuldade, se pretendem exprimir estados de espírito, como a saudade,
guardanapo do Café, para agradecer,
Énio Ramalho não deixou de estar en-
o desconforto e a solidão de alguém que perdeu algo muito valioso.
por escrito, a ideia da reunião e justifi-
tre nós. Não estamos aqui a relembrá-lo
O Amaro era pessoa de raro valor, (…) intelectual da melhor estirpe (…), (…) de senti-
car a sua falta de voz. «Agora só preciso
ao comemorarmos o centenário do seu
do apurado da forma, (…) um bom amigo, generoso e leal».
de papel – aqui é que me desforro». Foi
nascimento? Estas evocações revestidas
Como este testemunho, aliás, com cortes, para não me alongar, traduz a minha dificul-
em Vila do Conde, em 2/5/2012. Uma
de saudade são, ao mesmo tempo, re-
dade de inábil “relatora” de uma personalidade com idênticas qualidades!
das fotografias aí tiradas está na Expo-
confortantes, por permitirem o reencon-
Permitam-me que relembre aqui o agradável convívio e franca camaradagem com estes
sição. Nela se vê o Dr. Énio, a Maria do
tro de colegas e alunos, dos seus amigos
dois Colegas e Amigos, de fundo saber, de trato cavalheiresco inigualável, mas de uma
Carmo Caimoto, a Mª. Áurea, o António
e familiares.
notável discrição e modéstia.
Azevedo e eu.
Desde a minha entrada no Liceu, em 1973, sempre convivi com o Sr. Dr. Énio, amigo
Querido Amigo, a sua inconfundível
Termino, recordando as palavras de
inseparável de Luís Amaro de Oliveira que, por sua vez, de Mestre, se tornou meu
voz, fatal e injustamente apagada – trai-
Énio Ramalho após ter recebido a Me-
companheiro de trabalho.
ção de um poder implacável – permane-
dalha de Cidadão Poveiro, palavras de
São dois Amigos que me fazem falta, dois particulares amigos de quem tenho muita
cerá nítida na nossa memória.
uma modéstia exemplar:
saudade e com quem muito aprendi.
Recordo aqui a sua conferência intitula-
«Deixei-me conduzir pelas palavras que
Mas é a figura de Énio Ramalho que nos reúne aqui, hoje, comemorando o centenário
da O valor intrínseco da Palavra na estru-
ouvia como se falassem doutra pessoa
do seu nascimento. A Exposição que acabamos de ver, idealizada e concretizada pelo
turação da Linguagem Poética – integrada
que não de mim, mas de alguém que eu
Diretor da nossa Biblioteca, Dr. Manuel Costa, com o apoio de uma qualificada e ex-
na homenagem ao seu insubstituível
muito gostaria de ser».
periente equipa, permitindo-me destacar os nomes da Dr.ª. Lurdes Adriano, do Dr.
companheiro de todos os dias. «Forma
Não, meu saudoso Amigo, de quem ou-
Hélder de Jesus, de Daniel Curval, José Ferreira, Maria de Fátima Costa, Constança,
de Homenagem propositadamente tar-
trora falámos e sempre relembraremos,
além de outros, que nos bastidores, deram também o seu contributo anónimo, mas nem
dia e isolada, para se tornar discreta,
é a pessoa não que «gostaria de ser»,
por isso menos precioso.
como o nosso comum e inesquecível
mas que «era» na realidade - «um HO-
É uma exposição baseada no espólio do nosso Amigo, oferecido por sua filha Beatriz,
Amigo apreciaria» - explicou o Dr. Énio.
MEM em toda a sua dimensão».
a Bição, cumprindo a vontade de seu Pai, que documenta bem a vida de um homem
Não posso também deixar de nomear
Até sempre, Dr. Énio!
que não se limitou a “passar” pela Escola, mas “viveu” a Escola no pleno sentido da
os seus dois livros de contos – A Prin-
palavra. Documenta bem o amor à sua segunda terra que escolheu para viver. Dele
cesinha na China (1981) e O Menino das
ficou-nos o seu espírito renascentista, expresso de um modo polifacetado, através da
Estrelas entre os Doutores, com desenhos
(Texto lido na abertura da Exposição Vidas com
Literatura, do Teatro, da Música, da Escultura e sobretudo da Pintura, com especial
da sua autoria. E Énio Ramalho estava a
Livros - Énio Ramalho Professor e Humanista.)
relevo para o Retrato. Para o Retrato que, segundo José Gil, «suspende o tempo, torna
escrever no computador mais
presente a ausência»1. Assim, Énio Ramalho pintou os filhos Jorge, Margarida e Beatriz,
um conto, que ficou incom-
os netos Luís Filipe, Miguel, Elisa Proença e Pedro Proença e os bisnetos Catarina e
pleto. À medida que ia escre-
Miguel. Ainda ontem estive a rever estas imagens, projetadas pelo nosso colega Aze-
vendo, dava-me a honra e o
vedo, no Auditório Municipal, quando Énio Ramalho recebeu a Medalha de Cidadão
prazer de o ouvir ler ou de ler
Poveiro, em 16/6/2005, por decisão da nossa Câmara Municipal, sob a presidência do
eu própria.
Dr. José Macedo Vieira.
E agora, nós, neste setor, a
Ainda a propósito do dom da pintura, não posso deixar de recordar o privilégio dado
melhor homenagem que lhe
aos colegas da Comissão Organizadora da Homenagem ao seu e nosso amigo Dr. Luís
podemos fazer é ler as suas
Amaro de Oliveira – Mª. do Carmo Caimoto, Maria Assunção Gomes, António Aze-
obras, que se encontram aqui
vedo e eu – de apreciarmos várias das suas telas a óleo, de acompanharmos o seu
na nossa Biblioteca, à nossa
progressivo e sempre insatisfeito fazer. Recordo: Serão Poveiro, Bailando ao Crepúsculo,
disposição. Através delas, ele
Súplica e Refletindo.
continuará vivo, se o lermos.
Quer dizer, as portas da sua casa abriam-se constantemente com a alegria e afetuoso
E o Teatro? Recordo-me da
acolhimento de sua esposa, a Srª. D. Estela. Apreciávamos, assim, diretamente o traba-
inserção da disciplina de Te-
lho artístico do nosso Amigo.
atro no currículo escolar e da
Mas Énio Ramalho também não esqueceu a China. A prová-lo, as várias composições
imediata indicação, por todos
líricas por ele musicadas, de inspiração oriental – Pao Leng e Nos Verdes Campos da Insua
nós, do nome do Dr. Énio para
e a composição pictórica Mandarim.
a sua orientação.
De Énio Ramalho, além da sua obra artística, dada a nossa proximidade diária, ficou-
Uma última nota – conservo
-nos a mágoa saudosa da sua voz, perfeitamente encantatória, de uma mágica resso-
uma reprodução, ampliada
1 - José Gil, sem título – escritos sobre Arte e Artistas, p.20
e primorosamente retocada
51 Maio de 2015
Aqui é uma escola O Novo Programa de Português: que desafios?
N
Projeto Escola da Minha Vida
o ano letivo de 2015/2016, entra em vigor o documento normativo “Programa
A participação da ESEQ no projeto “Escola da Minha Vida” foi excelente, tendo os
e Metas Curriculares de Português do Ensino Secundário”, que introduz várias
alunos obtido vários prémios nas diversas modalidades a concurso.
novidades. Em primeiro lugar, o processo de ensino-aprendizagem passa a
ALUNOS DA ESEQ PREMIADOS
organizar-se em cinco domínios articulados curricularmente (Oralidade, Lei-
tura, Escrita, Educação Literária e Gramática) e a reger-se por “Metas Curriculares”, que se concretizam através de objetivos e descritores de desempenho. É prioritário sublinhar que “Programa” e “Metas Curriculares” são dois documentos de referência que se complementam, sendo as “Metas” o objeto da avaliação, tal como se lê no ponto 5 relativo à Avaliação: “As Metas Curriculares que acompanham este Programa constituem o documento de referência de todos os processos avaliativos, de acordo com o estabelecido nos descritores de desempenho. A classificação resultante da avaliação interna no final de cada período traduzirá, portanto, o nível de consecução dos desempenhos descritos”. Trata-se, pois, de um inovador formato que suscita, desde logo, a curiosidade e a necessidade de perceber, com clareza, que diferenças reais existem entre o atual e o novo programa de Português do Ensino Secundário. Neste sentido, para além da questão organizacional, convém também salientar que este novo documento programático assenta em dois conceitos estruturantes: o de Texto Complexo e o de Género Textual. Este distingue-se do Género Literário por não ser exclusivo do discurso literário; aquele promove o “desenvolvimento de uma literacia mais compreensiva e inclusiva” (in Introdução do Programa) e conduz à compreensão inferencial. Na verdade, o novo Programa privilegia os textos mais complexos, no pressuposto de que estes implicam a compreensão dos mais simples. Mas é inevitável conferir um destaque especial ao domínio da Educação Literária, que
CORTA-MATO Nome Carolina Martins Rafael Pereira Inês Faria Pedro Santos Sara Ferreira Rita Lopes Francisco Maia Carlos Santos José Morim
Ano/Turma 8.º A nº5 9.º A nº18 10.º D nº14 11.º F nº23 12.º B nº28 12.º B nº25 12.º B nº7 12.º L nº6 12.º B nº13
Prémio 3º 2º 3º 3º 3º 1º 3º 2º 1º
Escalão Iniciado Feminino Iniciado Masculino Iniciado Feminino Iniciado Masculino Iniciado Feminino Iniciado Feminino Iniciado Masculino Iniciado Masculino Iniciado Masculino
PROSA C Nome Maria Bessa Diniz
Ano/Turma 12.º C nº16
Prémio 1º
11.º N nº11 12.º E nº16
3º 1º
11.º J nº21 11.º I nº24
2º 1º
11.º J nº21 11.º I nº12 12.º G nº8
3º 2º 1º
9.ºA nº19
1º
12.º G nº20 10.º I nº27 11.º I nº7
3º 2º 1º
10.º I nº21
1º
11.º P nº2 11.º P nº9
3º 3º
POESIA C Frederica Ferreira Luís Sandão ESCULTURA C Micaela Lemos Teresa Araújo PINTURA C Micaela Lemos Joana Carvalho Diana Rodrigues
valoriza o texto literário como texto complexo por excelência. Efetivamente, pela leitura da Introdução ao documento, facilmente se percebe a importância atribuída a este domínio de referência. Afirma-se mesmo que “O presente Programa valoriza o texto literário no ensino do Português, dada a forma diversificada como nele se oferece a complexidade textual. A literatura é um domínio decisivo na compreensão do texto complexo e na aquisição da linguagem conceptual, constituindo, além disso, um repositório essencial da memória de uma comunidade, um inestimável património que deve ser conhecido e estudado”. Porém, “Mais do que insistir no uso de vocabulário técnico específico dos estudos literários, o Programa privilegia o contacto direto com os textos e a construção de leituras fundamentadas, combinando reflexão e fruição,…”. Daqui se conclui que este não é um programa de literatura. É antes um programa que privilegia o texto literário enquanto texto complexo, onde a língua se realiza de
DESENHO B Marta Figueiredo DESENHO C Mariana Silva Vitor Moreira Cristiana Macedo BANDA DESENHADA C Rita Mota MULTIMÉDIA C André Pires David Burai
múltiplas formas e que potencia o desenvolvimento da capacidade interpretativa, “na sua dialética entre memória e reinvenção”. Assim sendo, o professor incorre nalguns “perigos”, nomeadamente a tentação de recuperar estratégias e metodologias adotadas no passado e de analisar os textos de forma exaustiva, o que poderá ter um efeito perverso ao impedir o gosto pela leitura. A metodologia mais recomendável será a de desvendar um pouco e não saturar, deixando-se “espaço” ao aluno para que ele “descubra” por si mesmo. O modelo interpretativo é o mais ajustado, porque a interpretação carece de fundamentação, sendo esta uma capacidade necessária e transversal a outras disciplinas. Ensinar a interpretar é, pois, contribuir para uma cidadania mais crítica. Paralelamente, o texto literário deve proporcionar o ensino da língua, não só pelo contacto com novas palavras, mas também como motivo para práticas de expressão, quer orais, quer escritas. O contexto e a retórica poderão também ser importantes na abordagem do texto literário, mas é essencial a descoberta e a análise das ideias nele contidas. Em suma, este “programa literário” é um programa “panorâmico” e não intensivo, daí que se fale em “Educação Literária” e não em literatura. Entenda-se, pois, a Educação
Participaram ainda na Festa de Encerramento da Escola da Minha Vida, mais de 140
Literária como leitura literária que rejeita o esgotamento dos conteúdos do texto – dife-
alunos, numa coreografia com muita cor e entusiasmo, sob o tema “Let’s be happy”.
rença essencial relativamente à leitura intensiva, feita por e para especialistas.
Estão de parabéns todos os alunos e professores envolvidos neste projeto”.
16
Maio de 2015
Aqui é uma escola
Escola da minha vida - alunos da ESEQ premiados
Promessa quebrada
História de um livro
As enfermeiras possuíam um profissionalismo digno de louvor. As suas expressões
Repouso,
E estamos bem.
vazias, neutras, mas incrivelmente próximas, reconfortavam a família enquanto mu-
Descanso,
Aquele alguém, que para mim é o
davam os lençóis da cama. As decorações já estavam no fundo dos mais hediondos
Dormito
mundo,
contentores do lixo e o silêncio reinava. As cadeiras onde a mãe passara eternas horas
Quase esquecido entre tantos outros.
Está bem.
por dormir foram colocadas novamente no canto da sala, longe da cama. Uma cama
Outros?
E isso basta.
que testemunhou choros e desesperos, torturas, desamparos, mas acima de tudo, a luta
E quem são estes outros?
E eu?
pela vida.
Irmãos?
Eu continuo aqui,
Uma vida que acabou.
Meus irmãos?
Disponível,
A mãe já não chora. As lágrimas secaram após três noites de dilúvio. Os olhos estag-
Não.
Pronto para ser lido,
naram na paisagem visível pela janela do quarto, incapazes de se moverem. Nada mais
Tive irmãos outrora.
Sempre que alguém precisar,
há para ver do que blocos de pedra cinzentos e outros quartos abertos pela mesma
Nove
Sempre que alguém quiser,
doença e desespero.
Irmãos escritos pela mesma mão,
Sempre que aquele alguém me quiser,
O pai fita as enfermeiras de punhos cerrados. Tudo aquilo era injusto, inadmissível e
Com a mesma tinta.
Porque sem aquele alguém
incompreensível. Ele já tinha visto o mundo, já tinha conhecido o amor e a felicidade.
Estes não.
A minha história não seria a mesma.
Porque é que a morte não o levou a ele, em vez do sangue do seu sangue? Um filho que
São apenas companheiros de estante.
não havia explorado nada para além da perda de cabelo, dos vómitos e dos desmaios…
Damo-nos bem, mas não é a mesma
De repente, algo cativa a sua atenção. Um objecto retangular, pequeno, castanho e com
coisa.
letras azuis. Que visão peculiar e contrastante com os tons de branco, de azul e de
Estão noutra sintonia,
morbidez que o rodeava. Pegou nele e detetou a sua leveza – uma outra oposição ao ar
Falam outra linguagem,
pesado do hospital. Leu o seu título e uma recordação invadiu-lhe a mente.
Contam outra história que não a
Tinha sido há três anos (como o tempo passa…) que o escritor António Mota decidira
minha.
aparecer no IPO. O João não podia estar mais entusiasmado e a memória mais mar-
E a história que trazem escrita entre as
cante que o seu pai religiosamente guardava era a do seu sorriso grande e sincero.
páginas
Já que não posso ser o teu livro:
Queria conhecer o autor desde a primeira vez que a mãe lhe lera um dos seus livros e
É a única que conhecem.
Cada frase,
agradecer-lhe por ajudá-lo a adormecer após um longo, longo dia.
Eu não.
(cada letra,
O escritor estava visivelmente atordoado e fora do seu habitat natural, mas quem podia
Eu tenho história, além da história que
Cada espaço,
censurá-lo realmente? Estar rodeado por crianças com um prazo de validade curto é
carrego
Cada ponto,
uma experiência que exige uma força de espírito transcendente e puramente altruísta.
E que carregam meus irmãos.
Cada palavra,
Contudo, o escritor avançou com o projeto, pondo de lado a sua aflição.
É uma história partilhada com alguém,
Cada linha)
Era verdadeiramente uma alma generosa. Sabia interagir com o seu público e ainda
Não a criei sozinho.
É a minha mente,
conseguiu várias gargalhadas – feito de grande reconhecimento e admiração. No final
Alguém que sofreu,
E o meu livro és tu.
autografou os livros das crianças que assim o pediram, sendo o João uma delas. Depois
Que lutou, chorou, quase desistiu,
Cada página é um olhar nos teus olhos,
de ler o que António Mota - o seu ídolo – lhe dedicou, João abraçou o homem despre-
Que parou de viver sem nunca chegar
Cada capítulo uma imagem do nosso
venido e disse:
a suspirar
tempo,
- Está prometido.
Pela última vez.
Este tempo em que sou plenamente eu
A porta do quarto fecha-se. As enfermeiras eram precisas noutro lugar. O homem, que
Alguém que, depois de passar por
Por estar contigo.
ainda segurava no pequeno livro, não se tinha apercebido que a sua esposa, o inspecio-
muito,
Guardo esse livro comigo
nava silenciosamente intrigada com aquele objecto nas mãos do marido.
Por tanto,
E carrego-o comigo para onde vou;
Curioso, o homem passa a mão pela barba que não cortava há uma semana e decide
Conseguiu vencer,
Guio-me por ele quando não sei quem
Conseguiu levantar-se e andar em
sou
frente,
Porque sei-me mais eu contigo.
Conseguiu sorrir de novo.
Escrevemos nele o que vivemos,
em na luta contra a gravidade, cravando os
Vivo para esse sorriso,
As nossas paixões, amizades, a vida
joelhos no chão. Um ataque de soluços invo-
Para esse alguém.
que partilhamos,
Esse alguém que me leu e releu,
Escrevemos nele o quanto nos amamos
Todos os dias,
E tudo aquilo que juntos temos.
abrir “Os filhos de Montepó” para entender as palavras que o filho proferiu naquele serão. Quando assim o fez, sentiu-se a desfalecer, as pernas a perder-
luntários aliou-se ao derrame de lágrimas para libertarem a dor que dissecava o seu coração. A mulher veio imediatamente em auxílio de quem tem o seu amor, agora só nessa posse, e procura a fonte de tanto desalento. Abre o livro na primeira página e lê: “Para o João, que quero reencontrar daqui a dez anos” Também ela foi contagiada pela tristeza e melancolia que aquela frase propagava porque, em vez de se definir como uma mensagem de esperança, representava uma promessa quebrada.
Mas felizmente passou
Várias vezes por dia, Quantas as necessárias
Mas eu, eu não tenho
Durante aquela época difícil, custosa,
Nada.
sem fim nem sentido.
Não tenho as memórias do que fui,
Alguém a quem dei força,
Não sei o que sou
Qual âncora firme no meio da tempes-
E o livro fugiu-me.
tade. E que tempestade!
Cada frase
71 Maio de 2015
Aqui é uma escola
(cada letra, Cada espaço, Cada ponto, Cada palavra, Cada linha) Seria a minha mente Se tu fosses o meu livro. Cada página seria um olhar nos teus olhos, Mas cada capítulo é só uma memória de um futuro que nunca aconteceu, Um em que poderia ser mais do que eu, Se tu me quisesses contigo. Por isso sê para mim o que eu queria ser para ti: Guarda-me contigo Leva-me para onde fores; Escreve em mim para apaziguares as dores De não estares comigo. Escreve o que podíamos ter vivido: As paixões, amizades que agora tens, O que amas e odeias por estares assim. Deixa-me ser o teu livro, Deixa-me ser teu, Abre-me, Escreve-te em mim.
18
Maio de 2015
Aqui é uma escola
Vazio
A
“A escuridão quebrada”
cordei. O som do comboio e do frenesim dos carros enchia a divisão e a
De um sono profundo acordo sobres-
ao espelho, outra vez. Ele para e eu saio.
luz atravessava o quarto através da fina cortina vermelha. Preparei-me para
saltada com o meu bem disposto des-
Que vida a deles! Dirijo-me à garagem
um novo dia e saí do quarto, desci as escadas obscuras e saí pela grande
pertador. Respiro, ainda estou viva. Le-
onde a minha mãe me espera. Ligo o
porta que me separava do exterior. Deparei-me com o frio daquela manhã
vanto-me, caminho em direção à janela.
rádio, com a sua autorização, ponho
e dirigi-me à padaria mais perto, que se encontrava no quarteirão seguinte. Fiz o meu
Abro-a, puxo as persianas. Estou sem
mais alto, está a dar uma música de que
pedido, e enquanto comia, sofregamente, observei o comportamento dos restantes que
forças. Preciso de ar. Aprecio a chuva a
gosto.
monotonamente se alimentavam olhando para o nada.
cair, ping, ping, ping, … o meu dia foi
Era a altura de começar o programa do dia e dirigi-me à paragem do metro que, todos
manchado. Na cozinha tomo o pequeno
Depois de alguns minutos, avista-se
os dias, quase de forma automática visitava. Atentava os habituais cânticos e espetácu-
almoço, espero que ilumine um novo
o trânsito. As motas passam rentes ao
los de quem ansiava por uma oportunidade para pedir esmola dentro da carruagem
dia. São todos iguais, com a escuridão
carro da minha mãe. Aguardo paciente,
e observava os diferentes olhares que se dirigiam para a guitarra velha que o homem
de sempre, que absorve a cor, o oxigé-
desculpem impaciente (enganei-me a
exibia e tocava. Os meus pensamentos foram interrompidos pela voz que indicava a
nio e a minha maré de sentimentos.
escrever) que o carro pare de dar a mão
paragem seguinte e preparei-me para sair pela multidão. Observo os diferentes grafitis
Estou atrasada, para variar. Escovo
aos outros condutores e ande de uma
que se encontravam nas paredes no caminho para o exterior, no entanto, um destes
os dentes, lavo a cara, coloco o creme.
vez para a frente!
chama-me à atenção: o esboço de uma criança a tentar entrar numa poça colorida.
Visto umas calças e seleciono uma
Nisto oiço no café da manhã, o Carlos
Fiquei especada a observar aquele desenho que representava uma realidade refletida
camisola. Calço-me. Esqueci-me de me
Nunes, a propor às pessoas que es-
em tinta numa parede branca. As pessoas que por ali passavam não se davam conta
pentear! Recuo à casa de banho, prendo
tivessem “obstruídas” no trânsito que
da mensagem que quem o pintara transmitira, absortos nas suas vidas atarefadas. De
o cabelo. Apresso-me a preparar a mo-
sorrissem para as pessoas dos veícu-
facto, quando somos crianças temos mais curiosidade, mais ambição, mais espírito de
chila cansada e farta de tanto peso. Os
los ao lado. Estranhamente, eu sorri,
aventura! Temos vontade de nos aventurar pelo que nos parece agradável e misterioso,
livros não poderiam ser todos iguais?
retribuíram-me o sorriso, acenaram-me!
pelo que nos é distante e necessita de ser descoberto, explorado.
Que maçada!
Mas o que aconteceu àquela criança?! Não sei. De facto, acho que as desilusões e il-
Fecho a porta, tranco-a. Carrego no
Talvez tenha sido útil para alguma
usões, os “nãos” e as rejeições a fizeram esconder no fundo do meu ser. Por vezes dou
botão, o elevador sobe. Entro, olho-me
coisa…
por mim a pensar em fazer algo pela primeira vez, mas a adulta em mim relembrame “ tens compromissos, tens obrigações”. Há muito tempo que não arrisco, que não penso no futuro. Há muito tempo que não vejo a “poça colorida”, mas sim um “buraco negro” que me consome. Ainda me lembro de quando olhava para a televisão e via os meus heróis de infância e pensava: “Um dia vou ser assim! Eu vou consegui-lo!”. Mas, hoje em dia, sei o que é a deceção e o que custa tentar ser inocente e ingénua. Sei o que dói dizer que ainda tenho sonhos quando já ninguém vê esperança no futuro, mas apenas desejam viver as suas vidas rotineiras, onde o cansaço e o aborrecimento reinam e o único objetivo é subsistir. Eu não quero ser assim: a criança dentro de mim grita, desespera e abrese para o mundo! Ainda há tanto para experimentar, tanto para sonhar, tanto para acreditar e tão pouco tempo! Não me conformo com isto, não me conformo com este hábito. Afinal só muda o mundo quem é suficientemente louco para acreditar que o é capaz. Não sei como me tornei assim, como todos nos tornamos assim, mais preocupados em alcançar uma vida estável, esquecendo os nossos desejos mais joviais. Eu quero idealizar, lutar, alcançar, sair desta existência mesquinha e sem sentido. Eu não gosto deste vazio. Eu quero entrar na poça colorida. Posso tentar?
91 Maio de 2015
Aqui é uma escola Um “até já”
-E
Já fui amado e armado
les estão aqui. – a voz trémula dela soou por detrás da linha telefónica.
- Não faças isso! – repeti inúmeras vezes,
Avanço lento e manco
Suspirei, um longo e exausto suspiro. Não dormia há noites, era constan-
queria-me mover mas uma força maior
Visto negro e respeito,
temente acordado por eles a chamarem por mim, a tentarem comunicar
reprimia-me de o fazer, parecia que es-
Nunca percebi o significado
comigo. Ela também. Pobre rapariga, sei bem que ela estava muito mais
tava preso. Eram eles que me impedi-
Do cravo que trago ao peito.
assustada que eu, era notável. Era capaz de ouvir a sua respiração ofe-
am. Aqueles travessos. Não conseguia
gante, os seus dentes perfeitamente alinhados, que eu tanto adorava ficar a mirar por
evitar que lágrimas se derramassem
Já fui amado e armado
horas e horas, a tiritar de medo – ela estava aterrorizada.
pela minha pele seca, a aflição matava-
Mas não sei pensar nem amar,
me por dentro. A raiva de não me poder
O meu coração tal como a minha mente
- Posso ir até aí. Não preguei olho ainda. – sussurrei enquanto esfregava aqueles meus
mexer fazia-me gritar, transpirar… Mas
Foi para combate para se despedaçar.
olhos cansados. Observei a porta, consegui ainda ver uma súbita sombra a desvanecer
os seus olhos fechados e a sua audição
Na ultra guerra de ultramar.
em direção ao corredor. O facto de morar sozinho nesta casa enorme e vazia não aju-
bloqueada não me viam nem me ouvi-
dava. Todas as noites calafrios percorriam a minha espinha, respirações eram sentidas
am. Sentia tanta frustração, não só por
Ouço gritos e tiros
no meu pescoço, as vozes atormentavam a minha cabeça, embatiam contra as paredes
não poder ajudar, mas também por isto
Que não passam de uma ilusão,
do meu cérebro, levavam-me à loucura. Se eu tinha ataques de pânico? Ansiedade?
ser culpa minha. E foi aí que a faca per-
Que vive nesta minha insónia
Constantemente. O que me acalmava era ela. A voz fina dela, o toque suave dela, as
furou o seu peito, a sua última respira-
De me rever de arma na mão.
carícias, as palavras de conforto… A razão de eu estar aqui é, sem dúvida, ela.
ção deu-se como um grito abafado e o
Enverguei o meu casaco guarnecido de lã por cima do meu pijama e calcei as minhas
meu mundo desabou diante dos meus
Já se passaram 40 anos
olhos enxaguados…
E não consigo fazer festim,
sapatilhas. Avisara-a que chegaria a sua casa dali a cinco minutos. Agarrei nas chaves
Pois esta vida é a verdadeira guerra
do meu carro, já ousado, e desci as escadas velhas que chiavam. Olhei em volta e já
Sete semanas se passaram. Sete semanas
nada se encontrava na sala – eles tinham ido embora, finalmente. Corri para o carro ao
que me mantêm fechado neste mani-
relembrar-me que ela estava provavelmente a endoidecer. Tinha constantes ataques
cómio. As saudades do seu olhar suave
de pânico e chegava, muitas vezes, a ser levada pelas palavras daquelas almas mortas,
e misterioso, dos seus cabelos a esvoa-
acabando por pôr a sua própria vida em perigo. Isto assusta-me. Fui eu que a trouxe
çar por ordem da brisa. O seu sorriso
para este “segundo mundo”. Ela não é como aqueles cientistas que só acreditam em
cativado pela minha presença, os seus
conexões cerebrais e que tudo está determinado. Ela acreditou em mim. Mas aquelas
braços que me aconchegavam… Isto
entidades espirituais aprisionaram-na, aprisionaram a sua mente. Tudo por minha cau-
tudo aperta. A ideia de não a ver ator-
sa, por a ter afeiçoado a mim. Culpo-me todos os dias por isso.
menta-me todas as noites neste quarto
E só na morte terá fim.
Com esses teus lindos e calmos olhos
frio rodeado de malucos vizinhos. E ela Remoía a pele seca dos meus lábios provavelmente roxos e a tremer. Era um hábito
nem me vem visitar como os outros que
Com esses teus lindos e calmos olhos,
ridículo de nervosismo meu.
o fazem todas as noites. Diz-me onde
Esse teu sorriso alegre e sincero
estás, Amanda. Tenho saudades tuas.
E esse teu jeito simples e discreto
Avistei a sua casa e estacionei o meu velho carro perto da calçada. Estimulei a corrida
A minha mente está como um barco
O meu coração fica mais completo!
das minhas pernas com o intuito de alcançar rapidamente a porta. Bati nela uma, duas,
agitado, nada se recompõe desde que
três vezes e nada. O calor da adrenalina percorria o meu corpo tal como a necessidade
partiste. A minha alma desaba, pede,
Olhar doce e rosto angelical.
de saber se aquela inocente rapariga estava bem. A minha mente já supunha o pior e
chora, suplica, chama por ti… A minha
Em cada palavra, gesto, “mania”
isso não podia acontecer. Tornei a bater, desta vez freneticamente, e nada. Comecei a
alma ama-te. E é assim que quero deixar
Uma forma simples e carinhosa
gritar pelo seu nome com todo o ar dos pulmões que tinha, já o meu corpo tenso e os
este terrível mundo – a amar-te eterna-
Que só a tua boca sabe falar…
joelhos eram a única parte do meu corpo friorento que tremiam. Alcancei a chave su-
mente.
plente quando me lembrei onde ela a guardava – debaixo do seu tapete com uma men-
Em ti, por medo, fica omitido
sagem acolhedora de boas vindas – e abri agitadamente a porta. Logo a fechei quando
O teu coração com pura verdade
entrei, com o meu olhar atento a percorrer cada canto da sua casa.
E uma grande vontade de amar.
- Amanda? Amanda, estou aqui. – eu gritei sem hesitações enquanto me movimentava
Na vida, com o tempo cresceremos.
em direção à sala. O bater do meu coração era audível do outro lado da casa, a minha
E, enquanto aqui existir um ser,
respiração estava pesada pelo medo e o susto que me possuía. Ah, como eu estava
Por ti todas as culpas eu suporto!
cansado de viver com esta ansiedade. Uma luz branca, fogosa e incandescente chamou a minha atenção por estar a iluminar as paredes da sala. Apressei-me a correr até lá e vi Amanda. O meu coração apertou-se, a minha pulsação subiu, o meu estômago deu voltas e voltas incontroláveis, um nó repentino prendeu, bloqueou a minha garganta perante aquele cenário. Os seus cabelos bagunçados, a sua camisa de seda branca, as duas feições cansadas, vazias, iluminadas pelo lustrar da tão bonita lua – não tão bela quanto Amanda – e, o pior de tudo, uma faca afiada de pega preta apontada em direção ao seu próprio peito. As suas mãos tremiam, a sua respiração provocava uma alta tensão no ar, ela enlouqueceu de vez. Estava possuída.
20
Maio de 2015
Aqui é uma escola
Melancolia esmorecedora
À
s vezes dou por mim a perguntar qual é o sentido de tudo aquilo que existe.
Depois de tudo isto, uma angústia do-
mundo. Esperançosamente, fico a olhar
E daquilo que não existe, ou que desapareceu. Dou por mim a procurar res-
lorosa vive, agora, comigo. Sinto-me
pela janela, à espera da visita que não
postas que nem eu sei se é permitido encontrar. Fico simplesmente a pensar,
assim porque queria ter-me despedido
vem, do carinho que não chega. Muitas
numa persistente espera.
dele, dar-lhe o meu último adeus an-
são as vezes em que aguardo um abraço
Nunca consegui encontrar um aceitável esclarecimento sobre a vida. Lembro-me de,
tes de ele partir. Queria ter feito luto,
do meu neto, desejo sentir que alguém
quando ainda era novo e vivia num constante questionamento, perguntar à minha mãe
libertado a minha tristeza. E não o fiz,
ainda gosta de mim.
qual era o sentido da vida. Um sorriso terno e suave preencheu-lhe a cara e carinhosa-
porque eu não sabia como, e, muito
Enfim, estou sozinho. O meu dia há de
mente, disse-me que eu teria de crescer para poder compreender. Hoje, estou crescido,
honestamente, penso que nunca vou
chegar, e eu sei que não vou estar pron-
amadureci, e contudo, ainda não percebi.
conseguir fazê-lo.
to. Nunca irei estar. Eu não sei lidar
Sempre fui muito atento ao que me rodeia e, talvez, essa minha visão muito pormeno-
Pergunto-me, novamente, qual é o sen-
com a vida nem com a morte, portanto
rizada da realidade me tenha afastado da verdade. Talvez tenha despendido muito
tido da vida. Não há. Não pode haver.
quando quiser, ela que chegue e me
tempo da minha vida a observar tudo aquilo que era pequeno e talvez a resposta es-
Se houvesse, eu teria podido viver mais
leve. Talvez eu volte a encontrar o meu
tivesse numa visão mais alargada. Agora, lembro-me do meu avô, que me dizia sempre
tempo com o meu avô. Esperar por ele
avô, e a sentir amor. Ficarei à espera, tal
que era importante para o Homem saber observar o que o rodeia de uma forma dife-
mais vezes na estação. Correr mais ve-
como esperava todos os invernos aquele
rente, noutra perspetiva. E isto faz-me pensar na última vez em que pude estar com ele.
zes para os seus braços. Abraçá-lo mais
comboio chegar.
Estávamos na época natalícia, e ele, como todos os anos fazia, veio passar o Natal com
vezes. E lembrar-me-ia de cada peque-
a minha família, deixando a sua casa, na aldeia onde tinha nascido, a cintilar luzes
no momento que passei com ele na per-
multicor, solitariamente. Como habitual, toda a família o ia receber de braços abertos à
feição. Sem qualquer rutura nem falha.
estação de comboios. Era um lugar já antiquado, anacrónico. Viam-se as paredes feias e
De facto, a minha memória apresenta
desgastadas, o chão húmido e frio e uns pequenos bancos velhos, onde nunca me senta-
cada vez mais lacunas e eu já pouco, ou
va por tão desconfortáveis que eram. Numa das paredes, um relógio escuro e ruidoso,
nada, consigo relembrar. Somente fica-
que marcava os minutos restantes de espera e que, monotonamente, eu observava. À
ram as emoções mais intensas.
volta da estação, havia um pequeno parque, com passeios estreitos e jardins preenchi-
Lamentavelmente, confesso que já não
dos de neve. O lago que em tempos primaveris teria alimentado as brincadeiras das
sou capaz de me recordar de grande
crianças, com os seus barcos de papel, estava, naquele momento, cristalino e gelado.
parte da minha história. Apenas con-
Já não se via as pequenas flores nem se sentia o cheiro da relva molhada. Estava tudo
segui escrever aqui, uma pequena fra-
coberto por aquele monocromático cobertor de neve, que impedia a vida jovial de que
ção dela depois de ler o diário que es-
eu tanto gostava.
crevi, ainda em novo, e que encontrei
Naquele ano, ficamos mais tempo do que era normal à espera do meu avô. Dentro de
numa pequena caixa azul no outro dia.
mim, uma emoção e uma inquietação incontroláveis. Sentia-me excessivamente energé-
É desconsolador quando sabemos que
tico e incapaz de sossego. Estava ansioso por poder estar com ele. E de repente, ouviu-
nem nós próprios nos conhecemos. Já
se ecoar o som da maquinaria.
não me lembrava do sorriso terno da
O meu avô sempre foi aquele que melhor me conseguiu entender, que mais me ensinou
minha mãe, nem dos bancos, nem do
e me fez crescer. Não havia ninguém de quem eu pudesse gostar mais do que ele. Só
pequeno relógio. A idade rouba-nos a
sentia pena por ser pouco o tempo em que ele permanecia connosco. Ele vinha-nos visi-
identidade. E sem identidade, quem
tar umas quantas vezes por ano, e ficava uns tempos. Mas o Natal era inevitavelmente o
sou eu?
mais especial, era a época do ano que eu esperava com mais anseio, e ambicionava que
Afirmo e acredito que não pode existir
cada um fosse sempre melhor do que o anterior. E era. Cada ano conseguia continu-
um sentido em viver. Nascemos, res-
amente superar o outro.
peitamos, amamos, crescemos, sofre-
Vi, lá ao fundo, um comboio já velho que emitia ruídos notórios dos anos que carrega-
mos, perdemos, e acabamos desapareci-
va sobre ele. Contemplei as portas a abrirem-se e imediatamente procurei-o, depois de
dos, onde a única coisa que nos resta é
me erguer em cima de um dos bancos, devido à minha pequenez e incapacidade de o
o nosso desaparecimento interior e um
ver entre todas as restantes pessoas. O seu chapéu castanho acabou por acusá-lo e eu
inevitável esquecimento. Temos todos o
corri para os seus braços. Eu adorava que ele me abraçasse. Apertava-me bem junto a
mesmo trágico fim. E eu não considero
ele e dava-me umas palmadinhas nas costas enquanto ouvia, de entre um seu sorriso,
que isso seja viver.
palavras de saudade. Porém, aquele tinha sido o último abraço que eu pude dar ao meu
Tudo isto me vem à mente, agora que
avô. E isso entristece-me.
já vivi uma vida, e que a única coisa
Todas estas lembranças fazem-me pensar no seu funeral, fazem-me lembrar a tristeza
que me resta é pensar. Passo os dias
de saber que ele faleceu. Um dia soalheiro, limpo, claro, como se de gozo, o tempo nos
sozinho, no primeiro andar esquerdo,
encarasse. Apenas me explicaram que o meu avô iria para um lugar melhor e que des-
num prédio calmo e pouco agitado,
cansaria em paz para sempre. Ao início não percebi o que isso significava, ou simples-
envolto de pessoas que eu não con-
mente, recusei-me a perceber, permanecendo na esperança de que a partida dele tivesse
heço. Fizeram-me deixar a casa onde
um retorno. Só realmente encarei a verdade de que ele nunca mais iria voltar quando
envelheci e amei a minha família, para
no dezembro seguinte, esperei-o na estação e não avistei nenhum chapéu castanho. Nos
acabar neste lugar desconhecido, onde
braços da minha mãe, com os olhos humedecidos, fiquei a ver o comboio fugir de mim.
já me olham como desaparecido neste
12 Maio de 2015
Aqui é uma escola A história não contada de D. Sebastião
Q
Um dia
ualquer português conhece a lenda de D. Sebastião, o jovem rei que se
ele sabia possuir retirou um bloco de
Um dia de cada vez,
diz ter morrido na sangrenta batalha de Alcácer-Quibir. No entanto, é um
pedra da parede e atirou com pontaria
E a solidão vai passando...
facto que seu corpo nunca foi encontrado.
exemplar à nuca do terrível mouro que
Passando, mas crescendo internamente
Eis o que aconteceu àquele cujo cognome é “O Desejado”.
lhe atirava saliva para a comida todos
Como a mágoa sentida!
os dias e que acabou caído inconsci-
Gostava de voltar a ser feliz...
Partiam os valorosos portugueses para uma expedição no norte de África que, sendo
ente no chão. O prisioneiro esticou-se
Feliz como as inocentes crianças
cerca de uma quinzena de milhares de homens armados esperavam uma vitória fácil.
mais que um elástico para alcançar as
Que não entendem o verdadeiro sen-
O que estes não sabiam é que do outro lado daquele a quem os romanos chamaram
chaves que o guarda carregava e den-
tido da vida!
“Mare Nostrum” esperavam-nos mais do dobro de mouros armados de sabre em pun-
tro de cinco segundos já se encontrava
Voltar a correr sem destino
ho e armaduras de ferro até aos dentes. Estavam reunidas as condições para o total
fora daquele beco de grades.
A chorar de alegria
fracasso daquele passeio.
Criar problemas quando não existem À sua frente encontrava-se um longo
Oh! Como era tão bom...
O monarca português foi capturado e seguidamente enjaulado na prisão mais profun-
corredor no qual nem uma mosca se
Agora?
da de todo o território árabe. Era alimentado com uma quase inexistente dose de arroz,
ouvia. Deu um passo em frente. De re-
O que tenho eu agora?
que por sinal era muito mal cozido, misturada com uma enorme quantidade de areia
pente todos os cativos congratularam-
Problemas sem solução?
dos vastos desertos africanos (ainda bem que não existia a ASAE na altura). O que terá
no com uma enorme salva de palmas
Corridas para fugir às dificuldades?
passado pela cabeça do arrependido membro da realeza (o suicídio talvez)? Mas ele
que parecia capaz de ser ouvida em
Choros de angústia?
prosseguiu, um dia de cada vez, guiado pelas recordações de sua pátria amada.
Lisboa e este, como forma de agradeci-
Oh! Sim, sim, sim…
mento, soltou-os, um a um, e juntos
Isso e muito mais...
Passaram exatamente mil novecentos e dez dias quando, por acção divina, o guarda
se vingaram nos restantes cinquenta e
Todos os dias esta tristeza invade o
que lhe servia a ração horrenda se distraiu em frente à cela do sortudo Sebastião de
três guardas daquela prisão com socos
meu coração!
Portugal (que havia muito que tinha perdido o titulo de rei) que, com forças que nem
e pontapés bem certeiros e devastado-
Sinto dor
res.
Sinto rancor
Ali se apresentava, a cinco metros e
E nenhuma solução a compor...
setenta e dois centímetros de distância,
Se ao menos estivesses aqui
a liberdade que todos os reclusos espe-
Sorriria só por te ver
ravam um dia alcançar. Ali, apenas a
Esqueceria os problemas por momen-
quatro passos, se encontrava o cheiro
tos
mais doce de toda a sua vida. Ali, a
E seria feliz, só e apenas por te ter...
cerca de duzentas e vinte e cinco pole-
Sonho,
gadas, estava aberto o caminho para a
Em um dia, poder voltar a abraçar-te,
sua querida casa, Portugal.
Como sempre te abracei.
Escondido num barco de pescadores das Caxinas, seguia então o ex-monarca, cheirando a sardinha (“mas da boa!” diziam os experientes marinheiros), ele, que, naquele momento, estava mais desejoso de sentir os ares portugueses do que era desejado por estes. Chegado ao porto, arranjou trabalho como moço de estrebaria, mas apenas o exerceu durante duas semanas pois desejava, do fundo do seu coração sofrido, visitar todos as arestas, vértices e faces de Portugal. E, com os trocos que arranjou, assim o fez. Acabou por achar o seu cantinho preferido no seu país preferido e passou lá o resto da sua vida, anónimo mas feliz por, finalmente, estar novamente no sítio em que mais se sentia bem-aventurado, em casa.
22
Maio de 2015
Aqui é uma escola
3 de fevereiro de 1991
C
O gato que comia pedacinhos de céu
om a sonolência habitual, mas com uma excecional vontade, acordou às
A manhã insípida desperta-o pelo vidro
roça-se na mulher como quem diz ‘‘eu
nove da manhã. Tomou a refeição que o colocava desperto há mais de seis
frio do quarto. É toda igual: a velha
volto’’ e pula para o parapeito. As estre-
anos: leite com cereais. Estava frio, mas o sol raiava e tornava o dia mais
levanta-se cedo e arrasta-se até ao es-
las não são como as andorinhas. Presa
apetecível. Vestira-se sem escolher muito, creio, e às dez já estava no sofá
pelho. Observa as peles a fugirem-lhe
fácil, agarra nas duas mais pequenas e
esperando quem o levasse ao encontro da sua irmã.
pelo corpo ainda cálido da cama, conta
volta. A velha adormeceu. Mergulha os
Tudo isto seria uma situação corriqueira, não tivesse ela nascido naquele dia, saudável
as rugas. O bicho geme de sede, roça-
pequeninos astros na sopa e enrosca-
e forte, apesar de prematuramente. Dois quilos cento e oitenta, quarenta e cinco centí-
se-lhe nas pernas e a pele arrepia. “Foge
se. Adormece também. Está uma noite
metros.
gata!” É empurrado pelo calcanhar im-
quente.
Não se encontrava nem um pouco nervoso. Na verdade, não sabia bem o que esperar.
paciente. Ainda assim tem sorte. O que
O amanhecer apressa-se. A mulher
Sabia apenas que iria ver a sua irmã, um bebé, coisa parecida com uma boneca de
não falta são gatos à espera de março.
olha o infinito como que submersa em
plástico, mas de verdade, de carne e osso. Era tudo igual a uma boneca, pensou. Esta
A andorinha pousa nas telhas, olha-os
so-nhos. Não se mexe. Tem o ventre
só não precisava de pilhas. Um pensamento normal para um miúdo de oito anos, ino-
e, como que por gozo, atira-se até as
quente. A malga está vazia, a colher
cente, ignorante sobre os mistérios da vida, até os mais simples. Talvez o maior mistério
asinhas quase arranharem o chão. Num
descansa numa das mãos, agora da cor
seria, para ele, com menos de uma década de existência, tentar perceber porque é que
instante volta aos telhados. Os bichos
do bicho. O gato mira. Não entende. As
os animais não falam ou porque não voamos como os pássaros. Talvez….
salivam. Ele nem liga. Lava o pelo que,
estrelas não são como as andorinhas.
Retomando. Entrou no carro e fez a viagem adormecido. Fez, fazendo as contas, duas
com o passar das noites, se torna cada
Enrosca-se no corpo hirto, livre de cul-
viagens. Era a hora! Entrou no hospital com o pai, explorou os corredores, os quartos,
vez mais cor de ouro e demora-se a ca-
pa. O sino hoje toca mais vezes.
até que chegou ao destino. Um quarto pequeno onde a mãe e o bebé se encontravam.
çar a ponta preta do rabo. Não acorda
Na verdade só via a mãe. Era tão pequena a criatura que se perdia nos lençóis que a
com fome como o gato vadio que não
traziam embrulhada. No regaço de sua mãe, nem o choro se ouvia, se chorava, pois as
é. A velha senta-se ao sol enquanto pro-
cordas vocais quase nem potência tinham. Queria ver o bebé que ainda se encontrava
cura conjugar cada meia, para depois,
escondido por entre as roupas e lençóis. Queria saber como era a sua irmã mais nova,
par em par, as dobrar pacientemente.
no entanto, um subtil e inexplicável receio apoderou-se de seu corpo. Era estranho.
O bichano espreguiça-se. Tem sede. A
Como poderia ele ter medo da sua própria irmã? – Acho que foi isto que deve ter pen-
pança ainda queima da noite anterior. A
sado.
mulher despreza-o, mas por entre tanto
A saudade é um mau sentimento
Porém, a mãe pegou-lhe na mão, aproximou-o da cama e colocou o seu dedo polegar
bicho bravo, a cor daquele salvara-lhe
e tão mau ele é que pode matar todos
na minúscula mão da irmã. Incrível. Apenas um dedo seu era do tamanho de toda a
um ninho aos pés da cama. Não se faz
os que sentem o que eu sinto por ti.
sua mão.
muito. A tarde é passada quer a ouvir os
Tenho saudades tuas meu amor!
No meio disto tudo foi perdendo o medo e, passados instantes perguntaram-lhe se que-
sinos de hora em hora, quer, por azar na
ria segurar nela. Aceitou, receoso, e pegou no bebé, que julgara ser muito mais pesado.
aldeia, à espera de os ouvir à hora que
E tu foste aquele que eu sonhei,
Era mesmo uma boneca, peso e tudo! Segurou-a por escassos minutos que pareceram
Deus assim quiser. Ao primeiro sinal de
e que ao meu lado poderia ficar.
muito mais que isso. Devolveu-a de seguida ao colo da mãe, com tanto cuidado, como
anoitecer, a velha levanta-se, pega no
Mas foste e meu coração foi também,
se de porcelana se tratasse, foi um dia inesquecível para ele – assim mo contou, passado
tacho que passara a tarde a secar ao sol e
não sobrevivo! Tu és o meu ar…
uns anos – o dia em que me conheceu pela primeira vez.
esconde-se, bem quente, junto ao velho
Saudade do amor
fogão a lenha. Dali sai um caldo insosso
És o feiticeiro que me mudou
que é servido a ferver. O gato não come.
e que sempre mexeu com minha vida.
Os dias transbordam a monotonia.
Eu te queria, mas estou impedida!
Antes de se deitar, ajoelha-se à janela e olha o céu. O gato foge para telhado
Agora, sozinha ‘stou a sofrer
mais alto e, enquanto a mulher sussurra
e uma página da vida passar: Tu,
a cada alma, o bicho, ávido, enche o bu-
uma página difícil de rasgar!
cho de estrelas. Toda a vida é rotina até ao dia em que as pernas nos falham. A velha acamou. A casa é abafada pelo silêncio interrompido por um suspiro muito longo quando a mulher se dá conta do existir. Ou pelo bater da colher na malga que é esquecida ao lado da cama. O gato ronrona de barriga quente. Quando chega a noite, o caldo, frio, já azedou. Faminto, observa a dona, magra, pálida, cujos dedos vão percorrendo um terço de prata por benzer. Hoje chora. O bichano levanta-se,
32 Maio de 2015
Aqui é uma escola Um livro “Para Ti”
O
Cafés às estrelas
Júlio era um rapaz como todos os outros, apesar de ele não achar o mesmo
Era tarde pintada de noite. Enquanto
muro. Mergulhar na fonte. O copo es-
pois tinha os pais divorciados. Para ele era um grande aborrecimento estar
que o sol espreitava, a lua fitava-nos de
tava vazio, mas continuavam tempest-
sempre a passar os fins de semana com a mãe, não é que não gostasse dela
longe e obrigava as horas a amadure-
ades dentro dele.
mas, o facto de não poder estar com os dois ao mesmo tempo chateava-o.
cerem precocemente. Era Inverno.
As palavras meigas traziam-me de volta
Ele nunca percebera o porquê do divórcio.
O frio não se acanhava e enlaçava as
e um sorriso terno perguntava-me o que
Júlio vivia com o pai e com a madrasta, uma escritora muito famosa nacionalmente, ele
suas mãos nas nossas sem pedir per-
se passava. A resposta, por sua vez, já
nunca gostara muito dela pois para ele, a sua madrasta nunca seria sua mãe.
missão. Quando abríamos a pequena
não era uma novidade. Confessava-me,
No dia dos seus anos, Júlio, recebeu uma prenda da sua madrasta, ele abriu-a e viu um
porta de vidro escondida entre cartazes
então, que também era difícil para ele.
livro, na sua opinião a prenda não podia ser pior e com a prenda do seu pai as coisas
coloridos, éramos libertados daquela re-
Mostrou-me onde, quando não bastava
não podiam ter ficado pior, um avião telecomandado, o melhor da atualidade.
lação sufocante. O quente cumprimen-
apenas de uma meia dúzia de anos, o
O livro da madrasta acabara por ser encostado a um canto.
tava-nos como velhos amigos que éra-
pai marcava a sua altura contra a ma-
Dias mais tarde, enquanto arrumava o seu quarto, encontrou de novo o livro e leu o tí-
mos e convidava-nos a sentar. A mesa
deira. Era o que restava da sua galeria.
tulo, “Para ti”, não deu muita importância e arrumou-o na prateleira do seu quarto. Ao
era diferente, tal como a companhia. Os
Disse que queria fazer o mesmo quando
fim de arrumar tudo, Júlio deitou-se na cama a descansar, até que de repente alguém
sorrisos, por sua vez, continuavam a ter
tivesse um filho também, mas que os
disse:
presença habitual nas nossas caras gela-
acasos da vida o impediram de tal: - A
- Por que razão nunca me leste?
das e pálidas.
vida dá muitas voltas. Nunca sabemos
Júlio levantou-se rapidamente e assustou-se, pois ele era o único naquele quarto e tinha
Era ainda alegria que transbordava das
bem onde vamos parar. Quando me vi
a certeza que o som tinha vindo de dentro do quarto.
palavras encorajadoras do dono. Na
aqui, montei tenda e fiquei. A vida con-
Novamente alguém falou:
verdade, era
tinua a rodar, mas agora sei onde estou.
- Aqui na prateleira, estou aqui!
aquecia- os seus mil e um elogios cons-
Estou em casa - confiou-me.
Virou-se rapidamente para a prateleira e apenas viu os seus livros.
tantes. Quer a nós, quer aos restantes
Depois, com um olhar brincalhão e um
- Sou o livro que a tua madrasta te deu.
ocupantes que, apesar deles, ainda se
tom sério, perguntou-me: - E tu? Con-
Júlio foi à prateleira e pegou no livro.
matavam aos pouquinhos. Quer com
tinuas de mochila às costas ou vens sen-
Júlio assustado perguntou:
cilindros pequenos de papel, quer com
tar-te connosco à lareira?
- Tu falas?
copos altos cheios até cima.
E talvez fosse por causa da esperança
-Sim! – respondeu o livro.
As
pen-
cavada no cimento pintado de encarna-
- Porquê que nunca me leste? – perguntou o livro.
duravam do teto, escondiam-se de
do. Ou do nevoeiro dentro de casa. Ou
- Nunca gostei muito de ler e foste dado pela minha madrasta, eu não gosto nada dela.-
nós,ocasionalmente, como se fosse um
até mesmo por as estrelas se terem es-
respondeu o Júlio. – Mas já que tu falas pode ser que eu tente ler um pouco-disse Júlio
jogo. A sua ausência cobria-nos com um
condido outra vez. Algo naquele lugar
sorrindo.
manto vermelho que se assemelhava a
acolhedor, me fez dizer:
- Eu até posso lê-lo para ti- disse o livro.
uma cena de um filme francês. O “Oh”
- Depende… Se o meu nome estiver nos
-Excelente ideia- disse o Júlio muito feliz, sentimento que já não nutria há muito tempo.
solto pelos habitantes daquele pequeno
créditos.
Passaram dias a ler o livro, o Júlio estava entusiasmado até que um dia depois de vir da
céu fazia, quase instantaneamente, al-
E estava.
escola, lanchou e foi a correr para o seu quarto pois acabaria de ler a história naquele
guém correr para rolar os créditos e as
dia. Chegou ao seu quarto e procurou por todo lado e não encontrou o livro.
trazer de volta.
- Onde está o meu livro? – gritou ele.
Por vezes, ainda causava umas garga-
A sua madrasta foi até ao seu quarto a correr e perguntou:
lhadas pelo caminho, quando, por azar,
- O que se passa?
tropeçava nos instrumentos deixados
- Onde está o livro que me deste? – perguntou desesperado.
em cada canto, como se fossem mobí-
- Eu estive a arrumar algumas coisas tuas e vi o livro, como nunca o tinhas lido decidi
lia. Porque, realmente, eram mobília.
pô-lo no lixo.
A música fazia parte daquele lar como
- Nãaaaaao! – gritou ele.
os cafés derramados em pires de por-
Em seguida ouviu:
celana.
- Calma Júlio, calma. Deve ter sido um pesadelo.
Foi, na verdade, isso que me levou
Júlio olhou em seu redor e viu que estava na cama, não tinha passado de um pesadelo.
àquele café. Mas agora, a música tinha
O pai e a madrasta estavam ao lado dele a acalmá-lo.
acabado, o disco partido e o silêncio ins-
Depois de eles saírem, foi a correr à prateleira e ali estava ele, o seu livro. Ainda tentou
talara-se. Esse desaparecia sempre, no
falar com ele mas não obteve resposta. Apesar disso ele perdeu o resto do dia a ler o
entanto, e tornava mais difícil a minha
livro, e assim entendeu o porquê daquele título. O livro tinha sido escrito pela sua ma-
estadia lá. Talvez fosse pelos gritos de
drasta e falava da vida difícil que ela e o seu pai tiveram e assim ele percebeu a razão
vitória dos jogos de sueca da mesa ao
de alguns problemas, afinal a sua madrasta não era assim tão má. E o divórcio apenas
lado, que despertavam em mim uma
tinhas a ver com o facto de os seus pais não serem a pessoa ideal uma para a outra.
nostalgia incómoda. As janelas em-
A partir daquele dia Júlio passou a olhar de maneira diferente para os livros e também
baciadas impediam-me de rebolar na
para a sua madrasta.
relva lá fora. Ou de saltar de muro em
pequenas
isso que realmente nos
estrelas
que
24
Maio de 2015
Aqui é uma escola
ECOS, O JORNAL DO FUTURO DA ESEQ
O
aparecimento de “Ecos” surgiu, em 2009, com o objetivo de se tornar a voz
tes de Barcelona, L’Aquila, Hamburgo e
norte do nosso país.
real, objetiva e crítica da Escola Secundária Eça de Queirós.
Nidzica, cumpriu um programa repleto
Os hábitos culturais e a gastronomia
Foi crescendo numa época de crise, estando ainda longe de se avistar uma
de atividades cuidadosamente concebi-
tradicional poveiras, foram dadas a co-
luzinha no fundo do túnel. Os sinais de mudança são muito ténues. Con-
das para dar a conhecer a ESEQ e a ci-
nhecer aos nossos parceiros estrangeiros
tudo, Ecos impôs-se pela força da palavra, da crítica, do incentivo e da sua intervenção
dade da Póvoa de Varzim, nas suas ver-
no jantar realizado no pátio interior da
decisiva.
tentes cultural, educativa, tradicional,
ESEQ, abrilhantado pela maravilhosa
Lembramos que Ecos concorreu aos jornais escolares e este ano recebeu mesmo convite,
histórica e turística
atuação da Rusga Poveira. A prepara-
não só para estar presente, mas também para intervir no congresso em Viana do Caste-
.A agenda de trabalhos iniciou-se com a
ção dos pratos regionais e das variadas
lo que acabou por não se realizar, devido a alguns constrangimentos. E acrescentamos
visita à ESEQ, rececionada e guiada pelo
sobremesas, bem como a decoração do
que a equipa ecos está mesmo convidada para um Encontro Nacional de Educação que
diretor José Eduardo Lemos, onde para
espaço, foi da responsabilidade dos
se deverá realizar no 1º período do ano letivo de 2015 / 2016.
além das reuniões de trabalho, destina-
funcionários e professores da ESEQ,
Mesmo à distância de quarenta e um anos do vinte e cinco de abril de mil novecentos
das aos professores, se proporcionou
que se empenharam pessoal e profis-
e setenta e quatro, ano da mudança radical, recordamos a força interventiva e comu-
aos alunos estrangeiros a assistência a
sionalmente na arte de bem receber.
nicativa que tem a literatura, a arte da palavra, quer como prosa apelativa, quer como
aulas de Inglês, nas quais puderam par-
Nesta atividade, a ESEQ contou com
poesia de intervenção lida e cantada, à sorrelfa, procurando fugir ao índex proibido e
tilhar experiências e interagir com os es-
a parceria da Câmara Municipal, re-
às demais torturas que têm penalizado aqueles que ousaram discordar, pois temos bem
tudantes da nossa escola.
presentada na pessoa do vereador da cultura, Dr. Luís Diamantino, a quem
presente: a figura do General Humberto Delgado que foi morto numa altura de luta desigual; José Afonso com a sua “Grândola Vila Morena” que se tornou um hino de
Durante quatro dias, o programa com-
a ESEQ agradece publicamente todo o
liberdade e democracia; e Sofia de M. B. Andresen com poemas como “Este é o tempo”;
preendeu a visita guiada à cidade e
apoio prestado.
“Data” (“Tempo de solidão e incerteza”); “Pátria”; e a “Cantata da Paz, interpretada
a algumas freguesias da Póvoa de
por Francisco Fanhais cujos versos: “Vemos, ouvimos e lemos / Não podemos igno-
Varzim, sob a responsabilidade do dire-
rar” se tornaram um símbolo de resistência ao regime derrubado em abril de setenta e
tor do Museu Municipal de Etnografia e
5ª Mobilidade – Alemanha (Hamburgo
quatro. Também o poeta Manuel Alegre, o poeta-cantor Sérgio Godinho, para além de
História, Dr. José Flores. Possibilitou-se
- 23 a 27 de março 2015)
muitos outros, deram corpo e alma à sua ânsia de liberdade.
ainda ao grupo de visitantes uma fugaz
Considerando o nosso jornal um instrumento da divulgação da palavra, teremos que
passagem pelo Porto, Barcelos, Braga
De 23 a 27 de março, os parceiros
investir nele porque o futuro está nas nossas mãos, corporizado em “Ecos”.
e Guimarães que, sendo cidades com
alemães foram os anfitriões na 5ª mo-
Aproveito para dar os parabéns à equipa ecos que no meio de todas as adversidades
patrimónios culturais riquíssimos e di-
bilidade do grupo de seis países que
soube sempre dar a cara à luta.
versificados, ilustram e caracterizam o
integra o projeto The World We Waste.
Recordo com muito orgulho os meus companheiros da equipa Ecos, no seu sétimo aniversário, desejando um “Ad multos annos (vitae) ”: •Fátima Guedes, que comigo faz parte, desde a primeira hora, da equipa encarregada da correção de textos; •Maria João Sá, responsável pela Produção Paginação, Design e Fotografia com um trabalho de excelente qualidade; •Alda Ferreira, sempre disponível para tudo que for preciso. Também não me posso esquecer de todos os outros que já fizeram parte da equipa Ecos: António Pinto que já não está na ESEQ; Carlos Batista; e todos aqueles que, através dos seus artigos têm contribuído, de forma assídua, com os seus artigos para que Ecos continue com a qualidade a que já nos habituou. Por último tenho o dever de referir o Diretor da ESEQ, pela forma como nos incentivou na criação do projeto e nos tem apoiado, desde o início, pela confiança que, em nós, tem depositado, pela participação assídua, desde o número zero, e ainda pelo apoio logístico e financeiro, como responsável pela direção deste estabelecimento de ensino. A todos agradeço “ab imo pectore”, ou seja, do fundo do coração.
Programa Comenius - 4ª Mobilidade – Portugal (Póvoa de Varzim - 22 a 26 de setembro 2014)
Com muito frio, chuva e vento, a cidade de Hamburgo foi o principal itinerário na partilha de saberes, sabores, usos e tradições. Aos professores e alunos
Em Setembro de 2014, a ESEQ foi a anfitriã dos seus parceiros espanhóis, italianos,
que nos receberam e nos ci-
alemães e polacos, na quarta mobilidade do projeto Comenius - The World We Waste.
ceronearam, o nosso muito
Na semana de 22 a 26 de Setembro, a delegação de 28 professores e alunos provenien-
obrigado!